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História Personal Healing - Prólogo


Escrita por: isadorise

Capítulo 1 - Prólogo


O ambiente do bar mal iluminado localizado no centro de Monterey não era um dos melhores, muito menos se fosse contar com a música desconhecida ecoando pelo local solitário. O espaço era confortável, tendo poucos visitantes nesse período do ano o lugar tinha apenas duas mesas ocupadas e algumas pessoas no balcão, ninguém teve a vontade de ir para a pequena pista de dança.

Ray Maddox discutia com o bartender dizendo que a garota deveria mostrar sua identidade – que havia esquecido no carro, mas não via necessidade de ainda mostrá-la para poder beber. Revirando os olhos, ela se afasta do balcão derrotada com insistência do homem e procura por Bethany para ir embora, seu orgulho não a levaria até o carro para pegar sua identidade mas sim para ir em outro bar.

Olhou para todos os lados em busca de Bethany, era impossível a garota ter sumido em poucos segundos e ainda mais em um lugar tão pequeno. Bethany infelizmente tinha dessas. Toda vez que faziam uma parada, a loira conseguia fazer elas ficarem mais tempo que o necessário aonde quer que estivessem. É claro, ás vezes isso não era uma coisa ruim, ambas tinham suas diversões e curtiam do seu jeito mas estavam prolongando muito mais do que o esperado essa Road trip.

Desistiu de entender sua melhor amiga e levou seus passos para fora. O clima frio atingiu rapidamente seu corpo aquecido pela quentura do bar, ela agradecia por Bethany ter teimado com ela até que a mesma comprasse uma jaqueta preta de couro que viram ao começar a viagem. Não chovia, mas a umidade e o vento colaboravam para um frio um pouco rigoroso.

Moveu sua mão até o bolso de trás da calça, retirando uma caixa de cigarros ainda lacrada que havia furtado por pura diversão em uma loja de conveniências na beira da estrada. Ela ainda se sentia meio bêbada na verdade.

Ainda faltava cinco cidades para sua viagem acabar e voltar para realidade, não gostava de pensar nisso. Depois de trancar sua faculdade de Física ainda no segundo ano, ela queria apenas aproveitar a vida e tentar se reconstruir emocionalmente. Seu psicológico era uma grande merda.

- Que merda. – ouviu o resmungo de uma garota perto do telefone público. Ela havia atirado o objeto contra ele mesmo, ainda murmurando palavras inaudíveis ao se afastar do aparelho. – Ei, você!

Ray a olhou a olhou dos pés à cabeça, tentando achar alguma opção que não fosse tão rude para respondê-la. – Olá.

- Você tem um telefone para me emprestar? Por favor, é urgente. – ela pronunciou com um leve sotaque australiano.

- Infelizmente não. – ela tinha, mas não conhecia a garota e preferia não se envolver com ninguém em Monterey. – O telefone público não está funcionando?

- Não. – respondeu com a voz carregada de apreensão. – Você conhece alguém que tenha algum celular? Ou o bar tem telefone?

- Aposto que eles têm.

- Uh, então vou verificar. Muito obrigada. – agradeceu meio tímida.

Ray apenas deu um aceno breve com a cabeça e voltou a se encostar na parede da entrada do bar. Esperar Bethany acabar com seus casos passageiros entraria para sua lista de coisas que ela nunca mais faria na vida. Uma pena a chave do carro estar com ela. Voltou a terminar de tragar o cigarro entre seus dedos finos, brancos demais até mesmo para sua opinião, ela precisava tomar um sol ou algo do tipo.

Sua mente quando sozinha pensava em coisas futuras, seus planos nunca realizados ou voltava ao seu terrível passado. Perdera as contas de quantos obstáculos inoportunos apareceram ao decorrer dos seus vinte e três anos. Mas ela superava todos. Os que não conseguia, deixava de lado e fingia que não existia; era sua opção mais viável para quase tudo.

Amaldiçoou todos os deuses existentes no mundo ao ouvir seu celular tocar desesperadamente no bolso. A vibração e a melodia insuportável atraiu até mesmo a atenção do casal tentando se reproduzir do outro lado da rua. Ela torceu o nariz para os olhares curiosos e puxou o aparelho, não tendo a mínima vontade de ler o nome do ser humano desnecessário. Atendeu com a voz um pouco falha após se livrar do maço quase acabado de cigarro.

- Oi bebê.

- Eleanor...

- Onde exatamente você está?! – a voz animada de sua irmã lhe dava alguns enjoos. Felicidade alheia lhe dava enjoos.

- Monterey. – disse. – Chegamos ontem.

- Eu queria ter ido, mas deixa para a próxima. – ela podia imaginar a garota fazendo um estúpido biquinho adorável. Levou sua mão até a cabeça, coçando em irritação tanto pela espera por Bethany e agora a contagiante Eleanor com suas novidades semanais. – Taylor e eu fomos ao shopping ontem. Acredita que consegui vencê-lo no Just Dance?

- Que sorte. Ele é muito bom. – comentou.

- Sim! Evan foi embora antes de lancharmos, não sei o porquê. – Eleanor parecia ter um tom triste, mas logos acrescentou: - E você? Andou pulando o corguinho?

- O que merda seria corguinho, El? – ela franze a testa para o palavreado da irmã.

- Passar dos limites, sabe? Aprenda mais!

- Não. Na verdade, estou esperando Bethany para adiarmos logo nossa parada em Santa Bárbara.

- Você não me parece de bom humor... Aconteceu algo?

- Não. – repetiu, mesmo não tendo certeza se essa era a resposta.

- Bom, ok. Você sabe que pode me contar qualquer coisa, certo?

- Sim, você deixa isso claro desde quando tinha apenas doze anos.

- É bom que lembre. Mamãe está com saudade.

- Mande beijos para ela.

- Quando você volta mesmo? Ainda não me acostumei a ver papai e mamãe brigarem e você não estar aqui para me acalmar.

- Apenas coloque seus fones e deixe a música te levar para outra dimensão. Não ligue para eles, El.

- Eu não sei agir como você.

- Eu sei.

- Desculpe se isso foi rude, é só que-

- Você não precisa se desculpar, eu sei o que fiz. Embora eu não esteja errada.

- Eu quero concordar com isso, mas ainda é difícil.

- Não concorde. Não quero que você tome o mesmo caminho e ache que minhas ideias estejam certas, pois mesmo que seja lá no fundo, eu sei que não estão.

- Até Mia está com saudade.

- Mia é um gato, Eleanor. – Ray se permite revirar os olhos.

- Ela mia para sua foto na minha colagem da parede!

- Continua sendo um gato. Gatos miam.

- Você é insensível. – acusou.

- Eu apenas disse um fato... – Ray iria acrescentar mais alguma coisa, mas a risada de Bethany saindo do bar chamou sua atenção. – Eu tenho que ir, El.

- Ah, mas nem conversamos direito.

- Eu te mando mensagem depois. Tchau e se cuida!

- Eu sempre me cuido. Beijos.

Ray guardou o aparelho meio quente, olhando para uma Bethany risonha a observando. Ela tinha as alças do cropped caídas para o lado no braço, a calça de cintura alta quase podia disfarçar sua altura. A morena arqueou as sobrancelhas para a loira que riu. Estranhos sinais de embriaguez.

- Onde está a chave?

- Do que?

- Do carro, Beth.

- Ah-

- Você esqueceu isso! – o sotaque australiano fora fácil para Ray reconhecer. A desconhecida que havia trocado meia dúzia de palavras tinha a chave do carro em suas mãos e um celular na outra. – E isso também.

- Obrigada – Bethany agradeceu pegando os objetos estendidos. – Você conseguiu fazer sua ligação?

- Sim. Obrigada de novo. – sorriu para ambas. – Vocês sabem se passa táxi por aqui?

- Para onde você quer ir? – A loira pergunta mais uma vez.

- Para o Plaza Hotel, é lá que estou hospedada por enquanto.

- Também estamos lá... – Ray respondeu. – Se você quiser uma carona-

- Sim, eu quero. – cortou a frase. – Desculpa o desespero, é a minha primeira vez em Monterey e estou completamente perdida.

- Existem mapas nas ruas. – diz Ray enquanto abre o carro estacionado. – Bem, de qualquer forma, qual é o seu nome?

- Alicia.

- Eu sou Bethany. – ela estende a mão para a morena.

- É... Você já se apresentou lá dentro. – Alicia ri. – E você é..?

- Ray.

- É um prazer conhecer vocês.

- Achei que iríamos em algum outro bar – Bethany se pronuncia com um olhar triste para o carro. – não quero voltar para aquele hotel chato.

- Tem um bar no hotel, podemos ir lá. – Ray sugere. A loira entra no carro contrariada, seguida por Alicia e por fim Ray, dando partida no automóvel em direção ao hotel.

 

 

 

 

A distância entre o bar onde estavam para o hotel não era longa. Duraria no máximo sete minutos pela Cannery Row, mas Bethany dera um jeito de parar pela segunda vez desde que chegaram, em Ghirardelli. Por mais uma obra infeliz da vida, Alicia ficara tão animada quanto a loira para ir até a loja de chocolate. Duas crianças felizes saltitando para fora do carro em busca de doces.

Se não fosse pelo saquinho de mini barras de chocolate com caramelo que recebera, Ray teria deixado ambas ali. Bethany tinha um sorvete de casquinha melecado com cobertura de cor vermelha, e Alicia com um simples Dessert Cup.

Bethany suspira olhando para o alimento. – Que bom que não nos deixou.

- Eu iria.

- O que? Deixar a gente aqui? – Alicia pergunta.

- Sim, ela já fez isso comigo várias vezes.

- Você merecia. – Ray argumenta com uma mini barra na boca.

- Eu só ia no banheiro! – retrucou Beth.

- Pela quinta vez em menos de duas horas.

- Foi a Coca, confesso. – Beth morde o lábio inferior. – Juro nunca mais tomar. Ela me fez pegar um táxi até o hotel onde estávamos hospedadas, e bem, pra aparecer um táxi no meio do nada é muito difícil.

- Deus... – Alicia fez uma careta para história. – Que bom que não nos deixou. – repetiu a frase de Beth.

- Açúcar, Alicia, açúcar.. – Beth aponta com os olhos para o saquinho que descansava na coxa direita de Ray.

- Quem vai em uma loja de chocolate e pede uma salada de frutas? – Ray franze o nariz para a escolha de Alicia e a encara pelo retrovisor central.

- É, também me perguntei isso.

- Bom, eu gosto de frutas. – A morena ri com a própria resposta. – Não é dieta, mas agradeço todos os dias por gostar mais de coisas saudáveis.

- Queria ser assim. – Bethany faz um biquinho. – A última vez que comi salada foi no velório da minha avó e fiquei mais triste ainda. – riu pelo nariz.

- Eu nem lembro quando coloquei mato na minha boca pela última vez. – Ray faz uma careta e logo ri. – Eu gostei do duplo sentido.

- Tenho nojo de você às vezes, sabe?

- Eu não entendi. – afirma Alicia. – E também gosto de salada. As pessoas tem um estereótipo até para salada, nem sempre é só alface, alface e alface.

 Um breve silêncio se faz no carro após a frase da morena. Antes que Ray pudesse dizer algo, Bethany interrompe: - Concordo. Porém não conheço muito sobre saladas e essas coisas.

E o assunto encerra.

Mais dois minutos para chegarem na entrada luxuosa do Plaza Hotel, sendo recebidas por um homem as ajudando a sair do carro. Ray entrega a chave para o mesmo, indo ao encontro de Bethany e Alicia que já estavam na recepção; Beth tinha boa parte de sua blusa suja pelo sorvete. Alguns olhares mesquinhos eram direcionados à elas, Alicia retrucava com o mesmo olhar, até pior.

Beth tentava inutilmente retirar alguns papéis limpos da caixa próxima ao banheiro, mas suas mãos úmidas rasgavam qualquer um que tirasse. Alicia aproveita para pegar uma das toalhas brancas e limpas que estavam sendo levadas nos braços de uma funcionária do local – que a olha feio ao fazer o ato, mas nada reclama – e joga para Bethany.

- Então, obrigada mesmo pela carona. – agradece pela milésima vez Alicia.

- De nada. – Ray tinha mais uma mini barra em mãos sendo aberta.

- Estamos no quarto 111. – Bethany surge com a toalha manchada. – E você?

- 116, é no mesmo corredor, não?

- Sim. Vamos então? – A loira olha para Ray brigando com a embalagem de chocolate. – É só um corte no canto que você precisa fazer, Ray.

- Cale a boca. – ela rasga o papel finalmente. – Você precisa de um banho.

-Você também. – Beth sorri. – Vamos aproveitar essa bela coincidência.

Ray revira os olhos e passa entre as duas, indo para o elevador aberto.

- Vocês namoram? – Alicia sorri para Beth. – Que fofo.

- Não sei. Se sim, é algo bem aberto – confirma Bethany. A loira para de andar e se vira para Alicia. – É bastante aberto, sabe?

- Ahn... Nunca estive em algum relacionamento aberto antes, mas sei como funciona.

- Você namora?

- Não – a resposta sai quase imediata. – Quer dizer, namorava até alguns dias, eu acho? Mas no momento não.

- Você me dá um ar de certinha, desculpe pelo o estereótipo.

Alicia ri baixo. – Infelizmente você não é a primeira pessoa a me dizer isso.

- Infelizmente? Então você é extrovertida?

- Quando estou confortável, sim. Bastante extrovertida.

- Eu deixo você confortável o suficiente pra liberar esse seu lado?

- Isso é um flerte? – A morena faz uma careta.

- Não sei, você gostou?

- Era a intenção? Gostar?

- Acho que sim.

- Ray, não é? – pergunta Alicia e Bethany assente confusa. – Ela deixou a gente. – desconversa apontando para o elevador fechado. – Pelo menos foi aqui.

Bethany ri. – Sim, pelo menos foi aqui.

 

 

 

[...]

 

 

 

Izzie enrolava o mesmo cacho de cabelo nervosa, mordendo o lábio e mantendo sua atenção em sua amiga mordendo uma maçã despreocupada. Alicia está deitada de peito pra cima, espiando algo no celular que notificava a bateria baixa. Na TV do quarto, passava um filme clássico dos anos oitenta ou setenta; nenhuma das duas estava prestando atenção o suficiente para notar.

Em um suspiro, Izzie solta: - Eu liguei pra ele. É isso.

- Eu não estou surpresa – afirma Alicia, deixando o celular de lado. – você iria fazer isso, cedo ou tarde.

- Mas agora eu me arrependi.

- Hã-hã! Você não pode fazer suas merdas e depois fugir delas, chega disso. – A amiga ergueu o dedo indicador balançado-o negativamente.

- Ele está em Las Vegas, Ali. – Izzie acrescenta mais uma informação. – Com outra pessoa.

- Pelo menos alguém está se divertindo... – Alicia resmunga entediada e recebe um olhar cortante de Izzie. – O que? Não era pra ser isso?

- Sim, mas-

- Não tem desculpa, Izz! Você nem sequer ingeriu um pingo de álcool durante esses dias e por Deus, ele já deve estar na vigésima transa. – ela tinha uma incredulidade na voz. – Se permita viver, esqueça ele; vocês não vão mais voltar. – concluiu.

- Eu não o quero como antes, eu sinto falta mais da nossa amizade.

- Homem não tem mentalidade pra isso, bebê. – Irvin ri – Vamos lá, estamos fazendo essa viagem pra se divertir, certo? Esquecer os problemas e viver um pouco a vida.

- Eu não consigo me interessar em ninguém, Ali.

- Nem vem com essa! – nega rapidamente o argumento da amiga. – Hoje iremos em algum lugar e beber até não lembrarmos quem somos e dormimos na rua acompanhada de mendigos.

- Que porra...?

- Ok, exagerado. Mas iremos beber, estou cansada de ver sua cara na maior deprê. – Alicia faz uma careta.

- Podemos cortar a parte de que pra me divertir eu preciso ficar com alguém? Isso é ridículo!

- Eu nunca disse isso.

- Mas pensa assim.

- Ficar com alguém é como um complemento, sabe? Tipo feijão e arroz, queijo e goiabada-

- Pare.

- Você vai comigo – A morena vai até o closet do quarto do hotel onde estavam, tagarelando sobre como o gosto da amiga para roupas não eram bons. – Você vai e vai com esse vestido! – exclama, a animação dominando sua voz e levanta o vestido curto preto. – Vai ter deixar gostosa.

- Minhas roupas não são um problema.

Alicia morde o lábio, desviando o olhar da amiga. – Certo. Mas como eu estou planejando tudo isso, eu escolho as roupas.

- Tudo bem – desiste de discutir. – Não quero você colocando ninguém no meu caminho, entendeu?

- Entendi – Alicia tira a camisola de algodão que usava e a joga no chão, vestindo em seguida o vestido preto que sugeriu para Izzie. – E aí?

- Eu posso ver seu útero, Ali. Isso está muito curto.

- É o mais longo que já usei na vida.

- Não duvido. – Izzie dá uma risadinha. – Odeio alimentar seu ego, mas tem uma roupa sua que amo e, felizmente, você trouxe ela na mala.

A cacheada dá pulinhos até a mala rosa choque no canto do quarto. Alicia está sentada na beirada da cama de casal, sua calcinha branca aparecendo pela posição indiscreta, ela observa atentamente a amiga escolher uma de suas roupas – para a sua felicidade interna.

- Quem consegue dançar livremente em uma calça jeans justa? – o sorriso de Alicia murcha ao ver a roupa escolhida.

- Quem consegue dançar livremente em um vestido curtíssimo e salto alto? – retruca no mesmo tom birrento.

- Você venceu essa.

- Obrigada – agradece com um sorriso no rosto. – E não sei como, mas você tem um cropped de The Civil Wars e será ele que irei usar.

- Ei, eu gosto de The Civil Wars.

- Ah, é? – Izzie aperta os olhos em desafio. – Me diga alguma música que não seja Poison & Wine.

- Dance Me To The End Of Love – Alicia responde rapidamente – e Barton Hollow. São minhas preferidas e também as únicas que parei para escutar.

- Quem diria que Alicia Irvin tem um bom gosto musical.

- Meu cantor preferido continua sendo Shawn Mendes.

Izzie torce o nariz em desgosto ao ouvir as palavras proferidas. – Ainda tenho chance de mudar isso.

Sem querer que a escolha de roupas durasse mais tempo que o necessário, ambas decidem o que usar e seguem para seus respectivos quartos no hotel – caso de Izzie, que dormia no quarto ao lado. Optaram pela festa que o Hotel mesmo daria naquele dia, menos trabalho caso estejam porres o suficiente para esquecer o próprio nome.

 

 

 

 

[...]

 

 

 

- EU VOU PEGAR ALGO PARA BEBER – Bethany gritou no ouvido de Ray. As duas garotas tinham acabado de chegar no salão de festas do Hotel, a música mesmo que não fosse uma opção boa, estava em um volume agradável e Ray não entendeu o porquê de Beth gritar.

Talvez já estivesse bêbada.

O Salão reunia muitas pessoas mesquinhas das quais viram quando chegaram. Alguns empresários com suas esposas ou possíveis amantes, velhos ricos com garotas de programa apostando na mesa de pôquer; algumas tinham os seios para fora e por fim, pessoas de bem com a vida transitando sem um rumo exato. Os lustres chiques de ouro sendo exibidos no teto, o ar exalando perfume caro e tabaco, garçons bem vestidos levando vinho nas bandejas, até mesmo o piso tão polido que Ray poderia ver seu reflexo perfeitamente no chão.

Aquele definitivamente não era seu lugar. Mas Bethany se enturmava até mesmo com algum mafioso prestes a matar alguém, e bem, isso era só mais uma parada passageira.

Escolheram uma mesa qualquer próxima de dois casais. Um conversando alegremente, o outro estava preocupado em beber vinho na melhor das posturas e notar o defeito alheio, comentando e rindo “discretamente” disso. Beth e Ray reviraram os olhos ao mesmo tempo ao perceberem o casal bancando os tais, logo com Beth a lançando um olhar e um sorriso diabólico.

- Eu não estou pagando mais de mil dólares neste hotel pra não poder escolher uma música. – É isso o que diz antes de se levantar em um pulo e ir até um segurança perto do bar.

Ela tinha algo que, nos olhos das outras pessoas seria uma coisa horrível, mas Ray sabia exatamente o show que Bethany queria dar. E ela iria conseguir.

Bastou cinco minutos de conversa com o segurança lhe dando sorrisinhos para ele se afastar dela e seguir em uma direção oposta. Beth sorria como nunca, caminhando lentamente até a mesa onde estavam, pegando o copo cheio de uísque de boa qualidade e o ingerindo em apenas um gole.

- Falta quanto pra você se inscrever nos Alcoólatras Anônimos? – Ray pergunta suavemente, degustando sua bebida de cor azul.

- Eu não preciso sentar no meio de vários babacas e contar como é difícil viver sem álcool no dia a dia – responde amarga. – Eu posso fazer isso sozinha.

- Se você diz... – A morena dá de ombros. – Que música você escolheu? – mudou de assunto, interessada em saber se a escolha fora sábia.

- Bad Company, claro! – diz animada. – Ready For Love.

- Não sei onde você consegue de excitar com essa música, Beth.

- Quando estou bêbada o suficiente, sim. Agora? Talvez não. A batida é legal, posso fazer um lap dance em você aqui mesmo pra calar a boca daqueles idiotas.

- Lap dance ao som de Ready For Love? – Ray franze o nariz. – Nada a ver.

- Posso escolher outra – Beth pisca para a amiga. – Se você estiver interessada em satisfazer seu fetiche em praticar coisas sexuais, mesmo que com roupas, em público.

- Eu não tenho fetiche com isso!

- Então cale a boca e aproveite a música escolhida.

As primeiras batidas de Ready For Love ecoaram no salão, não demorando muito para a voz de Paul Rodgers começar a cantar a letra da música. Bethany sorriu de orelha a orelha, se levantando e estendendo sua mão em forma de convite para Ray. A morena suspira, alternando seu olhar entre a mão de Beth e o restante do salão confuso pela mudança instantânea de música.

Que se fodam.

Sua mão tocou na de Beth, que fechou rapidamente em torno do seu pulso, a puxando de uma forma nada delicada para o meio do salão. É claro, elas eram o centro das atenções agora. A loira morde o lábio inferior, sorrindo. Ray não sabia o que exatamente fazer; nunca fora amante de danças e sempre fugia se fosse possível, mas era Bethany. Nunca houve ninguém para dizer um simples ‘não’ no histórico de pedidos da loira.

A proximidade entre as duas era razoável. Agradecia mentalmente por Beth não querer algo sexual – com roupas – em público. Na verdade, a autora do fetiche era a própria. O único contato físico era as mãos. Logo a loira deslizava as mãos de Ray para sua cintura e virou de costas. Era visível a tensão no local, principalmente entre as meninas, mas conforme o refrão ia se aproximando, ambas se soltavam mais. Esqueceram que estavam em público, mais especificamente; um público de alta classe acostumado com as regras da sociedade machista. Esqueceram que a música não era uma boa opção para a dança. Esqueceram até mesmo que Bethany estava fazendo isso por conta do álcool exagerado em seu organismo.

Quando o refrão finalmente chegara, estavam sincronizadas na coreografia que Beth tentava fazer. Sensual, mas nada vulgar. O cheiro de xampu de bebê fez Ray rir internamente da amiga. E então Bethany girou, voltando a fitar a tonalidade cinza-esverdeado que eram os olhos de Ray. Etéreo e elegante. Um pouco assombrosos para desconhecidos. Para Beth era perfeito, assim como ela.

Ver Ray se soltando seria uma grande vitória para ela. Nenhuma das duas estavam com medo ou vergonha no momento, isso as ajudavam a se soltar cada vez mais e acreditarem que era a coisa mais normal do mundo dançar em salão chique ao som de rock clássico. Beth aproximava cada vez mais seu corpo do de Ray, lançando seu típico sorriso de quem iria aprontar e depois agir como se nada tivesse acontecido.

A loira levou suas mãos até a nuca de Ray, acariciando o local sem desviar o olhar da mesma. Aproximou seu rosto se atrevendo a fitar os lábios rosados da amiga descaradamente, desfazendo seu sorriso sínico ao ter o contato desejado.

E foi isso. Bethany saiu da ponta dos pés e passou a língua nos lábios.

- Ah, poxa, eu pensei que ia rolar beijão! – uma voz feminina reclamou perto das garotas.

- Alicia! – Bethany saudou a nova amiga. – Não sabia que viria para cá.

- Só preciso deixar minha amiga bêbada, não importa o que aconteça hoje, ela tem que ficar bêbada. – contou e logo a tal amiga apareceu atrás de Alicia, um pouco tímida com todos os olhares voltados à elas no salão. – Estava falando de você. Meninas, essa é Izzie, minha melhor amiga e Izzie essas são as garotas de deus que me deram carona, Bethany e Ray.

- Olá, prazer em conhecê-la. – Beth sorri amigável e Izzie retribui. – Em poucas palavras, fiquei sabendo que você precisa voltar pro quarto o mais porre possível.

- Alicia... – Izzie a  lançou um olhar incrédulo.

- Eu posso ajudar. – A loira passou o braço pela cintura de Izzie. – Vamos para o bar, irei te mostrar as melhores e as piores. Mas tenha em mente: as piores são as melhores. – sussurrou a última parte.

Alicia jogou a cabeça para trás, rindo do olhar de desespero de Izzie para ela. Logo deu de ombros, virando para ir em direção oposta da que elas foram. A amiga precisava esquecer o ex idiota e era isso que Alicia iria fazer. Agora Bethany na verdade. Não importava muito quem a deixaria bêbada, a meta era só voltar tão consumida pelo álcool a ponto de não conseguir abrir a porta do quarto. As metas viviam mudando, ou apenas eram feitas juntas.

- Companhia? – Alicia se ofereceu para Ray, pedindo indiretamente a permissão para juntar-se à ela na mesa.

- Pode sentar.

- Ela vai conseguir deixar minha amiga bêbada?

- Sim, definitivamente vai. Ou pode transformar ela em uma alcoólatra.

- Beth é...?

- Não é segredo pra ninguém, mas vamos evitar de falar isso com ela, ok? Ela odeia.

- Ok. – assentiu. – Vocês se conhecem a muito tempo?

- Mais ou menos três anos. Você conhece Izzie desde quando?

- Desde que eu entendo que sou gente. – ri. – Ela está passando por uma fase de superação de ex.

- Ah... É uma bosta.

- Sim, ela não se permite viver. Quer ir em busca até de algum tipo de amizade, eu quase enlouqueci.

- Então deixá-la bêbada é uma opção viável? – Ray ergue a sobrancelha.

- Ela não quer se envolver com ninguém. Dizem que a bebida ajuda, não?

- Bom, as opção delas são: Milionários com amantes, eles a trocariam por ela, tenho certeza. E os velhos jogando pôquer exibindo prostitutas. Acho que ela ficaria no colo de algum deles pro resto da noite, tenho certeza também que eles não têm mais pinto pra transar.

Alicia gargalha. – Qualquer coisa que não seja ex, está ótimo. Mas eu mesma dispenso os velhos por ela.

- Ainda bem. Viagra nem sempre ajuda.

- Talvez eu a inscreva no Tinder se nada der certo.

- É uma boa opção – Ray ri. – Me adiciona lá.

- Não acredito que você tem... Eu acho um pouco absurda a ideia de confiar em alguém pela internet, mas cada um com suas loucuras.

- Também não é sair por aí marcando encontros sem conhecer. Você precisa se sentir bem com a pessoa, principalmente conhecer ela por completo. Não tem lógica sair distribuindo sua confiança pra desconhecidos.

- Agora estou mal por ter aceitado a carona de vocês.

- Deveria estar. Imagina se nós mudamos a rota, te levamos pro meio do mato e você descobre que nosso fetiche é garotinhas desesperadas por uma carona.

- O que aconteceria no mato?

- Certo, isso é o interessante.

- Bom, não ouvi a palavra ‘morte’ na sua frase, então tá de boas. O que aconteceria no mato? – repete a pergunta.

- Tá, deixa eu pensar... – Ray franze a sobrancelha com as ideias. – Te estuprar é o esperado, mas iríamos te torturar pois isso dá prazer.

- Acho que a vodca já está fazendo efeito, mas isso é um pouco excitante.

- Eu vou ter que concordar. Melhor do que se excitar com uma música, não?

- Depende da música!

- Ah não..

 

 

 

[...]

 

 

 

De um lado, Bethany já podia tropeçar em si mesma junto com Izzie. Perderam a conta de quantos desafios já tinham feito e do quanto haviam bebido. Até mesmo o barman estava se divertindo com as duas, o assunto era piadas bestas e sem graça que não faziam sentido. Mas no momento, não existia coisa mais engraçada do que a piada “O que a galinha foi fazer no outro lado da rua?”.

E no último desafio, se renderam ao ‘presentinho’ que o barman tinha em mãos. De forma mais específica, alguns cigarros de maconha que ele traficava dentro do Hotel. Coisa feia. O álcool é o segundo pior inimigo da razão, só fica atrás das merdas que o coração faz pela gente. Aceitaram na maior leveza os cigarros, aproveitando a vibe diferente que acabaram de conhecer.

De outro lado, Alicia e Ray debatiam sobre as ‘melhores séries’ na opinião de cada uma. A metade da noite fora gastada em conversas aleatórias que resultavam risadas altas até demais. Nenhuma das duplas ainda tiveram contato após se separarem para beber ou conversar e o salão não teve tanta mudança nas três horas que se passaram. Apenas alguns idiotas foram dormir ou outros babacas levaram as prostitutas para tentar transar.

- Eu não sei o que estou fazendo aqui, sentada e discutindo sobre séries com alguém que acha The Vampire Diaries a melhor. – Ray bate com a mão na mesa.

- Não é só romance! – argumenta Alicia. – Você deveria assistir.

- Desculpa, gata, mas não pago Netflix pra isso.

- Não sabe o que ‘tá perdendo. – murmura a morena um pouco indignada.

- Nada.

- Eu não vou responder isso, ok? Eu não vou. – Alicia aponta o dedo indicador para Ray. – The Originals é maravilhoso também. Está na segunda colocação.

- O quanto de vodca você já bebeu por hoje?

Alicia mostra língua. – Melhor que uma sériezinha chata sobre zumbis.

- Quem disse que The Walking Dead é a minha série preferida? É perfeita, sim! Mas não é minha preferida.

- E qual s-

Um tombo impede Alicia de falar. Bethany e Izzie são o centro das atenções agora, mas caídas no meio do salão, apreciando o quanto o chão reflete bem a imagem delas. Elas riem; riem e muito. Ray tem a pior das caretas no rosto ao olhar para as duas se empurrando e rindo disso.

- Eu tô porre ou...

- Não, elas estão. – Ray confirma para Alicia e se levanta. – O que eu fiz pra merecer isso? Eu nunca atirei uma pedra na cruz.

- Está ótimo assim, não reclame. – Alicia a alcança. – Vamos subir que a noite acabou por aqui.

- Não quero nem imaginar a ressaca de amanhã.

- Ainda bem que eu moderei, nunca agradeci tanto por isso. – Alicia se agacha perto de uma Izzie quase alucinada. – Você está bem, bebê?

- Você é tão linda, Ali. – Izzie comenta e ri.- Maggie não devia ter te deixado, qual era o problema dela?

- Hum... Você está bem bêbada, gostei disso.

- Eu ó – ela levanta o dedo indicador e o do meio para a boca e assopra. – Lá no bar. Foi bom.

Alicia arregala os olhos e olha desesperada para Ray, que escutou também o que Izzie disse. – O QUE?

- Relaxa, foi só um baseado. – Ray dá de ombros. – Elas não vão morrer.

- Ok, mas Izzie tem asma.

- E?

- Não faz mal?

- Ela tá tendo uma crise de asma?

- Não..

- Já tem sua resposta. – Ray pisca pra ela e volta sua atenção para Bethany já de pé. – Vamos pro quarto, chega por hoje.

- Ah. – Beth faz o seu biquinho de birra. – Eu tava gostando de ser um pequeno coelho.

- Você pode ser um pequeno coelho, mas nos seus sonhos.

- Eu espero não ter que segurar seu cabelo pra você vomitar, Izz! – Alicia quase implora.

- Eu só quero dormir. – murmura Izzie sonolenta.

- Faz ela vomitar, vai por mim, é a melhor coisa. Não sei o quanto de álcool que elas beberam, então a faça vomitar.

- Eu odeio isso. – choraminga. – Elas conseguem andar até o elevador sem cair?

- Poderíamos fazer uma orgia, o que acham? – propõe Bethany de repente e todas a olham, até mesmo Izzie bêbada.

- Eu não vou ficar nua pra três pessoas. – Izzie nega.

- Você está bêbada, Beth, tenho certeza que não é isso que você quer. – Alicia tenta acalmar a situação. – E ninguém aqui vai fazer, certo? – pergunta alternando o olhar entre Ray e Izzie.

- Tanto faz. Bethany bêbada não tem nenhuma diferença da Bethany sóbria.

- Você está considerando um possível ménage ou orgia? Que diabos...?

- É melhor que se satisfazer com uma boneca infantil.

- Você prometeu não tocar mais nesse assunto!

- Mas eu não tenho culpa. É muito estranho saber que uma boneca, literalmente, foi estuprada.

- Ela não tinha como dizer sim ou não, pois é só um brinquedo. E eu era uma criança.

- Um ménage é uma boa lembrança que se pode ter.

- Ah, é? E a questão de confiança, conhecer a pessoa e tals. Que feio contradizer seu discurso.

- Você também está considerando! – Ray acusa e ri.

- Não, claro que não! – Alicia sente o rubor em suas bochechas. – Eu não vou ficar nua pra vocês.

- Certo então. Ninguém aqui está sóbria o suficiente pra agir com a razão, então discutimos disso amanhã. – Ray diz sorrindo.

- Nem hoje, nem amanhã e nem nunca. Esse assunto nunca existiu, por Deus, nos conhecemos hoje.

- Amanhã, Alicia, amanhã.

 

 



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