Fui ao colégio depois de fazer compras com o papai. Depois de ele me fazer ajuda-lo a levar nossa árvore de Natal, de ultima hora, enorme para casa.
Não fiquei surpreso, nem chateado, com as minhas notas. Elas foram razoáveis, e acho que eu as mereci. Mesmo tendo que me esforçar um pouco, depois que as férias de inverno terminassem.
O meu trio favorito estava lá. Cassie estava muito feliz com suas notas superaltas. Ela deu um grito alto, e depois se jogou no pescoço do Alex. Torci para que o Alex tivesse ido tão bem quanto ela, para que ele não corresse o risco de repetir o ano e ir para na minha turma, no semestre seguinte.
- Ei Jones. – disse ele, depois que os três se aproximaram de mim do lado de fora da escola. – Como foram suas notas?
- Boas. – respondi.
- Viu o que o seu namoradinho está na Berlinda? – ele perguntou.
- Eu não tenho namoradinho. – disse eu.
- Deve ser porque você é tão criança que ainda não sabe usar a língua para beijar.
Alex falou, e então eu olhei para Dênia.
- Eu nunca disse que você beijava mal. – disse ela, me olhando como se soubesse sobre o que eu estava pensando. – Foi o Caleb. E ele disse que vocês não são mais amigos, porque não aguentava mais você dando em cima dele, e de muitos outros caras.
- Ele não disse isso. – eu falei.
- Disse sim, agora pouco, um pouco antes de você chegar, depois de ter feito a prova pra recuperar suas notas, como o Alex. – Dênia falou.
- Como ele pode ter aparecido por aqui, se ele está em Londres? – eu indaguei.
- Pelo jeito o Caleb estava falando a verdade. – Alex riu.
- É verdade Ian. A gente falou com ele hoje mais cedo. – disse Cassie, e nela eu acreditei. Porque ela nunca foi de fazer zoações. - Ele parecia bem magoado quando falou sobre você. Mas talvez, tenha sido reflexo das suas notas ruins. Você sabe... - Cassie tentou soar amigável. - Ele estava preocupado com as notas.
- Até o seu melhor amigo te faz de idiota. – Alex falou, e deu um empurrão no meu ombro. – Muito babaca mesmo você.
- Vá se ferrar! – eu disse, e dei as costas para eles, segui caminhando pela calçada, até decidir atravessar a rua, ao perceber que Mark estava do outro lado.
- O que você faz aqui? – perguntei, me aproximando do carro dele.
- Observando o quanto você é submisso. – respondeu ele, retirou os óculos escuros, e depois deu uma olhada funda para o outro lado da rua, para o Alex parado conversando com as garotas.
- O que queria que eu fizesse? - perguntei, certo do que ele estava tentando dizer.
- Desse um soco bem no meio na cara dele. – Mark falou.
- Tá maluco? – indaguei. – Ele me mataria em seguida.
- Ele iria precisar de um tempo até assimilar o que estava acontecendo. Porque ele não espera que você faça isso. – disse ele.
- Ele ainda assim me mataria depois que assimilasse o que estivesse acontecendo. – insisti.
- Nesse meio tempo você aproveita e corre.
Mark disse, e então eu ri. Sem saber exatamente o motivo. Só achei graça. Eu me daria mal de todo o jeito.
- Quer carona para a casa? Aproveita que ser bonzinho é uma coisa que só acontece comigo no Natal. – ele falou, e voltou a por seus óculos escuros.
- Pode ser. – aceitei a carona, evitando pensar no que os três haviam me dito há pouco.
Não toquei no assunto com o Mark. Só seria mais um a dizer coisas que eu não estava disposto a escutar. E quem poderia afirmar com total certeza de que, Cassie não estava envolvida no plano deles idiota de tentar me deixar chateado perto do Natal? Jamais funcionaria. Sinto muito Alex.
- Ian. Você não vai descer? – a mamãe perguntou do lado de fora da porta. - É véspera de Natal.
- Não. – respondi quase como um grito - Obrigado.
- Sai dessa cama, docinho. – disse ela, depois de abrir a porta.
- Não. - insisti.
- Anda Ian. Arruma-se filho, que temos muito para fazer até a ceia. – a mamãe falou, e puxou a coberta, depois foi até a janela, abrindo as cortinas.
- Não me sinto muito bem. – falei, tentando salvar os meus olhos de derreterem com a luz forte que atravessou a janela.
- O que você tem? – ela me encarou preocupada, e se sentou ao meu lado na cama.
- Eu não sei. – respondi.
- Deixe-me te ver. – a mamãe disse, levando sua mão na minha testa, e depois pro meu pescoço. - Você está quente. – ela falou, depois gritou para o papai. – Thomas vem aqui. Tomie!
O papai não demorou a subir, preocupado com o tom da voz que a mamãe usou.
- O que foi querida? – perguntou ele, se aproximando da minha cama.
- Acho que o Ian não está muito bem.
Disse ela. E o papai fez o mesmo ritual que a mamãe fizera há pouco.
- Acho que é febre. – disse ele.
- Eu estou morrendo? – dramatizei.
- Não. Você vai ficar bem. – o papai falou. – Vou pegar um remédio, se não melhorar a gente procura um médico.
- Mas é véspera de Natal. – a mamãe lembrou. E o papai fez uma cara de pensativo.
- Deve haver algum de plantão. Uma farmácia, uma curandeira, um padre, um exorcista.
- Pai. Por favor! – eu o repreendi. E o papai nem percebeu o quanto ele estava exagerando.
- Fique aqui. Eu pego o remédio. – disse a mamãe para o meu pai, se levantou, e seguiu pela porta aberta.
- Vamos trocar essa camiseta. – o papai falou. E foi até o meu armário para pegar uma seca e limpa. – Você está todo suado.
- Eu estou morrendo. – falei, depois fiz um esforço para me sentar, quando o papai agarrou o meu braço e me trouxe para cima.
- Não está não. – respondeu ele. E puxou minha camiseta de mim. Depois me ajudou a vestir a outra limpa. – O que é isso? – o papai perguntou, encontrando a carta do baralho do Caleb na minha cama.
- Não é nada. – eu disse. Me agilizando a escondê-la debaixo do meu travesseiro.
- Ai meu Deus. – mas ele já fazia ideia do que se tratava. – Ian. Isso precisa acabar. – o papai falou. Eu não gostei do tom de voz que ele usou, um que ele só usava quando estava mesmo muito chateado comigo.
- Como?
- Eu não sei. Mas você precisa esquecer esse menino.
- Me ensine como. – insisti, e fiz um esforço para não chorar. – Porque isso dói tanto?
- Eu sei. Mas, você precisa se esforçar para seguir adiante. E não deixar que isso te derrube. Você é muito novo para viver um único amor.
- O senhor também era novo quando conheceu a mamãe. E ela é o amor da sua vida, mesmo sendo tão burra. - falei.
- É diferente Ian. Talvez você e o Caleb tenham confundido uma grande amizade com algo maior.
- Foi o que ele disse. - contei ao papai, sem querer me lembrar da última conversa que tive com o meu ex-melhor amigo namorado. - E o senhor pode, por favor, virar-se de costas? – perguntei.
- Por quê?
- Porque eu quero chorar. E não quero que o senhor veja isso. – respondi.
- Minha pequena criatura. – o papai disse, então seus braços me acolheram, e eu recostei o rosto no peito dele, quando ele se ajeitou sobre a minha cama, e passou a me segurar mais perto.
- Acha que eu sou ridículo? – eu perguntei, deixando escapar algumas lágrimas silenciosas.
- Não. Você só tem um coração bonito. – respondeu o papai. – frágil, mas bonito.
- Isso quer dizer que sou ridículo. – disse eu, e tentei rir, para que ele soubesse que estava tudo bem. Mas minha risada soou mais como um soluço.
- Ser ridículo pode ser legal, se você parar para pensar bem. Bom, nesse caso. – o papai disse. – Sou ridículo todos os dias por causa da sua mãe. E por ela estou disposto a ser ridículo alguns anos mais, até que me falte ar nos pulmões – e continuou. Então mesmo chorando eu consegui sorrir. Porque o papai sempre, de um jeito e de outro, tem a coisa certa para dizer. Mas eu não estou convicto de que ele sabe disto. Ainda. Ele ficaria insuportável.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.