Ouvi batidas na porta do meu quarto, minha mãe sempre fazia isso para avisar que o jantar estava pronto. Logo depois ela desceu a passos apressados pela escada.
Olhava para o teto branco e tedioso do meu quarto. De tempos em tempos lágrimas Derek havia feito desde que chegou.
Começou com abraços maliciosos, olhares quando minha mãe não estava por perto e agora tentativa de estupro.
O que dizer de hoje? Assédio sexual. Na verdade tudo que ele tem feito até agora se resume a isso.
Eu estava sozinha e sofrendo. A quem contar? A polícia? Não, isso não daria certo.
Minha mãe seria capaz de desmentir meu depoimento. Ela estava tão cega por ele que poderia me botar na rua se eu dissesse mais alguma "mentira".
–S/N, SAIA LOGO DESSE QUARTO! – Minha mãe berrou. A gritaria nessa casa já virou rotina.
Eu não estava com a mínima fome, e não aguentaria comer do lado daquele idiota. Eu não poderia descer e sentar naquela mesa como se nada estivesse acontecendo.
Eu não tenho coragem para isso....
–S/N?? NÃO ESTÁ OUVINDO?
Fui correndo em direção a porta, a minha paciência tinha se esgotado, eu não aguentaria mais nada calada. Se minha mãe não acreditava em mim, pouco me importava.
Se antes eu era a menina quieta que não fazia nada e ainda era taxada como problemática, agora eles vão ver o que é ter uma filha rebelde.
–PARE DE GRITAR, AQUI NÃO É UM HOSPÍCIO! – Berrei.
Logo depois, voltei ao meu quarto batendo os pés fortemente no piso. Fechei a porta bruscamente pela raiva e a tranquei logo em seguida.
1 minuto.
Foi o tempo necessário para que ela viesse atrás de mim.
Ouvi batidas na porta novamente.
–Você me respeita que eu sou sua mãe! Quem está pensando que você é?
Ela estava praticamente dando murros na porta.
–ABRA ESSA PORTA!
Peguei meu celular e fui em direção a janela. Se eu tomasse certo cuidado eu poderia atravessar o telhado e descer em uma escada pregada a parede que tinha ali.
–S/n? Derek disse com voz calma. –O que está acontecendo? Por que gritou com sua mãe?
Meu padrasto realmente queria se passar por bom moço. Ele conseguia me tirar do sério só estando ali.
–Você é mesmo um cínico Derek! – Digo.
Logo depois me viro na direção da janela para abri - la.
–S/n, se está com raiva de mim, não desconte nele. Ele te ama e quer te ver bem assim como eu. PARE DE TENTAR CHAMAR ATENÇÃO E ABRA LOGO ESSA PORTA.
Fiquei em silêncio.
Derek só queria me estuprar até não poder mais.
Minha mãe amava mais ele do que eu e isso estava claro.
Eles não queriam me ver bem.
Eles nem se quer se importavam comigo.
–MENTIRA! VOCÊ NÃO LIGA PARA MIM! – Gritei.
Aquela altura, eu já chorava que nem uma criança de dois anos querendo um doce.
Pela primeira vez ali, não ouvi minha mãe rebatendo de imediato. Vê - la em silêncio era uma raridade. Ela sempre tem uma resposta na ponta da língua.
O meu choro foi parando aos poucos, eu estava me acalmando e com certeza preparada para sair daquele quarto.
Quando eu menos esperava, minha mãe entrou no quarto seguida por Derek.
Como eles conseguiram a chave?
–Eu faço de tudo por você S/n, e o que recebo em troca? Desrespeito e gritos.
Você ja se deu o trabalho de me agradecer pela casa, pela comida na mesa e conforto que você tem? – disparou de forma rápida.
–Que conforto mãe??? Eu tenho que conviver dia após dia com um tarado dormindo no quarto ao lado e uma mãe que nem se quer acredita em mim!
–PARE DE INSISTIR NESSA HISTÓRIA! Eu não acredito em você porque eu sei que NÃO é verdade!
–Se acalme, não precisa gritar com ela! –Meu padrasto dizia a minha mãe.
–Preciso gritar para que ela APRENDA! – gritava.
–APRENDER A FICAR CALADA QUANDO ALGUÉM TENTA ME ESTUPRAR?
Ao dizer isso, a feição de minha mãe mudou. Eu podia ver que ela estava com raiva, mas também triste.
Um tapa no rosto.
Foi o que ele me deu em troca
Outra vez.
–Respeite o seu padrasto!
Ela continuava batendo.
Quanto mais ela batia, eu ia me protegendo com as mãos no rosto, cada vez mais, dando passos para trás.
Caí no chão.
Derek segurou minha mãe e a puxou para longe de mim. Me encolhi em um canto com o intuito de que ela não decidisse me bater mais.
–Bater nela só vai piorar as coisas... – Ele sussurrava para minha mãe.
– Derek? – Chamei. Ele pareceu se surpreender pela minha voz calma ao chama - lo.
–O quê? – Disse. Os dois olhavam para mim atentamente.
–Já pensou em fazer curso de teatro? Você é um ótimo ator!
Um ar de decepção se instalou pelo local. Talvez minha mãe tenha ficado na expectativa de que eu pedisse desculpa ou algo do tipo.
–Vamos terminar o jantar querida! – Meu padrasto a puxava para fora do quarto.
–Devia seguir minha dica, você vai ganhar dinheiro com isso! – A medida que ele ia embora, eu aumentava o tom de minha voz.
A porta se fechou.
Fui ao espelho para ver o estrago que minha mãe fez em meu rosto. A área dos tapas ardia muito, mas eu poderia suportar a dor.
Quando me vi tomei um susto.
As minhas duas bochechas estavam completamente vermelhas. Minha mãe havia exagerado na força. Analisando meu corpo, percebi que uma parte do meu braço, onde Derek segurara fortemente, estava um pouco roxo.
Parecia que eu havia sido espancada ao julgar pelas marcas. Na verdade, foi quase isso. Minha mãe só não bateu mais porque foi impedida.
Como aparecerei assim na escola amanhã?
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