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História Pintando O Sete - Capítulo 18 Hikari Parte 6


Escrita por: andreiakennen

Notas do Autor


Boa noite, minna-san!
Como vocês foram de natal, ano novo, carnaval?
Bem. Como eu sempre digo, fim de ano e início de ano são complicados pra mim. E passei por um período bem turbulento no serviço (ainda estou passando, enfim.).
Mas, estou de volta e quero pegar o ritmo das atualizações novamente.
Começando com POS, que está mais atrasada.
O próximo será AOS.
Desculpem a demora e um ótimo 2016 para nós. Afinal, acabou o carnaval e o ano começou de verdade!
Finalizando o ciclo Bara e Hikari para começar com o ciclo do Yoru e dos papais.
Espero que gostem ♥

Capítulo 18 - Capítulo 18 Hikari Parte 6


 

Pintando O Sete

Capítulo 18 – Hikari – Parte 6

A voz do treinador ecoava estridente devido ao silêncio no ginásio quase vazio. Respingos de saliva eram cuspidos com a fala nervosa e uma veia saltava latente em sua fronte.

O motivo de tanta irritação destacava-se no placar final do último amistoso: 108 pontos para Kainan contra 38 da Nohara.

— Agora me digam: como vocês, perdedores vergonhosos, irão se encontrar com as meninas penta-campeãs das Olimpíadas de Matemática? Elas vão para as nacionais, enquanto vocês sequer estão preparados para jogar contra o time do Jardim de Infância!

 — Coach? — Murano levantou a mão e a atenção dos demais se voltou para ele.

— É melhor não dizer nenhuma besteira, rapaz — alertou o técnico com o semblante cansado. — Estou sem paciência.

— Só iria sugerir esquecer essa ideia de festival e voltarmos direto para casa — explicou, erguendo os ombros e mostrando-se indiferente. Arrebatando olhares confusos dos colegas.

Afinal, antes do início da partida, Murano era o integrante mais empolgado com o passeio que encerraria aquele fim de semana de amistosos, pois graças ao encontro combinado com o Clube de Matemática, ele teria uma oportunidade rara, no clima propício de um festival, de ter andar ao lado da garota por quem estava apaixonado.  

— Não — o treinador falou de repente, com uma calma estranha e um olhar distante, como se estivesse ponderando algo em sua mente. — Não, Murano. Eu quero que vocês passem por essa vergonha. E que essa vergonha se converta em motivação para que comecem a levar o treino de vocês a sério. Agora, chega. Estou com dor de cabeça. Estão dispensados. Voltem para o ônibus e ao chegarem à pensão tomem banho, arrumem as malas e embarquem. Vamos fazer a parada no festival como prometido ao clube de Matemática.

Levantaram-se não muito animados e se arrastaram enfileirados em direção a saída do ginásio, cada um sentindo o peso da derrota de uma forma individual. Porém, apesar de Murano ter sugerido ao capitão que voltassem para casa de imediato, ele parecia inexplicavelmente alegre.

— Tenha vergonha de ter sido derrotado de forma tão humilhante e ainda ficar com esse sorriso retardado estampado na cara, Murano-teme! — reclamou Kaneda.

— Ah, Kaneda-kun, Kaneda-kun… Fomos humilhados? Sim. Mas não foi uma partida oficial e podemos treinar para uma revanche. Agora, ter um encontro com meninas, isso sim não é algo que acontece sempre. Não tem como não ficar feliz.

— Eu não te entendo! Se você está feliz, por que diabo disse ao capitão que deveríamos ir embora e esquecer o festival?

— Isso não é óbvio, Kaneda-kun? Nunca ouviu falar no efeito reverso? Então eu vou te explicar — disse ele, levantando o dedo indicador, enviesando-se em uma pose de intelectual. — Veja bem. É claro que se eu dissesse ao Ueda-sensei que queria muito ir, como punição, ele não permitiria. Mas como disse que o melhor era voltarmos para casa e esquecer o festival, a punição dele foi contrária!

— Ohhh! — Eichiiro interrompeu com palmas. — Até que você pensa de vez em quando, Murachii! — brincou ele, que vinha atrás dos dois que conversavam, chamando o colega por um apelido falsamente carinhoso.

— Né, Eichi-nii? — Murano virou apenas a cabeça para o lado, piscando um dos olhos para o colega atrás dele. — Diga se não sou um gênio?

Risadas quebraram o clima tenso que havia se insaturado entre eles e aliviou a expressão de todos.

Hikari andava ao lado do capitão do time, que mantinha a cabeça baixa e a massagem nuca.

— Ei, ânimo — Hikari sussurrou, cutucando-o com o cotovelo.

— Não consigo. Acho que nunca me senti tão mal quanto hoje.

— Foi só um jogo-treino, taichou. Vamos vencer as partidas oficiais.

— Esse é o meu último ano no colegial e no time da Nohara, Hikari. Eu queria mesmo vencer o intercolegial desse ano para ter o gosto de dizer que fui campeão pelo menos uma vez no meu clube esportivo da escola. Mas com o nível de aperfeiçoamento do time da Kainan eu acho que esse objetivo será impossível.

Hikari suspirou profundamente.

— A Kainan é um instituto que forma profissionais do esporte há décadas. Você viu o quanto eles são sérios. Certamente, todos ali, querem se tornar jogadores profissionais um dia. Nós estamos fazendo isso por diversão. Não dá para comparar nossos níveis.  

Hayate continuou massageando a nuca, mas levantou os olhos levemente para o amigo caminhando ao seu lado e foi surpreendido ao notar que sua atenção dispersou-se ao encarar o rosto dele. Por mais que Hikari fosse mais alto, tivesse um corpo atlético e evidentemente masculino, o rosto, os olhos e principalmente a boca eram idênticos aos de Bara.

Paralisou-se por um instante naquela última parte: a boca. Desviando o olhar somente quando Hikari o flagrou. Algo que fez subir um afogueio em suas bochechas. Pigarreou, tentando disfarçar o embaraço.   

— Queria que as garotas das Olimpíadas de Matemática também sentissem orgulho da gente — comentou.

— Ou você queria que certa garota, a que é gêmea com seu melhor amigo, sentisse orgulho de você? — Hikari retificou a observação após notar o olhar cobiçoso do amigo em sua boca.

Hayate arregalou os olhos, surpreso.

— Como você sabe?

— Está na sua cara e nas suas atitudes, taichou. Você não faz muita questão de ser discreto. Mas fique tranquilo com relação ao que Bara irá pensar sobre a nossa derrota. Apesar de ser elétrica e dar a impressão que é altamente competitiva e gosta de vencer, a Bara surpreende quando o quesito é motivação.

O capitão sorriu.

— Parece muito ela.

— Você vai mesmo se declarar hoje?

— Está sabendo disso também?

Hikari tirou o celular do bolso, destravou a tela ao deslizar o dedo sobre a tela, e entrou na caixa de mensagem, entregando o telefone ao capitão com a mensagem do pai aberta em seguida.

Conforme Hayate foi lendo, os olhos dele foram aumentando.

— Seu pai está sabendo?

— Você é mais aberto que um livro, taichou. Fica falando para todos os cantos sobre seus sentimentos. As paredes têm ouvidos e as mensagens eletrônicas correm na velocidade da luz.

— Estou morto?

Fora a vez de Hikari rir.

— O Sasuke-otou é neurótico e parece um espião quando começa investigar. Ele vai revirar sua vida de ponta cabeça. Mas você e a Bara são seguros e firmes suficientes para enfrentá-lo sem problemas.

— Obrigado por me apavorar. Mas está falando na hipótese de sua irmã e eu termos algo. Não tenho certeza qual será a reação dela quando eu me declarar.

— Nem eu posso prever. A Bara é uma caixinha de surpresas ambulante. Mas, haja o que houver, não vacile. Falta de confiança é algo que ela não possui e acredito que, por esse motivo, ela não tolere nos outros também.

— Obrigado por me aceitar como seu irmão, Hikari.

— Irmão? Eca. Isso soa estranho demais.

Os dois riram. 

— Bom, se é assim, eu farei a declaração hoje. Se até mesmo o pai de vocês está sabendo, é melhor que ela saiba, antes que descubra por terceiros.

— Sim. Faça isso.

— Obrigado pelo apoio.

— Não me agradeça por isso. Eu fico satisfeito que a Bara consiga se tornar uma garota normal e namorar um cara mesmo ela sendo mais masculina do que eu na maioria das vezes.   

Hayate percebeu o tom estranho de Hikari e olhou para trás, onde viu Kinizuna vindo mais afastado do grupo, então se voltou para o colega mais uma vez.

— Sabe, Hikari. Não deveria dizer essas coisas. Que uma garota é anormal por parecer masculina, ou um garoto anormal por parecer feminino. Há pessoas diferentes no mundo. Seus pais são esse exemplo, não são?

— Não me lembre disso. Eu tenho vergonha desse detalhe.

— Sério mesmo? Você tem vergonha dos seus pais serem gays?

— Não fala essa palavra, alguém vai ouvir — Hikari advertiu seu capitão em tom sério. — E sim, Hayate, eu tenho vergonha disso sim. Olha, não é normal está bem? Pergunta para maioria dos nossos colegas como são compostas suas famílias? Tenho certeza que entre um milhão terá um como eu. Então, é esquisito isso. É estranho. É anormal. Não venha com essa conversa idealista como a Bara. Eu convivi ouvindo os discursos dela desde que me conheço por gente e não mudei de opinião. No fim, ela que apoia todas as causas bizarras do mundo será uma garota normal. Bonito para ela, né? E eu? O que sobra para mim? Aquilo — e fez um gesto mostrando o polegar por cima do ombro.

— Ei, Hikari, não aponte! Ele vai perceber.

— Não me importo.

Hayate parou de andar e ficou de frente com Hikari, que parou também.

— Estamos falando se sentimentos aqui, Hikari. Não de discursos e ideais. Você é mesmo capaz de ferir alguém que tem sentimentos verdadeiros por você?

O adolescente loiro riu de lado e passou as mãos nos cabelos ainda suados alinhando-os para trás, umedeceu os lábios com a língua, suspirou fundo e sem pensar muito deu sua resposta.

— Quer saber mesmo minha opinião? Eu não quero ferir ninguém. Mas como homem livre que sou, posso tomar a atitude que quiser em defesa da minha honra. A culpa da confusão que venho sentindo é toda dele. É por existirem pessoas como o Kinizuna, como os meus pais, que não sentem vergonha de assumirem que são anormais, e pessoas como você, a Bara, entre tantos outros que não se importam em apoiarem pessoas como eles, é que pessoas como eu acabam sendo arrastadas para essa merda toda.    

Os punhos de Hayate se crisparam a medida que as palavras de Hikari iam permeando em sua mente. O punho direito do capitão tomou impulso para trás e seus dentes se cerraram.

Alguns dos rapazes notaram a mudança repentina na posição do capitão e previram que ele estava prestes a dar um soco em Hikari, porém, nenhum deles estava próximo suficiente para intervir.

Exceto Kinizuna, que estava logo atrás deles, e ao dar dois passos ligeiros e largos conseguiu se colocar entre os dois.

O capitão não conseguiu frear o golpe, o qual atingiu a lateral do rosto de Kinizuna, próximo ao olho esquerdo, fazendo os óculos reservas voarem longe.

Rapidamente o grupo se aglomerou em torno deles.

— Por que você fez isso?! — Hayate gritou para Kinizuna, enquanto era agarrado por Kaneda. — Você ouviu o que ele falou? Pare de defender esse merda! Esqueça-o.

— Ei, Taichou! Qual é? Eu nunca o vi desse jeito! Acalma-se! — pedia Kaneda.  

— Me solta, Kaneda! Me solta! Eu vou socar a cara desse estúpido! Eu tenho nojo de ter defendido você várias vezes, Hikari. Tenho nojo de dizer que somos amigos. É você quem dá nojo a pessoas como eu, aos seus pais, a sua irmã, qualquer pessoa decente! Deveria dar nojo até mesmo ao ingênuo do Kinizuna que ainda tem a capacidade de te defender!

Kaneda soltou o capitão. Aquelas palavras haviam sido bem fortes. Mesmo ele que não gostava do Hikari sentiu a força delas. Não gostava do colega por causa do jeito arrogante e a beleza extravagante que o tornava popular com as garotas. Fora isso, não o conhecia suficientemente bem para afirmar que o odiava ao ponto de sentir nojo da sua forma de pensar ou comportamento no geral como o capitão estava fazendo.

Murano não se a aguentava de tanta afobação para saber o que havia gerado o estouro de Hayate e perguntava de um para outro o que tinha acontecido.

Amano ajudou Kinizuna a ficar de pé e Shino chegou estendendo os óculos para ele.

Hikari encarou seu capitão sentindo algo se quebrando com força em seu interior. As palavras ferozes ditas por ele foram recebidas mais dolorosamente que os possíveis socos que teria levado. Ponderou se não teria sido muito melhor ter apanhado e sentiu raiva. Raiva por ninguém compreender seus sentimentos. Raiva de Kinizuna por expô-lo. Raiva de Hayate por ficar contra ele.

Olhou Kinizuna e admirou o quanto ele parecia forte em determinados momentos, mesmo aparentando ser tão frágil. Ele não parecia abalado, não estava chorando, mesmo com a dor que devia estar sentindo com o soco que levo. Estava apenas de cabeça baixa, o queixo pendido no peito, enquanto ele repunha os óculos. Sentiu vontade de perguntar se ele estava bem, se não estava doendo, brigar com ele por ser idiota suficiente para levar aquele golpe em seu lugar e acolhê-lo em seus braços em um pedido eterno de desculpas. E eram aqueles sentimentos conflitantes que o fazia ter mais raiva de tudo aquilo que o estava rodeando.

As lágrimas vieram com força e sua única reação fora cobrir a face para tentar escondê-las, esfregou as mãos nos olhos e deixou-se dominar pelo choro soluçante.

— D- droga. M- merda!

— H- Hikari-kun? — Kinizuna ergueu a cabeça ao ouvir o choro, intencionou se aproximar, mas Hikari fez um gesto com a mão aberta; era para ele se manter onde estava.

— Me dá um tempo — pediu e saiu pisando firme, tentando esconder a face com ambas as mãos. Passou pelo grupo, pelo capitão e seguiu na frente para o ônibus.

Hayate colocou a mão no ombro direito de Kinizuna, notando que a região em torno do olho onde ele havia dado o golpe estava começando arroxear.

— Perdoe-me por não ter conseguido evitar o soco? Você está bem?

— H- hm.

— Vai precisar colocar gelo.

— H- hm.

— O que diabo aconteceu afinal, Taichou?! — gritou Murano, impaciente pela falta de explicação. — Diga, por favor!

Mas o capitão ignorou a pergunta do pivô do time e manteve sua atenção fixa em Kinizuna, precisava dizer aquilo que estava engasgado em sua garganta com a atitude dele.

— Escute, Kinizuna. Nunca mais faça isso, está entendendo? — Hayate pediu, o tom de repreensão intensamente sério. — Hikari nunca irá te respeitar se continuar fazendo essas coisas. Ele não merece ter o que você sente por ele. Deixe-o. Hikari precisa sofrer para aprender o valor dos sentimentos verdadeiros e que orgulho idiota não leva a nada. Você é incrivelmente forte. Mas é ingênuo. E se continuar sendo ingênuo desse jeito sofrerá abusos no futuro e eu me preocupo por você. Não quero ver um amigo sofrendo.

Kinizuna assentiu e Hayate soltou do ombro dele, voltando a seguir o caminho de volta para o ônibus, deixando claro em sua expressão carrancuda que não iria dar nenhuma explicação aos colegas.

Sem respostas de Hayate e Hikari, os demais enxergaram como única solução se aglomerarem em torno de Kinizuna e arrancar dele um esclarecimento.  

— Vamos lá, Kinizuna-kun — Murano jogou o braço sobre os ombros do rapaz. — Comece a gaguejar. 

...

Pelo fato do treinador do time ter ficado no estádio por mais algumas horas para uma reunião informal com seus colegas técnicos, Jirou Ueda só soube do ocorrido entre Hayate, Hikari e Kinizuna quando chegou à pensão, próximo do horário de saírem.

A maioria dos seus meninos não pareciam abalados ou afetados com o que ocorrera e estavam finalizando a arrumação das malas quando chegou. E apesar do clima habitual de descontração, o técnico concluiu que não era certo deixar a explicação sobre um ocorrido grave como aquele para mais tarde e decidiu por chamar os três envolvidos para prestarem esclarecimentos em uma conversa particular e rápida.

Porém, nenhum deles parecia disposto a falar, o que acabou irritando o treinador.

— Vocês entendem que violaram uma regra gravíssima?

O silêncio permaneceu.

— Hayate?

— Sim, coach. Eu entendo.  

Jirou respirou fundo.

— Não pretendem mesmo me explicar o que diabo aconteceu para ter gerado isso? — ele apontou o rosto de Kinizuna cujo arroxeado em torno do olho esquerdo havia ficado com uma tonalidade mais intensa, deixando-o com aspecto de urso panda. — Vocês percebem que os pais de Kinizuna irão me questionar sobre o que houve com o filho deles nesse fim de semana? E o que eu devo explicar?

Novamente, o treinador teve como resposta silêncio e cabeças baixas.

O homem descruzou as pernas e firmou suas mãos sobre as coxas.

— O mais problemático disso é você estar envolvido, Hayate — pontuou e apontou o rapaz. — Você ser o agressor.

— O golpe não era para o Kinizuna — o capitão se limitou aquela resposta, por mais que se sentisse tentado a contar ao técnico que seu objetivo fora, e, de certa forma, ainda era, quebrar no nariz empinado de Hikari.

— Isso torna a situação ainda pior! — Jirou esbravejou erguendo os braços e batendo-as na lateral do seu corpo. — Então você queria bater no Hikari? Logo o Hikari que todos imaginamos ser seu melhor amigo? Você sempre foi um jogador exímio em relação a comportamento Hayate! Diga logo que merda o Hikari fez para te tirar da razão desta forma?

Os olhos azuis do loiro se arregalaram em direção ao dedo do treinador agora apontado em sua direção.

— Não adianta olhar com essa cara de quem está sendo acusado injustamente, Hikari — o treinador o avisou. — Eu sei que isso tudo deve ser culpa dessa sua língua afiada!

Um esturro e um virar de rosto fora a resposta de Hikari. E o técnico riu de lado, balançando a cabeça negativamente.

— Olha aí.

— Fui eu quem agiu errado, Ueda-sensei — Hayate chamou a responsabilidade para si. — Perdi a cabeça e parti para agressão. Estou pronto para receber minha punição.

— Você não iria perder a cabeça por nada, Hayate. Se o fez, é porque o Hikari, que tem um gênio bem difícil por sinal, teve culpa.

Não houve discordância, mas também não obteve outras informações. Os três voltaram ao silêncio como se tivessem pactuado anteriormente que ninguém falaria nada, fazendo Jirou concluir que só obteria respostas se conversasse com cada um deles individualmente.

Todavia, estavam sem tempo, cansados, famintos e tinham uma viagem longa pela frente. Então, decidiu que, por hora, adiaria a conversa individual com os três para quando estivessem de volta ao colégio, entretanto, não os deixaria em pune até lá.

— Certo. Baseado no pouco que consegui arrancar de vocês eu entendi que Kinizuna não teve parte na briga, apenas se intrometeu e por isso acabou ferido. Então, não vou puni-lo, Kinizuna — explicou ao rapaz, que não expressou nenhuma reação. — Agora, sobre vocês dois... — o técnico disse, olhando seu capitão e em seguida Hikari. — me decepcionaram de verdade — concluiu. — Eu não esperava dos dois esse comportamento. Você é o capitão, Hayate, sempre foi o modelo a ser seguido.

Jirou parou, respirou, massageou a nuca, voltou a encará-los e sentenciou:

— Uma semana de suspensão para os dois.

Hikari, que estava sentado com o corpo curvado para frente, os cotovelos apoiados nas pernas, ergueu a cabeça e arregalou os olhos com a pena dada pelo treinador. Seria uma semana sem treino, mas o pior ainda viria de um dos seus pais. Quando Sasuke soubesse, seria morto com certeza. Engoliu em seco.

“Merda, merda, merda!”, praguejou mentalmente pensando que deveria dizer alguma coisa, porém, seu orgulho não o permitiu contestar. Sabia que para brigas com agressão física dentro da escola a pena era suspensão. Resignou-se. Voltou a baixar a cabeça junto com os ombros.

Hayate optou por não se manifestar, também, devido ao choque. Seu momento de impulso iria custar um preço alto. Não era apenas a semana perdida de treino, de aulas, ou a reação dos seus pais, mas a vergonha que sentiria em encarar seus colegas depois do castigo. Não podia dizer sequer se poderia voltar ao time considerando as palavras magoadas do treinador.

Ainda tinha Bara. Aquela briga com o gêmeo dela certamente prejudicaria a aproximação deles. Hikari e ela eram irmãos acima de tudo, seria natural se ela ficasse do lado dele. Sentiu seu pequeno mundo de concluinte do ensino médio se desabando sobre sua cabeça no estágio final.

Todavia, Hayate concordava que havia feito errado e por isso era correto que pagasse. Pensando assim, assentiu para o treinador.

— Ótimo. Que bom que estão de acordo.

Os três assentiram.

— Então, nada de festival para nós quatro. Vocês dois, por causa da briga. Kinizuna, devido ao olho machucado. E eu, porque ficarei de olho nos três. Agora vão, peguem suas coisas. Estamos atrasados.

...

Bara havia aceitado usar uma yukata graças à insistência de Giovana. E enquanto a amiga a vestia, Arai não parava de fotografá-la.

Mas a mente da adolescente loira parecia distante da discussão que se formava novamente entre universitária e sua melhor amiga.

— Arai-san, quer parar com isso, por gentileza? É irritante. Sabemos que a Bara-chan é a coisa mais fofa do mundo e de yukata até mesmo uma boneca tradicional perde em beleza, mas tirar fotos sem consentimento, ainda por cima de uma menor, enquanto ela está se vestindo, é crime, sabia?

Arai parou de tirar as fotos para encarar Giovana com um ar sério.

— Que acusação foi essa, Morita-san? Estou tirando umas fotinhas inocentes para guardar de recordação da Bara-chan. Eu que peço para que não me compare com uma criminosa, por favor?    

Giovana suspirou resignada e a universitária voltou a tirar as fotos. Notou que Bara estava distraída, mas não pensou em reclamar, pois só com a amiga quieta poderia produzi-la adequadamente. E quando terminou, até a própria Arai admirou o resultado final de boca aberta.

— F- ficou incrível.

— Né? Pela primeira vez na vida consegui maquiá-la decentemente.

A yukata era de um tom azul claro, com estampa de estrelas brancas. Bara ganhou uma maquiagem leve, um rosa nos lábios e nas bochechas, e sombras sobre as pálpebras da mesma cor da vestimenta. E o cabelo curto foi penteado de lado e ganhou um lindo arranjo de estrela.

A mesma reação de encantamento se repetiu com as demais meninas do clube de matemática, que contemplaram Bara com rubor tomando suas faces.

“A Bara-chan é mesmo irmã gêmea do Hikari-kun. Ela está incrivelmente linda”, alguém cochichou em um volume que foi captado pelos ouvidos atentos de Arai.  

— Ai! Quero muito ver esses gêmeos juntos! — comemorou a universitária.

Depois de prontas, todas as meninas foram direcionadas pela professora para dentro do ônibus.

Arai pediu permissão à professora Miyano para ir junto com as meninas no mesmo ônibus e, quando questionada por ela como retornaria de volta para Kyoto, a acadêmica informou que pegaria um ônibus coletivo.

Assim que se acomodaram, Giovana decidiu inquirir a amiga sobre o que ela tinha, pois estava começando a se incomodar com a calmaria dela e tinha medo que o tempo estivesse fechando para tempestade mais tarde.

Fez a aproximação primeiramente em forma de gesto, ao repousar a mão sobre a testa dela.

Bara reagiu erguendo os olhos para encarar a mão da melhor amiga em sua testa.

— O que foi, Gi-chan?

— “O que foi?” pergunto eu. Estou medindo sua temperatura para ver se está com febre. Está quieta demais, Bara-chan. E isso não é um sintoma normal vindo de você. Vai, desembucha. O que houve?

Bara colocou a mão no peito e apertou a yukata. Havia mesmo o fato de estar chateada com Giovana e Hayate por eles parecerem mancomunados em algo o qual ainda não tinha certeza. Todavia, sabia que aquilo não era motivo suficiente para desanimá-la. O aborrecimento que sentia parecia ser algo relacionado com Hikari. Mas ainda tinha dúvida se aquele era mesmo um alerta da ligação que dividiam com seu gêmeo, pois dificilmente o irmão se sentia angustiado daquela forma.

— Bara?

— Não sei também, Gi-chan — Bara respondeu e deu um grande suspiro. — Estou me sentindo angustiada, sabe? E fico nervosa só de pensar que é por causa do Hikari. Por que eu tenho que me sentir mal quando ele também deve estar se sentindo?

Giovana arregalou os olhos, preocupada.

— Será que é algo relacionado aos jogos?

— Hm. Talvez. Também imagino que seja algo que tenha acontecido por causa do amistoso, não exatamente nas partidas em si, apesar de detestar perder, o Hii-chan não é do tipo que ficaria tão chateado com um desempenho ruim do seu time.   

— Já tentou falar com ele?

— O celular está desligado. Uma nova razão para imaginar que ele não está bem. O Hii-chan sempre foi assim. Ele se isola quando está emburrado. Lembro que desde pequeno, quando recebíamos broncas por causa das nossas peraltices, ele sempre reagia de forma estranha: ficava escondido, ou no quarto durante muito tempo. 

Giovana sorriu e apanhou a mão da amiga na sua.

— Pelo jeito, ele ainda é uma criança. 

— Só cresceu no tamanho — Bara concordou.

— De qualquer forma, vamos ter que esperar para ter certeza do que houve, né? — Giovana tentou animá-la, ajeitando uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha de Bara, a mecha havia se soltado do prendedor e se exibia rebelde, despontada para o alto.

A loira encarou Giovana, sentindo-se um pouco constrangida com o segurar de mãos, o toque dela em seus cabelos, gestos sempre medidos e gentis os quais apreciava. Gostavam-se, aquilo era tão transparente como água. Não de uma forma romântica, apesar de não ser avessa a possibilidade. Por isso não entendia porque Giovana havia se tornado cúmplice do Hayate de repente e estava forçando-a para cima dele.

— Hm. Obrigada, Gi-chan — Bara disse e apertou a mão de Giovana na sua, então aproximou seus lábios dos da amiga e tocou-os levemente. — Suki, Gi-chan.

Giovana se afastou sentindo um acelerar desmedido no peito e o rosto em brasa.

— B- Bara?!

A loirinha riu sapeca.

— Por quê?

— Só você que pode, é? — reclamou, fazendo um bico.  

— Não... Não é isso — Giovana se desarmou. — Mas pareceu tão verdadeiro.

— E foi, ué.

— Não! Somos amigas. Essa declaração pareceu...

Bara selou os lábios de Giovana com seu dedo indicador direito e não permitiu que ela continuasse.

— Não estou te pedindo em namoro, baka — se justificou. — Não iria querer estragar a relação boa que temos com algo tão banal quanto essa coisa de namoro. Por que namoro é como uma fase experimental para algo maior, se não der certo, a relação se rompe e quando isso acontece tudo que foi vivido e sentido até então se perde em um piscar de olhos. E o que eu sinto por você não é algo que quero colocar a prova e sim que dure eternamente. Por isso prefiro que continuemos amigas, irmãs, pois nossos laços jamais irão se enfraquecer ou se romper por causa de desejos novos. Então, a minha declaração não pareceu sincera, ela foi muito sincera. Eu amo você, Gi-chan. Sem rótulos, sem contexto sexual.

Pega de surpresa, Giovana não soube o que responder, as lágrimas transbordaram de seus olhos e apenas abraçou Bara.

— Eu também amo você, Bara-chan. Mas do que eu possa demonstrar com palavras.

Bara sorriu e afastou a amiga e continuou segurando a mão dela na sua.

— Eu sei, boba — garantiu, enxugando as lágrimas que margearam os olhos de Giovana e ameaçavam descer e borrar a maquiagem perfeita que ela tinha feito. — Por isso não compreendo porque quer tanto me empurrar para o Hayate-kun.

— Você finalmente percebeu?

— Né? — Bara respondeu sem muito entusiasmo. — Acho que demorei mesmo. Faz hora que você vem fazendo uma insinuação e outra com relação a ele. Mas precisou meu pai dizer algo para eu compreender de uma vez.

— Seu pai? Qual deles?

— Meu pai Sasuke, né, Gi-chan? Quem é o mais neurótico dos dois senão ele?

— Mas como o Sasuke-san descobriu sobre o Kimura-kun?

— Você acredita que foi porque comentei por telefone que você queria que eu me vestisse de yukata para o encontro com os meninos do basquete no festival?

— Ai, Bara-chan. Ainda saí como aliciadora!

Bara riu.

— Relaxa, Gi.

— Mas, deixando isso de lado, agora que sabe da verdade, o que pensa sobre os sentimentos do Kimura-kun?

— De verdade? Eu ainda não sei. — Bara inspirou e respirou e então afundou no assento do ônibus. — É estranho saber que alguém está apaixonado por você. Eu fico pensando como ele conseguiu se apaixonar por mim e por quê?

— Ah, Bara. Isso não é nada difícil, ok? E, veja bem, sentimentos são meio inexplicável. Não é algo que dá para controlar, eles acontecem, nascem de uma hora para outra, e vão ganhando ou perdendo força conforme vamos convivendo, conhecendo a pessoa por quem despertou esses sentimentos. É complexo assim.

As duas riram.

— Mas e aí? Você se esquivou e não me respondeu?

— Não sei se estou preparada para isso, Gi-chan. Eu estava gostando do Hayate-kun como amigo.  

— Você já tem muitos e bons amigos, Bara-chan. Além disso, o Kimura-kun é um bom rapaz. Não estou falando para aceitar os sentimentos dele baseando-se somente no que ele sente, vai por mim, uma relação unilateral nunca dá certo, você viu como a minha relação com o Hikari foi um desastre, né? Estou pedindo apenas para avaliar a possibilidade com carinho.

Bara abraçou Giovana mais uma vez.

— Vou fazer isso, se você considerar um pedido.

— Ai, ai, eu sinto que vou me arrepender de ouvir. Mas está bem, diga. 

— Posso pensar sobre os sentimentos dele, desde que ele aceite você como parte do nosso relacionamento.

— Quêeeeeeeee?!

As duas estavam acomodadas no fundo do ônibus e o grito de Giovana chamou atenção de todas as colegas, incluindo da professora responsável pelo grupo que quis saber o que estava acontecendo.

— Ei, o que está acontecendo aí, hã, Bara-san? Morita-san?

O rosto de Giovana enrubesceu e foi Bara quem tentou responder.

— Eu só estou fazendo uma proposta...

— Quieta, Bara-chan! Não repita isso, por favor! — Giovana tampou a boca da amiga e risos se espalharam pelo ônibus.

Compreendendo que as alunas estavam apenas se divertindo, a professora voltou a relaxar.

— Ai, ai. Jovens.     

Giovana também decidiu levar aquela proposta estranha de Bara como brincadeira, mesmo com aquela mudança drástica no humor dela e no estranho brilho que agora sustentava no olhar. 

...

A viagem seguiu animada e, duas horas depois, as meninas desembarcaram no Templo Atsuta.

Conforme ordenado pela professora, alinharam-se diante da escadaria que levava para o local da festividade, onde os meninos do time de basquete já estavam aguardando, acompanhados do professor Jirou Ueda e todos se cumprimentaram.

— Onde está meu irmão, coach? — a pergunta de Bara sobressaiu ao tumulto de cumprimentos, antes mesmo que estes se findassem.   

O adulto para quem a pergunta fora direcionada encarou com estranheza a aluna que o questionava e demorou um pouco a reconhecê-la como a irmã gêmea de Hikari devido a yukata.

— Bem, Uzumaki-san. Seu irmão, Hayate e Kinizuna, não virão por motivo de força maior.

— Como assim?

— Ocorreu um problema interno do time — procurou ser sucinto. Porém, mesmo tendo a intenção de direcionar sua resposta somente a consanguínea de Hikari, notou, pela exclamação de decepção das demais meninas, que o assunto era de interesse geral.

— O que houve? — ela insistiu.  

— Não acho ético expor um problema particular do time em público, Uzumaki-san. Basta saber que eles estão bem. É melhor que converse com seu irmão em particular quando estiverem em casa.

Bara levantou a mão com a intenção de contra-argumentar quando sua professora se intrometeu.

— Além disso, Bara-san — a mentora de matemática saiu em auxílio do colega de trabalho. — Não temos tempo para conversas no momento. Viemos aqui para comemorar nossa vitória, nos divertir e viajarmos de volta pra casa ainda hoje. Se perdermos tempo aqui não vamos aproveitar nada do festival.

Bara deu a entender que ainda iria contestar, mas o técnico não o permitiu, tomando a frente dela.

— Ah! Eu estava esquecendo. Os membros do time e eu queremos cumprimentá-las pela vitória, meninas — dirigiu-se as demais alunas do clube. — Rapazes alinhem-se, por favor — pediu, batendo palmas e assim que fizeram, o técnico comandou: — Agora, todos juntos, um, dois...

— Obrigada pelo bom trabalho e por mais essa vitória para nossa escola, clube de matemática! — disseram em um só coro e curvaram os corpos para frente em reverência.

Rubor e sorrisos brotaram nos rostos femininos.

Terminado o cumprimento, o técnico voltou-se para professora de matemática, constrangendo-se em delegar a ela a tarefa de também ficar de olho em seus rapazes.

— Perdoe-me por isso, Miyano-sensei?

— Não se preocupe, Jirou-sensei — ela o tranquilizou, apertando um dos ombros do homem. — Uma dúzia de adolescentes a mais ou a menos não faria a menor diferença. Temos apenas um par de olhos cada, não conseguiríamos vigiar todos eles ao mesmo tempo nunca.

O técnico espantou-se ao compreender que a situação era mais crítica que podia imaginar.

— Mas, não se preocupe com isso. Veja, darei um jeito. Oi, pessoal, olhem aqui! — a professora pediu a atenção de todos e ao conseguir, explicou: — Após a queima de fogos quero todos nesse mesmo ponto de encontro para a chamada, entenderam? Nada de se atrasarem ou ficaram para trás e terão que voltar para Tóquio a pé, certo? Agora sumam! Vão se divertir!

Dado àquela última ordem, o grupo se dispersou rapidamente em pares, trios, quartetos, quintetos e muita conversa.

Jirou ficou sem reação e recebeu de Yoko Miyano dois novos tapinhas de consolo no ombro e um piscar de olhos. Logo a mulher se juntou as suas auxiliares e elas seguiram em direção as escadas do templo também. Arai não parava de reclamar, contrariada por ter viajado apenas para conhecer o irmão gêmeo de Bara e não conseguir vê-lo.

Giovana percebeu que Bara não queria sair do lugar e decidiu que daria uma força para a amiga.

“Vai procurá-los enquanto eu as distraio”, ela cochichou para Bara e correu para alcançar Arai e a professora.

— Deixa eu te contar, Arai-san. Sabia que teve uma vez que o Hikari-kun se vestiu de empregada em uma apresentação da escola, acho que tenho algumas fotos no meu celular.

— Jura, Morita?! Quero MUITO ver isso! Cadê? Cadê?

— Calma, não se afobe, deixa eu achar meu celular aqui na bolsa. Espera.

O técnico do time de basquete estava voltando para o ônibus quando sentiu uma presença caminhando atrás dele. Estacou e se voltou para loirinha.

— Você é bem persistente, né?

— Eu só preciso saber o que aconteceu, Coach-san.

— Está bem. Vou permitir que veja Hikari. Mas, por favor, não comente nada sobre o ocorrido com ninguém, não quero que o assunto se espalhe e prejudique o restante do meu time, entendeu?

— Sim, senhor! — ela bateu continência e o professor apontou o ônibus.

— Eles estão lá — o técnico apontou o ônibus do time com um das mãos. — Pode ir. Vou ficar por aqui e ver se avisto um dos meninos para comprar algo para eu comer.

— Obrigada, Coach-san! — Bara reverenciou o professor e desceu correndo a ladeira, onde havia fileiras de veículos grandes e pequenos estacionados.

Entrou afobada no ônibus, preparada para chamar pelo o irmão ou Kinizuna, quando se deparou com Hayate sentado no primeiro acento, o que fica próximo da porta.

— Taichou? — balançou a cabeça ao notar sua gafe e procurou retificar. — Digo, Hayate-kun!

Hayate engoliu em seco, admirado. Aquela garota linda, vestida com uma yukata azul-céu, era mesmo a Bara?

— B- Bara-san?

— Onde está meu irmão? O que aconteceu com vocês?! Por que não vão participar do festival?

Todo o brilho que havia se apossado do rosto do capitão do time da Nohara ao ver a garota por quem estava apaixonado esvaiu-se e sua expressão literalmente murchou. Hayate encolheu os ombros, sentindo-se envergonhado, e apontou com o polegar o fundo do ônibus às suas costas.

— Deitado no último banco, ouvindo música no último volume com os fones de ouvidos.

“Como o habitual em se tratando do Hii-chan”, foi o que Bara pensou.

Ela notou também que Hayate parecia saudável e pelo que ele tinha dito do irmão, Hikari também deveria estar. Respirou fundo, procurando se acalmar também.

— E o Hiro-chan?

— Pois é. — Hayate massageou o pescoço, ainda sentindo o peso da culpa por ter golpeado o gerente interino do time deles. — Ele disse que não queria ficar abafado aqui dentro e foi tomar um ar. Deve estar caminhando em algum lugar lá fora.

Hayate pensou que Bara sairia a procura do amigo, mas surpreendeu-se quando ela se acomodou no banco ao seu lado.

— Você parece tenso — ela observou.  

— Tenho motivos para estar.

— Estou ouvindo, me conte.

Hayate relutou, mas achou melhor contar de uma vez.

— Eu estou apaixonado por você, Bara.

Só após ter se declarado, Hayate se deu conta do que havia feito. Não iria começar por aquele assunto, mas simplesmente saiu sem querer. Sentiu o rosto abrasar, envergonhado.

— Isso tem a ver com o motivo do meu irmão, o Hiro-chan e você estarem detidos aqui?

— Não... Exatamente. Eu só achei que deveria expor isso primeiro. Eu não estava mais aguentando segurar. Desculpe por atropelar as coisas desse jeito.

Bara sentiu vontade de sorrir e sorriu. Não podia negar que estava sentindo algo diferente, por mais que ainda não soubesse bem identificar o que era.

— Hayate-kun... Você quer sair, não é?

O maior desejo do capitão dito daquela forma tão objetiva o fez estremecer e balançar a cabeça em concordância.

— Sim — ele afirmou. — É o que mais desejo no momento.

Percebendo o quanto Hayate estava tenso, Bara deu um tapa estalado nas costas dele, procurando descontrair e aliviar sua expressão.  

— Ei, que é isso, taichou-san? Não parece a atitude de um jogador. Você é quem comanda o time, não é? Tenha mais confiança e faça isso direito, caramba! Não que eu ligue para estereótipos, mas está parecendo a donzela daqueles contos de fadas ultrapassados. Insegurança não é algo que eu aprecie e ainda me faz duvidar se está mesmo certo que namorar comigo é algo que deseje realmente.

— É claro que é! — ele reagiu com firmeza.

— Bem melhor. Então, vamos tentar de novo?

Ele desviou do olhar dela.

— Acho que não consegui incentivá-lo — ela concluiu.

— Nós perdemos o amistoso contra a Kainan — Hayate explicou. — Eu briguei com seu irmão e sem querer atingi o rosto do Kinizuna quando tentei golpear o Hikari. Bara-san, você não entende como estou me sentindo um lixo. Como eu posso ter confiança para te pedir em namoro depois de tanta merda que fiz hoje?

Bara parou um instante para pensar e colocar em ordem aquelas várias informações.

— Você o Hii-chan brigaram?

— Sim.

— O Hiro-chan tentou apartar a briga e acabou levando o golpe no lugar do meu irmão?

— Sim.

— Por Kami-sama! — a loirinha esturrou, levantando-se. — Eu não acredito que o Hiro-chan fez isso de novo! Quando ele vai aprender a deixar meu irmão levar os tombos dele sozinho? Ser apaixonado é uma coisa, agora ser estúpido, baka, sem cérebro é outra! Ah, mas ele vai ouvir o meu sermão! Onde ele está? Eu vou falar com ele agora!

— Espere... — Hayate segurou o braço de Bara. — Não está brava por eu ter tentado bater no Hikari?

— Se você tentou fazer isso, foi apenas porque seus olhos finalmente se abriram para o crápula sem coração que ele é.

 Hayate sorriu sem jeito.

— Nem por eu ter perdido o amistoso ou ter golpeado o pobre do Kinizuna?

— Perder uma porcaria de amistoso não é nada. Jogo é jogo. Haverá sempre um vencedor e um perdedor. Quem consegue vencer sempre? E um soco é pouco que o Hiro-chan levou, eu vou dar outro, para ver se ele muda de atitude.

O capitão continuou sorrindo.

— O que foi?

— Estou tão aliviado que fiquei feliz. Obrigado. Pelo menos o Hikari te conhece realmente bem.

— Somos gêmeos no final das contas, infelizmente — ela deu de ombros e virou o punho para apanhar a mão de Hayate e puxá-lo. — Vem, me ajuda a procurar o Hiro-chan?

— Claro — Hayate exclamou, se prontificando de imediato.

E os dois saíram do ônibus de mãos dadas.

Hikari, que havia diminuído o volume do som para ouvir a conversa do capitão com sua irmã, voltou a aumentá-lo e cobriu o rosto com os braços.

— Que se danem — resmungou.

...

Não fora difícil saber onde Kinizuna estava, pois viram algumas pessoas subindo por uma trilha alternativa que dava em uma parte onde também conseguia assistir a queima de fogos.

— Lá está ele — apontou Hayate para o rapaz sentado sozinho.

— É ele mesmo — Bara confirmou. — Vamos... — Mas antes que se aproximassem uma cena chamou atenção dos dois e Bara puxou Hayate para detrás do tronco largo de uma das várias árvores do local.

— Aqui — fora estendida uma lata de refrigerante e uma lula assada no palito em direção de Kinizuna.

— A- Arigato, K- Kondo-kun.

— Já disse para me chamar de “Murano”. Estou tão acostumado que me chamem pelo meu primeiro nome que acho maior estranho quando me chamam pelo sobrenome.

— G- gomen.

Murano sentou-se ao lado do rapaz na grama.

— Daqui a pouco vai começar.

— Hm — resmungou, mordendo a lula e tomando um grande gole do refrigerante.

— Sabe, levei o maior fora da Sonohara — ele coçou a cabeça e riu, mudando as pernas para posição de borboleta. — Quer saber? Nem fiquei chateado — declarou, passando a arrancar tufos de gramas e jogá-los fora. — No fim, não era mesmo por ela por quem eu estava interessado.   

— Hm — Kinizuna continuou concordando e comendo a lula. Estendeu a lata de refrigerante para Murano tomar enquanto mastigava.

O rapaz não se preocupou em beber no mesmo canudinho.

Bara que espiava a cena arregalou os olhos, sentindo o seu coração palpitando um pouco mais acelerado.

— Ei, porque não nos aproximamos? — Hayate quis saber.

— Não tem como. Tá rolando um clima ali. E fale baixo, por favor! — ela o advertiu em sussurro.

— Como assim, Bara-san? O Murano gosta de garotas e...

— Psiu! — ela pediu com o dedo na boca. — Olha aquilo...

A mão de Murano tocou a de Kinizuna. E Kinizuna se livrou do toque puxando-a para ele.

— Ah! Que chato. Só serve se for o Prince-sama Hikari Uzumaki, não é mesmo? Ele é lindo, tem olhos azuis, é loiro e estúpido. É o tipo que toda “garota” deseja, não é? Ninguém mais tem chance quando se tem como adversário um tipinho como aquele?

— N- Não é- é- é i- isso, K- Kondo...

— Murano! — ele interrompeu. — Sabe, Kinizuna. Sua coragem me motivou. Faz tempo que eu venho tentando me enganar, me curar, ir contra o que eu realmente sou. Mas, quer saber? Ter levado o fora da Sonohara e ter visto você levar aquele soco por causa do ridículo do Hikari mexeu com algo dentro de mim. Eu quero assumir o que eu sou de verdade. E, mais do que isso, eu quero curar você do que sente pelo Hikari. Por que, cara, o que você sente por ele não é normal, é algo nocivo, isso só vai te machucar cada vez mais. Deixa eu ser a pessoa que vai cuidar de você? Foda-se o que todos vão pensar. Saia comigo, Kinizuna?

 O primeiro fogo de artifício subiu ao céu com um assobio e estourou em uma cascata dourada e brilhante no céu. Murano deixou a lata de bebida ao seu lado para segurar o rosto de Kinizuna. Alisou o ferimento perto do olho e se aproximou.

O beijo aconteceu.

Kinizuna não o impediu. Seu coração estava cansado de ser rejeitado e uma demonstração de afeto era tudo que precisava para acalentá-lo.    

Hayate ergueu-se com a mão na boca e encostou-se no tronco da árvore de onde espiavam. Bara parecia deslumbrada.

— Eu nunca imaginei que o Murano fosse...

— Gay? — ela também se levantou, admirando Hayate concordar com um menear de cabeça e o rosto vermelho. — Parece chocado. Deixe-me adivinhar, nunca viu dois garotos se beijando antes?

— E você já?

— Sim, claro. Meus pais. Apesar de que não tem muita graça, afinal, eles são meus pais. E eles sempre tentam ser discretos. Mas já vi beijos quentes entre garotos em doramas, bandas de K-pop, revistas, mangás...

— Você é uma ‘garota podre’ afinal.

— Em partes. A Giovana é mais do que eu.

— É verdade que para as garotas, ver essas coisas é... é... é...

— Excitante? — ela completou, o olhar em chamas.

O rubor no rosto de Hayate ficou mais intenso.

— Hm — ele concordou.

— Sabe de uma coisa? — Bara enlaçou o pescoço de Hayate ao fazer aquela pergunta, erguendo-se nas pontas dos pés para alcançar o rosto dele. — Acho eu vou gostar de ser o seme dessa relação.

— Com-...?

E antes que o capitão do time de basquete pudesse questionar o que Bara tinha querido dizer, ela o beijou.

Continua...  

~~* Bônus*~~

Arai andou agachada de forma sorrateira em torno do ônibus que deduzira ser do time de basquete, pois era o único estacionado ali com a placa de Tóquio, fora o que transportava as meninas do clube de matemática.

Mas estava achando estranho o fato de as luzes interna estarem apagadas e não ter vestígio de uma alma viva do lado de dentro, constatação que a fez ficar ereta e entrar no veículo pela porta que estava aberta.

Usou a lanterna do celular para vasculhar com clareza os acentos e soltou um suspiro chateado ao notar que realmente não tinha ninguém ali.

— Tapeação daquele técnico mentiroso! — reclamou em voz alta e deu meia volta com a intenção de deixar o ônibus quando foi surpreendia por uma chave de pescoço.

— Paradinha aí! O que você está tentando levar, sua ladra!

— Ladra eu? Que calúnia! Eu só estava procurando... Ei... Você está apertando com força! — reclamou e usando um movimento simples que aprendera nos anos dedicado as artes marciais, bateu com o cotovelo nas partes baixas do agressor, que caiu para trás amparando o membro atingido e gemendo de dor.

— Ai, ai, ai! Merda, merda! Golpe baixo não vale!

Arregalou os olhos ao notar com a pouca claridade que vinha da rua que o garoto parecia loiro e avançou para frente do ônibus, girou a chave no painel do motorista e acionou as luzes do ônibus.

Voltou correndo e ajudou o rapaz a se levantar.

— Larga de choro. Nem usei tanta força. Se tivesse, você estaria estéril nesse exato momento.

— Não se fazem mais garotas delicadas como antigamente.

Arai alisou o queixo com uma das mãos, enquanto analisava a figura que se contorcia e tentava aliviar a dor do seu golpe massageando a parte baixa. Loiro, pele branca, o rosto completamente vermelho devido a dor que sentia, olhos azuis.

— Hmmm... Por um acaso, você é o irmão gêmeo da Bara Uzumaki-san?

— Ah. Tá explicado — Hikari revirou os olhos. — Você só podia ser mais uma do clube de malucas e estranhas que conhecem a Bara.

— Ei, pirralho. Isso foi rude — ela fez um bico e cruzou os braços sobre o peito, soltando um esturro. — E eu fui ludibriada de novo! Você não é nada parecido com a Bara! Não é nada fofo.

— A Bara? Fofa? Só que não, né, meu bem? — Hikari riu debochado, se recompondo. — Tem certeza que estamos falando da mesma pessoa?

Arai pegou o celular com as fotos que havia tirado da loirinha mais cedo e mostrou para Hikari.

— Veja você mesmo. Se isso não é a coisa mais fofa do mundo, não sei mais o que é.

Hikari apanhou o celular e semicerrou os olhos em direção as imagens a qual foi passando com deslize dos seus dedos. Então devolveu o celular para aquela moça.  

— Desculpe. Parece sim. Mas não é a minha irmã.

— É sim!

— Não é!

— É!

— Ei, espera. Por que estou discutindo com uma estranha sobre quem é ou não minha irmã?

— Ah, já sei! Por que eu vou discutir quando posso te mostrar! — ela apanhou o pulso de Hikari e começou a puxá-lo para fora do ônibus. — Eu acabei de ver ela subindo por uma trilha com um rapaz bonitão. Deve ser o namorado dela. Os dois devem estar indo ver a queima de fogos de algum lugar estratégico.  

— Espera, sua maluca! Eu não posso sair do ônibus, estou de castigo.

— Cumprir castigo é coisa para pirralhos com a metade do seu tamanho. É só não chamar atenção. A gente volta antes que notem que deu uma escapadinha.

— Oh, merda!

Os dois deixaram o ônibus e seguiram pela trilha indicada por Arai. Porém, no meio do caminho, a queima de fogos teve início.

— Oh, droga! Já começou? Isso significa que o festival está acabando — ela observou, admirando o brilho e as cores bonitas que tingiam o céu. — Que lindos — exclamou.

Hikari estremeceu, nunca conseguiu enxergar a beleza na queima de fogos, pois o barulho sempre o incomodou, desde pequeno. Seus pais evitavam festivais por causa dele. Quando ouviu o barulho de um novo rojão subindo agiu rápido e cobriu os ouvidos, fazendo a moça que o acompanhava cair na gargalhada.

— Não acredito que tem medo do barulho de fogos?

Ele ouviu o comentário zombeteiro, mesmo que meio abafado.

— Cale a boca! — retrucou.   

Arai continuou rindo divertida.

Hikari manteve os ouvidos muito bem tampados, sobressaltando com cada novo estouro. Foi quando uma visão o fez paralisar. A taquicardia que se apossara do seu peito devido ao barulho se adensou e seus olhos se arregalaram incrédulos no que via.

Adentrou por uma parte mais densa da mata, intercalando o uso das mãos para afastar as folhas e tampar os ouvidos.

Ao ver Hikari seguindo em outra direção, Arai o seguiu.

— Espera, onde você vai? 

Hikari tampou a boca dela e a obrigou se abaixar junto com ele; pedindo para que ficasse em silêncio usando o sinal do dedo indicador sobre a boca. Então ele abriu uma fenda atrás do arbusto onde se esconderam e conseguiu enxergar aquela cena perfeitamente bem.

Eufórica com o que via, Arai tirou a mão de Hikari da sua boca para comentar em um tom de voz baixo.

— São dois rapazes se beijando?

Hikari não precisava responder aquilo. Era algo óbvio. Não eram somente dois rapazes. Eram seus conhecidos: Kinizuna e Murano.

Hiroki Kinizuna que até algumas horas atrás havia deixado claro ser loucamente apaixonado por ele, Hikari, por ter levado um soco em seu lugar, estava sendo beijado por Murano Kondo, que havia azucrinando a vida de todo o time e do treinador para irem naquele festival, pois ele tinha intenção de se declarar para garota por quem se dizia apaixonado: Miko Sonohara.  

“Malditos hipócritas”, praguejou o loiro em pensamento. Hikari virou o rosto, as costas e se agachou com as mãos nos ouvidos, esperando aquela queima interminável de fogos acabar.

Arai perdeu o interesse nos dos dois rapazes quando um deles empurrou o outro e o beijo se encerrou. Então ela voltou sua atenção para o arredor, avistando justamente quem ela queria.

— Eu encontrei! — ela comemorou, agachou-se ao lado de Hikari, segurando a cabeça dele com ambas as mãos e virando-a na direção onde havia outro casalzinho se beijando. — Olhe ali. Agora diga se aquela ali não é sua irmã.

Hikari sentiu a dor de cabeça latente que começara devido ao barulho dos fogos aumentar ao ponto de causar enjôo, o lanche que comeu no ônibus passou a revirar em seu estômago e não foi capaz de segurar a ânsia de vômito e vomitou ali mesmo. Arai deu um salto, acompanhado de um grito.

— Argh! Meus pés! Que droga! Pelo menos avisa que está passando mal e vai fazer uma nojeira dessas. Francamente! — ela esturrou. — Você não tem nada a ver com a Bara-chan mesmo, não é nada fofo!  

~~* Fim do Bônus*~~

 

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado, e já sabem, comentem se puder! o/


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