História Pesadelos e Sensações - Sonhei com você

         Minhas mãos estavam presas acima da minha cabeça por correntes que apertavam meu pulso, meus tornozelos estavam amarrados por uma corda que fazia minha pele assar, meu corpo, como sempre, estava nu. Esticada daquele jeito, mal dava para mexer a cabeça. Ao lado havia prateleiras repletas dos mais variados tipos de lâminas, como facas, navalhas, espadas, lanças de metal...

         A luz entra na sala e por estar muito tempo no escuro, minha vista arde. Quando consigo me acostumar vejo o homem e mais três silhuetas passarem pela porta. Lia, Rick e Daniel. Todos estão enfileirados a minha frente com sorrisos extremamente largos e diabólicos no rosto.

         O primeiro a se aproximar é o homem. Ele fica quase que colado em mim, passa suas mãos nojentas por meu rosto, peito, vale dos seios, barriga, bunda, coxas e minha intimidade. Quero fugir, mas não consigo me mover, a sensação de ter a mão de uma coisa repugnante te tocando é a pior possível. Ele se dirige as prateleiras e escolhe uma faca, seus passos até mim estavam pouco mais rápidos do que deveriam ser, eu só queria que esse momento demorasse o quanto possível. Escuto suas palavras em sussurro:

         -... Não importa...

         Uma dor alucinante e um grito ensurdecedor tomam conta do meu ser, a faca estava encravada um pouco abaixo de minha barriga. Ele a deixou ali. O sangue escorria por minha perna, deixando-a pegajosa e grudenta.

         Agora era Lia que me olhava, seu olhar era puro deboche assim como sua expressão facial. Me analisou dos pés a cabeça e foi para as prateleiras. Uma lâmina de espada estava em suas mãos:

         - Não sei como fui ter uma amiga tão burrinha a ponto de se iludir tanto.

         A passos lentos, ela se dirigiu para as minhas costas. Com um golpe só, senti a lâmina me cortar dos ombros até metade das costas. Os pequenos fios de sangue que escorriam, iam por meus ombros, costas, bunda e perna.

         Era horrível toda aquela dor. Eu só queria morrer logo, porém esse mundo tem um problema. O impossível é possível.

         Rick dava gargalhadas que podiam ser consideradas histéricas, estavam completamente fora do comum.  Com pequenas saltitadas, ele se dirigia para as prateleiras. Dessa vez era um canivete, e com pequenos saltitos ele voltou até mim:

         - Não acredito que você foi tão idiota em acreditar. O que acha de uma nova sobrancelha?

         Sua mão esquerda segurou minha cabeça enquanto a outra cortava minha testa no desenho da sobrancelha. Perdi minha vista esquerda com o sangue que escorria por cima de meus olhos. Mal e mal via que agora, Daniel se aproximava.

         Meus sentidos estavam fracos, respirar era uma tarefa quase impossível, meu corpo já estava mole e sem qualquer resistência. Daniel sorria enquanto me olhava, quando menos espero vejo uma adaga em sua mão. Estava muito próximo de mim:

         - Você realmente achou que eu pudesse gostar de você?... Sabe... Ah esquece, não importa.

         Uma adaga estava encravada no meu coração, a ultima coisa que consigo escutar são gargalhadas.

.  .  .

         Suor, desespero, falta de ar, preocupação, dor, tristeza, tudo me consumia. Lágrimas involuntárias escorriam fazendo minha visão ficar embaçada, a luz do sol que emanava da janela não estava ajudando.

Corro para o banheiro e lavo o rosto desesperada a fim de acordar melhor. Meu reflexo no espelho mostrava o corte na testa, o que só me fez ficar mais agitada. Parei em frente ao espelho e arremessei minha blusa do pijama longe. A marca do corte pouco abaixo da barriga, o pequeno traço vermelho acima do coração. Tudo estava lá:

         - MÃE!!

         Calmamente ela entra no meu quarto, vejo que em sua mão tem uma xícara de café, o cheiro era óbvio. A caneca se espatifa no chão assim que bate seus olhos em mim:

         - Tem um corte imenso nas minhas costas, não tem?

         Lágrimas. Tanto minha quanto dela, escorriam desesperadamente pelas bochechas. Se aproximando devagar, sinto seu olhar sobre mim, me viro de frente e sua cara piora. Com tudo que pode, ela me abraça. Era reconfortante sentir seus braços em minha volta, o conforto e carinho era muito bom:

         - Filha...

         - Não mãe, nem teima, eu consigo evitar, eu juro.

         O silêncio era a única coisa que eu queria e precisava. Minha mãe me respeitava nesse ponto.

         O celular apita captando toda a minha atenção e me apresso para ver o que era. Acho que nunca uma mensagem me acalmou tanto na vida, saber que tem alguém especial do seu lado, é a melhor sensação.

                   ‘Bom dia!

                   Hoje eu dormi muito bem.

                   Sonhei com você! <3’