História Personal Soldier - Eu ainda quero que você fique.

POV LOGAN

Alguém bateu na porta, pensei em ignorar, mas resolvi não ser pessimista.

– Entre. – Mandei. Marie apareceu desconfiada, com o olhar perdido e até que me viu na sacada. Entrei fechando a porta de vidro e ela fechou a porta atrás dela.

– Obrigada por me salvar. De novo. – Ela sorriu levemente.

– Não precisa agradecer. – Soltei a fumaça e percebi que a incomodou um pouco, então apaguei o charuto no cinzeiro ao lado da cama. Eu sabia que me arrependeria disso mais tarde, mas não quis deixá-la desconfortável. – Era só uma simulação.

– Não... Foi importante para mim. – Marie respondeu rapidamente e depois abaixou os olhos um pouco envergonhados. As bochechas de porcelana agora ganhavam um leve tom de rosa. Vê-la sem jeito quase me fez sorrir.

– Obrigado. – Me aproximei dela sem perceber, quando dei por mim já estava a pouco mais de um palmo dela.

– Pelo o quê? – Ela perguntou curiosa e com um sorriso surpreso. – Não fiz nada.

– Por ter me acalmado. Eu faria uma besteira se você não interviesse. – Confessei o óbvio e ela apertou os lábios bem desenhados num sorriso reto.

– Não tem de quê.

Porque agora eu reparava tanto nela?! Os traços do rosto de Marie eram tão delicados e bonitos. Talvez a pergunta fosse, porque eu não reparei nela antes?! Afinal ela sempre esteve ali comigo, eu até sabia que no inicio ela teve certa queda por mim, porém estava ocupado demais com minha obsessão quase cega por Jean. O fato é que eu não posso reparar em Marie, não me permito tal atrevimento. Um cara mais velho como eu e cheio de problemas com o passado não pode se aproximar de uma garota tão doce e cheia de vida como ela. Seria injusto, eu com certeza a magoaria com meu jeito. Logan, você não pode se deixar levar. Repeti para mim mesmo, mas talvez fosse tarde demais para isso.

– Porque voltou? – Marie rompeu o silêncio prendendo os grandes e curiosos olhos nos meus.

“Porque senti sua falta.” – Pensei. – Achei que devia voltar. – Respondi. – Por quê? Não gostou?

– Não! Não é isso. – Ela respondeu rápido, quase atropelando as palavras. – Eu gosto de te ter por perto. – Marie completou com a voz baixa e um sorriso discreto.

Eu também gostava de ter Marie por perto. Não respondi, apenas a encarei procurando algo para falar. Acho que mudar de assunto seria melhor.

– O que achou da aula de defesa pessoal mais cedo? – Puxei uma conversa mais leve. Marie deu uma pequena risada colocando a mão delicada perto da boca.

– Foi hilário! Eu sabia que você não deixaria o menino sair dali sem uma lição. Ryan gosta de ser o engraçadinho da turma. – Ela comentou e rolou os olhos.

– Parece que alguns alunos daqui precisam aprender limites.

– Então fique por um bom tempo e os ensine Logan. – Os olhos de Marie brilharam. Não era uma sugestão casual, era um pedido.

– Pode ser. – Não consegui responder nada mais concreto. Ficamos nos encarando de um jeito estranho. Marie me olhava diferente. Eu podia perceber vestígios do olhar de desejo que ela me lançou mais cedo ao me ver sem camisa. Atrás da doçura eu começava a ver um pouco de veneno.

– Eu... Vou embora. – Ela tentou sorrir, mas não conseguiu muito. – Até outra hora...

– Tchau garota.

Marie me deu uma última olhada e saiu fechando a porta. Era um costume meu chamá-la de garota, porém agora já não tinha tanta certeza se devia continuar.

POV MARIE

Saí do quarto de logan e praticamente voei até o meu. Entrei rapidamente, fechei a porta e deixei meu corpo cair com as costas apoiadas na mesma. Me sentei encolhida e apoiei minha cabeça sobre meus joelhos respirando fundo.

– Controle-se Marie. Está tudo bem agora. – Murmurei para mim mesma tentando me acalmar.

Meu coração estava disparado e eu podia sentir meu rosto em chamas. Logan sempre causou esses efeitos em mim, entretanto agora tudo se intensificava. Cada vez que me encontrava muito próxima dele sentia uma necessidade de me aproximar ainda mais. Tudo nele me atrai extremamente. Se eu ficasse mais alguns segundos naquele quarto, talvez o agarrasse sem pudor ou reservas. Logan não aceitaria isso, nosso bom relacionamento provavelmente iria por água abaixo. Ele nunca olhará para mim desse jeito.

– Nunca... – Sussurrei sentindo uma estranha e sufocante vontade de chorar.

(...)

Cheguei ao refeitório lotado e Warren sorriu para mim encostado num canto.

– Oi. – O cumprimentei.

– Oi. A intenção era comer e conversar, mas está cheio...

– Podemos voltar mais tarde então.

– Quer dar uma volta? – Ele sugeriu, assenti e começamos a caminhar para fora dali.

Chegamos ao pátio do colégio e ninguém estava lá. Conseguia ouvir alguma coruja ao longe e o som dos nossos passos na grama. Logan não me saía da cabeça um só segundo e os meus olhos o procuravam na escuridão, numa esperança boba que ele me encontrasse ali e me livrasse do compromisso de estar com Warren. Não que a companhia do Anjo fosse ruim, pelo contrário, sempre gostei de tê-lo como amigo, mas estar com Logan era muito mais prazeroso e intrigante.

– Está me ouvindo, Marie? – Warren parou de caminhar ficando na minha frente. Percebi que ele me olhava com os olhos levemente arregalados e a boca entreaberta. Eu não fazia à mínima ideia do que ele tinha dito.

– Desculpe, estava distraída.

– Percebi.

– O que você estava dizendo?

– Nada, deixa pra lá... – Warren se fez de difícil e olhou para o lado.

– Warren, não seja criança. Já me desculpei... Por favor, repita o que você falou. – Pedi usando meu melhor sorriso, mas não teve efeito algum, Warren se mantinha sério e não me encarava. – Warren... – chamei cautelosa. Só então ele me olhou.

– No que estava pensando?

– Nada... Só estava admirando a noite. Percebeu como o céu está bonito? – Agradeci meu cérebro por ter encontrado uma resposta rápida e convincente. Não dava para contar ao Anjo que pensava em Logan. – Tempestade está de bom humor. – completei em tom de brincadeira, mas ele não riu.

– Não é só você que está feliz por Wolverine ter voltado.

– De novo com isso?! O que quer dizer?!

– Vai dizer que nunca reparou no quanto Ororo fica risonha e leve perto de Logan?! Talvez ela sinta algo por ele, mas nunca teve coragem de dizer.

– Coragem é algo que não falta em Ororo. Posso te garantir que ela não sente nada por Logan. – Respondi seca.

– Como você pode ter tanta certeza?

– Tendo oras!

– Não precisa ficar com ciúmes, Marie.

– Ciúmes? Quem disse que sinto isso em relação à Logan?! Ele pode ficar com quem quiser! A vida é dele, Warren. Problema dele! – Tentei me defender, mas minhas palavras não o fizeram. Se Ororo gostasse de Logan, provavelmente ele corresponderia, afinal ela é linda, poderosa, segura de si. Totalmente diferente de mim. Eu sou só uma garota. Não tenho chances. Espera. Estou mesmo pensando nisso? Será que Warren estava certo? Não tenho direito de sentir ciúmes de alguém que não me pertence.

– Assuma Marie. Não seja hipócrita! – Warren falou um pouco rude me fazendo ficar com raiva. Aparentemente ele também estava com ciúmes ali, só que de mim.

– Serio Warren?! Vou embora! Aproveite seu jantar e resto de noite sozinho! Amanhã a gente se vê quando você estiver menos infantil.

Saí dali bufando e pisando alto. Entrei no instituto sem nem ver quem estava por perto, totalmente cega pela raiva. De repente meu ombro esbarrou em algo e senti uma sensação estranha, como se fosse um choque leve se espalhando por todo meu corpo. Me virei surpresa e uma adolescente me olhava atônita.

– Desculpe.

– O que você fez comigo garota? – Ela foi logo cuspindo a pergunta.

– Eu... – Talvez eu tivesse acabado de pegar o poder dela. Não tinha certeza ainda.

“Garota estranha! Tinha que ser ela!” – Ouvi a voz da menina, mas os lábios dela não se mexiam. – Responde! O que fez comigo?

– Qual é o seu poder? – Perguntei tentando entender.

– Leio mentes, por quê? – Ela respondeu e diante do meu silêncio revirou os olhos.

Droga! Agora eu posso ler os pensamentos das pessoas.

– Você roubou meu poder! – A garota leu minha conclusão mental. – Ótimo sua estranha! – Ironizou. – Fique longe de mim ok? Nunca mais pegue o que é meu. “Idiota!” – Pensou antes de seguir pelo corredor.

Legal. Tudo que eu preciso é ouvir praticamente todos os alunos do Instituto me chamando de estranha, esquisita, gótica e outras besteiras. Mesmo sendo uma X-men ninguém me respeitava. Pelo contrario. Eu era a grande chacota da mansão. Como assim um X-men que não consegue usar os poderes? Bem inútil. Agora eu conseguiria ouvir esse tipo de comentário na cabeça das pessoas. Obrigada, vida de merda!

POV LOGAN

Fiquei no meu quarto rodeado de pensamentos aleatórios e confesso que a maioria deles se referia à Marie. Chegava a ser melancólico e idiota, porém não tive vontade de me ocupar com outra coisa. Senti fome e decidi ir ao refeitório resolver isso. Virei à dobra de um corredor e avistei Marie. O rosto dela se misturava em espanto e nervosismo.

– Está tudo bem garota? – Perguntei quando cheguei perto dela. Marie tentou sorrir, porém não teve sucesso nisso.

– Sim... – Ela fingiu.

– Sabe que não precisa mentir para mim, não é?!

– Eu vou ficar bem Logan. – Ela falou confiante e esperançosa.

– Estou indo ao refeitório... Já comeu alguma coisa?

– Não... Está muito cheio...

– E a cozinha?

– Não sei...

– Quer ir até lá comigo? – A convidei sem pensar muito no que isso significava e então ela sorriu de verdade.

– Tudo bem.

Caminhamos em silêncio e a cozinha estava vazia como eu esperava. A quantidade de alunos cresceu e um refeitório acomodaria todos de um jeito melhor do que uma cozinha comum. O cômodo ainda funcionava, mas normalmente só os X-Men às vezes comiam juntos ali. Abri a geladeira e nada de interessante para mim. O frízer estava com um cadeado, o que era indicativo de que algo de bom poderia estar ali. Soltei minhas garras e abri o compartimento. Um sorriso me escapou quando vi algumas cervejas. Peguei uma e Marie sorria com minha felicidade besta.

– Vai beber na minha frente professor Logan?! Isso é mau exemplo. – Ela brincou me reprovando.

– Se já estou errado... Que se dane! Quer uma? – Ofereci e ela me lançou um olhar surpreso e divertido. Marie mordeu o lábio inferior em dúvida num gesto um tanto charmoso.

– Acho que mereço uma... Quase morri hoje... – Ela justificou o fato de estar quebrando as regras. Abri uma cerveja e entreguei para ela. Fechei a porta do frízer e me apoiei no balcão dando um grande gole no líquido gelado. Marie bebeu delicada e fez uma quase careta pelo fato de estar realmente muito gelado, mas logo sorriu e sentou em cima do balcão bem próxima de mim. As pernas dela balançavam um pouco por estarem sem apoio e bebíamos calados. Não acendi a luz da cozinha, pois a luz da iluminação de fora que entrava pelas janelas já deixava o ambiente um pouco claro. Marie usava um par de tênis surrados pelo uso constante, um jeans claro colado que revelava as pernas relativamente grossas e uma camiseta branca básica. Ela largou a cerveja no balcão e levou a mão nos cabelos. Começou a puxá-los e ajeita-los no que parecia ser um rabo de cavalo, mas logo virou um coque mal arrumado. O cheiro de morango se evidenciou no ambiente pelo fato dela ter balançado os cabelos. Eu tinha uma visão do seu pescoço, os ombros e braços. Pele. O que ela tanto escondia antes, meus olhos gostavam de admirar agora. O período em que fiquei no Instituto depois da batalha final contra Magneto foi tão conturbado que acabei me afastando de Marie. Eu apenas cumpria as minhas obrigações e me esforçava para manter o foco. Acabei não tendo tempo ou curiosidade de olhar para a Marie que se formou depois da cura, e isso acontecia agora.

Marie começou a tomar a cerveja sem parar, de gole em gole e de repente engasgou. A menina tossiu umas duas vezes, mas logo se recompôs sorrindo envergonhada.

– Você está bem? Se não sabe beber, não beba. – Zombei e ela rolou os olhos.

Marie encarou a blusa agora molhada com um pouco de cerveja. O pescoço dela também tinha se sujado com o líquido. Uma pequena gotícula escorreu se enfiando dentro da blusa dela. Um súbito pensamento de onde a gota iria parar me percorreu e os meus olhos estavam presos nesse local óbvio. Marie me encarou assustada e boquiaberta. Estava branca como um papel, parecia ter visto um fantasma.

– O que foi garota?

– Nada! – Ela respondeu muito rapidamente e desceu da bancada. Pegou um lenço de papel, o molhou levemente na pia e começou a se limpar. Novamente eu a observava. Os movimentos lentos e delicados que ela executava com graciosidade me prenderam. Um feixe de luz que entrava pela janela iluminava diretamente o pescoço dela. Me aproximei de onde ela estava sem pensar direito. Marie realmente era bonita. Linda, para falar a verdade. Novamente a garota se virou para mim com os olhos levemente arregalados. O que estava acontecendo com ela?!

– Marie você está realmente bem? – Me preocupei. Não gosto de pensar que algo a incomoda.

– Eu... – Ela sorriu de canto e pausou concentrada. – Logan, você me acha bonita?? – Marie soltou a pergunta de uma vez.

Se eu estivesse bebendo a cerveja agora, com certeza me engasgaria. Porque raios ela decidiu me perguntar isso? Há segundos atrás cheguei à conclusão que sim, entretanto falar isso a ela é completamente diferente.

– Porque essa pergunta agora? – Tentei me desviar.

– Não sei... Só quero saber sua opinião. – Ela tinha um sorriso atrevido estampado no rosto e os olhos curiosos.

– Não se importe com a opinião das pessoas... Você tem que se achar bonita. E pronto. – Dei meu melhor conselho e me surpreendi por isso. Era verdade.

– Eu não me importo com a opinião dos outros Logan. – Marie me abraçou forte num movimento repentino. – Me importo com a sua opinião. – Completou sussurrando muito próxima do meu ouvido. Minhas mãos inconsequentes se posicionaram na cintura modelada dela e depois deslizaram para as costas dela apertando ainda mais o abraço. Eu não devia estar ali com ela. Não devia mesmo, mas o que me deixava com raiva e ao mesmo tempo impotente era o fato de que estar ali era bom. Muito bom. Marie despertava uma parte tão diferente de mim. Ela afrouxou o abraço e me encarou curiosa, como sempre. Os dedos delicados e quentes dela acariciaram meu rosto. Eu tinha consciência de que não fazer nada e me deixar levar significava cruzar uma linha perigosa. O que ela queria de mim naquele momento? A estudei esperando obter essa resposta. Nada. Sem aviso, Marie selou nossos lábios. A sensação ótima da boca macia dela na minha me acertou em cheio. Aprofundamos o beijo e nossas línguas se tocaram, se conheceram. Uma sincronia de movimentos prazerosa e cada vez mais quente. Sem pensar, nos virei de posição e a suspendi sentando a garota na bancada novamente. Ela entendeu o que eu queria fazer e prendeu as pernas no meu quadril. Segurei firme a cintura dela e a apertei forte contra mim. Continuamos nos beijando e as mãos de Marie passeavam pelo meu peito e costas. Deus! Como aquilo estava gostoso. Uma parte de mim a desejava mais que todas as outras e naquela posição, a perna de Marie estava pressionando essa parte me deixando louco. Entretanto não parecia tão certo. Não parecia apropriado. Não era mesmo. Marie quebrou o beijo e nos encaramos ofegantes e confusos.

– Eu... – Ela começou a falar, mas se conteve sem saber o que dizer. – Logan, me desculpe.

– Tudo bem. Vamos só... Esquecer isso. Está bem? – Procurei uma solução rápida para aquilo e fingir que nada aconteceu me pareceu o mais correto. Porém em contra partida, ao entender minhas palavras Marie deixou a tristeza ficar evidente no olhar. – Boa noite, pequena.

Saí da cozinha apressado. As sensações e imagens do que tinha acontecido preenchiam minha mente. Tudo que eu nunca quis foi magoar Marie, mas diante daquilo, ela provavelmente ficará magoada. A garota ainda deve ter sentimentos por mim mesmo depois desse tempo todo. Dos males, o menor. Seria melhor que ela se magoasse um pouco agora, do que de um jeito pior depois. Não posso pensar e olhar para Marie daquele jeito. Droga Logan! Quando vai parar com essa mania quase suicida de desejar o que não pode ter?! O que não deve ter?!