Os dias passam devagar, quase parando. Me pego perdendo horas deitada na cama, encarando o teto, ora ou outra um ponto fixo qualquer para fora da janela.
Bufo algumas vezes com a impaciência que lateja intensamente dentro de mim, no entanto, não me movo, não penso e não mudo. É incômodo, mas cômodo, porque parece que se eu tentar sair dessa zona onde conheço todos os prós e contras, vou encontrar algo além do que posso suportar. O futuro, mesmo que segundos à frente, assusta muito mais do que o presente “eterno” nesse momento, deve ser porque já acostumei a não ter mais expectativas; nem planos, nem hora marcada.
Parece que o que vivi até aqui, quando a coisa realmente se tornou oficial, não passou de uma ilusão. Achava que era insubstituível, necessária, singular, e só agora que passei dias fora daquele mundo me dei conta de que estava extremamente equivocada. Me procurariam se não fosse equívoco meu, certo?
Aí, mudo a posição, fico de barriga pra baixo porque passei horas de barriga para cima e sinto que vou criar raízes se ficar mais um minuto como estava.
Respiro fundo e conto mentalmente até dez.
Crise existencial nunca foi minha praia, se é que já foi de alguém. O que quero dizer é que minha personalidade consiste em praticidade e esperteza e perceber que você não tem o valor que pensava ter não é prático e nem esperto. É complexo, deprimente e sufocante, porque também há o fato de que odeio estar errada para piorar a situação. O que realmente está em pauta é, do que adianta refletir a essa altura da vida?
Mordo o lábio inferior e minha perna começa um tique nervoso irritante.
É perturbador continuar assim, apesar de estar nessa "vibe" há alguns dias. Isso piora e muito meu humor. Não há nada novo. É como se minha linha de raciocínio estivesse percorrendo um círculo, uma vez, outra, e de novo, e de novo, e de novo, repetidas vezes, e mesmo assim tenho a capacidade de me sentir cada vez mais irritada.
Fecho os olhos e me ordeno a parar de desperdiçar neurônios, mas aí eu chego no seguinte impasse pela milésima vez: para quê poupar neurônios?
E lá vamos nós... "Os dias passam devagar, quase parando. Me pego perdendo horas deitada na cama..."
Será que é assim que um hamster se sente correndo na roda?
Duas semanas se passam da mesma forma. As coisas mais significantes que fiz foi ajudar um cão perdido a encontrar seu dono e me viciar em contar traços no PVC do teto, não que isso seja grande coisa, afinal, qualquer um poderia ajudar o cão perdido a encontrar seu dono e não há nenhuma utilidade em contar traços no PVC do teto.
E lá vamos nós de novo... "Crise existencial nunca foi minha praia, se é que já foi de alguém..."
Mais duas semanas se passam com o déjà vu se tornando cada vez mais onipresente, o que por si só já é errado, porque li em algum lugar que déjà vu é a sensação de já se ter feito algo que nunca fez ou visto alguém que nunca viu, mas aqui sim, aconteceu por semanas a mesma coisa.
Monotonia seria a definição correta? Não, também não está correto, porque também li em algum lugar que monotonia se dá a ausência de variedade, no entanto há a variedade, variáveis involuntárias como a degradação da sanidade, é, isso é grave, ou não. A gravidade das coisas não pode ser medida por uma única opinião, mas eu realmente não estou afim de fazer uma pesquisa para descobrir, vai que é pior do que imagino.
Perco mais algumas semanas até me dar conta de que o tempo não parou como eu e que julgar que isso é injusto não mudará os fatos. Mas o que fazer diante disso? Sem querer voltamos ao início mais uma vez, "...porque já acostumei a não ter mais expectativas, nem planos, nem hora marcada."...
E no fim "...os dias continuam passando devagar, quase parando..."...
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