História Pétalas de Sangue - Interativa - Start

  16/03/1992

Senti o cheiro de Eliot no ar, meus olhos doídos de tanto apanharem marejavam fazendo minha visão ficar embaçada. Seus gritos no corredor deixavam minha cabeça mais atordoada e dolorida. Fácil, depois de vinte pancadas na cabeça, é meio difícil de não sentir dor. Aonde meu único defensor poderia estar? Aonde Alex se perdeu? Será que está me procurando, será que desistiu de me achar?

                                                                                                                                                                                            Tina.

Já haviam se passado duas semanas, e nada nem nenhum sinal de Tina pairava na cidade. Os dias ficaram monótomos, perderam a cor que somente ela sabia dar à vida. Perdeu o sentido e hoje nem mesmo o cheiro das rosas no jardim me deixam felizes.  Ela faz falta, e não vejo a hora dela voltar, não vejo a hora de sentir seu abraço apertado e os cabelos me pinicando o pescoço. 

Não tenho mais passatempos depois de esperar ela, não fazem ideia da vontade que tenho de procurá-la em cada canto, mas sei que não chegaria nem a um passo de achar uma pista. Seu desaparecimento chocou todos nós e sem dúvida, a cidade vem ficando cada vez mais estranha. 

A cada ano, são vistos pelo menos três acidentes de trens descarrilhados. Apenas em duas semanas, ocorreram sete acidentes. Isso nunca foi visto como algo que "acontece" pela sociedade, é um fato assustador, que ninguém comenta.  É algo que segundo meus pais e amigos, deve ser esquecido. 

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Murders House - 20/03/1992

Tate e Violet formavam um casal perfeito,  não era só eu que achava. Mas só de imaginar meu melhor amigo beijando os lábios daquela garota, fazia meu sangue ferver. O jeito que ele a olhava, o jeito que ela o olhava. Parecia que a qualquer momento eu seria surpreendida com uma cena romântica no meio daquela sala. 

-é, parece que eu tô sobrando aqui.- ri enquanto me levantava atraindo olhares curiosos dos dois, Violet tinha um jeito incrível de sorrir com os olhos, isso não aumentava sua moral comigo, mas me ajudava a entender o porque de Tate estar apaixonado.

-que? Mabel! Você é nossa amiga...- sorri falsa. Se eu pudesse corrigir sua frase, somente diria que ELE era meu amigo, ela era uma mera conhecida. A última das conhecidas. - para de falar besteiras! Senta aí que eu vou pegar alguma coisa para bebermos.- tipo seu sangue?

Enfim, ignorei sua saída e também o silêncio que pairou na sala. Que vergonha de pensar daquele jeito sobre a vida amorosa do meu amigo, isso me fazia esconder a cara quando ele me olhava. Eu não sabia oque os pais da garota falavam sobre ela beijar Tate, mas eu sinceramente, amaria que eles se mudassem da Murders House.  Mesmo que isso machucasse o coração do garoto.

Tate, um nome peculiar. Ele é o único que conheço com esse nome,  o único garoto "bonitinho" com um nome ridículo. Tal nome que eu faria tudo para defender.

Violet voltou e o silêncio finalmente foi quebrado. Seu jeito meigo invadiu a sala e do rosto de Tate pulou um imenso sorriso, com suas covinhas que deixava tudo melhor. Ele se sentou ao lado do menino, fitou seu sorriso e fez surgir outro em seu rosto. As únicas palavras que congelavam minha cabeça era, ignore! Ignore e sorria!

A garota deixou uma xícara de chá sobre a mesa, bebi o líquido o mais rápido que pude, precisava sair dali enquanto dava tempo. Enquanto os dois resolvessem não se agarrar na minha frente.  Coloquei a xícara de volta sobre a mesa e me levantei agora com o propósito inicial. 

- bem, agora sim eu já vou indo.- disse com um sorriso simples enquanto ajeitava a bolsa em minhas costas. - tchau Tate...- dei um beijo marca batom em sua bochecha e ele fez o mesmo, só que sem relar em meu rosto. Retirou sua mão de meu ombro e sorriu enquanto eu ia para Violet. - tchau...- dei um abraço na mesma e sorri falsa novamente. 

-tchau. - retribuiu sorrindo sem se levantar. Seu abraço era gelado, seco e sem nenhuma vontade. Totalmente o oposto do que eu recebera a pouco. - qualquer notícia, liga pra gente. - assenti e finalmente rodei a maçanete saindo em seguida. 

Sentir o sol tocar minha pele novamente, sorrir para ele como uma tola no meio das pessoas normais. Como eu queria que você estivesse aqui Tina, às vezes posso te sentir bem ao meu lado. O jeito que sorria, o jeito que me deixava sem graça e vermelha ao lado de Tate. Só você conseguiu fazer isso.

                                                                                        "abra os olhos"

Algo sussurra em meu ouvido me fazendo fazer tal ato, me firo firme ainda no chão e perco as esperanças após ver Alyce, sorrindo para mim. Me abraçou e deixou um beijo em minha bochecha. Era estranho nós nos tratarmos daquele jeito, mas eu entendi o recado que ela tentou passar. Algo como "eu estou do seu lado, eu te entendo, não costumo sorrir para o sol como uma idiota, mas eu te entendo, sinto falta dela".

Não recusei que seus braços me envolvessem, apenas toquei suas costas e desfiz o abraço a fazendo rir. Eu apenas não estava em um bom dia.

- então? Preciso perguntar alguma coisa?- ela negou e desfez o sorriso amoroso deixando seus olhos marejados e vermelhos, uma Alyce que eu nunca havia visto. 

-não. nono acidente de trem, nenhuma pista e dezoito ligações dela que sempre que eu atendo a ligação fica silenciosa e cai. - disse com uma raiva interna nos olhos. - aonde ela se meteu? É impossível alguem se esconder durante duas semanas!

-Calma Alyce! Ela nunca se esconderia, se fizesse isso chamaria uma de nós, certamente.- ela assentiu enquanto olhava a avenida movimentada. -por que não procuramos ela?- dou a sugestão e ela me olha inquieta.

-pirou?- riu. - somos duas, quem sabe os perigos que podemos correr procurando ela? E quer saber? Daqui a uma semana ela volta, tenho certeza!- brigou com um sorriso maléfico.

Dei de ombros e sorri sarcástica.

-oque posso fazer? Se você não vai, eu vou. - disse e dei de costas, sai andando deixando ela ali, parada.

-Mabelly! - gritou fazendo-me virar para ela. 

Eu sabia, olhando no fundo de seus olhos que não era questão de não querer achá-la, mas sim medo. Medo de acabar no mesmo fim da amiga. Medo de se perder em lágrimas e perder a vida procurando por algo que mal temos pistas sobre. Ela sentia falta da garota, sabia que ela não voltaria nem depois de uma semana nem nunca. 
             Seus olhos diziam claramente isso, em meio a lágrimas, uma chama de curiosidade e outra de vontade estava acessa em seu coração. Foi nesse momento que Alyce sorriu, caminhou até mim, enxugou as lágrimas e agarrou meu braço sorridente.

-vamos! temos uma amiga para achar! - riu.

Fácil não seria e nem será, mas eu sinto que não importa quando, Tina está nos aguardando, em algum lugar do mundo. A esperança é a última que morre não. Pois é, a nossa não vai morrer tão cedo assim!