História Photograph - I Wanna Reset

Park Jimin

As vezes eu fico pensando o quanto somos dependentes de algo, no meu caso, sou dependente da dor. Dependo de uma dor para suprir a outra, e isso me frustra, porque eu me sinto fraco comparado com as outras pessoas. Sou uma pessoa fraca demais, instável demais, que precisa se esconder atrás de sorrisos falsos e roupas grandes e largas.

Fico me perguntando como muitas pessoas conseguem superar seus problemas e seguirem em frente sem se abalar tanto, com um sorriso no rosto.

Suspirei aliviado quando o sinal do intervalo tocou. Fechei meu sketchbook, o colocando na mochila e saí da sala em direção ao refeitório. Coloquei meu melhor sorriso no rosto, mesmo que hoje não fosse meu melhor dia. Eu ainda estou um pouco envergonhado por ontem, não queria ter me descuidado a ponto de desmaiar na escola e receber uma bronca do hyung.

Dessa vez fui o último a chegar na mesa, onde todos estavam reunidos, e o clima não parecia estar muito calmo, a tensão no ar era quase palpável. Estranhei por não ver Jin hyung e Namjoon hyung sentados juntos, mesmo que eles namorassem em "segredo", sempre ficavam perto um do outro.

— Jin hyung, está tudo bem com você? — ele deu um breve sorriso antes de responder e eu me sentei a mesa ao lado de Yoongi, que me empurrou uma bandeja com um suco de laranja, um sanduíche simples e um fruta. A refeição era atraente aos meus olhos, mas eu não poderia comer tudo aquilo sem me sentir culpado.

— Está tudo bem sim Minnie, só estou com um pouco de dor de cabeça hoje, nada demais — definitivamente meu hyung não estava bem, ele sempre foi o mais positivo e atencioso dentre todos nós — Mas e você, como está?

— Bem hyung — menti — Só preciso estudar para as provas deste semestre — ele assentiu em resposta e passou a dar atenção a seu celular.

— O que aconteceu com Jin hyung, Yoongi? — sussurrei para o mais velho que está ao meu lado.

— Ele e Namjoon terminaram o namoro pequeno, e Jin ainda está meio chateado com a situação — me respondeu no mesmo tom baixo — E você trate de comer, tudo, ainda não esqueci do episódio de ontem — repreendeu-me com um olhar severo, quase como uma mãe repreende um filho.

— Tudo bem — apenas comecei a comer em silêncio, mesmo não querendo.

Retirei o envelope do bolso da minha calça. Uma nova foto estava em meu armário hoje de manhã quando eu cheguei, contendo a seguinte frase: "Tenho mania de fechar os olhos e pensar em você". Essa pequena atitude foi o ponto alto do meu dia até o momento, uma frase curta com uma foto minha. Entretanto ao mesmo tempo que eu estava curioso de saber quem poderia ser, eu também estava preocupado, porque tudo não poderia passar de uma brincadeira de mal gosto. E eu não estou preparado para passar por tudo de novo na minha vida.

— O que é isto, Jiminie? — Yoongi questionou-me com o cenho franzido.

— Isto o que, hyung?

— Isto na sua mão — me falou, apontando para o pequeno envelope.

— Ah sim — sorri envergonhado -—Se lembra daquela foto que tinha falado ontem, que eu achei no meu armário? - o esverdeado assentiu — Então... hoje tinha outra, e parece ser da mesma pessoa que a colocou lá.

— Outra foto? Bom, e você tem em mente quem pode ser?

— Não, ainda não faço a menor idéia. Só sei que essa pessoa se identifica como Suga, e eu não conheço ninguém com esse apelido e muito menos com um nome parecido — suspirei terminando de comer.

— Calma Minnie, você vai encontrar essa pessoa — disse-me e depois sorriu  — Depois da saída, me espere no portão de entrada okay? Preciso falar com você.

— Tudo bem — o respondi, eu já esperava que essa conversa aconteceria mais cedo ou mais tarde, e depois do ocorrido de ontem com certeza seria mais um sermão e uma tentativa de me ajudar em vão.

•『 ♡ 』•

Logo depois do intervalo ter acabado, eu dei um chá de sumiço pela escola. Eu havia decidido passar os 3 últimos tempos de aula no terraço da escola, um local que praticamente ninguém vai, ainda mais em horário de aula, sorte que minhas notas não são as melhores, mas estão na média, então não tenho que preocupar em reprovação, não por agora, então eu gosto de ficar sozinho para desenhar, ouvir música, escrever meus textos e pensar.

Subi o último lance de escadas do 4º andar do prédio e abri a porta do terraço, observando o céu azul limpo, e o pequeno canteiro com flores que tinha ali.

— Finalmente posso ficar sozinho — disse comigo mesmo e me sentei encostado na parede, retirando meu celular, fones, sketchbook e lápis para desenhar da mochila.

Coloquei meus fones e dei play na playlist em modo aleatório, começando a desenhar qualquer coisa que me viesse à cabeça.

Respirei fundo ao perceber que o desenho era os olhos dela, aquele olhar frio e cínico; carregado de ironia desprezo.

Há dias que isso não sai da minha cabeça, isso está me deixando louco.

Logo após arranquei a folha do caderno de capa preta e joguei no chão com minha cabeça a mil. Resolvi parar de desenhar e me levantei a fim de observar a "paisagem" no terraço, me encostei no parapeito sentindo o vento bater em meu rosto, e fechei meus olhos ouvindo atentamente a letra da música que tocava no fone.

Nae mame gipi gadeuk chabeorin

Gongheohan sesang nareul guhaejwo

I wanna reset

I wanna reset

I wanna reset

Eodume gathin oeroun nunbit

Nae soneul jaba jul saram eopsna

I wanna reset

I wanna reset

I wanna reset

Abri os olhos que já se encontravam marejados, e lentamente subi na pequena mureta de proteção, sentando no local e observando a altura atentamente. Com certeza seria uma bela queda, uma queda direto para a morte.

Morte.

Com certeza ela seria a solução de muitos problemas agora, mas eu sou um covarde, um grande covarde, que tem medo de encarar seus próprios problemas de frente, por medo. Medo do desconhecido, medo da reação das pessoas, medo de decepcionar a única pessoas que se importa comigo: Min Yoongi.

Eodin nugun gan jal algessji

Nae goeroun mameul

Ape seoseong doedo

Mot chajneun na kkoekkori gateun

Honja naradanyeo

Eodum soge tto nae oeroun bameul

Honja naradanyeo

Eodum sok tto goeroun mameul

Ao fechar os olhos por um momento, é como se eu escutasse de longe todas as gargalhadas dos meus "ex-colegas"; todas as palavras ruins; as humilhações.

Sentia a presença do meu pai e de Yang-Mi, apontando para mim, rindo dos meus defeitos, das minhas fraquezas. Me sinto dentro de uma pesadelo, um filme de terror que nunca tem fim.

Nunca quis ser uma fardo ou uma decepção na vida de ninguém, mas sinto que cada vez mais eu magoo todos ao meu redor.

Eu só queria ser mais forte, ser independente. Queria não precisar me esconder das pessoas, dos meus amigos e dos meus pais. Queria ser o ponto de apoio do meu hyung e não precisar me apoiar em si quase o tempo inteiro.

Eu quero recomeçar, viver uma vida diferente, melhor do que agora. Eu não ligo para todo o dinheiro que minha família tem, eu só queria ter meus pais dentro de cada, comigo, estando presente na minha vida.

Há um vazio profundo no meu coração. Uma escuridão. Uma escuridão nos meus dias solitários.

Eu deveria estar habituado a estar sozinho, mas cada vez mais eu sinto falta de alguém ao meu lado, nem que fosse somente para segurar minha mão e dizer que tudo vai ficar bem.

Isso pode parecer um tanto egoísta, pois eu sei que o Yoongi está sempre comigo... Só que no fundo eu sinto que ele também me deixará. Quando ele cair em si e perceber que eu não passo de uma casca vazia ele se afastará, assim como todas pessoas que passaram pela minha vida.

Ele tem sua própria vida, família e preocupações pessoais para lidar.

Observo as pessoas na rua. Andam depressa, correndo contra o tempo. Não dão valor as pessoas próximas a si; só trabalham e trabalham, e só se dão conta do mais importante na vida quando algum parente ou pessoa próxima morre. Mas quem sou eu para dizer alguma coisa...

Observo meus amigos no campo aberto da escola. É impossível não reconhecer Jackson, Mark, Hoseok, Yoongi e Jaebum no meio das outras pessoas. Ambos aparentam estar felizes, com sorrisos genuínos no rosto. Me permito sorrir em meio às lágrimas. De todos alí, quem mais chama minha atenção é meu hyung... Mesmo estando a metros de distância eu posso ver claramente seu sorriso doce, os cabelos verde menta bagunçados pelo vento suave. É... Definitivamente eu deveria sumir e deixá-lo viver sua vida sem se preocupar comigo.

Sinto um silvo passar pelos meus ouvidos, mas é apenas um vento mais forte.

Eu quero gritar, eu tento gritar... Mas as palavras estão presas em minha garganta, formando um nó incômodo e não há nada e nem ninguém aqui, só o silêncio.

Apenas suspirei limpando minhas lágrimas e desci de onde estava e me sentei novamente no chão.

Enterrei o rosto entre a mãos e chorei alto. Minha garganta dói pelos soluços, minha cabeça dói pelo choro e meu coração dói pelas palavras frias lançadas a mim.

As pessoas não têm noção do quanto podem magoar o outro quando dizem coisas ruins.

Me sinto sufocado, agoniado, quero sumir, ir embora para qualquer lugar onde as pessoas não são cruéis a ponto de pisar e ferir as outras. Posso ser um covarde a ponto de não cometer um suicídio, mas tenho coragem o suficiente para fazer o que eu sempre faço.

Retirei a lâmina que estava guardada dentro da minha carteira, levantei a manga de meu moletom até a altura do cotovelo e a posicionei contra meu pulso esquerdo fazendo o primeiro corte, não muito fundo, vendo o sangue escorrer lentamente de dentro de mim indo até o chão. Não me importei se estava sujando minhas roupas ou o local o de estava sentado, eu só queria aliviar a dor e angústia presos em mim.

E logo depois fiz outros, cada corte uma palavra, cada corte uma lágrima descendo pelo meu rosto, cada corte e meu coração se quebrava mais um pouquinho, e eu tenho a certeza de não aguentaria por mais tempo. Fiz cortes e mais cortes e quando me dei conta já tinha cortado praticamente meu antebraço inteiro.

Geujeo seuchyeo jinaganeun baram

Yeop yeop saram baro ape

Sori jilleobwado

Goyohamman maju bogo issneunde

Nado gati geotgo issneunde

Wae geudeureun jeomjeom meoreojyeo

Wae nan hangsang honja seoisseo

Wae nae sesangman meomchwo

Cicatrizes novas misturadas com cicatrizes antigas, todas causadas pelos mesmos motivos: raiva, frustração, agonia, medo, rejeição, dor.

Deixei o sangue estancar e encostei minha cabeça na parede, sentindo o alívio e prazer momentâneo que os cortes proporcionaram e senti minha vista girar levemente, me deixando nauseado.

Dor.

Eu já não sentia mais dor física, a única dor que eu sentia era uma dor que vinha de dentro, dor causadas por palavras e ações que me machucaram ao longo de três anos e meio, e que até hoje eu não havia superado.

Mas esse sou eu, essa pessoa quebrada, imperfeita e incompleta que precisa se esconder atrás de uma máscara para as pessoas não perceberem o quão devastado eu estou.

Quando percebi o que tinha feito senti nojo, repulsa de mim mesmo. O medo se apossou de mim, imaginar o olhar decepcionado de Yoongi direcionado a mim é devastador.

Por mais que eu queria que ele vá, ao mesmo tempo eu não quero; ele é o único porto seguro que eu tenho. Uma das únicas razões para eu estar aqui ainda.

— Jiminie? — eu não havia percebido que o tempo havia passado tão depressa até ouvir a voz de Yoongi.

Ele estava perplexo, mesmo que ele saiba do meu problema, ele nunca havia me visto daquela maneira, com meu braço completamente ensanguentado. Eu estava envergonhado e assustado.

Pude ver o pavor e o desespero estampados em seus olhos arregalados, puder ver o meu medo refletir neles.

— H-hyung, e-eu posso explicar...

Ireohge hollo namgyeojin oeroum

Naui isoneul jigeum jabajwo

I wanna reset

I wanna reset

I wanna reset

Sangcheotuseongi sumgyeodun jinsil

Haengbokhaessdeongot na doragallae

I wanna reset

I wanna reset

I wanna reset

- Reset - Tiger JK