História Personal Soldier - Agora é tarde pra voltar.

POV MARIE

– Espere Marie! – A voz de Warren soou atrás de mim desesperada e ofegante. Parei de caminhar pelo jardim e esperei que ele me alcançasse. – Quero falar com você.

Warren parou na minha frente e pude ver certa tristeza no olhar dele.

– Fale. – Pedi num tom de voz baixo e continuei o encarando.

– Quero me desculpar sobre ontem à noite... – Começou sereno. – Não queria te deixar com raiva. Só disse o que penso.

– Tudo bem. Você pode ter razão... – Respondi com um sorriso reto e os olhos de Warren quase saltaram das órbitas de tanta surpresa de me ver admitir.

– Posso?! – Perguntou incrédulo. – Espera. Sobre o que eu posso ter razão? – Ficou confuso.

– Sobre Ororo e Logan. – Expliquei.

– Ah... – Ele me pareceu ligeiramente aliviado.

– Ela está organizando um jantar pra nós em homenagem a ele. Deve significar algo. – Justifiquei e ele apenas assentiu. Era tão surpreendente assim que eu estivesse concordando com a idéia?! Por mais que isso me cortasse por dentro, fazia todo sentido. Logan me rejeitou e não se opôs ao tal jantar, Ororo fica toda sorridente por causa dele e não se importa de perder o controle da situação desde que Logan assuma as responsabilidades. Sinais. Desviei meu olhar dele e fiquei observando alguns alunos que conversavam numa rodinha. Pela visão periférica pude perceber que Warren me estudava curioso.

– Você está bem? – Perguntou enfim.

– Não. – Fui sincera.

– O que aconteceu? – Warren se aproximou preocupado e colocou as mãos no meu rosto me forçando a olhá-lo.

– Ontem, depois que brigamos, fiquei nervosa e esbarrei com uma garota no corredor. Acabei pegando o poder dela... Estou preocupada. – Contei apenas metade dos meus problemas.

– O poder ficou com você quanto tempo Marie? – Pela voz e olhar eu sentia que Warren realmente se importa comigo.

– Não sei. Dormi depois de um tempo. – Falei vaga.

– Não se preocupe. Seu poder não vai voltar totalmente. – Tentou me tranquilizar dando uma certeza que ninguém tinha. Falhou.

– Não quero ser como antes. Não posso Warren. – Senti minhas bochechas queimarem e uma vontade de chorar aparecendo. Não era só isso. Havia também Logan e a noite passada, qual eu me lembrava perfeitamente de cada detalhe. Ele disse que não me deixaria, mas tenho medo de que essa promessa não seja cumprida. Triste com ele por perto, muito pior longe dele. Prefiro rejeição a sua ausência. Por mais que eu sinta raiva, entendo. Logan carrega muitas marcas da vida. Magoas. Quando se permitiu amar alguém só teve sofrimento de volta. É compreensível que alguém assim não queria arriscar. Ainda mais com alguém como eu. Ororo provavelmente terá sorte melhor se tentar. Os braços quentes e acolhedores de Warren me envolveram de forma delicada. Retribui o abraço segurando sua cintura e o choro.

– Não gosto de te ver triste. Acaba comigo. – Warren quebrou o silêncio. – Sei como posso te fazer rir.

– Como? – Perguntei ingênua.

– Assim. – Ele quase riu e suas asas se abriram. Imediatamente entendi o que ele iria fazer, mas minha tentativa de sair correndo foi impedida pela força dele. O Anjo passou meu braço direito pelo pescoço dele, pegou minhas pernas e me tirou do chão. Com um impulso começou a voar. Mesmo com meus gritos que pediam que ele nos colocasse de volta no solo ele não parou. Em instantes estávamos sobrevoando o instituto e um sorriso se formou nos meus lábios. O filho da mãe sabia mesmo como me deixar feliz, mesmo que apenas por breves momentos. Se eu não o tivesse, as coisas poderiam ser mais dolorosas.

POV LOGAN

Parei na sacada do meu quarto e observei o pátio abaixo de mim. Warren se aproximava de Marie e a curiosidade de continuar olhando para eles foi mais forte que eu. Após um tempo de conversa o garoto segurou o rosto de Marie entre as mãos e a fitou. Depois disso, um abraço. Parecia que ele a consolava, ou algo do tipo. Ainda estava triste e com raiva por minha culpa. Por mais que eu repita para mim mesmo que é melhor assim, não tenho certeza. Os dois protagonizavam uma cena digna de romance no jardim. Warren provavelmente gosta de Marie, algo maior que amizade. De repente, ele a pegou no colo e alçou voou. Poucos instantes depois estavam de volta ao mesmo lugar no pátio. Ela não parecia a Marie de segundos atrás, agora sorria e estava animada. A garota disse alguma coisa e ele gargalhou após isso, Marie depositou um beijo demorado na bochecha do garoto e afagou o rosto dele delicadamente. O olhar dele imediatamente se transformou. Num momento como esse não dava para esconder o sentimento. Só para Marie eles são apenas amigos, se depender do garoto isso ultrapassa amizade facilmente. O idiota deve se aproveitar da ingenuidade dela para tirar casquinhas. Logan, o que você está falando?! Marie não é uma criança boba. O casal saiu abraçado e sumiu do meu campo de visão. Porque me importa tanto se esse garoto gostar de Marie?! Se ela correspondesse o sentimento não seria da minha conta também. Entretanto Marie gosta de mim. É apaixonada por mim. O pior é que isso me deixa estranhamente feliz. É totalmente egoísta o fato deu gostar que ela tenha sentimentos por mim e não correspondê-los. E totalmente contraditório eu não querer que ela sofra por motivo algum. Eu não consigo entender o que está acontecendo comigo. Toda essa situação está me deixando fora de mim. Completamente perturbado.

(...)

Fui à cozinha tomar água e Warren estava no cômodo preparando algo que parecia ser um sanduíche. Ele me olhou com o canto do olho e não falou nada. Procurei uma garrafa simples para colocar água e tive certa dificuldade.

– Porque não encontro uma garrafa descente?! Maldição. – reclamei baixo.

– Ultima porta de cima. – Warren indicou a localização do que eu queria.

Abri a tal porta e encontrei. Achei estranho ele ter me ajudado pelo fato de não ter falado nem uma palavra comigo desde que voltei e ainda me olhado com cara de poucos amigos. Só o vi relaxado e solto na presença de Marie.

– Você e Marie são muito amigos, certo?! – Iniciei uma conversa. Warren relutou em me responder, provavelmente atraído pela opção de me ignorar, mas se virou lentamente para mim.

– Sim. – Foi seco.

– Ela está bem? – A pergunta pulou dos meus lábios antes mesmo de ser ponderada pela minha mente.

– Por que não estaria?! – Ele foi rápido em revidar, desconfiado.

– Ontem à noite ela teve uma demonstração de que o poder dela pode estar voltando. – Expliquei o motivo da minha pergunta cauteloso, mas mentalmente não me referia só a isso. Não acho que Marie se abriria em questões amorosas com Warren, até porque deve desconfiar que ele a vê como mais do que amiga. Afinal, a convidou para sair.

– Ela está preocupada, mas está bem. – Ele respondeu puxando o prato com o sanduíche da bancada e saiu. Não fiz oposição ao fim de conversa e o observei deixar o cômodo.

Mesmo com essa expressão fechada, que devo dizer que não é muito diferente da minha, ele parece ser um bom rapaz. Se Marie desse uma chance a ele, os dois muito provavelmente se acertariam.

(...)

Arrumei-me normalmente com uma camiseta preta básica, uma jaqueta de couro escura, uma calça preta e minhas botas inseparáveis. Desci as escadas e reparei em Bobby e Kitty se abraçando sorridentes perto do final da escada, e bem arrumados. Agradeci mentalmente por não ser o único a não usar terno e gravata. Ororo não especificou o traje, e para falar a verdade, acho que nunca usei esse tipo de roupa em uma ocasião, não tenho um terno. Logo Warren surgiu de um dos corredores, já devidamente arrumado também. Todos estavam na sala, com exceção de Marie, e aparentemente só a esperávamos pára irmos para o tal jantar. Senti um cheiro familiar adentrando minhas narinas. Respirei fundo e constatei: Morango. Dirigi meu olhar pra a direção de onde o cheiro surgia e logo vi Marie aparecer no alto da escada. Estava inegavelmente linda. Um vestido preto curto com certo volume na saia e pequenos laços na frente chamando atenção para o colo. Sapatos também pretos de salto alto, um acessório que eu nunca a vi usar. Os cabelos longos estavam delicadamente colocados de lado e ligeiramente ondulados. Pude notar também a maquiagem discreta em seu rosto e os singelos adornos que ela usava. Não parecia a mesma Marie do dia-a-dia. Nesse tempo todo que convivemos com ela, creio que seja a primeira vez que a vemos arrumada assim, fora de seu jeans confortável. Ela desceu os degraus com um ar contente e todos os olhares se direcionaram para ela ao som do salto na madeira. Dediquei meu olhar a observar brevemente a expressão das pessoas. Bobby parecia surpreso e Kitty também, porém de modo negativo. Warren se manteve praticamente boquiaberto e os olhos chegaram brilhar, só faltou ele babar no chão da sala. Estava completamente abobalhado. Voltei meu olhar para Marie e ela me encarava fixamente. Um arrepio percorreu meu corpo pelo olhar dela.

– Você está linda. – Warren a elogiou. Só então Marie tirou os olhos expressivos de mim e os pousou no garoto. Um sorriso tímido surgiu no rosto delicado dela.

– Obrigada. Você também está ótimo. – Foi educada.

– Marie! Eu nem sabia que você tinha um vestido. – Kitty chamou a atenção da garota demonstrando certo desgosto no tom de voz.

– Tem muita coisa que você não sabe sobre mim Kitty, querida. – Marie respondeu enigmática e um tanto seca.

Ororo nos chamou para a cozinha e caminhamos em silêncio. Nos sentamos todos a mesa. A organizadora do jantar começou a falar, animadamente, do quanto está feliz por nos mantermos unidos apesar de tudo que nos aconteceu e que minha volta tinha concretizado ainda mais esse sentimento de união. Bom, isso resumidamente, pois o discurso dela foi um tanto longo, porém emocionado. Pelos olhares, mesmo com as nossas diferenças, todos partilhamos do mesmo sentimento de alegria por sermos quem somos e estarmos juntos. O jantar começou a ser servido, e notei que quem fazia isso eram três alunos, que por sinal, não tinham expressões satisfeitas. Provavelmente aquilo era um castigo de Tempestade para eles. Kitty, Bobby e Colossus, por incrível que pareça, eram os que mais falavam além de Ororo. Comi quieto pedindo mentalmente para que aquilo acabasse logo e eu pudesse ir para meu quarto ou pegar a moto e sair pra o bar mais próximo da mansão.

– Marie querida. – Ororo chamou com uma voz mais doce que a habitual e a menina despertou do transe em que se encontrava, perdida em pensamentos. – Você mal tocou na comida, não falou... O que aconteceu?

– Nada. – Marie disfarçou forçando um sorriso, que não teve efeito.

– Pode falar. Estamos entre amigos. Somos os X-men. – A encorajou Ororo.

– Eu não me sentia mais parte dos X-men quando perdi meus poderes... – Marie começou pensativa. Todos a fitamos curiosos e ansiosos por mais palavras. – Eu não queria meus poderes, apesar de gostar de vocês. Pensei que as coisas mudariam... Achei que seria rejeitada quando voltasse, mas vocês me acolheram. – Ela deu um leve sorriso que logo se desfez. – Por um tempo eu fiquei só com o benefício de ter vocês e não ter os poderes, mas agora eles estão voltando. – A garota não olhava nenhum de nós nos olhos apenas encarava o prato a sua frente. – Eu tenho medo de voltar a ser como antes. Não quero perder o que conquistei. Entretanto eu estou percebendo que, às vezes, simplesmente não se pode mudar quem você é. Nunca fui nada. Eu só sei ser uma X-men. – Marie levantou o olhar o prendendo no meu e vi a tristeza que ele carregava.

– Não fique com medo. – Warren falou compreensivo e segurou a mão dela de forma firme. Ela o olhou. – Você é uma garota incrível e continua sendo mesmo sem seus poderes. Nós nunca a rejeitaríamos. Eu te conheci depois, mas sei disso. Seus poderes não vão voltar totalmente, fique tranqüila e aproveite o meio termo.

– Seu pai te afirmou que os poderes dela não voltarão? – Falei sem perceber e todos me olharam. Me incomodou vê-lo a elogiando assim. – Afinal, foi ele que inventou a cura. Sabemos que foi por sua causa que ele criou essa obsessão. – Completei firme falando a mais pura verdade.

– Você teve a chance de impedi-la Logan. Ela me contou sobre a conversa que vocês tiveram antes dela partir em busca da cura. – Warren disse já dando sinais de irritação.

– O que? Espera aí. – Bobby se enfiou na conversa. – Você sabia que ela tomaria a cura?! Você não fez nada?! – Reclamou direcionando sua fúria a mim.

– Eu sou amigo dela. Não pai. Você queria que eu fizesse o que garoto? – Me justifiquei. – Marie é livre pra fazer o que tiver vontade. Ela não precisa de alguém a dizendo o que deve ou não fazer.

– Que belo amigo você Wolverine! – O Anjo ironizou. – O que você está esperando para ir embora e abandonar a sua amiga outra vez?! – Perguntou se levantando, furioso. – Nem sei por que você voltou. Eu estive aqui com ela. Eu! Você não pode me culpar por nada disso.

Warren saiu andando diante do olhar aflito de Marie e os outros.

– Warren. Não vá embora. – Ela pediu doce.

– Aproveitem o jantar sem mim. – Ele finalizou passando pela porta.

Todos me encararam e Marie me repreendia mentalmente. Tentei mostrar que não me arrependia de nada e ela se levantou indo atrás dele.

– Logan... – Ororo me chamou.

– Eu sinto muito se isso não saiu como você havia planejado. – A interrompi e me levantei da mesa também. Eu e minha boca grande. Por que não fiquei simplesmente calado?! Tinha que ser duro com Warren daquele jeito realmente?! Ele não gosta de mim, mas desde quando eu fico jogando indiretas para as pessoas assim?! Ele me incomoda.

Fui para meu quarto e senti vontade de quebrar tudo. Não podia. Abri a porta de vidro e fui para a sacada. Observei o céu e nem sinal do Anjo. Olhei para baixo e surpreendentemente, Marie fitava os céus em busca de Warren também. Parecia nervosa. Resolvi em um impulso louco que devia ir atrás dela. Conversar, mesmo que isso só a deixasse ainda mais furiosa comigo.