História Personal Soldier - Seu amor, tudo em mim.

Os primeiros raios de Sol despontavam no horizonte. Ainda era muito cedo. Marie permanecia deitada em meu peito. Dormia calma e serena. Saí da cama tomando cuidado para não acordá-la, ela se mexeu um pouco, mas logo se aquietou. Fui até a sacada do quarto e observei o céu. Estava lindo, porém nada comparado ao rosto suave de Marie recostado no travesseiro. Voltei para dentro do quarto e a observei. Um enorme buraco se abriu em meu peito. O que eu faria? Ontem tudo parecia tão claro. As palavras dela me comoveram profundamente e destruíram as dúvidas, porém o nascer de um novo dia trouxe de volta todos os malditos medos. Concentrei-me em ouvir o coração de Marie enquanto pensava no que deveria fazer. Quando dormimos nossos batimentos ficam lentos, então quando ela acordasse a frequência se elevaria e eu teria segundos até que ela abrisse os olhos. Praticamente implorei mentalmente para que o sono dela estivesse pesado. Eu precisava de tempo, porém minutos depois o coração dela bateu mais forte. A olhei aflito. Eu não havia encontrado uma solução. Os olhos da garota se abriram lentamente e ela foi se acostumando com o ambiente. Depois de notar minha ausência na cama ela levantou ligeiramente a cabeça e assim conseguiu me ver. Um sorriso incrível surgiu nos lábios de Marie. Ela me olhou como se não me visse há anos, ou como se eu fosse tudo que ela esperou a vida toda. Meu coração não pode deixar de doer um pouco por isso. Se ela não me amasse tudo seria mais fácil. Eu não pensaria duas vezes antes de pegar tudo que sinto por ela e enterrar fundo dentro de mim, se houvesse a garantia de que ela seria feliz com outro. Eu poderia facilmente esquecer todas as sensações maravilhosas que Marie me fez sentir visando o bem da pequena garota. Entretanto, cada vez eu tenho mais certeza de que a teimosia de Marie nunca permitirá que ela ame outro. Esse tempo todo ela não me tirou da cabeça. Quantos anos seriam precisos para que ela desistisse de mim? Eu não sei se um século seria o bastante e ela não tinha todo esse tempo, só eu.

– Bom dia. – Sussurrou.

– Bom dia Marie.– Me aproximei da cama e sentei na parte em que eu dormi. O olhar de Marie ficou em mim o tempo todo. – Está muito cedo. Volte a dormir.

– Eu tenho aula hoje. – Ela fez uma breve careta e se sentou na cama. Só então ela deixou de me olhar e encarou o relógio ao lado da cama. – Daqui a pouco todos vão acordar. – Não respondi. Minha vontade insana era de prendê-la em minha cama, nos meus braços e nunca mais deixa-la ir. Porém nunca seria assim. Um incômodo silêncio ficou entre nós. Eu não tinha a mínima ideia do que dizer para Marie. Sem perceber, Marie tocou a minha plaquinha de identificação que sempre carrega em seu pescoço. Observei atento o cuidado que ela mantem com o objeto e então ela percebeu o ato involuntário.

– Eu fiquei muito feliz quando você recuperou isso. – Confessou Marie fazendo com que eu a olhasse novamente.

Após meu encontro desagradável com Stryker eu optei por largar a plaquinha de identificação no lago como forma de deixar todo aquele sofrimento para trás, porém Marie não gostou nada quando soube. Um tempo depois encontrei um mutante que poderia localizar o objeto e então pedi ajuda. Foi até fácil já que estava no mesmo lugar, escondido no gelo. Me lembro muito bem do enorme sorriso de Marie ao perceber que eu havia recuperado a plaquinha.

– Você sempre deu valor para isso. Não poderia estar em melhores mãos.

– É um jeito de te ter por perto. Um modo de nunca ficar sozinha. – Ela falou pensativa.

– Eu estou aqui.

– Eu sei. – Marie sorriu. – Você parece preocupado, mas não há motivos para isso. Nós podemos conversar sobre o que aconteceu em outro momento. Muita coisa foi dita...

– Eu praticamente não disse nada. Você se declarou para mim e eu não disse nada Marie.

Me senti um idiota insensível. Marie praticamente rasgou sua alma na minha frente e eu não fui capaz de dizer nada à altura. Apenas deixei uns poucos pensamentos ficarem soltos durante nosso momento de intimidade, entretanto não me permiti dizer o que realmente sinto.

– Você cedeu Logan. Isso já diz tudo que eu preciso saber. – Ela falou confiante.

– Você sabe o quanto isso é difícil para mim, não sabe? – Perguntei tirando os olhos dela por um breve segundo.

Marie se arrastou na cama e se aproximou de mim. Sua mão delicada tocou meu rosto e nossos olhos se prenderam. Toda vez que a pele de Marie se encosta à minha é como se um anjo me tocasse.

– Quem mais nesse mundo pode saber sobre você tanto quanto eu?– Perguntou com a voz suave.

– Ninguém. – Respondi o obvio num tom de voz baixo. – Eu não sei o que fazer com isso. Não tenho noção de como devemos agir depois do que aconteceu, mas eu tenho que te dar a razão Marie. Eu sinto algo por você. –Fiquei aliviado em dizer. – Na verdade, tudo que eu sinto é por você. Você desperta o melhor e o pior de mim. Eu pensei que nunca mais sentiria nada, mas então eu senti sua falta. Eu voltei por sua causa e agora eu não quero mais ir embora. Eu não vou.

– Eu sei. – Os olhos de Marie brilharam devido às lágrimas que começavam a se formar neles. – Você me prometeu Logan.

– E vou cumprir. Eu tenho que cuidar de você.

Nos encaramos por longos e extensos segundos até que Marie aproximou o rosto delicado do meu. Nossas bocas estavam a milímetros de se tocarem. Os olhos dela serpenteavam em observar minha boca ou me olhar fixamente. Não me contive e colei nossos lábios. Um beijo sereno que carregava um turbilhão de sentimentos. Quando nos separamos ela encostou sua testa na minha e continuou acariciando meu rosto. Respirei fundo gravando em minha memória o cheiro de morango que ela tem.

– Tenho que ir. – Os lábios macios de Marie tocaram os meus brevemente e então ela começou a se vestir. Me limitei a apenas observar as ações dela. Depois de calçar as sandálias ela me lançou um pequeno sorriso. – Nos vemos depois.

Confirmei com a cabeça e a garota saiu do meu quarto depois de checar se havia alguém no corredor. A cautela dela quase me fez sorrir. Eu poderia claramente ter dito a ela que não havia ninguém ali, só com meu olfato e audição aguçados, mas a preocupação dela era tanta que nem pensou nisso.

(...)

Após tomar um banho rápido e me vestir saí do quarto. Decidi evitar o refeitório. Não estava a fim de aguentar o barulho matinal dos alunos. Na verdade eu nunca estou. Fui para a cozinha. Entrei no cômodo e para minha surpresa Marie e outra garota estavam lá. Marie sorriu para mim e a outra nem me viu, pois estava distraída procurando algo no armário.

– Onde estão meus biscoitos! – Gritou impaciente. – Eu preciso de chocolate porque você está me deixando louca Marie. Me conte logo para quê você usou meus poderes ontem. Esse suspense está me matando. – Reclamou ela. Franzi minha expressão diante de sua fala. Marie tinha adquirido os poderes da tal garota ontem. Encarei Marie e ela parecia apavorada pela revelação feita. – Achei! Estava atrás do açúcar... – A loira fechou a porta do armário e então me viu parado perto da porta. Ela levou um pequeno susto com isso e quase deixou os biscoitos caírem. – Ah... Oi, Wolverine. Logan! – Me cumprimentou sem graça.

– Qual o seu nome? – Fui objetivo.

– Melanie. Sou amiga da Marie. Nós nunca fomos apresentados. A Marie fala muito de você. – A mão dela se estendeu para que nos cumprimentássemos, porém usando minha falta de modos habitual eu não apertei sua mão. Sem graça, ela recolheu o braço. – Bom, eu sou meio nova aqui, mas já fiz alguns amigos. Inclusive sou amiga de Warren também. Eu aprecio muito o que os X-men representam para nós mutantes. Ainda não consegui entrar nesse seleto grupo, mas Tempestade diz que tenho potencial. – Tagarelou. Percebendo que eu não dei a mínima ela calou a boca. Marie parecia ainda mais em pânico.

– O que você estava dizendo sobre a Marie pegar seus poderes ontem garota? – Questionei já preocupado com a resposta. Pela expressão aflita de Marie eu não deveria estar perguntando aquilo.

– Não é nada. Melanie se confundiu. Eu peguei os poderes dela outro dia. Não ontem. – Marie mentiu terrivelmente mal.

– Responda minha pergunta garota. – Encarei a amiga de Marie e elevei meu tom de voz um pouco.

– Marie pegou meus poderes, mas como ela disse não foi noite passada, foi outro dia. Eu me confundi. – Ela me lançou um sorriso amarelo nada convincente. Os corações de ambas se mantinham acelerados. Sinal clássico da mentira.

– E qual é o seu poder? – Perguntei entre os dentes.

Tudo ali não parecia certo. Elas estavam tentando me esconder algo. E claramente minha intimidação estava fazendo afeito na loira.

– Tato-hipnose. – A voz da garota quase não saiu.

Em um estalo tudo fez sentido em minha cabeça. Infelizmente.

– Você influencia as ações das pessoas quando as toca. – Mais concluí do que perguntei e então a loira assentiu.

Uma enorme decepção atingiu meu coração. Marie usara o tal poder para me coagir na noite passada. Isso explica como todos os meus receios sumiram em questão de segundos. Não era verdadeiro. Não era racional. Pousei meus olhos em Marie e ela parecia se desculpar mentalmente. Ela tinha plena certeza de que eu não gostaria de saber daquilo. Eu nunca pensei que ela fosse capaz de tal coisa. Marie ultrapassou um limite e me deixou arrasado.

POV MARIE

 Logan não disse mais nada. Em seus olhos eu conseguia enxergar que havia acabado de magoar os sentimentos dele. Antes que eu pudesse me explicar ou me desculpar verbalmente ele saiu da cozinha.

– Logan! – Chamei entrando em desespero. Ele nem se virou e continuou andando pelo corredor até sumir da minha vista.

Me recostei no batente da porta da cozinha e segurei a terrível vontade de chorar que já me preenchia.

– Marie, meu Deus. O que aconteceu?! – Melanie veio até mim e me abraçou.

Talvez se ela não tivesse me apoiado eu teria caído.

– Eu sou uma idiota. Ele não vai me perdoar. – Não consegui conter as lágrimas.

– Do que você está falando meu bem? Eu não estou entendendo Marie. Se acalme, por favor. – Minha amiga tentou me tranquilizar.

Chorei sem dar explicações por um tempo. O sinal para a primeira aula bateu, mas não nos movemos. Melanie continuou me abraçando calada até que eu conseguisse deixar de chorar. Mais calma eu consegui contar para ela tudo que aconteceu entre mim e Logan. A surpresa tomou conta da garota. Ela nem desconfiava dos meus sentimentos pelo mutante. A abracei forte novamente e comecei a pensar em como concertaria a confusão que havia acabado de se formar.

Melanie sugeriu que nós matássemos aula, porém achei melhor não prejudica-la. Esperamos o 2º período começar e cada uma foi para sua aula. Meus olhos ainda estavam muito vermelhos pelo choro, mas aparentemente ninguém se preocupou. Tudo passou praticamente em branco. Eu não consegui me concentrar em nada. Repassei os últimos dias mentalmente e percebi que precisava conversar com outra pessoa além de Logan. Quando o último sinal bateu, recolhi meu material e saí apressada a procura de Warren.

Bati na porta do quanto de Anjo e ninguém respondeu. O procurei por todo o instituto e não achei, até que me lembrei do lugar mais provável em que ele estaria. Subi as escadas e fui para a varanda que dá acesso ao telhado. O cadeado da porta estava arrebentado. Warren não precisava desse caminho para ir lá, porém ele quebrou o cadeado para que eu e outros amigos pudéssemos ter acesso ao local também. Passei pela porta e então subi a escada enferrujada sem fazer barulho. Como eu havia imaginado Warren estava sentado na beirada do telhado e encarava o belo horizonte urbano. Me aproximei a passos lentos.

– Warren. – Chamei com um pouco de receio.

O mutante se virou e depois se levantou. Não achei as palavras certas. Apenas o abracei fortemente. Segundos depois ele retribuiu o gesto e envolveu os braços ao redor do meu corpo. Respirei fundo e me senti minimamente melhor. Depois do que Logan disse no jantar eu não tive a oportunidade de encontra-lo e dar apoio.

– Me desculpe. – Falei baixo. – Eu te procurei naquela noite, mas resolvi te dar um tempo para pensar. Talvez eu não devesse ter te deixado sozinho. – Lamentei.

– Está tudo bem Marie. – Carinhosamente Warren levou uma das mãos a minha cabeça e alisou meus cabelos. – Eu fugi. Você não poderia ter voado atrás de mim. – Respondeu ele com um ar ligeiramente risonho.

– Eu poderia ter gritado seu nome. Eu parei de te procurar muito rápido.

– Eu sei. – Uma pontada de tristeza ficou evidente na voz de Warren. Como assim ele sabia? Tirei meu rosto de seu peito musculoso e o encarei confusa. – Eu sei que você poderia ter gritado, mas não se preocupe. – Explicou ele.

– Ah... – Soltei. – Você não está chateado comigo? – O encarei receosa.

– Não. – Ele franziu as grossas sobrancelhas.

– Você e Logan se entenderam?

– Não temos nenhum problema. Pelo menos da minha parte, está tudo resolvido. Foi ele que me insultou primeiro. Eu só disse os fatos. – Ele se justificou prontamente.

– Eu não quero ver vocês brigando. Vocês são importantes para mim. – Tentei sorrir um pouco, mas não sei se consegui.

Por um segundo o rosto de Warren ficou tenso como se ele não concordasse comigo, porém logo se suavizou e então o garoto esboçou um meio sorriso.

– Está tudo bem. – Reafirmou com a voz calma.

O abracei novamente e ficamos ali naquele telhado por algum tempo.