História Phone Calls - Warning bells

Eu "enxergo" somente o vermelho e talvez algumas outras formas. 

Meus olhos queimam um pouco, não sendo um incômodo grande, todavia, eu meio que não queria sentir aquilo e mesmo assumindo isso, não me mexo para mudar minha situação, apenas permaneço na mesma posição.

Eu acabei por agradecer por ser cedo demais, uma vez que se tivéssemos em um horário mais avançado, o sol com certeza iria me fazer ir fechar a janela ou fazer qualquer outra coisa que impedisse a luz - quente - de entrar pela fresta e incomodasse meus olhos.

Minha respiração saía calma e me permiti prestar atenção somente nela, depois de alguns segundos.

Eu ainda sentia certo sono, mas pelo menos havia conseguido dormir um pouco na madrugada. Acho que não iria ficar quieto, sem antes fazer algo para que meus pensamentos cessassem. Com sorte, esse "algo" acabou por ser a minha mensagem enviada para Hiccup e depois dela, o sono chegou.

Fiquei tentado a permanecer ali, uma vez que sentia que poderia dormir de novo.

Também não queria abrir os olhos e encarar a claridade vinda da janela, mas... Eu sabia que tinha que levantar logo.

Mais alguns minutos se passaram e durante os mesmos, tentei me acostumar com a ideia de levantar e ir para o banheiro não muito distante.

E então, permiti o suspiro pesado sair de minha boca, ao que abri somente um dos olhos, logo tendo que o fechar por causa da luz forte demais.

Passei a mão pelo rosto, soltando um gemido, ao que me virei um pouco para o lado. Eu sabia que se virasse mais um centímetro poderia cair dali, indo para o chão. 

Todavia, apenas fiquei parado por mais alguns segundos.

Coloquei as duas mãos na cabeça, sentindo que se não a segurasse, a mesma poderia cair para o lado, ao que levantei num pulo rápido demais.

Depois que a pequena tortura passou, fiquei em pé, logo andando até o banheiro.

O clima, mesmo que tivesse sol do lado de fora, estava frio e o fato de me encontrar só de cueca, me fez perceber isso ainda mais.

Passei as mãos pelos braços, sentindo minha pele um pouco arrepiada, ao que caminhei até pouco depois da porta, a fechando sem muitas delongas.

Acabei por me despir, jogando a cueca na roupa suja perto da pia, logo estando com os pingos caindo em minha cabeça.

Eu suspirei lento e sem interesse, permitindo-me ficar mais em baixo da água morna que caía. 

Fiz do banho, que deveria ser objetivo, duradouro demais, embora não havia agido de propósito. Os pensamentos desconexos apenas me prenderam, ao que todos eles vinham um atrás do outro.

Foi quando percebi que a espuma do sabonete e a água um tanto esbranquiçada do condicionador haviam ido embora pelo ralo, que o estalo de que não deveria mais estar ali me veio.

Fechei o registro, não demorando para sair do box e alcançar a toalha cinza pendurada à parede.

Meu cabelo pingava e meu primeiro impulso seria o secar, antes de sair dali. Porém, apenas coloquei a toalha em minha cintura, começando a andar até a porta do local.

A maçaneta estava fria, assim como o ambiente do quarto e o vento que entrava. Desejei por um segundo voltar ao banheiro e, desfrutar do vapor quente que se encontrava no ar. Mas, apenas me encolhi enquanto andava até o guarda roupa do quarto.

Abri uma das portas, ao que não precisei pensar muito antes de pegar uma das calças dobradas em pilhas que se encontravam em frente aos meus olhos.

A pilha de camisas estava bem ao lado e, a encarei por mais segundos. Logo peguei uma das que gostava mais e que entrava na categoria "perfeita para o evento".

Joguei as peças em minha cama, ao que não me importei em olhar para trás, já que fiquei mais interessado em abrir a gaveta das cuecas.

Quando já estava com uma em mãos, logo minha toalha se encontrava no chão.

—Hm... O que eu fiz para merecer uma visão dessas logo nos primeiros raios da manhã?- escutei sua voz um tanto de sono atrás de mim e sua fala me fez sorrir ladino, ao que me inclinava para passar as pernas pelos buracos da cueca.

—Que visão?- o respondi, uma vez que virei em sua direção, já vestido pela peça pequena.

Ele também sorria para mim, ao que permaneci com a pose demasiada indiferente, mesmo quando caminhei até perto da cama, a fim de passar desodorante.

—Não sei.- respondeu, depois de alguns segundos e logo reconheci o seu tom casual fingido.- Talvez essa visão.

Enxerguei de relance seu dedo apontando para mim, ao que soltei um risinho por causa do que havia dito.

—Ah, que isso?! Nem sou grande coisa.- levantei e abaixei os ombros, usando agora um tom brincalhão.

Ele riu dessa vez, causando-me um sorriso largo logo em seguida.

—Bom dia.- disse em um tom alegre e o olhei mais diretamente para poder desejar o mesmo.

—Bom dia.- logo estava em cima de seu corpo, na cama, e nossos lábios não demoraram para se encontrar num selinho breve.

Com a mesma rapidez em que me encontrei naquela posição, logo estava saindo da mesma, não deixando de pegar minhas roupas separadas ali perto.

—Vai sair?- Jamie perguntou, ao que percebi certa movimentação vinda do colchão, como se ele estivesse se preparando para levantar, ou apenas se acostumando com a ideia de fazer isso.

Deixei minha camisa em cima da cadeira perto da cama, ao que comecei a colocar minha calça, esperando para o responder quando conseguisse ficar de frente com o moreno.

Eu rodei ao redor de mim mesmo, uma vez que já estava com os dedos no botão e no zíper.

—Vou.- meus olhos se desviaram de seu rosto, indo para o que fazia em minha calça.- Preciso resolver algumas coisas.

Suas sobrancelhas levantaram, ao que indicou ter entendido. 

—Bom, se você não fosse, eu que iria.- ouvi um risinho escapar de seus lábios.- Sophia vai me visitar hoje, então preciso estar em casa cedo.

—Entendi.- o respondi, sorrindo de lado com a menção do nome, ao que meus pensamentos voaram para a dona do mesmo por poucos segundos.- De qualquer forma, fica mais um pouco.- minha mão alcançou a peça de roupa em cima da cadeira ali perto, antes que pudesse continuar com o que estava dizendo.- Toma café da manhã... Tenho certeza que ela ainda vai se atrasar.

Vesti a camisa, passando as mãos pelo cabelo bagunçado logo depois, ao que desviei minha atenção para o moreno chegando até onde eu estava.

—E você não vai comer comigo?- perguntou, com uma de suas mãos já se encontrando em minha bochecha.

Eu sorri pequeno, ao que afastei delicadamente seus dedos de minha pele, segurando seu pulso, ainda que estivesse o abaixado. 

Minha cabeça balançou levemente de um lado para o outro, o respondendo.

—Vou tomar café em outro lugar.- sussurrei, ao que me aproximei sem me preocupar com sua nudez quando o abracei pelos ombros.- E falando nisso, se eu continuar conversando com você, vou atrasar...- ele riu fraco, tendo seus braços ao redor de mim.

—Ok.- murmurou abafado.- Desculpa te atrapalhar, então.

—Idiota dramático.- murmurei de volta, ao que nos soltamos.

Logo meus passos foram em direção ao guarda roupa, abrindo uma das portas.

—Vou tomar banho, se não se importa.- Jamie anunciou, fazendo-me o olhar, ao que já tinha minha toalha em um de seus ombros. 

—Sabe que não.

Ele sorriu, não demorando para não estar mais ali.

Então voltei a direcionar minha atenção aos vários produtos dentro do cômodo, logo achando o pequeno vidro de perfume, passando um pouco do mesmo quase que imediatamente.

Meus olhos correram por um momento para o chão, uma vez que percebi ainda estar descalço. Eu passei a atenção rapidamente pelos cantos do quarto, procurando, mesmo que indiretamente e inconscientemente, meu par de tênis. Os achei pouco depois, logo me direcionando até a cama, para que pudesse colocá-los.

Acabei por passar rapidamente no banheiro do quarto, ao que arrumei meu cabelo demasiadamente úmido de lado, uma vez que tinha intenções com o mesmo daquela forma. 

Dei um breve "tchau" para Jamie, logo saindo do espaço quente e, então, pegando uma blusa de frio azul escura e um pouco pesada.

Desci os degraus da escada, ao que tratava de arrumar a touca cinza na cabeça, sentindo uns poucos fios escaparem dali, o qual não tive interesse em mudar aquilo.

Avistei as tão desejadas chaves em cima do pequeno raque, ao que quando passei reto por ali, meus dedos logo alcançaram o molho grande.

Eu o joguei - o molho - dentro de meu bolso da blusa de frio, junto de meu celular e carteira, não demorando para estar abrindo a porta do apartamento.

[...]

Sua cabeça estava abaixada, ao que as mãos permaneciam em cima da mesa, imóveis.

Deixou que seus olhos se fechassem, uma vez que começou a batucar com o dedo indicador da mão direita na madeira, logo repetindo e repetindo o ato.

Aquilo o acalmava de alguma forma. Era algo com o que podia fazer para que o nervosismo fosse eliminado, ainda que minimamente e indiretamente, sem que ele soubesse.

O barulho vindo de seu dedo chocando-se à mesa era o único som na lanchonete, já que não havia tantas pessoas no estabelecimento e a pequena televisão grudada à parede estava com o seu volume baixo.

Embora estivesse escutando seu coração bater forte no peito e o som vindo da madeira, ele se encontrava atento ao pequeno sino das portas, que o indicaria quando alguém entrasse.

Como por ironia, o barulho agudo e repetitivo se fez presente, ao que o grisalho não demorou para levantar sua cabeça, e direcionar a atenção para a pessoa que acabara de entrar. 

Seu coração bateu ainda mais forte, mesmo depois que ele constatou de que não era alguém conhecido de sua parte.

Observou seus passos até que a mulher com roupas volumosas, graças ao clima lá fora, chegasse ao caixa, sussurrando seu pedido.

Então, sem mais interesse, voltou a abaixar a cabeça, fechando os olhos, ao que seu dedo começara a batucar mais constantemente.

Sua respiração saía serena, mesmo que aquilo não impediu de a mesma não ser escutada.

Agora, seus ouvidos estavam atentos à quatro coisas: seu dedo,  seu coração, sua respiração e o sino nas portas.

Ele se assustou um pouco, ao que percebeu a aproximação ao seu lado esquerdo, o fazendo de imediato levantar os olhos.

Assim que o fez, encarou o sorriso gentil lançado em sua direção, ao que logo sua voz doce fez parte do ambiente.

—Deseja que eu anote seu pedido?

Ele riu brevemente e anasalado, tratando de arrumar um pouco sua postura relaxada no estofado, ao que elevou um pouco sua coluna.

—Hm, eu... Vou pedir mais tarde.- disse rápido demais, sorrindo sem mostrar os dentes logo que a última palavra saiu de sua boca. 

A mulher assentiu minimamente, dando os ombros, tendo que desviar de alguém que estava em seu caminho no exato momento.

Jack se tornou mais rígido, uma vez que encarou o "alguém" impedindo a passagem da funcionária.

Seu dedo parou de batucar na madeira, ao que seu coração começou a bater mais fortemente. 

Por um momento, o grisalho simplesmente havia esquecido de como se respirava, o fazendo sem interesse, como se lhe fosse pouco importante.

E ele podia dizer... Naquele momento, com certeza era.

Permaneceram ali se encarando, e por mais que o tempo para qualquer um que estivesse ao redor tivesse sido de muitos segundos, para os dois não.

Jack seria o primeiro a quebrar o silêncio, se estivesse em condições normais ou em outra situação.

Ele faria alguma piada, e, ainda que não tivesse acontecendo nada de engraçado ao redor, com certeza o grisalho arranjaria um jeito. Todavia, a brincadeira lhe estava longe no dado instante, ao que ele nem lembrava de que era aquilo que faria.

Ele não pensava em nada.

Todas as coisas que planejou fazer quando finalmente estivesse naquele momento, agora se resumiam a nada. Não tinha nada.

A única coisa que não estava contando e que não precisou de nem um esforço mental para o estar fazendo, foi executado poucos segundos depois que ele parou de batucar seu dedo na mesa.

Suas mãos foram para as costas alheias, ao que ele o puxou e continuou puxando ainda mais.

O abraço fora retribuído imediatamente e, o mesmo era bagunçado. Sem sentido.

Ambos pareciam querer o outro mais perto, mas aquilo era impossível. Porém, não notavam isso, ao que suas mãos continuavam tentando trazer mais os corpos para perto.

—H-hey.- o sussurro veio de forma suave e quase cantada, e em seu tom, denunciava o fato de ele estar sorrindo, mesmo que minimamente. 

Jack notou certa mudança na voz um pouco abafada e, claro que teria depois de tanto tempo sem escutá-la.

—Oi.- respondeu, ao que suas mãos ainda passeavam demasiadamente nas costas do ruivo.

Os dois permaneceram no afeto por mais alguns segundos, ainda firmes no que estavam fazendo.

Não souberam quem havia sido o primeiro a, quem sabe, acordar, ao que apenas se viram encarando o olhos à sua frente de tão perto.

Talvez também tenha sido o fato de se encontrarem próximos o bastante, que os fizeram mudar a situação, indo cada um para um canto da mesa. Não era como se estivessem preocupados com como haviam chegado ali, de qualquer forma.

Pareceram precisar de um instante, ao que ambos se mantiveram em silêncio, ainda mantendo os olhos no rosto do outro.       

Qualquer um acharia estranho o fato de ver duas pessoas se encarando daquela forma em que os jovens ali estavam. Depois de um tempo, eles também acharam, finalmente despertando para seus pensamentos normais, e desviando suas atenções para outro lugar.

—Sua touca bagunçou.- a voz do ruivo se fez presente, e o dono encarou o pano na cabeça do outro, o indicando com o olhos.

Jack logo colocou sua mão em sua testa, ao que ajeitou demasiadamente ali.

—A sua também.- disse, mas diferente de Hiccup, ele não desviou seus olhos para o local, para constatar isso.

O ruivo a sua frente logo também levou suas mãos para sua touca, a tirando na mesma hora.

Seu cabelo estava um pouco bagunçado, com uma pequena franja caindo na testa. Ele não ligava, de qualquer forma.

—Pensei que você ia estar com outro estilo, ou... Sei lá.- e lá estava o Jack de sempre.

Ele sorriu de lado, ao que se permitiu então encarar os fios ruivos.

—Ah, claro que você tinha que falar sobre o meu cabelo.- rodou os olhos, rindo baixo e balançando a cabeça levemente.- Eu até falaria do seu também, mas ele está escondido...

Jack sorriu demasiadamente satisfeito, ao que puxou sua touca ainda mais para sua testa, voltando a colocar suas mãos em cima da mesa, após fazer isso.

Então, ficaram em silêncio e, não notaram se o mesmo era bom ou ruim, já que passaram a se analisar.

Acharam interessante as mudanças e o fato de detalhes inúteis terem permanecido. Quer dizer, eles sabiam de cada coisa, mesmo as que eram inúteis no corpo do outro. Sabiam melhor do que qualquer um.

Agora, contemplavam coisas que não estavam ali antes, essas que passariam despercebidas por outra pessoa.

Mas, por fim, Jack acabou por se escorar no encosto atrás de si, deixando que seus dedos da mão direita batessem contra à madeira, um depois do outro, ao que focou sua atenção nos olhos verdes.

Isso chamou a atenção do ruivo, ao que olhou por poucos segundos para a mão do grisalho.

Hiccup o imitou, encostando ao estofado fofo, mas diferente de Jack, ele manteve suas mãos em seu colo.

Seus olhos voltaram a se encarar e, fizeram isso até que um sorriso da parte dos dois se tornou presente. Sorriam por perceber estar da mesma forma por tempo desnecessário.

—E aí?- a seguinte frase saiu da boca dos dois em uníssono, o que resultou em um risinho de ambas as partes também.

Eles não conseguiam distinguir o que estava sendo aquilo até o momento. Não conseguiam definir se estava estranho ou desconfortável.

E parando para pensar sobre isso, o fato de algo simples ser tão imprevisível, os fizeram por um momento desejar não estar ali.

Claramente pensavam sobre o mesmo assunto ao mesmo tempo. Não havia como, já que parecia até mesmo palpável o questionamento no ar.

Questionamento esse que oscilava entre querer estar ali ou não. Oscilava entre decidir se aquilo fora uma boa ideia ou não.

Todavia, odiavam um pensamento daqueles.

Não era para ser estranho. Não era para ser complicado. 

Se não havia nada mais acontecendo, que mal tinha em fazer aquilo? Era para ser fácil!

Segundos se passaram depois da fala dos dois, ao que os mesmos foram torturantes.

Eles apenas permaneceram se encarando, totalmente por fora do que fazer a seguir, totalmente por fora de como agir e, aquilo chegava a ser cômico.

O silêncio incomodava, assim como o clima ali, todavia, Jack se viu rompendo a quietude tanto de sua mesa, quanto das mesas próximas, já que ainda não havia movimentação na lanchonete, e quando tinha, era a mais mínima possível.

Seu suspiro fez barulho, ao que ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos à mesa.

—Ok, olha.- chegou mais perto, como se estivesse tentando tratar de um segredo.- Isso é ridículo... A gente não veio aqui para isso.- seu dedo foi de seu próprio peito, para o ruivo, apontando para ele todo.

Hiccup não deixou de rir baixo, ao que também abaixou demasiadamente a cabeça, acabando por ter uma ideia.

—Tenho certeza que não viemos para isso.- lhe respondeu, voltando a atenção até os olhos azuis.- Pft! Quem marca de tomar café da manhã para ficar só se olhando?! Que ridículo!- seu ar tinha certo exagero de indignação, ao que o mesmo, ainda que tenha causado confusão no grisalho, também o fez sorrir, esperando pelo que ele ainda tinha a dizer.- Vamos começar de novo?

Sua cabeça se voltou para trás por poucos segundos, todavia logo seus olhos estavam novamente em Jack, encarando seu cenho franzido, ao que segurou uma risada.

Então, logo ele não estava mais no estofado, dando de ombros e escutando o sussurro atrás si.

—O que você está fazendo?

Hiccup tampouco se importou em tentar respondê-lo, continuando seu caminho até as portas do local.

Jack ainda encarava as costas do que antes estava em sua frente, completamente confuso com sua atitude, chegando a pensar que talvez o ruivo estivesse indo embora.

Seus olhos estavam atentos aos seus movimentos e, ele viu quando o outro passou pelas portas, fazendo ecoar o som do pequeno sino batendo.

Não demorou muito para Hiccup estar passando pela mesa em que estava sentado há segundos, ao que se encontrava agora, do outro lado do vidro.

Seus olhos ainda não faziam questão de encarar o grisalho, ao que este tentou lhe chamar atenção, batendo sua mão no vidro, manchando o mesmo.

Seus olhos se desviaram para frente, uma vez que Hiccup não mais estava em sua visão. Ele se encontrava um pouco incrédulo, isso era notável.

Todavia, sua atenção logo se foi novamente para o lado, ao que Hiccup passara por ali novamente.

O som agudo do sino se fez presente novamente, denunciando sua chegada no local... de novo.

Ele parou à entrada, uma vez que seus olhos vasculharam o local, parando por fim em Jack. Sorriu largo, falando com animação evidente na voz:

—Aí está você!

Passou então a caminhar até a mesma mesa de antes, ainda possuindo um sorriso no rosto.

Jack agora também sorria, mesmo que não estivesse acreditando no que o outro havia feito.

Sua cabeça estava inclinada levemente para cima, ao que o ruivo se encontrava parado ao seu lado, não parecendo querer sentar no exato momento.

—Nem um abraço?- perguntou finalmente, com o cenho franzido em sua direção.- Você não me vê há tanto tempo, e não quer me dar nem um abraço sequer?

Os olhos azuis rolaram, ao que o sorriso de Jack cresceu involuntariamente. 

Suas mãos se apoiaram na madeira da mesa, ao que ele se sustentou ali para se levantar. Então, desviou sua atenção novamente para o rosto cheio de sardas, vendo o sorriso de lado aumentando ali.

Seus corpos novamente se encontraram e, estavam quentes.

Eles lembravam claramente daquela quentura, lembravam claramente do cheiro, lembravam claramente de cada minúcia.

Jack se permitiu apertar mais a cintura entre seus braços, ao que fechou os olhos quando escutou o sussurro vindo de Hiccup:

—Bom dia.

Ele sorriu pequeno, antes de o responder.

—Quando é que se tornou tão idiota?- perguntou, voltando a abrir os olhos, encarando a parede do outro lado. 

—Mas eu só acabei de chegar...- respondeu, fingindo não saber do que Jack estava falando.

Se distanciaram em algum momento, se voltando para a mesa.

—Já pediu?- Hiccup perguntou, se permitindo olhar para o caixa por alguns segundos.

Jack não evitou fechar os olhos por alguns segundos, rindo baixo.

—Não. Não pedi, Hiccup.- respondeu por fim. 

—Ah, não precisava esperar eu chegar.- disse, ao que entrelaçou seus dedos em cima da mesa.- Quer dizer... Você nunca esperou antes.

Jack não evitou arquear as sobrancelhas, o encarando por um tempo.

-Se eu soubesse que você ia reclamar por eu ter te esperado, eu não teria te esperado.- falou, usando o mesmo tom debochado usado pelo ruivo, deixando que se passasse alguns segundos, para que continuasse.- Quer dizer... Você sempre reclamava por eu não te esperar. Mas quando eu espero... É difícil te agradar, huh?

Ele espiou de perto a reação do ruivo, que o encarava um pouco surpreso, mesmo que não estivesse demonstrando.

—Nem tanto...- agiu indiferente, dando os ombros e fazendo um sinal com a mão elevada.

Não demorou muito para que tivesse uma garçonete em sua mesa, e Hiccup só voltou sua atenção para frente novamente, quando ela chegou.

—Vão querer o que?- perguntou, com o mesmo sorriso gentil de antes.

Seus olhos cruzaram-se, ao que ficaram assim por um momento. Então, Hiccup tratou de matar a dúvida que estava presa em sua garganta.

—O mesmo de sempre? 

Jack apenas sorriu em resposta, ao que aquela era a sua confirmação de que ele queria o mesmo de sempre.

Hiccup também sorriu e, era um sorriso específico. Feliz por ainda ter costumes ali, costumes que ele amava.

Sua mão fora para o bolso de trás de sua calca jeans, ao que ele logo pegou sua carteira.

—Oh, não.- Jack arregalou os olhos e suas mãos trataram de procurar por sua carteira dentro de seus bolsos. Sua fala causou susto tanto em Hiccup a sua frente, quanto em sua atendente, cujo olharam rapidamente em sua direção.- Eu pago.

Jack tampouco estava achando sua carteira, uma vez que a mesma se encontrava em sua blusa de frio, e suas mãos estavam longe de lá. Seu esforço não adiantou de nada, ao que quando achou e olhou para cima, os dois que o faziam companhia não se encontravam mais lá.

Ele bufou, olhando para o caixa pouco movimentado, ao que somente Hiccup era o cliente no momento.

Sentiu vontade de levantar e ir realmente lá pagar, mas sabia da teimosia do ruivo. Aquilo só resultaria em uma discussão longa, mas que não chegaria em uma solução, já que no final, Hiccup ia convencer Jack de que ele quem pagaria.

Seus olhos se desviaram então para a rua que o vidro mostrava.

Ele até pensaria sobre o que estava acontecendo no exato momento em seu coração demasiadamente acelerado, cujo ele não conseguia acalmar. Pensar no que havia acontecido até agora, mas Jack não fez isso, optando por observar a pouca neve que caía silenciosamente.

Sorriu minimamente, não deixando de fixar ainda mais em sua mente o quanto o inverno é perfeito assim como sempre faz, quando se permite observar as ruas com neve no chão, ou os flocos caindo, cada um com o seu ritmo.

Ele permaneceu daquela forma por mais alguns segundos, ao que logo estava olhando para o ruivo, que havia chegado.

—E então?- ele sorriu, arqueando as sobrancelhas.- O que você fez nesses últimos tempos?

—Últimos tempos?- tirou sarro, rindo por alguns segundos.

—Você entendeu.

Jack se permitiu rir mais um pouco, ao que pensou no que responder para o ruivo.

O que ele poderia falar, que Hiccup ainda não soubesse? Quer dizer, nos "últimos tempos", Jack falara sobre tudo o que acontecera na sua vida por aqueles recados.

—Err... Você sabe...- ele começou, coçando a nuca por um momento. Por mais que não tivesse muito o que falar, Jack mesmo assim o faria.- Os últimos tempos foram a mesma coisa. Quer dizer, o último ano na escola foi um pouco puxado. A maioria das coisas, era a Merida que me ensinava... Você sabe o quão inteligente ela consegue ser.- ele riu, não permitindo que o outro fizesse a mesma coisa, já que continuou.- Bom, ainda sim, foi um ano longo e estressante. Eu também não estava no meu melhor estado.- ele estava tentando tanto não falar sobre o motivo. Estava tentando deixar aquela história mais curta, porque era uma tortura relembrar tudo. Era uma tortura lembrar das noites em que não conseguia dormir, pensando em Hiccup. Lembrar de cortar os pulsos, apenas não querendo estar mais ali. O ruivo não tinha ideia do quanto estava sendo difícil para Jack. Pelo menos, era o que o grisalho pensava, já que para Hiccup, estar ali escutando, não era uma tarefa fácil. Sua mente sempre acabava o culpando.- Ainda teve uns episódios em que eu passei no hospital...- seus olhos foram para os seus pulsos inconscientemente, ficando ali por alguns segundos.- Mas não foi nada demais.- os dois ali sabiam que nunca não seria nada demais.- Mas finalmente! A formatura. Cara, foi uma noite memorável... Você sabe que eu fui com Astrid. Ela estava tão linda, assim como Merida.- deu uma pausa, se permitindo lembrar daquela noite.- O começo realmente foi chato. Parecia que nunca ia acabar os nomes sendo chamados.- Hiccup riu, o que chamou atenção do grisalho, que acabou rindo com ele.- Mas depois que a gente bebeu, ficou muito melhor, isso eu garanto. Acabei conhecendo Jamie lá também... Depois disso, não lembro muito sobre aquela noite.- eles ficaram em silêncio por algum tempo depois da última fala, ao que nem eles mesmos poderiam dizer o que estavam pensando. 

Mas de qualquer forma, seus pensamentos foram interrompidos, ao que a garçonete havia acabado de chegar à mesa deles. Em suas mãos estavam seus pedidos, o qual ela deixou em cima da madeira grossa, tendo um sorriso no rosto.

Eles agradeceram, ao que logo começaram a comer.

Não estavam ansiosos para voltar a falar sobre o que estavam falando durante o tempo em que comiam. Apenas estavam absorvendo as palavras de Jack, mesmo o dono delas.

—E quanto a você?- o grisalho perguntou em algum momento, não querendo mais pensar sobre o seu passado. Para ele, já bastava.

Os olhos verdes se desviaram para o prato inacabado, sorrindo pequeno. Ele também tentava limpar sua mente. Tentava fazer com que sua respiração se acalmasse, assim como seu coração, por causa das palavras do outro a sua frente.

Limpou sua garganta, tomando um gole de seu café.

-Por onde começar, não é mesmo? Foi como eu disse na ligação... E-

—Espera, que ligação?- Jack o interrompeu, começando a ficar confuso.

Ele não havia recebido nenhuma ligação, e embora Hiccup tenha realmente feito uma, explicando muitas coisas, ela não tinha sido completa. Seu sinal era mesmo muito ruim...

—Sério?!- Hiccup se viu questionando em voz alta, realmente indignado. Todavia, decidiu brincar um pouco com Jack.- Não acredito que você não escutou minha mensagem de voz enorme!

O grisalho o encarava com seu cenho franzido, completamente a mercê do que ele estava falando.

Hiccup então soltou uma risada, balançando a cabeça por poucos instantes.

—Olha, eu disse muita coisa naquela ligação e não lembro a metade.- era uma mentira.- Mas vou tentar lembrar. Então... Vamos continuar falando sobre você...