Min Yoongi
No dia seguinte, quando acordei pouco depois das seis da manhã, a primeiro coisa que fiz foi pegar meu celular. Assustei-me com o tanto de chamadas perdidas e mensagens que tinham, todas de Jimin. Tinha um curto espaço de tempo entre elas, mas duas coisas me chamaram atenção, pois a última vez que ele tinha ligado era a uma hora atrás. E uma uma mensagem dizendo:
"Me perdoe hyung, eu quebrei a promessa..."
Um desespero imenso tomou conta de mim, ele nunca havia me ligado tão tarde (ou tão cedo) assim e o conteúdo da mensagem me deixou com medo.
Fiquei preocupado, poderia ter acontecido algo grave e eu não fiquei sabendo. Sai rápido da cama, olhando o tempo pela janela. Estava caindo pequenos flocos de neve, que com certeza se irão se prender no chão até o anoitecer. O inverno tinha oficialmente chegado.
Procurei rapidamente uma roupa quente, mas que me cobrisse do frio intenso que está fazendo e fui para o banheiro tomar um banho. Deixei a água morna cair sobre meus ombros, não tinha percebido que estava tão tenso. Eu estava com um aperto no peito, uma sensação estranha tomava conta de mim, como se algo errado estivesse para acontecer.
Não demorei no banheiro, e logo saí de lá devidamente vestido e preparado para sair de casa. Desci as escadas, sentindo o cheirinho de café fresco, minha mãe estava colocando a mesa para o café e provavelmente meu pai estava dormindo.
- Bom dia mãe - a cumprimentei, indo em sua direção e depositando um beijo em seu rosto.
- Bom dia, querido - sorriu, franzindo o cenho logo depois. - Vai sair? Não é nem sete horas, filho.
- Vou sim, estou preocupado com Jimin, ontem nós discutimos e vou até sua casa pedir desculpas e conversar com ele. - a respondi, me servindo com uma xícara de café.
- Vocês brigaram? - perguntou-me com os olhos levemente arregalados - Mas querido, vocês sempre foram tão próximos, aconteceu alguma coisa entre vocês? - eu entendia a reação de minha mãe, durante todos esses anos que eu conheço Jimin, nunca havíamos sequer discutido por coisas bobas, quem dirá brigar mesmo.
- Ah... Nada demais mãe - tentei disfarçar, não queria entrar em detalhes, pois meus pais nem sabem que eu gosto de garotos, quanto mais que gosto de Jimin - Eu só estou estressado com algumas coisas da escola, e acabei descontando nele e falei o que não devia - lhe lancei um sorriso, depositando a xícara vazia na mesa.
- Ah sim, tudo bem então filho. Fale com ele para vir aqui mais vezes, faz muito tempo que não o vejo. Posso fazer um almoço ou um lanche bem gostoso e ele passa o dia aqui como quando vocês eram mais novos - assenti, pensando em sua proposta. Realmente fazia mais de um ano que ele não vinha aqui em casa, e seria bom para ele sair um pouco daquela casa tão grande e vazia.
- Vou falar com ele Sra. Min, pode deixar - minha mãe sorriu com a minha resposta e veio em minha direção, ajeitando os fios desarrumados de meu cabelo e ajeitou minha touca.
- Tome cuidado filho, está nevando e eu não quero meu menino pegando um resfriado sim? Mande um beijo a Jimin por mim e seu pai - disse, dando-me um beijinho na testa. Ajeitou seu roupão e voltou a seus afazeres.
Mesmo com uma preocupação grande, minha mãe sempre conseguia me acalmar. Mesmo tendo 18 anos, ela insistia em me tratar como uma criança - não que eu estivesse reclamando, longe disso - porém depois de tantos anos ainda não tinha me acostumado com isso.
Sai de casa ajeitando a máscara que cobria meu rosto, mesmo sendo um pouco demorado ir para a sua casa, preferi ir andando do que pegar um ônibus ou metrô. Porém a cada passo que eu dava, mais aflito eu ficava, e um mau pressentimento me deixava mal a ponto de eu começar a correr, quanto mais rápido eu chegasse lá, mais rápido eu poderia saber como ele estava.
Depois de alguns instantes, cheguei ao portão de sua casa ofegante pela corrida. Observei o ambiente tranquilo e tão familiar para mim. Passei pelo jardim da frente, digitando a senha de acesso para entrar.
A casa estava um breu, e o silêncio era predominante, eu poderia arriscar que ouvia as batidas de meu próprio coração de tão silencioso que o ambiente estava. Porém isso não era um bom sinal, eu sentia isso.
Tirei meu sobretudo grosso, deixando-o no encosto do sofá da sala e segui em direção as escadas, subindo em direção ao quarto de Jimin com o coração agitado.
Dei duas batidas na sua porta antes de entrar. Assim como o restante da casa, seu quarto estava completamente escuro e extremamente silencioso. Avaliei todos os cantos com o olhar, mas Jimin não estava em nenhum canto do ambiente. Foi quando meu olhar recaiu em direção a porta, fazendo-me sentir um medo até então desconhecido por mim. Segui com passos lentos até o local.
Todo tipo de coisa passava por minha mente naquele momento, e nenhuma delas eram coisas boas.
Dei dois toques baixos, mas não obtive resposta. Minhas mãos já tremiam e eu temia o pior, segurei a maçaneta torcendo para a porta estar destrancada, e por sorte estava. A abri lentamente, mas a cena que vi foi a pior possível.
Seu corpo desfalecido no chão, e em torno de si uma poça gigantesca do líquido cor escarlate. Sua pele estava extremamente pálida, deixando assim os dois cortes em seus pulsos mais do que evidentes.
- N-não... Não pode s-ser...
Não havia percebido que estava chorando, até perceber minha visão embaçada e as lágrimas quentes escorrendo sobre minhas bochechas.
De repente, todas as memórias de nós juntos passaram pela minha mente. Desde o dia que o conheci, quando éramos somente dois meninos. Quando ele foi em minha casa pela primeira vez, quando fomos ao parque juntos, quando somente ficávamos juntos matando o tempo que não era tão precioso para nós no momento. Lembrei-me de seus sorrisos, dos nossos olhares cúmplices, dos nossos abraços, de todos os momentos juntos até hoje. Tudo parecia tão distante, como se tivesse acontecido em outra vida, mas isso havia acontecido até poucos meses atrás, quando tudo começou a desmoronar.
Não sabia como reagir, como lidar com a situação, só sentia meu corpo tremer por inteiro. Meus joelhos fraquejaram e cai diante de seu corpo.
Levei minha mão trêmula até sua jugular, sentindo que ainda havia uma fraca pulsação presente ali. Ele ainda estava vivo, mas não saberia dizer por quanto tempo.
Observei melhor seu corpo, vendo vários hematomas em seu rosto e braços, marcas de uma violência recente, pois ele não estava assim quando o vi ontem.
Não conseguia controlar meu desespero, só desejava que ele acordasse e dissesse que isso não passava de uma brincadeira. Mas no fundo eu sabia que não era, pois ele vinha definhando a muito tempo e uma hora isso ia acontecer.
Tateei meus bolsos procurando meu celular, a fim de buscar ajuda necessária. Liguei para a primeira pessoa que vi pela frente.
- Alô...
- J-jin hyung... Me ajuda... - minha voz estava fraca e eu não conseguia controlar meu choro e desespero.
- Yoongi, o que aconteceu? - sua voz estava em alerta em questão de segundos.
- O J-jimin, hyung... Ele tentou se matar, por favor, me ajuda!
- Onde vocês estão? - questionou de imediato.
- Na casa dele, no banheiro do seu quarto. Por favor, vem logo, ele vai morrer hyung! Eu não posso deixar ele morrer hyung, não posso...
- Tudo bem, vou chamar a ambulância e já estou indo para ai!
Só consegui ouvir a chamada sendo finalizada e eu guardei o telefone.
Não sabia o que podia fazer para ajudá-lo naquele momento, mas eu não tinha forças pra sair do seu lado também. Eu não deveria ter saído daquela maneira ontem, fui impulsivo e por conta disso meu menino está assim, por minha culpa.
- Não... Por favor, Jimin, você tem que acordar, pequeno. Você tem que acordar, você não pode morrer Park Jimin, não pode me deixar aqui! - gritei alto, segurando em seus braços frios.
Eu repetia isso como um mantra, enquanto puxava seu corpo mole e frio contra o meu. Não me importei se estava me sujando de sangue, apenas queria abraçá-lo e acreditar numa falsa esperança de que ele não morreria.
- Por favor, fique comigo...
•『 ♡ 』•
Não fazia a menor idéia que quanto tempo havia ficado ali, abraçado ao seu corpo até ser praticamente arrancando pra fora do banheiro pelos para-médicos que vinham ajudar meu pequeno.
Senti braços familiares me abraçarem com firmeza, mantendo-me no lugar para não atrapalhar o trabalho deles.
- Yoongi, fica calmo eles vão ajudar o Chim, ele vai ficar bem.
- N-não hyung, ele precisa ficar bem, ele não pode morrer Jin, não pode!
Minha vontade era de berrar para deixar toda minha angústia sair do meu corpo, toda a dor se esvair, mas eu não podia, eu iria ser forte por Jimin, como eu sempre havia sendo desde o começo.
Tudo aconteceu muito rápido, e quando me dei conta, já estava dentro da ambulância acompanhando meu pequeno até o hospital e Jin vinha logo atrás no mesmo táxi que tinha usado para chegar até a casa de Jimin, e mesmo assim não conseguia parar de chorar, mesmo com as palavras de conforto que a médica dizia para mim.
Segurei sua mão fria e entrelacei nossos dedos, eu queria tanto que ele acordasse, eu só queria ver seus olhos brilhando de novo, ver seu sorriso lindo, ouvir sua risada mais uma vez.
Eu sabia que a culpa era minha, eu deveria ter atendido suas ligações, não devia ter saído daquele jeito da sua casa, se eu não tivesse feito isso, estaria ao seu lado esse tempo todo, teria escutado seu choro, seria seu ombro e seu pilar. Sentia-me a pior pessoa do mundo, era meu dever como hyung cuidar dele, e simplesmente virei às costas quando ele mais precisou.
Quando chegamos ao hospital, não me deixaram passar da porta da UTI e me mandaram esperar na recepção. Jin chegou alguns instantes depois, passou por mim indo direto ao balcão de informações para informar os dados pessoais de Jimin. Sentia-me angustiado com a demora dos médicos, ninguém dava uma informação sequer e isso seguiu por uma hora. E nesse período não conseguia parar de chorar, minha cabeça doía muito, e minhas vistas já não colaboravam, mas não sairia do hospital enquanto não tivesse notícias dele.
Sentei-me na cadeira desconfortável, enterrando meu rosto entre as mãos e encostando a cabeça na parede atrás de mim. Nada fazia sentido e a culpa me consumia mais e mais a cada minuto.
Jin estava ao meu lado tão impaciente quanto eu, mas não havia dito uma palavra até o momento. Não havia o que ser dito, tínhamos somente que esperar.
De repente fui abraçado por braços tão familiares, que as lágrimas antes secas, vieram a tona de uma vez, fazendo-me soluçar alto.
- Shh... Está tudo bem querido, é a mamãe. - ela sussurrou enquanto me aconchegava contra seu corpo quente.
Não sabia dizer quando e como meus pais haviam chegado, mas só conseguia chorar mais e mais. Provavelmente Seokjin deve ter ligado para eles e eu não percebi pois estava praticamente "desligado" do mundo real.
- M-mãe, o Jimin mãe, ele não pode mo-morrer - murmurei entre soluços contra seu peito.
- Ele não vai morrer querido, ele vai ficar bem, você vai ver. Vai ficar tudo bem, daqui a pouco os médicos vão trazer boas notícias.
Assenti ainda abraçado a seu corpo, enquanto ela fazia carinho em meus cabelos.
Eu ainda chorava baixinho, revivendo a cena de quando o encontrei no banheiro mais cedo. Sentia minha cabeça latejar forte, e a culpa se apossar de meu corpo. Se meu pequeno não ficar bem, nunca iria me perdoar. Eu sei que se tivesse ficado ao seu lado ontem, sentado e conversado com ele eu poderia ter o impedido de fazer o que fez, eu fui um idiota, impulsivo e egoísta e por minha causa ele está no hospital.
Eu olhava em volta sem ver exatamente alguma coisa, e não descansaria até saber alguma notícia sobre ele. Ao longe podia ouvir a voz melodiosa de minha mãe, ela cantava baixinho perto do meu ouvido, como fazia quando eu era criança para me acalmar.
Passaram-se horas até um médico vir em nossa direção trazendo as tão aguardadas notícias.
- Parentes de Park Jimin?
- Sim doutor, alguma notícia? - meu pai fez questão de falar por todos nós.
- Bom, me chamo Zhang Yixing, sou o médico de Jimin e trago boas notícias sim - iniciou, para o alívio de todos - Ele está bem e fora de perigo agora, fechamos seus machucados e fizemos uma lavagem estomacal por conta da alta dose de remédio ingerido. Não foi preciso fazer transfusão de sangue, por mais que ele tenha perdido bastante e fizemos uma série de exames. Ele está subnutrido e com os ossos fracos, além de hematomas por todo corpo e duas costelas quebradas. Mas fora isso seu quadro é estável e fora de perigo. Por acaso ele tem bulimia? Passa por agressões em casa ou coisa parecida?
- Sim doutor - Jin murmurou baixinho em resposta depois de alguns minutos em silêncio. - Tem bulimia e depressão, ele se corta com frequência e provoca vômitos depois de comer alguma coisa, e muitas vezes fica sem comer, chegando a desmaiar doutor. Mas ele não sofre agressões em casa, não fisicamente pelo menos, não sei explicar o porquê de ele estar cheio de hematomas.
Não pude impedir o hyung de falar, pois já estava na hora de alguém saber e poder ajudá-lo. Mesmo sabendo, nunca pude fazer alguma coisa e ali ele poderia ter ajuda.
- Isso explica os resultados assustadores de seus exames e os cortes em seus braços e pernas - doutor Yixing disse pensativo - Bom, mas no momento só posso passar essas informações a vocês, ele está sendo transferido para um quarto e ficará em observação por enquanto. Ele estava desmaiado quando chegou, mas o sedamos para se recuperar melhor, portanto ele só deve acordar amanhã a noite.
- E-ele já pode receber v-visitas doutor? - Perguntei a ele, minha voz saiu rouca e baixa por conta do choro.
- Não é aconselhável, mas posso abrir uma exceção para vocês - deu um sorriso terno e continuou - Só preciso saber quem é o responsável legal dele para poder passar a noite aqui, já que o rapaz é menor de idade.
Jin hyung explicou ao médico que sua mãe não estava na cidade e não tinha sido avisada até então. Meu pai se responsabilizou por passar a noite no hospital até sua mãe voltar.
O médico se despediu com uma reverência, dizendo que logo uma enfermeira viria para nos levar até seu quarto. Assim que ele saiu, já sentia a impaciência tomar conta de mim, eu queria estar do lado de Jimin naquele momento, queria ver como ele estava.
Quando ela chegou, todos deixaram que eu fosse primeiro. Ela me conduziu até o quarto 713, avisando que eu não podia demorar muito e que voltaria no intervalo de 5 minutos.
Abri a porta com muita cautela e entrei tentando não fazer barulho. Senti minha respiração falhar no mesmo instante, nunca pensei em vê-lo daquela maneira. Sua tez estava mais pálida que o comum, ao redor dos seus olhos estava roxo, e todos os hematomas estavam ainda mais evidentes - me perguntei internamente que teria feito aquilo e quando isso tinha acontecido - pois quando sai de sua casa ele não estava assim.
Seus dois pulsos estavam enfaixados, tapando seus cortes profundos e seus braços apresentavam mais marcas de agressões físicas.
Aproximei-me da maca, segurando sua mão. Sua pele estava extremamente fria, como se ele não estivesse mais entre nós, mas era só por causa do ar condicionado do quarto.
- Por que você fez isso pequeno? Por que? - Murmurei com a voz embargada, as lágrimas escorriam novamente.
Passei a mão por seus cabelos alaranjados, e lhe fiz um carinho antes de me debruçar sobre seu corpo e chorar como nunca antes. Meus soluços eram ouvidos em todo quarto e logo uma enfermeira entrou pedindo que eu saísse dali para não perturbar Jimin, mas eu não queria sair, não queria deixá-lo ali. Perante a minha insistência de não sair do local, foram chamados mais enfermeiros para tentar me tirar dali.
Logo minhas vistas começaram a escurecer e minha cabeça girar, adormeci com o pensamento de que Jimin estava ali por minha causa e que eu não tinha conseguido ajudá-lo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.