1. Spirit Fanfics >
  2. Plano B >
  3. Croissant

História Plano B - Croissant


Escrita por: kroth

Notas do Autor


Hello darkness my old friend

Capítulo 4 - Croissant


Acordei sentido uma dor de cabeça horrível graças ao meu choro desnecessário da noite. E dessa vez nem foi apenas por causa de Chanyeol ou do casamento, mas por eu ter assistido clássicos da Disney pelo celular quando não consegui voltar a dormir por volta das duas da manhã.


Maldito Bambi. Nunca mais eu assisto esse filme.


Levantei lentamente e dei uma breve olhada no espelho do banheiro. Nenhuma olheira ou sinal aparente de choro que não possa ser escondido com os óculos escuros que usei no enterro do nosso cachorro — e que trago comigo para todo canto. Eu não precisava exatamente de uma imagem impecável porque isso só me deixaria pior ao invés de me fazer sentir à vontade no lugar que seria obrigado a viver pelos próximos anos, então não me troquei ou dei grandes retoques. Apenas guardei o celular no bolso, fui até minha mala ainda feita e peguei os óculos, escovei os dentes e decidi que era o momento para confrontar a primeira manhã oficial no que eu chamaria de casa.


Eu havia passado um dia inteiro e uma noite trancado no quarto, me escondendo da realidade por trás da porta e refletindo seriamente em tudo aquilo, e depois que o sol nasceu consegui enfiar garganta abaixo toda a situação e criar coragem de assumir tudo.


Certo, eu estou casado. Isso não mata ninguém. Continuo forte, rico e ainda tenho alguns dias de licença de casamento para gastar conhecendo melhor Chanyeol. Não é o fim do mundo.


Repetindo mentalmente as mesmas palavras eu respirei fundo, girei a maçaneta devagar e passei pelas escadas com um desânimo mais do que visível já que não precisei de muito para vislumbrar meu marido sentado e tomando seu café na cozinha.


Breve análise sobre Chanyeol: independente. Silencioso. Ele faz o próprio café ou compra, o que me priva de ser um escravo — e passar vergonha por não saber fazer um chá.


Visto da distância que estávamos ele não parecia ameaçador ou grosseiro como no dia anterior, pelo contrário. Ele parecia uma pessoa totalmente despojada e tranquila, lendo seu jornal distraído e não dando atenção aos acontecimentos a sua volta. Os dedos mantinham a mesma posição em ambas mãos, com indicador e polegar tocando a frente das folhas, dedo médio reto e os dois últimos para trás. As pernas não se moviam, ele não crispava os lábios. Não havia qualquer indício de nervosismo, medo, raiva. Cerrei o punho, decidido de que era hora de me mover e me aproximei.


Mesmo que fosse  minha primeira vez naquele  lugar a minha barriga não tinha culpa, então caminhei focado, abri a geladeira e tirei a primeira coisa que vi: um pote de sorvete que praticamente implorou para que eu o comesse.7


Chanyeol não moveu um músculo por mim.


Passei o olhar rapidamente em busca de uma colher e mais alguma coisa que pudesse comer com o sorvete, mas tudo se concentrava sobre a mesa onde meu marido estava. E acho que o encarei por mais tempo do que deveria já que ele repentinamente abaixou o jornal, me dando a perfeita visão de seus olhos castanho escuro no rosto sem expressão definida.


Ele me encarou, então eu o encarei. Ele moveu o olhar rapidamente, inclinando um pouco a cabeça na mesma direção e parecendo esperar alguma ação minha.


— Hm? — Eu murmurei. Ele revirou os olhos de novo.


???


Olhei para a direção que ele encarou, mas não vi nada. 


— O que é? — perguntei.


Ele olhou mais uma vez, agora inclinando um pouco o jornal naquela direção.


Era como se estivéssemos conversando por códigos. E eu não estava entendendo nada.


— Se você quer falar alguma coisa, fale. A sua língua não serve só para mentir em igrejas, sabia? — falei irritado, vendo ele arregalar os olhos minimamente para mim. Só então eu percebi que havia sido rude, mas era tarde demais. — Desculpe, eu não quis... — minha voz afundou atrás de uma bolha de orgulho, eu não ia me desculpar. Mas assim que ele se moveu minha língua destravou e quase voltou atrás.


Sem qualquer hesitação aparente Chanyeol levantou de sua cadeira, largou o jornal sobre a xícara de café e caminhou na minha direção com os punhos fechados, me dando a certeza quase absoluta de que nós realmente teríamos nossa primeira briga de casal — dois dias depois de ter casado. Todavia, no último momento, ele apenas virou para o lado que encarou antes e abriu uma gaveta, tirando uma colher para mim.


E dentre todas as coisas que eu esperava ouvir, aquela foi a mais inesperada.


— As colheres ficam na segunda gaveta. E você pode sentar se quiser. — a voz dele saiu tão grave e profunda que eu demorei a associar ao rosto limpo. 


Ah Deus, por que comigo?


Como o esperado ele se afastou tão rápido quanto se aproximou, sentando-se novamente a mesa e voltando o olhar a noticia que vislumbrei precariamente enquanto me sentei a sua frente, agarrando o pote de sorvete no colo.


Pensei em dizer um obrigado por ter me deixado sentar mas aquela casa também era minha. Mesmo se eu quisesse usar a pia como uma banheira ele não poderia me impedir, então abaixei o rosto para a mesa e fiquei sentindo a mistura de cheiros do café com fritura. Croissant,café e suco, crepe, bolo, torradas de pão integral, melado e geléia foram as primeiras coisas que notei assim que meu estômago roncou alto de fome. Era uma típica mesa farta como a que meu pai montava todos os dias por estética — já que seus hábitos coreanos alimentícios permaneciam intactos — e meu apetite apenas se aflorou mais, fazendo com que eu largasse meu sorvete sobre a mesa e automaticamente espetasse duas panquecas inteiras com o garfo.


Chanyeol arregalou os olhos quando me viu levar aquilo inteiro a boca, o que me levou a acreditar que Kyungsoo estava certo quando dizia que eu era nojento quando comia, mas não me senti nem um pouco obrigado a usar meus hábitos forçados de etiqueta na frente do meu marido que não era marido, só um peso a mais na mochila.


Eu estava com fome demais para reparar na forma como me portava a mesa, mas assim que Chanyeol passou o guardanapo na boca e pigarreou eu o encarei ainda de boca cheia.


— Ah —  pigarreou — Eu... — ele descartou a frase, limpando a garganta outra vez e levantando da mesa em silêncio.


— O quê? — falei assim que engoli as panquecas, curioso com seja lá o que fosse que ele queria. Pensei que provavelmente era algum comentário maldoso sobre como eu comia, mas quando vi que ele não responderia acabei deixando de lado.


Chanyeol apenas se aproximou do espelho na porta e mexeu na gravata recém colocada, pegou sua mala do chão e saiu, sem dizer palavra alguma.


O que tem de errado com esse cara? Ele nem precisava ir trabalhar até a próxima segunda!


Uma onda de vergonha me invadiu repentinamente quando percebi que minhas bochechas estão sujas, indicando que meu rosto provavelmente está um lixo. Engoli e limpei a boca com um guardanapo enquanto senti minha garganta apertada após engolir aquilo de uma única vez e pensei se aquilo teria sido o motivo do meu marido ter se calado.


Bem, as condições em que eu estava e o pigarro que ele deu não davam para serem mais claros. Ele havia sentido nojo de mim. Ótimo.
Causei nojo no meu marido no nosso primeiro café da manhã juntos. Palmas para Byun Baekhyun, a própria sedução em forma de homem.
Passei os olhos rapidamente pela mesa e levantei ainda um pouco envergonhado. A vontade de comer havia sumido completamente depois de pensar na forma que eu havia me comportado e como isso tinha sido estranho. Chanyeol, nem mesmo ele merecia uma cena tão estranha logo cedo da manhã, além de que eu estou velho demais para me comportar igual a uma criança esfomeada na frente dos outros.


Observei mais uma vez em volta e acabei batendo o olhar na sala, onde estavam as minhas malas devidamente arrumadas uma ao lado da outra. Fui até lá e sentei no sofá, remexendo tudo em busca de algo que pudesse me distrair, mas digamos que ver as roupas que Taeyeon havia ganho no chá de panela não foi exatamente algo que me fez sentir saudades de Kyungsoo.


"Espero que te sirvam bem! Hyung te ama." dizia um bilhetinho junto de uma lingerie vermelha, e o pior é que uma das minhas malas estava cheia daquelas roupas íntimas femininas e bilhetinhos nada discretos.


A primeira coisa que me veio em mente foi a vergonha de alguém ter visto aquilo lá embaixo — o que provavelmente havia acontecido, mas eu queria me negar a esse vexame. Que tipo de pessoa pensariam que eu era? algum tipo de tarado sexual que vestia roupas de mulher? 
Apertei as têmporas enquanto me controlava para não chorar com tudo aquilo. Eu não sabia se era mais chocante ele ter me entregado aquilo ou alguém ter dado um rascunho de calcinha daquele tipo a Taeyeon, o ser mais precioso desse mundo. As pessoas não tem o minimo de noção hoje em dia. A cada peça que eu retirava da mala meu estômago embrulhava mais, mas apenas a deixei de lado quando meu celular vibrou no bolso.


— Eu não estou com bom humor — mal consegui dizer a frase direito e o outro lado da linha devolveu uma risada sacana e típica de Minseok.


— Huh, alguém amanheceu com o pé esquerdo. — ele debochou, me fazendo revirar os olhos.


— Estou falando serio, Minseok.


— É. Eu sei. — escutei um som de saquinho de salgados sendo aberto. — o que aconteceu? — ele falou de boca cheia, confirmando minhas suspeitas e tirando um pouco do frio da minha barriga quando tornei a encarar a jóia no meu dedo, ainda indeciso sobre qual abordagem eu usaria para explicar minha situação atual àquele homem.


— Ah — Pensei em usar um "precisamos conversar pessoalmente" pra deixar tudo mais dramático, ou apenas contar um pouco sobre a frágil condição em que a minha família se encontrava e em seguida dizer ao que me submeti por eles, mas depois de um tempo com as bochechas cheias de ar acabei decidindo que era melhor eu ser curto e grosso — Ah, eu casei. — fiz uma careta mesmo sabendo que ele não veria. 


Falar aquilo soava muito estranho vindo de um dos maiores perigos de Paris. E deve ter soado realmente ridículo já que ele riu, e não foi pouco, do outro lado da linha.


— Aham, próxima piada. — a voz dele veio falha, provavelmente por ter engasgado.


— É sério, eu casei. A minha aliança é 18 e você tinha razão, Taeyeon tem dedos grossos. — falei de uma vez, esperando a próxima crise de risos.


E então ele engasgou de novo. Dessa vez, com uma tosse alta e desesperada ecoando por uns dez segundos.


— Como você se casou? Baekhyun eu só fui visitar a minha mãe e quando volto você tá casado. Se eu for passar a páscoa com a minha irma você vai estar como? criando filhos?


— Não foi  por querer. — falei choroso quando ele terminou de gritar, apenas então explicando o mais detalhado possível sobre todo o ocorrido, a falência da família, a fuga de Taeyeon, a festa com meus primos e a mala de lingeries. Eu estava tão carente de alguém que pudesse me ouvir que acabei ignorando o fato de estar colocando minha cruz nas costas de Minseok  —  Justo Minseok, que não sabia nem fritar um ovo, quanto mais acalmar alguém —  mas ainda assim eu falei, chorei, desabei pelo telefone e ele ouviu em silêncio.


— Bom, que  tenso. — foi tudo o que ele disse cerca de cinco minutos depois de ficar em um silêncio absoluto, fazendo meu rosto esquentar rapidamente.


— Sim. — me calei. 


Eu não sabia muito bem o que dizer depois de recordar toda a história, e mesmo sendo meu melhor amigo Minseok também não tinha a obrigação de fazer um discurso consolador para mim — e muito menos sabia como fazer um.


No lugar dele eu tenho certeza que também ficaria sem palavras, era uma situação delicada demais para discutir por telefone. E talvez pensando nisso ele tenha me feito a proposta de irmos para algum lugar.


— Vamos para aquele café que eu gosto, podemos conversar melhor. — ele disse do outro lado da linha, ostentando de uma provável expressão de dó. Mas eu não queria, de verdade, e apenas respirei fundo antes de responder.


— Não posso sair — apoiei os pés no braço do sofá, deitando desconfortável com o celular apoiado entre o assento e meu ouvido. — meu humor esta péssimo. 


—  Mas é exatamente por isso tem que conviver com outras pessoas. — ele falou com a voz elevada, nervoso. — O-ou eu posso ir pra sua casa, a gente assiste um filme e conversa, quem sabe eu não te faço companhia.


— Chanyeol disse que não quer que eu traga outras pessoas aqui. 


— Hm, legal. E em qual mandamento bíblico tá dizendo que é pecado desobedecer ele? — ele disse casualmente, então escutei uma risada vinda do outro lado da linha. — a casa é sua também, aish... Se ele te mandar comer capim você come?


revirei os olhos.


— Claro que não, mas...


— Mas nada. Eu vou aí quando resolver umas coisas e a gente vai ficar juntos nessa, ok?


— Ok? —  hesitei, perdido. —  Minseo...


— Ótimo. Agora me envia o endereço por mensagem ou eu vazo suas fotos. — disse ele apressadamente antes de desligar, em um tom de quem havia sido completamente domado pela ideia. E após me lembrar do tipo de fotos que ele tinha salvas no telefone achei melhor não ignorar as vontades dele e comecei a vasculhar atrás do endereço daquele lugar — que encontrei meia hora depois no escritório, enviei a ele e aceitei que viesse de tarde.


Era o tipo de situação que me fazia sentir um pouco mais confortável. Minseok me tratando de uma forma costumeira e tentando me animar —  do jeito dele — fazia com que o meu coração ficasse aquecido o suficiente para ignorar a foto na mesa do escritório e trancar a porta lentamente, para que não cometesse a pérola de quebrar nada como de costume.


Com uma enorme falta de vontade me joguei no sofá e encarei o teto, coçando o nariz. Não tinha muito o que fazer naquele lugar e algo ainda me dizia que eu estava sendo observado.


Nada que me afetasse a fundo, na verdade. Fui observado por multidões desde que me entendo por gente. Mas essa sensação fez meus pelos eriçarem.


Me acomodei no sofá e respirei fundo, pensando em dormir um pouco mais antes de pedir algo para o almoço. Eu estava sozinho, e não havia muito o que me interessasse além do fato de ter descoberto minha moradia no 7 arrondissement. Extremamente próximo a torre Eiffel, que ironicamente é o lugar mais amado por recém-casados.


Que piada horrível.


Vagueei o olhar pelo pouco que vislumbrei do apartamento até as cortinas reluzentes nas janelas de vidro tão altas que pareciam portas. Mas antes que eu fizesse uma associação melhor notei o sol do lado de fora, assim como um céu azul estonteante da forma que ficava quando Sehun tentava me tirar de dentro de casa pra "voltar a ter cor no rosto". 

"- Mas o dia está ótimo, você não viu? se for dar uma volta comigo pode até ficar mais corado!" "- Eu não quero, Sehun." "- Você vai negar um pedido do bebê?" "- Vai embora, Sehun."


Dei uma risada sem graça enquanto lembrava do meu irmão mais novo tentando me tirar do quarto.  Sehun era realmente bem insistente quando queria algo, por mais que soubesse que eu estava quase fundido à cama de casal ele nunca desistia do seu plano de me tirar de casa nas horas livres. E agora, Sehun não está mais perto de mim para me obrigar a pegar um sol. Isso dói mais do que eu pensei que seria possível.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...