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História Playing Favorites - Capitulo 35.


Escrita por: disarray

Capítulo 36 - Capitulo 35.


Caleb

Diante das lembranças que trago dele, tudo o que eu penso é: em como eu gostaria de ter enfiado minha mão em seu peito, e arrancado o seu coração, para que ele não sofresse com a minha ausência, propositalmente causada pelo meu egoísmo.

Ian fez uma careta, piscando com um dos olhos, no dia que tiramos a fotografia, que eu sempre carrego comigo, dobrada em duas partes, dentro da carteira, junto ao ingresso velho de uma banda que eu nem curto. Ele não sabe. Ninguém sabe. A imagem precisa mesmo ser atualizada. Já faz dois anos, desde o show do Green Day, de onde o Ian saiu feliz e triste ao mesmo tempo, porque Billie Joe não tocou Jesus of Suburbia, uma das suas canções favoritas.

Foi ideia do senhor Jones comer em um fastfood depois, o pai do Ian parecia um pouco cansado, e com dor de cabeça, deve ter sido por causa do barulho. Ele se esforçou muito para parecer bem diante de nós. É por essa e outras pequenas coisas, que eu o admiro. E digo ao Ian o tempo todo em como ele tem sorte pela família que tem.

Ian não é muito de comer. Ele é como uma daquelas pessoas que nunca terão problemas com dietas, porque não são fãs de comida como eu. Bom, isso vale só até alguém colocar uma porção de batata fritas na frente dele.

- Ian, come direito! – o pai dele falou. Mas o menino, ainda encharcado de adrenalina pós-show, não conseguia parar de contar o quanto estava animado, e decepcionado, e várias emoções ao mesmo tempo.

- Eu não acredito que você não gosta de hambúrguer. – eu disse, e ele me respondeu com um olhar desagradável de reprovação.

- Eu gosto. Só não estou a fim disto agora. - disse ele.

- Eu adoro carne, eu comeria uma pessoa se ela fizesse mu para mim. - falei, imitando o animal.

Então ele riu, porque finge achar graça de qualquer piada boba que eu digo, só para não me deixar constrangido. Como costuma mentir com frequência nos meus truques de mágica, desde que eu me acostumei a errar de proposito, só para ter certeza, toda vez, de que ele não é mesmo capaz de dizer algo que possa me chatear.

Às vezes, eu odeio isso nele. Outras, me faz amá-lo com muita força, porque sei que nenhuma outra pessoa faria igual. Me embrulharia com tanto cuidado.

- Caleb, desce pra jantar. – meu tio apareceu na porta, e eu fechei a tela do meu laptop ao vê-lo. Eu disse a ele que estava com saudades, que queria visita-lo depois que as aulas terminassem. Mesmo com as minhas notas terríveis, eu não me importaria em perder a semana final.

Meu tio Sebastian é um cara legal. O único irmão que minha mãe tem. Ele é mais velho, e não tem filhos. Ele costuma dizer que é por que decidiu ser um cara livre para estar aonde quiser estar, e quando quiser estar. Eu acho que ele está certo. O amor nos prende de uma maneira absurda, que mesmo separado da outra pessoa, ainda sim, não conseguimos dar um passo para longe.

- Como está o jantar hoje? – meu tio perguntou. É a segunda vez na semana que ele pede comida chinesa. Eu quero dizer a ele o quanto isso é terrível, mas estou aqui de favor, então fico calado.

- Uma delicia. – respondi. E forcei um sorriso.

- Caleb. Você sabe que pode falar com seu tio sobre tudo. Não sabe? – disse ele. E eu respondi com um balançar de cabeça. – Sobre o Ian também. Ele ainda é seu melhor amigo?

- O senhor sabe... Sabe que as coisas mudam depois que a gente cresce. Fazemos outros amigos. Adquirimos obrigações, e toda aquela coisa.

Respondi para ele. Certo do que todo mundo já sabe faz tempo: A maioria dos seus amigos de infância, não continuarão seus amigos na sua vida adulta. Isso acontece porque a vida costuma mesmo espantar as pessoas para caminhos diferentes.

- Seus pais me contaram sobre vocês.

Ele me contou, e isso realmente me pegou de surpresa.

- Eu não acredito. Com que direito eles falam assim da minha vida.

- Hei. Acalme-se. Eles são seus pais, só querem o seu bem.

- O meu pai me odeia. – eu disse, mas a resposta para o que realmente estava me afetando, só veio em seguida. - Como o Ian deve me odiar agora.

- Você pode agir como um idiota, e fazer algo imperdoável para qualquer um. Que o Ian não será capaz de te odiar.

- Como pode ter tanta certeza disto?

- Eu o conheço. Sei que ele é louco por você.

- O Ian é impulsivo. E imaturo. Não quero que ele se machuque por minha causa. Porque eu não consigo aceitar que ele tenha uma vida, além de mim.

- Já parou para pensar que estar aqui, longe dele, não está o machucando também? E essa sua atitude não te torna tão impulsivo, e imaturo como você diz que ele é?

Tio Sebastian está certo, e eu o odeio um pouco por isso, odeio a mim ainda mais por odiá-lo.

- É diferente. Isso vai passar.

- Bom. O coração é seu. Você é o único responsável pelas escolhas dele.

Disse meu tio, e depois se levantou da mesa, jogando o resto da sua comida no lixo. Virou as costas, e passou a lavar a louça.

Não disse mais nada. Deixou-me pensando sozinho. Ele não sabe o quanto isso é perigoso. Meus pensamentos, às vezes, eles me traem.

- Eu não quero surtar por um garoto, é contra a natureza de um homem. – eu disse, depois de um tempo. – Não quero ficar bravo, e dizer coisas para ele que não quero na verdade dizer, mas vou dizer por que estou chateado sem motivos. Não quero agir como se fosse uma garota insegura.

- Se é sem motivos, então porque se chateia? E não são só as garotas que tem crises de inseguranças, e ciúmes.

- Não gosto da ideia de que ele faça coisas sem mim.

- Caleb. Você não pode ser egoísta dessa forma. – disse tio Sebastian. – O amor são dois mundos completamente diferentes, que se aceitam, e estabelecem um equilíbrio.

- Como pode saber tudo isso, se o senhor nunca amou alguém?

- Isso não é verdade. Mas por ter pensado exatamente como você, eu estou aqui. Não me achava capaz de dividir meu mundo com outra pessoa. Não me achava digno de fazer parte, nem que fosse uma parte bem pequena, da vida de alguém. Todas as outras, milhares de coisas na vida dessa outra pessoa, pareciam maiores que a mim. – disse ele. – Não pense que ele não está sofrendo, porque te odiar é o caminho mais fácil. Nem todos escolhem o caminho mais fácil.

- Isso não é, e nunca foi fácil. Tio. O senhor não sabe como é dar cada passo, com tudo a sua volta dizendo que você está fazendo a coisa de um jeito errado.

- Isso tem relação com o que pensa o seu pai?

- Também. Amar o Ian dessa forma foi errado. Queria que ele fosse apaixonado, perdidamente apaixonado por mim, como sei que ele é. Mas ao mesmo tempo, não queria gostar dele, do jeito que eu gosto, porque é errado. 

- Não é errado ele gostar de você. Mas é errado você gostar dele, porque o seu pai diz que isso é errado?

Acho que meu tio chegou no ponto exato.

Mas, eu não sei se o meu amor pelo Ian é maior do que o orgulho que quero que o papai sinta de mim. E se a gente não for mesmo para dar certo? Ele me deixa. E eu não terei mais o meu pai. Não terei mais nada, só lembranças. Que humano é capaz de viver só de lembranças?



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