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História Pintando O Sete - Naruto e Sasuke - Parte 2


Escrita por: andreiakennen

Notas do Autor


Fanart da capa do capítulo é a Bara e Hayate, desenhado pela leitora Bruninha Uzumaki
Obrigada, filhota. <3

Capítulo 11 - Naruto e Sasuke - Parte 2


Fanfic / Fanfiction Pintando O Sete - Naruto e Sasuke - Parte 2

Pintando O Sete

Revisado por Blanxe

Capítulo 11 – Naruto e Sasuke – Parte 2

 

— Você vai ter de preparar o café hoje, Naruto — avisou Sasuke, terminando de abotoar os punhos da camisa social. — Tenho uma reunião na reitoria agora cedo, preciso ir.

— Hum, hum — Naruto resmungou, concordando. Havia acabado de escovar os dentes e fazia gargarejo, a porta do lavabo estava aberta. Cuspiu na pia e passou a toalha de rosto na boca. Saindo do banheiro, o sorriso aumentou no rosto ao ver o marido bem-vestido. — Está mais elegante do que o normal — observou, aproximando-se de Sasuke que havia colocado o paletó e se olhava no espelho da porta do guarda-roupa.

— É uma reunião com reitor — Sasuke repetiu, agora em tom de justificativa. — É prudente usar o melhor terno.

— E o melhor perfume também? — o loiro brincou, farejando em volta do marido. — Hum...

Sasuke exibiu um sorriso discreto. Voltou-se para o marido e admirou aquele belo par de olhos azuis espertos e risonhos tanto quanto o dono que aguardava por uma resposta. Mas ele não podia se dar ao luxo de ficar contente pelo aparente ciúme de Naruto. O loiro sabia muito bem que ele jamais seria trocado por um cara estranho como o reitor, o qual ainda guardava uma certa repugnância devido ao passado que tiveram juntos.

Suspirou e deu sua resposta.

— Será que essa produção me daria uma nova promoção?

Naruto deu uma risada alta e não resistiu, enlaçou a cintura de Sasuke e encostou o ventre dele junto ao seu e o beijou. O beijo matinal foi refrescante, com sabor de enxaguante bucal sabor frutas vermelhas.

Sasuke começava a sentir que as mãos de Naruto subiam por suas costas e amassavam seu impecável e alinhado terno quando o barulho da porta do quarto se abrindo o deixou feliz. Tinha deixado a porta semiaberta ao descer para cozinha e colocar o café para passar na cafeteira.

Hikari, ao notar que havia atrapalhado os pais em um momento íntimo, resolveu voltar para trás, mas foi impedido pelo pai moreno.

— Pode entrar, Hikari — Sasuke autorizou, desenroscando com dificuldade as mãos de Naruto da sua cintura e voltando a alinhar onde ele havia amassado.

Hikari sentiu o estômago dar uma pontada forte; sua intenção havia acabado de ir por água abaixo. Queria falar somente com o pai loiro e agora, além de tê-los flagrado se beijando, tinha o olhar do pai moreno atento para o formulário que tinha em uma das mãos.

Soltou um suspiro e soltou os ombros, tentando relaxar. Como não tinha saída, seria obrigado a falar com os dois. Apesar de ter absoluta certeza de que seu pai Sasuke iria encontrar empecilhos, principalmente por ele estar fazendo aquele pedido em cima da hora.

— Bom dia — desejou primeiro e, após a resposta em uníssono de ambos os adultos, ele estendeu o formulário na direção deles. Como imaginado, foi Sasuke quem apanhou. — Eu preciso que assinem essa autorização de viagem, teremos um amistoso em Nagoya neste final de semana.

— E por que tão em cima da hora? — Sasuke inquiriu rápido, exatamente como imaginava, com aquele tom imperativo predominando.  

“Velho, seu chato!”

— Não é em cima da hora, otou-san. Eu não tinha certeza se eu iria até saírem os resultados das provas. A prioridade são os estudos e o próprio clube não permite participarmos das atividades se não alcançarmos pelo menos as médias em todas as matérias.

Era por ter que passar por um interrogatório que Hikari não gostava de pedir as autorizações de viagem para o Sasuke, o outro pai simplificava muito mais as coisas.

— Mas você não alcançou a média em inglês.

Hikari tentou manter a calma.

— Eu sei, mas as aulas de reforço de inglês são durante a semana e não nos fins de semana, acontecem agora de manhã, por isso estou indo mais cedo para o colégio esses últimos dias.

Naruto percebeu o filho olhá-lo em busca de socorro. Sasuke analisava o formulário.

— Três dias? — ele falou, encarando Hikari como se aquela informação fosse suspeita.

— Sim, otou-san, em tese, né? — Hikari respondeu, sentindo que sua paciência começava oscilar. — Saímos daqui sexta à tarde, não tem aula no sábado, voltaremos no domingo à tarde.

— E as despesas?

— O clube e a escola já arranjaram tudo.

Sasuke não parecia convencido.

— Otou-san, pode assinar, por favor — pediu. — Eu tenho que ir para aula de reforço ou vou me atrasar.

— Então vai, entrego o formulário à noite.

Hikari olhou incrédulo para Naruto e, antes que a discussão estourasse, o pai loiro apanhou o formulário da mão de Sasuke, deu uma olhada rápida com os olhos e deu seu parecer.

— Sasuke, é só um amistoso — concluiu de forma simples. — Hikari já viajou quantas outras vezes pelo time da escola?

— Mas são três dias fora de casa, Naruto.

— Sasuke, ele vai viajar na sexta à tarde e volta no domingo à tarde, não são três dias, são dois dias e duas noites — Naruto foi até a escrivaninha, procurou uma caneta, assinou o formulário e o devolveu ao filho que soltou um suspiro aliviado. — Vai, Hii-chan, ou irá se atrasar para sua aula de reforço — liberou.

Hikari agradeceu ao pai curvando o corpo para frente e saiu do quarto o mais depressa que pode.

— Valeu, pai!

— Você facilita as coisas demais, Naruto — Sasuke resmungou assim que o filho saiu fechando a porta.

— Sasuke, o Hikari não é mais uma criança. Não vamos poder monitorar seus passos por muito mais tempo, por isso precisamos começar a nos acostumarmos com isso. Além do mais, é para escola. É o clube de basquete que ele frequenta desde quando era do fundamental. Ele já viajou tantas outras vezes. O que tem de errado nisso?

— Mas ele precisava passar o formulário em cima da hora? Isso não dá margens para desconfiança?

— Ele não explicou que estava esperando as notas saírem?

Sasuke suspirou.

— Tá, Naruto. — Sasuke fechou o paletó, apanhou a maleta com o notebook e despediu-se de Naruto com um selinho nos lábios. — Eu tenho de ir.

Mas foi abrir a porta e ele foi recepcionado por um abraço apertado da filha.

— Bom dia, paizinho!

— Não, não, não se pendure, princesa, está amarrotando minha roupa.

— Ah, tá, desculpe. — Ela desvencilhou-se rapidamente, ajudando-o a desamarrotar a roupa. — Está elegante, hein? Parece que está indo para um casamento — ela riu e entortou o pescoço para piscar para o pai loiro dentro do quarto.

Mas Sasuke não deixou de notar que Bara também tinha um formulário nas mãos.

— O que é isso? — apontou.

— Ah, sim. Eu vim por causa disso. Preciso de uma autorização para viajar em uma excursão com o clube de matemática este fim de semana.

— Você não faz parte do clube de matemática.

— É verdade — respondeu, erguendo o dedo indicador dando a entender que faria um complemento daquela informação e o fez de maneira ligeira. — Mas eu faço parte do conselho estudantil e a diretora quer alguém do conselho acompanhando o clube na maratona de matemática, já que é a primeira fase da eliminatória nacional e...    

Sasuke soltou um esturro, apanhou o formulário da mão da filha, entrou de volta no quarto e apanhou a mesma caneta que Naruto usara para assinar a autorização de Hikari. Assinou o formulário, deu um novo beijo nos lábios do marido que o acompanhava com a boca entreaberta, então voltou até filha e entregou o papel, se despedindo.   

— Seguindo seus princípios — cochichou ao se explicar para Naruto. —Eu tenho de ir, Hime — avisou à filha, oferecendo a face para receber um beijo dela.

— Eu te amo, paizinho lindo do meu coração. Obrigada, tá? — Bara depositou um beijo estalado na face do pai, que se apressou em passar por ela e ir embora.

— Estou indo.

— Bom trabalho!

Então ela viu o pai loiro passar por ela meneando a cabeça, depois de bagunçar seus cabelos já bagunçados.

— O que foi, otou-san?

— Hoje seremos só nós dois no café. Vou arrumar a marmita para você entregar para o seu irmão. Vamos descer.

— Não, otou-san. O Hii-chan não merece que eu faça esse esforço por ele — ela resmungou, seguindo Naruto.

Naruto balançou a cabeça em negação, mais uma vez.

— Por que você e o Sasuke pegam tanto no pé do Hii-chan?

— O óbvio precisa de resposta? — Bara ergueu os ombros como se as evidências para aquela pergunta pairassem no ar. — Ele é chato, arrogante, grosseiro e se acha — enumerou mesmo assim. — Tem outras coisinhas a mais que não valem ser mencionadas no momento. Só por isso, papai.   

Naruto suspirou fundo; estava desistindo de tentar entender aquilo. Se Hikari se parecia tanto com o Sasuke, por que a filha, que era apaixonada pelo pai moreno, não gostava tanto do irmão? Entendia menos ainda o porquê de Sasuke gostar tão pouco do filho se o menino era praticamente uma réplica sua na questão da personalidade.

Talvez fosse por amar até os defeitos e a personalidade marrenta do seu Sasuke que ele fosse o único de casa mais apegado ao Hikari. Afinal, Bara era apaixonada por Sasuke, mas ela era a única pessoa no mundo com quem o marido conseguia ser completamente gentil, por isso ela insistia em alegar sempre que o pai moreno não era chato. Não era mesmo, ao menos, com ela.

— Hm. Com certeza é isso — assentiu, chegando com Bara na cozinha.

— O que, papai?

— Nada não, Bara-chan. Vamos, coloque o avental — ele jogou para a filha o avental lilás que apanhou no suporte da parede, e pegou o alaranjado para ele. — E você vai levar a marmita para o seu irmão sim.

— Ah, não, papai! — Bara protestou, vestindo o avental. — Vão me chamar de “esposa” do Hii-chan!

— Não quero saber.

— Não, não e não!

— Bara, obedeça seu pai!

— Não, não, não quero!

— O que tem de errado em ser chamada de esposa? Você vai ter que ser uma um dia, não vai?

— Ah, mas, com certeza, não vai ser do Hii-chan! E quem disse que quero ser uma esposa? E se eu quiser ser um marido que nem o meu pai Sasuke?

— Bara... pare de inventar coisas que não existem, por favor.

— Como assim não existem ‘maridas’, papai? Existem mais do que o senhor pensa!

— Bara...

— Ué, começa e não aguenta?

— Baraaa! — Naruto bateu o pé no chão, ficando com o rosto vermelho. — Eu sou seu pai!

— Hihihi — ela soltou aquele risinho sapeca e se abraçou a cintura homem mais velho. — Tem mais jeito de ser meu onii-san, sabia? Amo você, seu baka.

Naruto se desarmou completamente e correspondeu ao abraço da filha, soltando os ombros, vencido.

— Meninas vão ganhar sempre com a sua fofura... Isso é tão injusto.

...

Detestava misturar as coisas. Ficar pensando na família enquanto precisava se concentrar nos assuntos relacionados ao trabalho. Mas não conseguia se desligar da sua casa. Não bastasse saber que o casal de gêmeos estaria ausente no fim de semana, ainda tinha o problema com Yoru e o fato de Naruto se propor a conversar com ele depois do trabalho. Sozinhos. Aquilo estava remexendo com seus nervos. Ainda havia o “pirralho”, filho de Shikamaru. Aquela bendita veia latejou forte na sua fronte.

— Sensei, o Orochimaru-sama irá recebê-lo — a secretária o avisou, e Sasuke se pôs de pé, acompanhando a moça que parecia ter engessado o sorriso na face.

Na luxuosa sala da reitoria se encontrava Orochimaru, atrás da ampla mesa de tampa de vidro fumê, e Karin sentada na cadeira almofadada na cor creme diante dele, Sasuke notou que havia uma segunda cadeira reservada para ele ao lado dela. Ambos se levantaram assim que ele se aproximou e os três se cumprimentaram com breves reverências. Depois disso o reitor pediu que se acomodassem.

Sasuke e Karin trocaram olhares e sorrisos rápidos, o moreno não deixou de notar como a mulher ruiva estava bem e como o ar de sofisticação e poder havia se elevado. Ela passara por um momento turbulento no passado que a derrubou. Karin teve depressão profunda e achou que ela talvez não se reergueria, mas surpreendeu-se com a força dela. A ruiva deu a volta por cima em todos os aspectos. Voltou ao trabalho ainda melhor do que era antes, mais dedicada e os frutos vieram. Agora ela era a vice-reitora da maior universidade do país. Tinha muito orgulho da pessoa que a amiga se tornara.

Ouviram batidas na porta e a secretária da recepção entrou, pedindo licença e informando que o professor Kabuto havia chegado. Sasuke meneou a cabeça negativamente, incrédulo no atraso do seu vice-coordenador.

— Permita-o que entre, minha jovem — o reitor autorizou, simpaticamente.

— Perdoe-o pelo atraso — Sasuke foi se desculpando.

— Não se preocupe tanto, Sasuke-kun. O bom desempenho do curso que vocês gerenciam juntos não é nada em relação essas pequenas gafes do dia-a-dia — o reitor o acalmou, acenando a cabeça positivamente para o vice-coordenador que apontou na entrada da sala. — Além disso, ambos foram meus talentosos alunos no passado, tudo que sinto por vocês é orgulho.

A menção ao passado e o sorriso estreitado, claramente irônico, fizeram o sangue de Sasuke ferver. Havia decidido há muito deixar o passado no passado e não se arrepender mais dos erros que cometera naquela época. Fora uma criança birrenta e imatura a qual aquele homem imponente agora a sua frente, seu próprio professor, se aproveitou.

No entanto, tanto ele quanto Orochimaru eram pessoas diferentes agora. Somente Kabuto ainda tinha resquícios daquele garoto imaturo do passado.

Mas seus erros serviram de certo modo para fazê-lo crescer. Reavivar esses erros o ajudava a ficar em alerta com relação a Hikari. O filho detinha, em proporções muito maiores, aqueles fatores nocivos que atraíam tipos como Orochimaru. Não se perdoaria jamais se Hikari passasse pelo que passou.     

— Puxe uma cadeira dessa outra mesa e se junte a nós, Kabuto.

— Sim, senhor!

Após acomodados, Orochimaru permitiu a vice-reitora ter a palavra.

— Fique a vontade, Karin.

— Bem — ela começou, depois de ajustar os óculos no rosto, o semblante sério fazendo Sasuke ficar ainda mais tenso. Então ela abriu um relatório encadernado que tinha em mãos e elucidou. — Sasuke, você foi indicado ao Prêmio Internacional de Inovação das Ciências Biológicas da Universidade de Queensland na Austrália, uma das melhores do ramo em ciências biológicas atualmente. A indicação ao prêmio se dá graças à iniciativa do seu projeto da revista Bio-Universo Toldai, que desde a primeira publicação vem recebendo prêmios importantes pelos excelentes artigos publicados. Inclusive, três artigos da revista estão concorrendo a outras modalidades desse mesmo prêmio — Karin sorriu, fechou o encadernado e acrescentou: — Parabéns.

O reitor, a vice-reitora e Kabuto se uniram em aplausos.

Sasuke estava incrédulo.

— Eu nem sei o que dizer — expôs, claramente embaraçado e surpreso. — Não esperava algo do tipo. A revista é algo tão simples.

— Mas é exatamente a simplicidade da iniciativa que trouxeram acadêmicos interessantes para o seu projeto, Sasuke — Karin continuou pontuando. — Alunos com grande potencial muitas vezes tem receio de se exibirem, tem medo da pressão, de não serem capazes de alcançarem as expectativas. Mas o seu projeto os aborda de maneira simples, sem grandes pretensões e sem exigir demais deles, muitos o fazem por diversão, por gostar de verdade da área e é aí que surgem as grandes ideias. Parabéns, novamente.

Sasuke assentiu e o reitor tomou a palavra.

— Sei que um feito como esse merece ser comemorado, Sasuke-kun — garantiu o reitor, acomodando melhor as costas na cadeira. — Somente a indicação para esse prêmio enaltece o nome da nossa universidade e mais ainda do seu curso. Então, o chamamos aqui não só para dar as boas novas, mas informá-lo que é o convidado de honra para o jantar que darei nesse sábado em minha residência. Traga sua esposa e seus filhos.

Sasuke estava tão feliz com a indicação ao prêmio que não se importou com a ironia implícita no “traga sua esposa” do reitor, o qual sabia muito bem que ele não tinha uma.

— Meus filhos estarão viajando em excursão pela escola. Mas Naruto e eu iremos com toda certeza — afirmou convicto.

...

— Irasshai... — disse tão preguiçoso que precisou segurar o bocejo para não soltá-lo na frente do cliente que adentrara o lugar.

— Ei, vai espantar os clientes do meu pai com essa cara de preguiça.

— Ah… É só você, Hikari — Tandaru coçou o topo da cabeça com a caneta e soltou o bocejo que reprimira. — Seu pai disse que o movimento tá fraco hoje. — Estalou os lábios.  

— Mas não é motivo para você ficar com essa cara de morto-vivo, é?

— Ah, é que eu odeio isso. Trabalhar é um saco. — O filho de Shikamaru analisou o loiro diante de si e franziu o cenho, fazendo uma careta. — Que nojo de você, Hikari.

— O que foi?

— Eu disse “que nojo de você” — repetiu sem se preocupar. — Nah? Se olha no espelho, poxa vida. Será que dá para parar de ficar bonito? Eu tenho que tingir meus cabelos se quiser que eles continuem loiros e, mesmo assim, nunca fica um loiro legal. Meus olhos o máximo que chegaram aos da cor da minha mãe deu nesse castanho esverdeado tosco. Tudo que eu queria era ser um pouco mais alto, e nem isso. Minha cara vive se enchendo de espinhas. E olha pra você, merda. Loiro natural, olhos irritantemente azuis, rostinho de boneca, corpo maneiro, alto, jogador do time de basquete. Cara, as meninas devem se matar por sua causa. Dá um nojo imenso olhar pra sua cara. Sério. Cadê a Bara? Devo ter menos complexo se eu olhar pra ela.

— Como é que vou saber? Somos gêmeos comuns, não siameses, não nascemos grudados — respondeu mal-humorado e passou pelo garoto indo ele mesmo procurar uma mesa, fazendo um gesto para a gerente do pai depois de se acomodar.

— Tudo bem, Hikari-kun? — a moça o cumprimentou ao atender ao chamado. — O Tandaru-kun não o acompanhou, não é?

— Pois é — ele teve que concordar e apanhou o cardápio que a gerente colocou sobre a mesa. — E bocejou na minha cara — complementou.

— Ai, ai. Como é que vou sair de férias desse jeito?

— Ele quem vai te substituir? Cadê a Kaoru-san? — Hikari perguntou, depois passou a analisar o cardápio.

— Está resfriada. E ela ainda veio trabalhar, acredita? Mas seu pai não permitiu que ela ficasse. Pediu para ela voltasse para casa e repousasse e só voltasse amanhã se estiver se sentindo melhor.

— Esse é o meu pai Naruto — afirmou e devolveu o cardápio para gerente. — Gyudon[1].     

Mizuki anotou.

— Algo para beber?

— Não, obrigado.

— Certo, já volto.

Na ida a gerente puxou Tandaru por uma das orelhas e o levou com ela para repartição depois do balcão de atendimento.

— Ei, ei, isso dói, cara.

— Não sou seu cara, sou sua gerente. E é mesmo para doer — ela soltou, dando um último puxão forte ao largar a orelha do garoto. — O que eu disse sobre atender o cliente com um sorriso, oferecer a mesa, acompanhá-lo até a mesa, entregar a ele o cardápio, hein?

— Mas é só o Hikari... — ele justificou, fazendo uma massagem na orelha.

— O Hikari-kun é cliente como qualquer outra pessoa. Qualquer um deles, sendo os filhos do Naruto-san ou não, você vai recepcionar da mesma forma que faria com qualquer cliente. Agora toma. — Ela empurrou o pedido de Hikari para o garoto. — Entregue como eu te falei na janelinha ali e, depois disso, volte para perto da porta. Juro que vou arrancar sua orelha na próxima se atender o cliente com cara de mosca-morta ou bocejar na cara dele. E na hora que a campainha da cozinha tocar, volte rápido para apanhar o pedido e levar para o cliente, entendeu?

— Tá, tá, entendi.

— Ótimo!

— Que saco... — resmungou ao seguir de volta para porta.

Naruto apareceu de banho tomado e roupas trocadas.

— Tendo problemas, Mizuki?

— Nada que eu não consiga resolver, Naruto-san. Pode ir. Eu dou conta. Ele vai se ajeitar.

— Tem certeza? Desculpe-me não ter arranjado alguém experiente.

A garota balançou a cabeça em um “não”.

— Sem problemas. Eu sei que está fazendo um favor para um amigo. Vamos dar um jeito nele. — Ela piscou um dos olhos.

— Eu te devo minha vida, Mizuki.

— Não exagere, chefe.

— Ligou para Kaoru para saber como ela está?

— Ainda não, estou dando um tempo, ela deve estar dormindo.

— Certo. Então vou indo, ligue mais tarde para ela. Preciso fazer algo hoje, por isso eu já vou. Cuide de tudo para mim. Se acontecer algo me ligue.

— Vai despreocupado — ela acenou.

Naruto se despediu e passou pelo salão ao ver o filho. Havia perdido a batalha para Bara, por isso pediu para ele vir comer no restaurante.

— Hii-chan, deu certo o formulário?

— Sim, otou-san. — Ele parou de mexer no chat do celular para olhar o pai que parou diante dele. — Valeu mesmo.

— Que bom.

— O senhor já vai?

— Sim, vou ver seu irmão.

— O Yoru-nii-san tá doente?

— Não sei, Hii-chan. Quero entender o que ele tem — apertou o ombro do filho e seguiu para saída. — Não esquece que o jantar é seu hoje.

— Hai.

Naruto viu Tandaru tentar ficar ereto ao avistá-lo. Parou diante do garoto e o analisou.

— Estou tentando me esforçar, tio Naruto, juro.

— Eu sei, Tandaru. Mas eu sei também que seu esforço pode ser melhor que isso. — Deu tapinhas no ombro dele. — Bom trabalho.

O garoto que estava esperando ouvir uma bronca ficou sem reação, e só depois do patrão já ter saído que ele conseguiu responder.

— Arigatô...

...

Foi as portas do elevador se abrirem para aquele som abafado, porém estrondoso adentrar em seus ouvidos de forma incômoda. Avistou uma senhora, outro senhor e mais um casal de jovens batendo na porta do apartamento. O barulho do som vinha de lá de dentro.

— Desde a madrugada está assim, nem consegui dormir à noite — reclamou a senhora assim que se aproximou deles.

Suspirou fundo. Yoru não atendia o celular, a campainha e muito menos as batidas na porta. Foi atrás do síndico para conseguir com ele a chave reserva.

Assim que entrou desligou o aparelho de som e a ausência repentina do barulho alto reproduziu zumbidos em seus ouvidos. Avisou ao síndico que devolveria a chave ao sair e eles se dispersaram dando graças a Deus pela algazarra ter cessado.

— Vou ter uma conversa séria com ele — garantiu ao se despedir do grupo. — Peço perdão — acrescentou e fechou a porta, admirando a bagunça do lugar.

Era óbvio que tinha acontecido uma festa ali. Os móveis estavam revirados, tinha latas de bebidas, garrafas de vodca, embalagem de pizzas, até preservativos e algumas peças roupas foram deixadas pelos cantos.

Seguiu para o quarto de Yoru e, ao abrir a porta, teve de ascender a luz pois as cortinas cerradas faziam parecer noite dentro do quarto. O ar condicionado estava no mínimo, dando a sensação de que estavam no inverno. O som do mp3 ligado as caixas acústicas ressoavam alto, mas o som dali de dentro foi certamente abafado pelas paredes revestidas. Identificou Yoru sendo a montanha de edredom no centro da cama. Desligou o ar condicionado, o aparelho de mp3 e só então saiu do quarto batendo a porta.

Levou mais de uma hora para colocar o apartamento em ordem. Estava na cozinha preparando o jantar quando Yoru finalmente apareceu, ele havia acordado e tomado banho, pois estava com os cabelos pingando. Mas não havia colocado roupa, apenas a cueca lilás que tinha uma facha branca no cós com o nome da marca importada. E a toalha sobre os ombros a qual ele usava para secar os cabelos.

— Ohayo — desejou junto com um bocejo e se aproximou de Naruto no fogão. 

— Achei que iria dormir até amanhã.

— E eu acho que ainda estou dormindo — Yoru falou, parando atrás de Naruto e o segurando pela cintura. — Tinha certeza que havia passado um maremoto pela minha casa e agora está tudo impecável — observou e depositou um beijo no ombro do padrasto. — Mas esse sonho seria melhor se essa minha esposa aqui tivesse usando somente um avental — riu e abraçou o peito loiro, enquanto encostava a testa nas costas dele.

Naruto não esboçou nenhuma reação, apenas bateu a colher de madeira na beira da panela do guisado que preparava e a colocou no suporte da pia.

— Veio me dar sermão também?

— É para isso que está se esforçando?

Yoru gargalhou, esticou o braço e desligou o fogo. Mantendo as mãos em torno da cintura de Naruto o girou, fazendo-o ficar diante dos seus olhos.

— Não tá pronto ainda.

— Minha fome é outra.

Naruto não respondeu, manteve-se sério.

A ausência de fala do padrasto estava começando a incomodar Yoru quando o viu tirar a alça do avental por cima da cabeça e desamarrá-lo das costas. Yoru soltou da cintura dele para que o padrasto terminasse de tirar o avental. Achou que havia passado do limite e irritado ao ponto dele estar indo embora, mas ao contrário do que imaginou o loiro largou o avental sobre a pia e, em seguida, puxou a camisa cor salmão por cima da cabeça e ficou com o peito descoberto.

Yoru prendeu o ar. Ainda não havia terminado. Naruto desatou o cinto, desabotoou a calça jeans e estava descerrando o zíper quando o parou.

— O que está fazendo? — perguntou, impedindo o padrasto de continuar ao sobrepor as mãos dele com as suas.

— Você é quem disse que quer me comer, não é? Vai fazer isso como, se eu estiver vestido?

— É uma piada?

Naruto encarou Yoru com o cenho endurecido.

— Porque ser for, Naruto, não tem graça nenhuma. —Yoru começou a rir, sentiu suor brotando em sua testa, passou as mãos pelos cabelos e as desceu para boca, tentando cobrir a risada.

Não conseguiu nem olhar para o peito nu do padrasto. Sentiu sua cabeça doer. A dor era tanta. Lacerante. Recuou rápido com as mãos cobrindo a boca e saiu da cozinha.

— Yoru, o que foi?

Naruto repôs a camisa e seguiu os sons de vômito que vinha do banheiro do quarto. Encontrou o enteado debruçado sobre a boca vaso, vomitando. Abriu a porta do armário a fim de buscar uma aspirina e viu aqueles saquinhos com conteúdo branco. Ignorou por momento. Apanhou o frasco de aspirina, balançou a cabeça e bateu a porta do armarinho com força. Voltou para cozinha e pegou um copo e uma jarra com água.

Retornou para o quarto e deixou tudo sobre o criado-mudo, pegou um elástico de cabelo nas coisas de Yoru e voltou para o banheiro, prendeu os cabelos dele no alto da cabeça. O cheiro forte de vômito havia se espalhado. Quando o rapaz terminou de pôr tudo para fora, pediu para ele lavar o rosto e a boca na pia. Naruto tratou de fechar a tampa do vaso e dar descarga.

Depois ajudou-o a ir para cama.

— Quer ir ao médico? — perguntou, após ajudá-lo a se deitar.

— Por causa de uma ressaca? Não... eu vou ficar legal.

— Toma — Naruto estendeu a aspirina e o copo de água.

Yoru se esforçou para sentar-se na cama e encostou as costas na cabeceira, apanhou a aspirina e o copo de água, e fez uma careta ao sentir a água descer com dificuldade.

— Você está usando drogas? — Naruto não conseguiu reprimir a pergunta direta.

— Só em festinhas. Os caras que curtem, sabe? Eles ficam mais acesos. Pô, não me olha como se eu fosse a porra de um viciado. Eu não sou isso não, Naruto-otou-san. É só por diversão.

Naruto concluiu, definitivamente, que não era o melhor momento para discutir.

— Se está dizendo.

— Aonde você vai? — Yoru segurou o pulso do padrasto ao vê-lo dar as costas.

— Eu vou voltar para...

— Eu não estou bem — o rapaz justificou. — Fica aqui comigo essa noite — pediu meio engasgado, os olhos ficando vermelhos. Naruto estranhou aquilo. Yoru estava estranho. — Só hoje. Eu não vou falar e nem fazer nada que te chateie mais, Naruto. Eu juro. Eu só estou cansado de dormir e acordar sozinho todos os dias. Fica, por favor.

Naruto passou a mão pelo rosto. Desencadearia uma guerra com Sasuke caso acatasse ao pedido, mas não podia fazer vistas grossas quando tinha a impressão de que o enteado estava implorando por ajuda. Apanhou a mão de Yoru na sua e sorriu gentilmente.

— Eu não ia a lugar algum, Yoru-chan. Só estava querendo levar essas coisas para cozinha e terminar o guisado enquanto você descansa mais um pouco. Você tá fraco, precisa comer alguma coisa de substância.

Antes que o sorriso na face do enteado aumentasse, Naruto acrescentou um pedido.

— Mas você vai me prometer uma coisa.

— Eu não vou nem encostar em você, juro.

— Não é isso. Agora eu percebi que não é isso. Você está tentando preencher com sexo os seus momentos de vazio — Naruto tocou a cabeça de Yoru e afagou os cabelos dele com carinho, como fazia quando ele era criança e tinha um jeito só dele de pedir colo. — Eu já passei por isso, Yoru. Antes de o Iruka me acolher, antes de ter o seu pai, de ter seus irmãos ou você. Eu já vivi sozinho. Eu já senti, e muito, essa coisa ruim de chegar em uma casa vazia e não encontrar ninguém. De falar “okaeri” e não receber nem um “tadaima” de volta. — Naruto apertou a camisa na região do peito, mas tentou se manter firme.

Yoru soltou o padrasto.    

— O que você quer que eu prometa então?

— Eu tive que passar por um tratamento quando cheguei ao orfanato, tudo porque a dor que eu sentia causou uma ferida que não pode ser vista ou tocada.

— Do que está falando, Naruto?

— Você está com depressão, Yoru.

Continua...
 

[1] Gyudon, é um prato japonês que consiste em uma tigela de arroz coberta com carne bovina e cebola cozidos em um molho levemente adocicado feito de dashi, shoyu e mirin. Também pode incluir shirataki e tofu (Wikipédia).


Notas Finais


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