História Pertença - Jogo de estratégia

Pertença

Capítulo 2: Jogo de estratégia

Quando eu fiz oito anos, ganhei uma festa surpresa. Mikoto e Hinata organizaram tudo juntas, com algumas pequenas participações de Sakura, que iniciara aulas diárias de ballet e não contava com muito tempo.

Naquele dia, Itachi que sempre estava com meu pai em uma das imobiliárias passou o dia em casa, e foi aí que Hinata o conheceu efetivamente. Para a minha surpresa, a perolada apresentou uma grande desenvoltura com ele.

Hinata, assim como minha mãe, foi absurdamente discreta. Os preparativos precisaram apenas de alguns dias para serem realizados. Mikoto tratou de esconder as decorações e, enquanto ia comprá-las, eu e Hinata ficávamos na casa de Naruto, que sabia tanto quanto eu.

No real dia do meu aniversário, não fui à escola, com a desculpa de que aquilo seria um dos meus presentes. De manhã, fiquei na casa de Hiashi, que estava de folga e, à tarde, fui à casa dos Haruno. Lá, Sakura e seus pais me receberam calorosamente, e a rosada logo me trouxe um embrulho vermelho que ela mesma preparara.

Não fui nada mais que educado com a família Haruno. Apesar de Sakura ter largado um pouco do meu pé e eu não ficar mais tão mal humorado quando ela era convidada para ir a minha casa ou quando me via forçado a comparecer a dela, ainda considerava desagradável ter de estar com a rosada. Em absoluto, não tínhamos nada em comum.

Sakura gostava de brincar com suas bonecas e não gostava de correr, experimentar jogos de tabuleiro ou até mesmo jogar videogames, portanto, quando estávamos juntos, brincávamos à parte. Além do mais, suas mãos pareciam querer estar em contato constante comigo, que as recusava prontamente.

— Sasuke-Kun, volte aqui! — dizia com sua voz fina e irritante, choramingando, enquanto eu me levantava impaciente.

Mais tarde, descobri que, enquanto eu estava fora de casa, minha Kaasan preparou os brigadeiros, beijinhos e, por fim, o bolo de chocolate meio amargo, além de aprontar o ambiente. Soube que, assim que saí da casa dos Hyuuga, Hinata se preocupou em ajudá-la em cada tarefa.

Voltei para casa por volta das seis horas da tarde. Estranhei as luzes estarem apagadas, mas meus passos continuaram à caminho da porta. A Senhora Haruno e Sakura seguiam em meu encalço, silenciosas. Assim que a porta foi aberta, ouvi sonoras vozes gritarem “Surpresa!” e vi as luzes serem acesas.

Reparei em todos os que estavam presentes, ninguém faltava, nem mesmo Fugaku, o qual estava sorridente ao lado de Mikoto, que sustentava um imenso brilho no olhar. Ela foi a primeira a me parabenizar, seguida por meu pai, Itachi e por Hinata, a qual me sorriu carinhosamente, do seu modo mais sincero.

— Feliz aniversário, Sasuke-Kun! — murmurou, envolvendo os curtos bracinhos em torno do meu pescoço.

— Obrigado, Hina! — retribuí o contato, com um sorriso mínimo.

— Parabéns, teme! — Naruto gritou, correndo em minha direção com um embrulho azul em mãos. — Você nunca vai adivinhar o que é! — decretou, em tom vitorioso.

— Baka… — resmunguei pelo escândalo.

Hinata e Itachi me deixaram à sós com Naruto ao mesmo tempo em que ele passou a repetir inúmeras vezes que eu nunca imaginaria o que era meu presente. Pude vê-la se afastar ao lado de meu irmão enquanto o mesmo segurava uma de suas pequeninas mãos, puxando-a para a cozinha.

Franzi o cenho, notando que o rosto alvo de Hinata assumia um tom avermelhado de modo gradativo, porém sem parecer em momento algum desconfortável com o toque. Estranhei aquilo. No entanto, minha atenção se voltou ao silêncio do Uzumaki, que se calara no mesmo instante em que Sakura o fitou.

— Você gosta dela… — revirei os olhos escuros.

— Eu não gosto da Sakura-Chan! — afirmou confiante. — Ela só está mais bonita hoje… — Ele murmurou, corando.

— Ela me irrita! — bufei, sem precisar fitar a rosada para constatar que ela permanecia da mesma maneira que estava todos os dias.

Naruto logo se voltou ao embrulho, insistindo para que eu o abrisse. Ignorei-o, me concentrando em Ino que pulou sobre mim e apertou minhas bochechas. Sem cuidado, tirei suas mãos.

— Seu presente está com minha Kaasan, Sasu-Kun! — anunciou sorridente.

Em resposta, eu apenas assenti. Não demorou para que meu tio Madara e outros colegas da escola viessem me abraçar e me dar os parabéns. Agradeci a todos e minha mãe tratou de receber e guardar os presentes.

Enquanto todos nós brincávamos, o fim da festa chegou rapidamente. Mikoto tratou de anunciar que a hora de cantar os parabéns e cortar o bolo havia chegado, sendo assim, todos se reuniram em volta da extensa mesa metodicamente decorada e organizada com os comes e bebes.

Eu estava no meio com meus pais e Itachi ao meu lado. Hinata preferiu ficar à frente da mesa junto com Naruto, Sakura e Ino. Chamar atenção nem de longe lhe agradava. Quando cortei o bolo, todos me observaram atentamente, pareciam ansiosos para saber qual seria minha decisão.

Fitei Hinata, sorridente, e entreguei o primeiro pedaço à minha Kaasan, como tínhamos combinado. Dias antes, havia dito que, se eu tivesse um bolo de aniversário, daria à perolada. Na ocasião, seus olhos claríssimos prontamente manifestaram desagrado. Com sua postura mais firme, ela recusou, argumentando que talvez a tia Mikoto ficasse decepcionada.

“— Se você der a ela, será como se eu mesma recebesse, Sasuke-Kun.”, sorri ao recordar algumas de suas palavras. No momento, concordei de pronto com Hinata e rapidamente seus braços me envolveram, em um caloroso abraço. O beijo demorado e estalado em minha bochecha direita também veio. Não permiti que ela me visse corar, mas eu sabia, corar com seus toques gentis não era novidade.

Quando a festa realmente se encerrara, os convidados se despediram e rumaram para suas casas, exceto Hinata, a qual dormiria em minha casa já que Hiashi iria trabalhar cedo no dia seguinte e aproveitaria para levar Hanabi e Neji ao aeroporto antes mesmo do dia amanhecer. Ambos voltariam ao exterior, para estudar.

Hanabi e Neji não costumavam vir à Konoha. Os dois passaram a fazer visitas mais frequentes apenas pouco antes do Ensino Médio, quando o Senhor Hyuuga decidiu, enfim, que eles estudariam no mesmo colégio que Hinata. Além do mais, a perolada contara que só permaneceu em Konoha porque disse ao pai que gostaria de frequentar o mesmo colégio que ele — quando mais jovem — e concordara em fazer aulas particulares de inglês, para compensar o intuito dele querer fazê-la estudar fora.

A casa já estava silenciosa e eu já estava pronto para dormir. Aos poucos, o som de passos e de rangidos do chão de madeira chegaram aos meus ouvidos. Sorri ao ver Hinata abrir a porta do meu quarto da forma mais cuidadosa possível e estagnar à minha frente com a sua camisola de bichinhos. Sentei-me na cama e esperei-a falar.

— Sasuke-Kun… — começou, batendo os indicadores. Seu rosto estava sendo somente iluminado pela luz do abajur e, ainda assim, o tom avermelhado no mesmo era perceptível. — Eu... eu comprei algo pra você… — Eu sorri com aquilo. Mesmo que não fizesse questão de receber presentes, era bom saber que ela tentara me agradar. — Você pode olhar agora se quiser… Pus dentro do seu guarda-roupa.

Meus pés foram mais rápidos que meu próprio corpo e por um triz não escorreguei no cobertor — este caíra no chão pouco antes de eu me levantar. Abri a porta de madeira e retirei do móvel um embrulho de tamanho médio. Não era a roupa de marca que Sakura ou Ino tinham me dado, muito menos o último jogo lançado de Xbox 360 de Naruto, era um jogo de estratégia.

— V-você… gostou? — perguntou incerta, batendo os dedos indicadores.

— Foi o melhor presente! — abracei-a. Eu e Hinata amávamos jogos de estratégia…

— Que bom que gostou, Sasuke-Kun! — disse com certa euforia. — Boa noite e… — Foi quando eu a interrompi.

— Hoje você não vai dormir aqui? — arqueei a sobrancelha, fitando minha própria cama.

E assim ela o fez, com um mínimo sorriso nos lábios e um tanto envergonhada. Nos deitamos e eu tratei de puxar a coberta para nos enrolarmos. Depois de ambos darmos “Boa noite.” adormecemos, com os nossos tornozelos roçando um no outro. Dormir juntos havia se tornado um hábito.

O Sábado não demorou, e Mikoto permitiu que fôssemos ao parque sozinhos já que o mesmo ficava ao lado de casa. Naruto chegou logo, acompanhado por Kiba e Shino. Eu não nutria qualquer sentimento por eles, o que parecia ser recíproco por parte dos mesmos. Infelizmente, aquilo não pareceu se repetir com Hinata no momento em que o Inuzuka a abraçou. Shino somente acenou para a morena, assim como ele fez para mim.

Kiba e Hinata ficaram juntos na maior parte do tempo, fazendo suas próprias brincadeiras e compartilhando risadas. Já Shino e Naruto apenas jogaram futebol. Eu me limitei a ficar sentado, fitando o primeiro casal insatisfeito enquanto um pequeno e quase imperceptível bico se formava em meus lábios.

Quando eu e Hinata decidimos que já era hora de voltar para casa, até por estarmos com fome, nos despedimos e o fizemos. Permaneci em silêncio durante quase todo o trajeto, esperando que ela notasse minha mudança de comportamento — quase como Hinata fazia quando eu estava com Ino. Por sorte, ela era muito observadora.

— Fiz algo de errado, Sasuke-Kun? — perguntou docemente.

— Estava esperando você perceber — falei de braços cruzados, sem olhá-la. — Você e o Kiba pareciam ser muito amigos… — bufei e logo ouvi uma risada baixinha.

— Você não precisa ter ciúmes — sorriu. — Você é insubstituível, Sasuke-Kun.

— Hum… — levei o dedo indicador ao queixo, pensativo. — Então você não vai me trocar nem pelo Nii-San?! — Meus ônix a olharam com dúvida.

— Nem mesmo pelo Itachi-Kun... — segurou uma risadinha, mordendo o lábio. — Vamos mais rápido, Sasu — sorriu, pegando uma de minhas mãos e começando a correr. Naquele momento, eu soube que Hinata e eu éramos inseparáveis.