História Pó de arroz - Capítulo Único

Eu não sou uma criança, então entendo que nem tudo é como eu quero. Nem tudo eu posso tocar com as minhas mãos manchadas de esmalte; nem tudo eu posso conseguir com meus batons vermelhos. Eu sabia disso também. Eu não poderia roubar o dinheiro da minha família, não poderia conseguir um sugar daddy com a minha cara de criança e tampouco poderia me vender por uns beijos - porque não sou esse tipo de pessoa. Eu só queria uns jogos de videogame, uns visuais diferentes para os meus “bonecos” e alguns ícones diferentes. Por que parecia tudo tão complicado? Por que eu queria tanto meus jogos e não conseguia ver que meus armários de comida estavam vazios? Quando a minha irmã adoeceu, eu descobri que estava doente também. E escondi isso de todos os meus amigos. Estava tudo bem. Eu estava bem, até. Quando o prazo da minha irmã acabou, todos na família se agarraram à fé e eu me prendi na ignorância de que só estávamos assim porque o dinheiro que eles gastavam com bebidas era demais e que as moedas que eu caçava pela casa eram apenas minhas. Achado não é roubado. Só percebi que precisava abrir meus olhos quando era tão afeiçoada a jogos de console, que esquecia de meu peso e saúde. Mesmo assim, minha ignorância se fundia totalmente com o meu desejo por mais “visuais” e dinheiro.

Quando meus batons acabaram, eu nem liguei tanto.

Quando a internet não podia ser paga, eu fiquei sozinha.

Mas estava tudo bem, desde que eu mantivesse meu vício na ignorância.

Estava tudo bem se eu cobrisse tudo com pó de arroz.