Ao acordar, Zayn não encontra Ariel ao seu lado ao tatear a cama. Ele se senta, se espreguiçando e finalmente abrindo os olhos, olhando por todo o quarto em busca da esposa. O quarto estava vazio e as cortinas ainda fechadas.
Sentindo uma pontada de decepção, acreditando que Ariel não estava em casa ou que seu humor poderia estar abalado por conta da noite anterior, Zayn se levanta e permite que o quarto seja levemente iluminado ao abrir as cortinas. E só depois de escovar os dentes e arrumar a cama ele desce e se surpreende ao ouvir o barulho das portas do armário sendo abertas e fechadas.
Ariel está na cozinha, vestindo apenas uma camisola rendada, qual exibe praticamente todo seu corpo nu por conta da transparência do tecido.
— Achei que não estivesse em casa — confessa Zayn ao entrar na cozinha.
Ariel se vira para ele e fecha a gaveta qual tinha acabado de abrir.
— Pensei que poderíamos ir ao lago — diz ela, observando Zayn pegar uma caneca e enchê-la de café, qual ela havia acabado de fazer. — Posso ter errado na quantidade do pó de café — comenta.
— Parece frio lá fora — diz Zayn ao se aproximar da pia, qual tem uma janela acima e espia pelas fretas da cortina o tempo razoavelmente nublado e cinzento.
— Ah, tudo bem.
Ele se vira para Ariel que brinca com a aliança, a girando no dedo. Ela parece desapontada.
— Mas podemos ir se você realmente quiser — diz Zayn, ficando frente a frente com Ariel.
Ela levanta os olhos para ele e sorri.
— Fiquei um tempão revirando os armários e encontrei algumas coisinhas que podemos levar para comer debaixo daquela árvore.
— Daquela árvore? — pergunta Zayn, sorridente.
Ele deixa sua caneca na bancada e põe as mãos na cintura de Ariel.
— Sim, daquela árvore — brinca ela, alisando o peito nu de Zayn.
— A propósito — começa ele —, o café está delicioso.
Ariel sorri e dá de ombros.
— É claro que está, é minha única especialidade na cozinha.
Zayn ri, jogando a cabeça para trás.
— Ah, não seja modesta! Vai descartar os Cookeimados, TorradoCake e Macarronada Na Brasa?
Ariel gargalha ao se lembrar de alguns de seus inúmeros desastres na cozinha e dá um leve empurrão em Zayn, qual nem se mexe.
— Você quer mesmo ir ao lago? — pergunta ele, mudando de assunto e Ariel assente com a cabeça. — Tudo bem, então.
O barulho de seu celular tocando interrompe Ariel que pretendia responder Zayn, dizendo o quão leve estava se sentindo após a noite anterior. A tela indicava que Oliver estava ligando e ao perceber de quem poderia ser a ligação, Zayn dá um passo para trás e deixa que suas mãos — que antes tocavam Ariel — caiam ao lado de seu corpo.
— Não vai atender? — pergunta ele, observando Ariel olhar para a tela do celular com atenção.
— Não — responde ela. — Na verdade, não. Quero apenas ter um dia tranquilo e divertido no lago — conclui, levantando os olhos para Zayn.
Ariel havia decidido naquela manhã que não contaria a Zayn que Oliver não era e nem seria nada daquilo que eles haviam combinado. Apesar de ter a consciência que não estava "jogando limpo", gostaria que Zayn pensasse que ela estava se esforçando para fazer aquilo que o marido havia pedido, mas a vontade de ter um amante era próxima a zero. Ariel estava decidida a tentar voltar a ter um casamento de verdade, saindo daquela zona de conforto que havia se tornado sua profunda solidão. Mas isso não significava que ela precisava ou queria outro homem em sua vida, afinal, o único homem que ela precisava querer, amar e sentir necessidade, era Zayn.
— Tudo bem, então — respondeu Zayn, um tanto desorientado com a decisão de Ariel.
Ele olhou para os lados sem saber o que dizer ou fazer. Zayn queria questionar Ariel sobre a noite que havia se passado — antes de ela voltar para casa —, mas não sentia que teria forças o suficiente para ouvir Ariel falar sobre outro homem e o quão engraçado ele — aparentemente — era. Zayn se lembrava que tinha prometido a si mesmo que questionaria mais Ariel, que seria mais presente e demonstraria maior interesse em seus assuntos quando dessem início ao plano qual poderia salvar seu casamento, mas não tinha ideia de o quão difícil aquela situação seria.
— Então — começou ela, chamando a atenção do moreno —, vamos?
— Não sei o que te dizer sobre isso, Zayn — respondeu Ariel honestamente.
Ele havia acabado de dizer que achava melhor ficarem distantes de suas devidas empresas naquelas semanas, quais dedicariam apenas um para o outro e para seus "amigos". Sim, Zayn usou a palavra amigos.
— Gosta tanto do seu trabalho que precisa ficar no prédio até às dez ou onze da noite, todo maldito dia?
Constrangida, Ariel olhou para a janela mesmo sabendo que Zayn não olhava para ela, afinal estava dirigindo. Era verdade que ela afundava-se em trabalho para fugir dele, e às vezes, quando sua vista já estava cansada de tanto ler os originais que eram enviados para aprovação em sua editora, ela simplesmente ficava em sua sala. Às vezes comia algo, tomava um café ou via algum filme. Qualquer coisa para não ter que enfrentar o clima torturante de jantar com Zayn, naquele silêncio doloroso.
— Eles precisam de mim — respondeu ela após um tempo em silêncio.
— Você tem seu braço direito lá, Nina. Ela pode lidar com tudo, assim como eu tenho Leonard.
Ariel assentiu, mesmo sem Zayn ver e repetia mentalmente que algumas semanas fora não faria com que seus negócios desmoronassem ou algo do tipo, até mesmo porque não era seu trabalho que deveria ser prioridade em sua vida.
— Tudo bem — concordou ela.
Zayn olhou para ela de relance e sorriu, feliz em ver como Ariel era flexível quando se tratava de recuperar o casamento. Talvez ela ainda o amasse, afinal de contas.
Encostada na janela, Ariel começou a pensar sobre a possível amante que Zayn poderia ter, mas o que a deixava confusa era como ele realmente estava se esforçando para tê-la de volta. Ariel não queria pensar que Zayn era um cafajeste egoísta ou algo do tipo, o conhecia bem demais para tal dúvida.
— De onde veio essa ideia de abrir o nosso relacionamento? — questionou Ariel.
Ela arrumou sua postura, ficando ereta no assento do carro e se virou para Zayn o máximo que pôde, já que o cinto de segurança a prendia. O moreno deu de ombros e dedilhou os dedos no volante.
— Passei aquele dia todo pensando em nosso casamento, praticamente nem trabalhei, apenas pensei. Cogitei em te dar o divórcio, qual sabia que você queria mas não sabia como pedir, mas eu simplesmente não conseguia me imaginar voltando para uma casa vazia. Bem — ele se interrompeu e deu de ombros mais uma vez —, não que já não estivesse, mas sabia que uma hora ou outra você voltaria, mesmo que para fazer as malas e ir embora. Então decidi tentar isso, saindo da rotina e tirando dela você também, deixar para trás toda aquela monotonia e ser mais honesto com você em relação a tudo. Eu também estava cansado e entediado dentro de nossa própria casa, Ariel.
— Você tem uma amante? — perguntou de uma vez, sem enrolar.
Zayn olhou para Ariel e franziu o cenho, ele direcionou o carro para o acostamento e parou, deixando o motor ainda ligado.
— De onde tirou essa ideia? — perguntou ele, voltando-se para Ariel.
Ela o fitava, confusa com toda aquela reação dele. Seus olhos tinham um quê de chateação e ela não sabia que a pergunta o deixaria tão incomodado.
— Bem, você sempre foi tão ciumento e de repente chega querendo ter amantes e me pedindo para que faça o mesmo.
Zayn levou a mão ao rosto e passou pelos olhos, sem acreditar naquilo que estava ouvindo.
— Não, Ariel, eu não tenho uma amante, e também nunca tive. Você é única, Ariel. Sempre foi.
Ariel sorriu e desviou seus olhos dos de Zayn, quais eram tão intensos que parecia doer ao olhar por muito tempo.
— Bem, não que você não tenha agora — brincou ela, dando um tapinha no braço dele.
Zayn abriu um sorriso, mas seus olhos pareciam o anular completamente. Ariel não entendia.
O lago era tão tranquilo quanto Ariel se lembrava que era. Ela e Zayn consideravam aquele lugar como deles.
— Você vai pegar um resfriado.
Zayn puxou Ariel para perto dele e a aconchegou em seus braços.
— Estou pouco me importando — respondeu, sorridente.
Ariel agarrou-se ao pescoço de Zayn e olhou para ele.
— É quase como ter dezoito anos outra vez.
— É verdade.
Ela olhou para a água ao redor deles e para a mata que parecia os esconder de todo o resto do mundo.
— Temos trinta anos, Zayn. Trinta.
Zayn brincou com as pontas do cabelo de Ariel, quais balançavam submergidas na água.
— Bem, eu tenho trinta e dois.
— Eu tenho rugas?
Zayn riu e olhou para Ariel.
— Talvez um pouquinho aqui — disse ele, encostando na lateral dos olhos dele. — Mas são bem fininhas.
Ariel o encarou — horrorizada —, e rapidamente tocou a área que Zayn havia acabado de lhe indicar.
— Estou brincado, linda — falou ele, rindo da expressão de choque que tomava conta do rosto de Ariel. — Seu rosto está perfeito.
— Seu idiota, isso não se faz!
Zayn gargalhou enquanto tomava tapinhas da esposa nos ombros.
— Você provavelmente vai me trocar por alguma garotinha de dezenove anos quanto estivermos com cinquenta.
— Claro que não — disse ele. — Eu trocarei por uma de dezoito.
Ariel riu e Zayn a abraçou com mais força.
— Então quer dizer que estaremos juntos daqui vinte anos?
Ela desviou o olhar do dele e encarou as árvores, percebendo que aparentemente ainda tinha planos para seu futuro que envolvessem Zayn e um relacionamento estruturado.
— Bem, gosto de acreditar que sim — respondeu ela com convicção e honestidade.
Zayn sorriu e a selou.
— Não está com frio?
— Não, papai — revidou ela, revirando os olhos.
Ele fechou os olhos e jogou a cabeça para trás.
— Ah, garota, não me chame de papai.
— Seu tarado!
Ela o empurrou, rindo e com as bochechas coradas. Zayn sorriu quando voltou a olhar para ela.
Ariel olhou para o céu e levantou os braços, rindo e gritando de felicidade quando as primeiras gotas de chuva começaram a se misturar com a água do lago que molhava seu corpo. Zayn olhou para ela e não pôde não sorrir. Naquele momento Ariel parecia livre. Livre de preocupações, da tristeza e da maldita depressão.
Ele quis chorar e seus olhos encheram-se de lágrimas, mas ela não percebeu. Estava distraída demais estando feliz consigo mesma, com seu casamento e com seu dia, mesmo que por alguns minutos.
— Temos que sair — comentou ele poucos segundos depois. — É perigoso ficar na água com esse tempo.
— Como sempre o Sr. Certinho — zombou ela, jogando água nele.
— Você vai ver o que o Sr. Certinho é capaz de fazer com mulheres desobedientes.
Ariel riu e mergulhou, começando a nadar o mais rápido que podia em direção a margem do lago. Zayn a seguiu e quando finalmente deixou a água, Ariel já estava correndo em direção ao carro. Ele correria mais rápido se conseguisse parar de rir, mas Ariel corria desesperadamente e nua, como sempre nadava no lago, assim como ele.
De dentro do carro, Ariel viu Zayn gargalhando e também tentando segurar e/ou tapar seu pênis enquanto corria. Certamente era uma das cenas mais engraças que tinha visto em toda sua vida.
E quando ele finalmente entrou no carro e esticou o braço atrás do assento de Ariel, ela pensou que ele fosse pegar as toalhas que haviam trazido, mas então seu banco foi deitado e Zayn já estava em cima dela, arrancando ainda mais risos da esposa.
— Jogo sujo — disse ela.
Zayn deu de ombros e passou o dedo indicador entre os seios dela.
— Nunca disse que jogava limpo.
Dito isso, Ariel puxou Zayn para um beijo e eles só deixaram o lago horas depois, e com as janelas do carro embaçadas.
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