História Please - Chocolate

"Eu gosto de doces, mas no fundo sempre preferi salgados, você sabe. Eu não sou muito de comer. Mas já você... Sempre teve uma paixão secreta por chocolate. Difícil achar alguém que não tenha, ou desgoste disso. Enfim, essa é a palavra chave de hoje. Chocolate. 

Lembro-me da primeira vez em que comprei chocolate para você depois de termos nos tornado namorados.

Você estava jogado no chão da sala, cansado do dia cheio. Eu não tinha chegado em casa ainda, mas você falava comigo pelo celular. Estava indo para loja de conveniência perto de casa comprar nosso jantar e vi os doces postos no balcão do caixa, decidi comprar-te uma barra para animar-lhe. O seu cansaço era visível quando cheguei. Sentei-me ao seu lado com a sacola de compras junto comigo; você perguntou-me o que tinha trazido para comermos, olhei para a sacola e tirei de lá o chocolate, dizendo que era um presente. Seu olhar desatento e desanimado logo mudou para um desacreditado. Você riu baixinho, sem acreditar. Pegou o chocolate e perguntou se poderia comer antes do jantar, concordei.

Havia ido organizar o jantar e quando voltei, deixei-o sobre a mesinha da sala. Você ainda estava no mesmo lugar, havia comido alguns dos bloquinhos da barra de chocolate. Ia esperar a comida esfriar um pouco, então sentei ao seu lado. Você puxou-me para o seu colo e ri da forma desajeitada em que estava. Agora frente a frente, você me beijou e agradeceu pelo doce. Pegou um dos bloquinhos do chocolate e colocou na boca, deixando-o lá enquanto eu olhava sem entender. Você esperou, mas como não ia, revirou os olhos e aproximou-se do meu rosto novamente. Nossas bocas estavam próximas, somente o chocolate entre elas. Você fez eu morder o pequeno pedaço, juntando nossas bocas em um selar. Sorriu satisfeito ao final, passando a língua pelo lábio para sentir o gosto açucarado. Fizemos isso com todos os outros pedaços do chocolate que restava, sem trocar muitas palavras, parando apenas para rir quando um dos pedaços caiu de sua boca sobre o meu colo, babado. É uma boa memória. Nesse dia, terminamos por jantar a comida já fria e permaneçe mos no chão, cansados, mas um pouco mais animados.

Chocolate... quente! Você conseguiu dormir até o meio da tarde aquele dia e quando saímos você parecia um zombie de tão abatido que estava, seria capaz de dizer que ainda estava com sono. Sugeri que fôssemos tomar café, mas você negou alegando que ficaria energético demais. Mudei para um chocolate quente e você aceitou de bom grado. Após ele sua agitação foi tanta que cheguei a perguntar-me se era a mesma pessoa. Você ficou pulando tanto e mexendo as mãos no ar que fiquei atordoado. Um tempo depois descobri que você havia mesmo é queimado a língua com o líquido quente.

 Ah, você não sabe, mas eu parei para pegar uma barra de chocolate. Falar tanto disso me deu fome... E como já comi, nada mais justo do que uma pequena sobremesa! O que me lembra o fato que para você chocolate poderia ser muito bem uma refeição... Já perdi as contas das vezes que senti vontade de preferir falar com uma porta do quê a você ao discutir sobre isso. Duas pessoas teimosas tendem a teimar em dobro, afinal.

 Falando ou escrevendo sobre isso, dependendo do seu ponto de vista, lembra daquela vez que você me chamou de má influência? Eu disse que não te compraria mais chocolates. Logo depois você apareceu gritando que era mentira e que eu não devia parar de comprá-los. Eu te chamei de interesseiro por implicância, recebendo um "Eu te amo". Eu estava certo, mas você também. Perguntei-te qual queria, branco ou preto. Você escolheu um misto, o que era novidade. Vi também naquele dia alguma das suas péssimas tiradas românticas, ainda mais com chocolate.

Não consegui te dar ele ainda aquele dia, então no outro dia quando te dei boa tarde, você foi logo perguntando por ele. Hm, interesseiro. Havia deixado ele na cabeceira do quarto e você perguntou-me se estava na geladeira, pedindo para que não estivesse, porque alguém poderia ter comido. Imagino sua expressão de indignação se isso acontecesse. Mas agradeci pelo gesto amável ao dizer que aceitaria ao menos se fosse eu ao comê-lo.

Obrigado ao criador do chocolate, por me proporcionar momentos simples como esses, que são tão especiais para mim que consigo recordar-los. Desejo momentos tão doces para você como esse doce, que tenho a graça de comer agora. Quem sabe um dia sua paixão por chocolate passe para algum outro doce. De qualquer forma, não esqueça de escovar os dentes!"