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História Please, Die! - Bicho-Papão


Escrita por: FanfictionMe

Capítulo 2 - Bicho-Papão


POV. Rose

Assim que a luz do sol encontra meu rosto, sou levada de maneira rápida para fora dos meus habituais pesadelos. Outra noite, outro pesadelo. O mesmo jovem pálido, belo e com cachos negros. Os mesmos olhos torturados me sussurrando “Por favor, morra”. Me sinto cada vez mais exausta com essa rotina de devaneios, pesadelos e humilhações. Porém essa rotina é tudo que conheço.

Tomo um banho rápido, faço minha higiene pessoal e penteio meu longo cabelo ruivo. A única coisa que me identifica como Weasley. Porque eu não herdei a inteligência da minha mãe e, sem dúvida, não tenho o talento para ser uma boa amiga, como meu pai. Minha única amiga é uma fantasma temperamental e depressiva. Pego alguns elásticos azuis e faço uma daquelas tranças laterais. Passo uma maquiagem leve, que se resume em um batom e rímel. Nada me faria passar normal mesmo.

Desço as escadas tentando parecer ao máximo invisível. Mas eu nunca ouço coisas depreciativas na minha casa. Agora, Sonserina é outra coisa. Principalmente com Scorpius no meu pé. Ah, Scorpius Malfoy. Minha paixonite desde do primeiro ano, que começou a me notar no terceiro ano e do jeito mais negativo possível. Ele sempre zomba de mim. Principalmente nas aulas de DCAT.

No Salão Principal me sento na mesa e como frutas e panquecas bem rápido. Quase não sinto o gosto. Tudo isso pela falta de habilidade social. Comecei a odiar aglomerados. Se bem que desde que Hogwarts começou a ser atacada, a escola ia ficando cada vez mais vazia. O primeiro e segundo ano haviam sido totalmente dispensados, após a morte de duas garotas. E todos os dias, mais e mais alunos acabam indo embora.

Na verdade, eu estava bem mal com a minha família por isso. Recusei-me a ir junto com meus primos e Hugo. É que em casa eu me sentia tão deslocada quanto sentada nessa mesa. Todos aparentavam sempre estar decepcionados. Eu não me parecia com o resto da família. Então eu optei por ficar em Hogwarts, onde sempre haveria um banheiro e uma biblioteca para esconder minhas lágrimas. Além do mais, esses sonhos que eu tenho… E se piorasse em casa? Ou se alguém descobrisse que sonho com Tom Riddle?

Caminho até o segundo andar com calma e meio que me escondendo nas sombras. Tudo que eu não preciso é que o Malfoy me veja conversando com a Murta Que Geme. Seria o fim de qualquer respeito e o começo de uma nova onda de piadas. E eu não aguentaria e choraria na frente de todos. E por mais que eu jamais admitirei em voz alta, ter a Murta como amiga é melhor do que nada. Perto do banheiro já ouço os lamentos dela.

— Quem está aí? — Murta pergunta com aquela voz chorosa irritante. Assim que me vê abre um sorriso. Murta já me confessou que eu sou a única amiga dela — e a primeira— ela sempre gosta de me ver aqui. Porém isso para mim é um pesadelo algumas vezes. — Ah, Rose! Não tem aula? — Ela entorta a cabeça com uma cara sonsa. Isso é humilhante.

— Tem sim Murta. — Respondo. Vou até a pia e jogo um pouco de água no rosto. Mantenho-me bem longe da pia que abre a Câmara Secreta, apesar de não ser ofidioglota para conseguir tal feito. — Só não começou. Quis passar para dizer bom dia.

— Ah não, é um péssimo dia. — Soluça ela. — Eu aqui, nesse banheiro…Morta!

Ela saiu voando, deslizando, ou o que for que os fantasmas fazem para se locomover e mergulha de cabeça em um vaso sanitário. Francamente, Murta nunca superará a morte dela. E eu sou obrigada a escutar suas queixas. Eu volto aqui depois, para tentar em vão animá-la. Tenho que me apressar ou vou me atrasar para mais uma humilhação em DCAT. Corro apressada e finalmente chego na sala, toda ofegante. Deixo escapar um gemido assim que vejo a fila de alunos e um armário velho no centro da sala.

Todos estão muito agitados e felizes. O mesmo não se aplica em mim. Com as mortes recentes — e eu não entendo como Hogwarts ainda não foi fechada — acharam que uma aula de defesa contra bicho-papão animaria a todos. Mas isso jamais me animaria, não quando eu não tenho ideia do que teria que enfrentar. Odeio DCAT. Além de ser péssima na matéria, minhas aulas são junto com a Sonserina. Sempre que eu cometo um mínimo erro, Scorpius zomba de mim. E eu não faço ideia do meu maior medo, não sei no que o Bicho-Papão irá se transformar. Meu estômago dá uma volta e as panquecas ameaçam voltar.

Seguro minha varinha com força. Só mais algumas pessoas e já sou eu. E para piorar o garoto novo está aqui também. Eu ainda não sei seu sobrenome, mas seu primeiro nome é Hunter. Não me perdoo por pensar sobre seus olhos claros e de como ele é bonito. Se concentre no que é importante agora, Rose!  Minha consciência grita comigo. Mesmo assim continuo olhando-o pelo canto do olho. Ele está conversando com o Malfoy. Nem tudo é perfeito. Na minha vida, no caso, nada é perfeito. Se ele é amigo de Malfoy já me odeia. Ótimo. Calma, Rose, concentração.

Observo o Bicho-Papão ir mudando de forma a cada aluno que toma a frente. Para uma aluna de cabelos claros da Sonserina, ele se transforma em um cobra gigantesca. Para Melissa, Grifinória, se transforma em uma águia gigantesca. Começo a estralar os dedos, não quero olhar. Não faço ideia do que me aguarda. Começo a cantarolar baixinho, tentando me acalmar. Falho miseravelmente.

— Srta. Weasley. — Assim que o professor chama minha atenção, dou um pulo e ando para frente. Scorpius já está rindo baixinho. Sei que a essa hora meu rosto está tão vermelho quanto meu cabelo.

Olho para o bicho-papão. Sua forma de palhaço já está desmanchando, enquanto um jovem começa assumir sua forma. É o jovem dos meus sonhos. Bonito e com cabelos escuros. Ele sorri de um jeito bem sádico. Depois sua cabeça gira, como naqueles filmes de exorcismo clássico. Começo a entrar em pânico. Não existe uma maneira de transformar isso em algo engraçado ou divertido. Sua cabeça volta para a posição normal. Mas seu rosto não é mais o mesmo. É branco como osso, com fendas em lugar de nariz e sem nenhum cabelo escuro e brilhante. Nunca vi esse rosto. Mesmo assim estou acuada de medo. Gritando e chorando. Mas Scorpius não está zombando. Ninguém está. Posso jamais ter visto esse horrendo rosto, ainda assim sei a quem ele pertence. Voldemort.

O professor corre para desviar a atenção do bicho-papão, que se transforma em um vampiro e em seguida em um vampiro somente com roupas de baixo e touca de banho. E o que eu faço? Ah, faço o que estou acostumada. A única coisa que sei fazer, ou seja, correr. Corro desesperada pelos corredores, mas já sei aonde estou indo: o banheiro do segundo andar. Não preciso pensar, meus pés conhecem o caminho.

Entro no banheiro em prantos. De quem eu estou me escondendo? E porque diabos, meu bicho-papão é aquilo? Aquela imagem continua me assustando. De todas as pessoas do mundo, isso tem que acontecer comigo?! Como Murta não está aqui permaneço no silêncio. Apenas continuo chorando na pia. Queria ser ofidioglota e abrir essa câmara. De vez em quando a escola faz excursões até lá embaixo. Mas agora ela está vazia. O que eu devo fazer? Ir para casa e implorar para frequentar qualquer outra escola de magia? Simplesmente fugir? E se esses sonhos com Lord Voldemort não parassem? E se eu continuasse a ouvir “Por favor, morra” por toda minha vida? Suspiro alto.

Jogo um pouco de água no rosto. Vejo meu reflexo pálido. Minhas mãos estão trêmulas. Agora eu sei qual é meu maior medo. É um bruxo das trevas morto há anos. E sua forma mais jovem. Estou ficando louca, já não basta tudo que eu sou obrigada a ouvir? As coisas das quais eu sou obrigada a abrir mão? É como se meus sonhos e desejos estivessem estampados nesse reflexo. Mas tão distantes. Nunca vou ser o orgulho da minha mãe e jamais agradarei meu pai. Meus primos sempre serão mais populares do que eu. Scorpius jamais me olhará de outra forma.

Já posso prever meu futuro e dispensar as aulas de Adivinhação. Ou eu me torno uma fantasma lamentadora e perturbada que nem a Murta…Ou aquela tia chata e solteirona que não perde a oportunidade de perguntar sobre os namorados. Seco o rosto de forma improvisada com o uniforme. Começo a andar de volta pelos corredores, mesmo sem a menor vontade de estudar. Porém eu sempre tenho um fator em meu favor. Sou boa de superar e ignorar coisas ruins. Ou já teria surtado.

Na hora do jantar o Salão Principal está com mais alunos do que mais cedo. Escolho comer um pouco de ensopado e pudim de carne. Bebo suco de abóbora e tento ignorar os olhares sobre mim. Essa história se espalhou mais rápido que uma aparatação. Meus olhos jamais saem do meu prato. Mastigo tudo duas vezes mais rápido que normalmente. Quero sobremesa, porém não quero esperar muito. Preciso de algo doce para ajudar com esse péssimo dia e essa dor de cabeça.

Quando finalmente os pratos salgados dão lugar a montanhas de bolo, sorvete e calda de caramelo, suspiro aliviada. Como sorvete de morango com calda de chocolate e bolo de chocolate com musse. Levanto-me da forma mais discreta possível, já com os dedos no cabelo, desfazendo minha trança perfeita. Quando saio do Salão, meus cabelos já estão soltos e ondulados até minha cintura.

Vou andando com passos silenciosos até o banheiro feminino do segundo andar. Não é uma tarefa difícil, já que todos estão ainda comendo suas sobremesas. Só preciso ser um pouco rápida, para não ficar para trás e ser pega de noite nos corredores.

— Murta? —Chamo. Ela sai voando de um box, fungando. Ela abriu um mínimo sorriso ao me ver. Sento-me no chão, em um local seco. Acho que eu e Murta podemos jogar um jogo. Murta é um fantasma, então fica sabendo de muitas coisas sobre os alunos. —Me conte um pouco do que ficou sabendo essa semana Murta.

— Hm, vejamos. — Diz ela, se movendo sem parar. — Martha Grace, do sexto ano está grávida. — Faço uma cara horrorizada, mas Martha nunca enganou ninguém. Rebolando sem parar pela escola, piscando seus olhos azuis para tudo que se move.— Andei espionando os meninos também. — Diz ela com um sorriso travesso e começa contar tudo que sabe.

Fico um bom tempo com Murta, que me conta segredos de vários garotos, de várias idades. Porém ela se foca mais nos garotos mais populares da escola, frequentadores do banheiro dos monitores. Fico constrangida de me interessar pelas coisas que ela diz, porém não posso evitar dar risadas com as histórias que vão ficando cada vez mais hilárias.

— Ah, Rose. — Suspira Murta de um jeito suspeito. — Acho que estou apaixonada. — Ela dá uma cambalhota no ar.

Tento controlar a vontade de rir ou de, pelo menos, fazer uma careta.

— Por quem Murta? — Ela dá uma gargalhada, como se nunca tivesse se apaixonado ou, pelo menos, confessado antes.

— Pelo novo monitor da Sonserina. — Dou um sorriso, apesar de não fazer ideia de quem seja. Sou uma grifinória, apesar de tudo, o que acontece na Sonserina não me interessa.

Despeço-me dela de forma rápida, assim que descubro que horas são. Estou oficialmente burlando regras da escola ao andar tão tarde pelos corredores. Não quero correr para não chamar atenção, mas começo a ficar desesperada para chegar no dormitório. Quando estou quase chegando na Mulher Gorda, esbarro em alguém.

Vou ao chão com a força do impacto. Enquanto me ajeito e esfrego o corpo onde bati, a pessoa apenas me observa. Ótimo, Rose! Grita minha consciência, já em prantos. Fui pega por um monitor, para melhorar meu dia. Levanto-me, pronta para pedir desculpas e implorar que ele não me dedure. Porém as palavras se perdem antes de chegarem a minha boca. Então esse é o novo monitor da Sonserina. O garoto novo. O lindo e maravilhoso garoto novo.

 



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