História Playful Kiss As memórias de Seung Jo - A chantagem

Oh Ha Ni

Seung Jo teve que ler mais de uma vez o nome bordado no uniforme de educação física para se certificar de que não estava louco. Ele tinha estranhado mesmo o tamanho de suas roupas de ginástica quando as pegou na lavanderia, mas sem dar muita importância para o fato não verificou na hora o que estava errado. E agora lá estava ele com as roupas de educação física da maluca que havia invadido a sua casa e sua vida e sem saber como fazer para trocar. Depois de muito pensar, percebeu que não tinha jeito. Ele teria que ir atrás dela e arriscar expor o segredo de que os dois estavam morando juntos.

Conforme se aproximava da sala da turma 7, a última colocada em notas de toda a escola, destinada aos piores dos piores dos piores alunos, os gritinhos e risadinhas iam ficando cada vez maiores e mais volumosos. O espanto das pessoas não era, contudo, injustificado: ele jamais tinha pisado naquele corredor antes. Se viu obrigado até mesmo a parar em um dado momento para perguntar a uma aluna onde ficava a tal sala. Com muito custo e esforço para falar sem desmaiar, a menina conseguiu, depois de muito gaguejar, lhe indicar o local. Qual era o problema das meninas desta escola? Ele apenas tinha pedido uma informação para a criatura e não a mão dela em casamento.

E se no corredor o alvoroço já estava grande, ele não diminuiu quando Seung Jo parou na porta da sala 7. Todas as meninas foram ao seu encontro, pulando, rindo e gritando como se estivessem tendo um ataque coreografado. O que o traz aqui, sua alteza? - perguntou uma delas.

A única garota que simplesmente não tinha notado a sua presença ali era Oh Ha Ni, que estava imersa em seu universo particular, rindo como uma retardada. Se não fossem aquelas suas duas amigas tontas, que chamaram a sua atenção para o fato dele estar lá feito uma estátua na porta esperando por ela, ele teria sido obrigado a ir busca-la em sua mesa. Deus, como isso tudo é irritante.

- Oh Ha Ni, traga seu uniforme de ginástica. – Disse ele quando finalmente ela se tocou e foi encontrar-se com ele na entrada da sala.

- Uniforme de ginástica? Por quê?

Seung Jo não tinha como lhe dar uma resposta naquele momento. Ela realmente era muito, muito burra. Era óbvio que algo tinha saído errado e eles não podiam falar daquilo na frente de todo mundo. Depois de alguns segundos, que para ele pareceram horas, ela entendeu e entrou para pegar sua roupa enquanto ele se dirigia para a área externa do colégio.

Enquanto Oh Há Ni o seguia, o garoto tentou achar um local discreto para que eles fizessem a troca do uniforme sem levantar muitas suspeitas, tarefa que se mostrou impossível; junto daquela demente, a sala 7 em peso os acompanhou e ficou de plateia assistindo àquela cena. Era inútil se esforçar mais, eles os seguiriam aonde quer que fossem.

- Que confusão você causou – disse Seung Jo, tentando trocar os uniformes sem que ninguém notasse ou dessa muita atenção para isso.

-  Por quê? Você poderia ter usado as minhas roupas. – disse a garota quase não conseguindo terminar a frase de tanto rir...e ele teve a certeza de que ela havia enlouquecido completamente. 

- O que? - O garoto realmente estava tentando entender a lógica daquilo que aquela deficiente mental estava dizendo.

-  Não está acostumado a usar roupas de menina?

Será que o cérebro desta besta derreteu de vez? Aquilo tudo soava tão estranho...mas não um estranho qualquer. Era um estranho com um sinalizador gigante de “encrenca” que fez subir um calafrio pela sua espinha. O seu sexto sentido estava dizendo que Oh Ha Ni ia aprontar alguma.

E ele tinha razão. Sentiu seu rosto arder quando viu aquela foto nas mãos da menina: ele, aos 5 anos, vestido de garota. A sua mãe o tinha vestido de mulher durante um bom tempo da infância por querer muito uma filha, fato esse que o traumatizou para o resto da vida. Ela havia jurado para ele que tinha queimado todas as fotos...o que claramente tinha sido uma mentira. Agora a sua fã problemática possuía um trunfo imbatível contra ele e pela cara dela claramente vinha confusão pela frente.

Seung Jo tentou em vão recuperar a foto à força, mas Oh Ha Ni corria, pulava, gargalhava e o provocava chacoalhando o pedaço de papel na sua frente com uma habilidade que o irritava ainda mais. Ah, Oh Há Ni, isso vai ter volta, jurava ele para si mesmo. Depois de se divertir durante um bom tempo brincando de bobinho com ele, a menina parou.

- Está bem! Eu vou devolver para você, mas com uma condição. – disse ela ofegante. O sorriso dela era perverso e Seung Jo sentiu todo o sangue ser drenado do seu corpo. Aquilo ia mal, muito mal.

- Condição? Qual?

- Me ensine a matéria do teste.

- O que? - OK, ela havia o surpreendido. Ele podia imaginar todo e qualquer tipo de tortura infantil em troca da foto: um encontro, um beijo, uma carta de amor...qualquer coisa.  Mas a garota o estava chantageando para ter ajuda para estudar?

- Aumente minhas notas no teste!

- Você sabe que só tem mais uma semana?

- É por isso que estou te pedindo. Me ajude. Me faça entrar naquela sala de estudos.

- Não consigo fazer milagres...não sou Deus. – Seung Jo até tentou se segurar, mas a vontade de provocá-la e dizer o quanto ela era incapaz daquilo foi maior. No fundo, ele duvidava que ela fosse de fato cumprir a ameaça de expor a pessoa que ela tecnicamente dizia amar. Ledo engano. Sem nem pestanejar, Oh Ha Ni saiu berrando em direção ao grupinho que os observava para mostrar a foto dele vestido de mulher, com maria chiquinha e tudo.

O garoto não viu mais nada em sua frente. Quando deu por si, estava com as suas duas mãos em cima daquela retardada, prensando-a contra uma árvore. Seung Jo não sabe quem ficou mais surpreso com a sua reação: ele, Oh Ha Ni ou os alunos fofoqueiros que os observavam. Mas isso já não importava mais, aquela idiota havia baixado a sua guarda e ele iria utilizar aquela situação a seu favor.

De fato, ela era mais esperta do que ele imaginava e havia manipulado a situação de tal forma que ele estava totalmente encurralado naquele momento. Se ela conseguisse ficar entre os 50 melhores alunos do mês, ele seria obrigado a carregá-la de cavalinho pelo colégio. E agora ela tinha em posse algo que o faria ajudá-la a conseguir isso.

Mas ele não ia deixar barato.

- Ha Ni! – Esta era a primeira vez que e ele não a chamava pelo nome completo. -  Está tentando bancar a espertinha? Eu tenho que te carregar nas costas se você conseguir entrar naquela sala. E agora você quer que eu te dê aula e também te carregue de cavalinho?

- Se você me ajudar, não precisa me carregar. Não é tão difícil.

E lá estava ela o surpreendendo novamente. Então ela quer só ir bem na prova? Ela realmente está interessada em aprender a matéria?

- Não se preocupe, já esqueci você. Não quero ficar nas suas costas nem um pouquinho.

E aí estava mais uma coisa interessante que ele havia acabado de descobrir sobre Oh Ha Ni: ela mentia muito mal. A menina estava claramente afetada pela proximidade entre os dois e a reação dela deu a Seung Jo uma excelente ideia de como ensinar uma lição para aquela chantagista.

Se tinha uma coisa que ele sabia fazer bem era usar o seu charme a seu favor. Não que ele fizesse isso sempre, mas o fato dele ser quem ele era se mostrava muito útil em muitas situações e o fato desta menina ter declarado um amor por ele muito maior do que qualquer outra declaração que ele já havia recebido só tornaria as coisas mais fáceis.

Isso...realmente vai ser muito divertido, pensou ele.

- Tem certeza? – disse Seung Jo com o melhor sorriso de deboche cheio de charme que conseguiu simular. Ele então se aproxima um pouco mais da garota, encurtando a distância entre os dois. Ela se espremeu toda contra a árvore de tal forma que ele achou que ela fosse escalá-la só para fugir dele. Esta era a sua deixa.

Bem lentamente ele se inclina, deixando os seus lábios bem próximos dos dela. Sustenta por alguns segundos esta posição, olhando-a tão profundamente nos olhos quanto possível e então começa a percorrer lentamente o seu rosto até pousar a sua boca no pé do ouvido da garota,   tomando todo o cuidado do mundo para que o contato não fosse profundo. Apenas um leve e delicado toque de pele.

- Combinado então, chantagista. Eu vou te ajudar a passar no teste – Seung Jo se encarregou de dizer estas palavras bem lentamente para que a sua respiração naquela região terminasse o serviço que ele já havia começado. Oh Ha Ni estava gelada, tremendo e completamente mole. Seu rosto estava em chamas e a sua pele completamente arrepiada com aquele contato. Com um olhar triunfante, Seung Jo se afastou um pouco para observar e saborear melhor a sua pequena vingança. A menina estava imóvel. Ele então se afasta e joga um último sorriso debochado para Oh Ha Ni antes de tomar seu caminho para a aula de educação física.

Enquanto seguia para a quadra, em uma caminhada lenta e preguiçosa, Seung Jo ficou passando repetidas vezes na cabeça a cena que acabara de acontecer. Ha Ni petrificada naquela árvore, não esboçando reação alguma, nem resistindo, nem permitindo qualquer investida da parte dele. Ela era apenas pura e simples reposta aos seus estímulos. Ele sabia que aquilo seria divertido, mas não imaginava que ia gostar tanto de ver a menina tão afetada por ele. Na verdade, ele nunca tinha visto alguém ficar daquele jeito.

Sentiu uma pontinha de arrependimento quando lembrou repentinamente que aquele show foi acompanhado por um bom número de outros alunos e sua vida seria um tumulto sem fim de fofocas por um bom tempo. Talvez ele devesse ter deixado essa brincadeira toda para mais tarde, quando eles tivessem a sós, afinal, estavam morando na mesma casa. Mas tudo foi tão...irresistível. Ela estava se achando tão esperta, toda cheia de si...precisava de uma lição. A partir de agora ela o deixaria de fato em paz depois que tivesse ajuda para passar na prova.

O garoto estava até então tão perdido em seus pensamentos que não viu que já estava quase no local da aula de ginástica. Foi então para o vestiário trocar de roupa, mas teve antes o cuidado de pedir desculpas ao treinador pelo atraso. O professor lhe dirigiu um largo sorriso e disse que não tinha problema algum. O time precisava dele e tinha a certeza de que o atraso tinha sido por um bom motivo. Pelo fato dele ser bom em tudo, desde matemática até todo e qualquer tipo de esporte, os professores sempre aliviavam com ele, mesmo quando a falta era grave.

Seung Jo então veste o uniforme que havia acabado de trocar e desfila pela quadra calmamente como um rei, se posicionando entre os demais alunos para participar da aula. Antes de ficar totalmente absorvido pelas atividades, por um motivo que ele não entender bem o porquê, um último pensamento a respeito do episódio que acabara de acontecer passa pela sua mente, desaparecendo tão rápido quanto surgiu...

Ela tem cheiro de sabonete...