Fiquei olhando para aquele papel em minhas mãos.
- O que você tá olhando? - Levei o maior susto, olhei para Lais com a mão no peito.
- Nada. - Guardei o papel no bolso.
- Vem dançar comigo! Por favor! - Ela me olhou com uma carinha de cachorro que caiu da mudança.
- Tá. - Caminhamos até a pista e dançamos um pouco.
(...)
- Alguém pode nos lembrar da Guerra Fria? Só quero que me dêem uma das consequências dela. - A professora de geografia perguntou olhando para os alunos.
- O socialismo não existe mais. - Charles falou.
- Ainda existe socialismo, mas não como era antes, porém considero sua resposta. - Charles bateu no peito e todos os outros riram.
O sinal bateu e a professora saiu. Todos os alunos se levantaram e foram até a sala das palestras. Sentei ao lado da Laís. Drake e seus amigos sentaram-se na minha frente e ficaram conversando sobre algo. Eles ficavam me olhando e rindo. Estava desconfortável com a situação, sabia que eles estavam me zuando. Justin não escutava, nem prestava atenção, assim como Charles, Christian e Ryan. Então Justin me encarou e se levantou. Ele se sentou do meu lado.
- Não liga pra eles. São uns idiotas. - Concordei com a cabeça. Drake olhou para nós dois e negou com a cabeça. Charles, Ryan e Christian se levantaram e sentaram ao lado de Justin.
- Alunos, silêncio... - Não estava com saco para escutar sobre a palestra. Peguei meu celular e abri meu instagram.
- A palestra não está muito interessante pra você, Ingrid? - Olhei para meu professor de história. Sorri falsamente e bloqueie o celular.
Quando acabou aquele saco eu dei graças a Deus.
(...)
Acabou as aulas e agora eu iria voltar para casa. Quando comecei a andar até ela senti uma mão segurar meu braço.
- Posso ir com você? - Justin me encarava sério esperando resposta.
- Pode, mas minha casa é longe. - Ele sorriu levemente.
- Tudo bem. - Sorri pra ele.
- E quando vamos começar minha transformação bombástica? - Fui um pouco irônica.
- Se você quiser, podemos começar hoje. - Atravessei a rua correndo. E ele riu. Minutos depois chegamos na minha casa.
- MÃE, CHEGUEI. - Gritei.
- INGRID, VEM AQUI. - Fui a cozinha com Justin atrás de mim.
- Oi. - Ela me olhou e olhou pra Justin.
- Seu amigo? - Ela começou a analiza-lo.
- Sim, ele veio... - Tentei arrumar uma desculpa, minha mãe não precisava saber.
- Tô ajudando ela a estudar geometria, ela não entendeu bem o assunto e me pediu ajuda. - Minha mãe assentiu e nos subimos para o meu quarto. Joguei minha bolsa na minha cama e me deitei em cima dela.
- Onde está o guarda-roupa? - Apontei para uma porta e ele a abriu. - Levanta. - Resmunguei e me levantei.
- O que é isso? - Ele me mostrou um vestido que eu amava, ele era bem longo e tinha estampa de panda.
- Um vestido. - Falei óbvia.
- Engraçadinha. - Riu sem humor. - Você nunca mais vai usar isso! - Ele saiu tirando muitas roupas do guarda-roupa. - Dessa eu gostei. - Ele me mostrou um vestido curto com um pequeno decote, o vestido era todo vermelho.
- Eu gosto desse, mas não tenho coragem de usar. Não tenho corpo pra isso. - Baixei a cabeça.
- Era disso que eu estava falando, você precisa acreditar mais em você mesma. - Senti sua mão levantar meu rosto. - Vamos ao shopping, você tem que mudar! - Comecei a andar até a porta de casa.
- MÃE, VOU SAIR! - Escutei um "Pode ir" e saímos rumo ao shopping. Quando chegamos, entramos em uma loja que eu simplesmente não prestei atenção no nome. Comecei a olhar umas calças.
- Você tem que começar a usar short, só usa calça! - A verdade tem que ser dita: Eu não gosto muito de short.
- Ok, ok. - Ele me mostrou alguns mas eu não gostei muito, a maioria era muuuiiito curto e eu já me sinto desconfortável com short, imagina short curto?
- Os senhores querem alguma coisa? - Justin fez careta quando ela disse "Os senhores" a menina que veio nos atender era loira, bem magra e bem bonita. Quando ela olhou para o Justin endireitou a postura e mordeu o lábio. Ela ficou encarando o Justin e ficava tentando ser sexy, isso estava me irritando.
- Licença amore, mas se você não puder me atender eu chamo outra pessoa. - Ela me encarou séria. - Ótimo, eu quero ver shorts mais longos do que isso. - Apontei para a miniatura nas mãos do Justin.
- Vou olhar no nosso estoque. - Ela saiu rebolando, Justin seguia ela com o olhar. Revirei os olhos.
- Ei. - Ela se virou para me olhar. - Não precisa não, estou de saída. - Falei e me virei para ir embora. O Justin me chamava mas eu não estava nem ligando. Senti uma mão segurar meu pulso e puxar.
- Eu tô te chamando a um tempão. O que foi? - Ele me olhava confuso, então eu dei uma risada irônica.
- Você veio me ajudar ou comer a atendente? - Perguntei rindo. Não eu não estava com ciúmes, só que bicho, eu não gosto dessas coisas, meu tio era assim e eu o odiava.
- Te ajudar. - Revirei os olhos.
- Não preciso mais da sua ajuda. - Saí do shopping em passos rápidos. Eu só me lembrava daquela cena.
Flashback on:
Estava no jardim com o meu tio Felipe, eu brincava com a minha prima Catarina, mas quando ela viu meu tio, ela ficou desconfortável, ele não parava de encara-lá. Então minha tia levou Catarina para dentro de casa e meu tio Rodrigo saiu furioso dela. Ele estava armado e isso me assustava.
- VOCÊ ESTUPROU A MINHA FILHA SEU FILHO DA PUTA? - Eu estava tremendo de medo, não sabia o que fazer. Ouvi três disparos e depois vi meu tio Felipe todo ensanguentado no chão. Aquela cena não saia da minha cabeça, nem o olhar malicioso dele em minha prima de 12 anos.
Flashback off.
Eu odiava lembrar, odiava. Não esquecia o choro da Catarina enquanto contava, não suportava lembrar daquele olhar, eu não suportava a minha família ter se virado contra a Cat por seu pai ter matado meu tio, não suportava ve-la sofrer por uma coisa que ela não tinha culpa, eu não queria ve-la em coma por ter tentado suicídio, eu simplesmente não gostava de ter que lembrar. Tive 3 anos de ajuda psicológica, mas as vezes eu tinha crises. Peguei um táxi e fui até minha casa, paguei ele e entrei em casa, quando fechei a porta me senti tonta.
- Ingrid? - Justin estava na porta de minha casa, o olhei com os olhos pesados e apaguei.
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