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História Pobres almas desafortunadas - Bônus: A alegria de Cibelle


Escrita por: Jude_Melody

Capítulo 6 - Bônus: A alegria de Cibelle


Ela se encantou por ele desde a primeira vez em que o viu. Ariel era um jovem belo e educado que esboçava os sorrisos mais sinceros que Cibelle já vira em todos os mares. Sua companhia era sempre agradável. Ele sabia como conversar, como ouvir. Cibelle sentia-se cativada por aqueles olhos verdes tão cheios de vida que faziam os orbes castanhos dela parecerem escuros e vazios.

— Você tem uma voz linda, Cibelle — dissera ele logo após se cumprimentarem.

“Pelas barbas do Rei Tritão!” pensara a sereia. “Que jovem doce e gentil.”

Cibelle precisou de um único dia para se dar conta de como era sortuda por ter o adorável tritão como noivo.

Conforme o casamento se aproximava, ela ficava mais e mais alegre. Nadava de um lado para o outro em seu castelo, cantarolando feliz. As irmãs mais novas morriam de inveja. Sabiam o quanto um tritão como Ariel era raro. Elas acreditavam que, quando chegasse a sua vez, não teriam a mesma sorte que Cibelle.

— Não se preocupem, minhas caras irmãs — dizia a mais velha, alisando uma mecha de seus longos cabelos negros. — Vocês também encontrarão o amor.

— Então, você o ama, Cibelle? — indagou Marina certo dia.

A pergunta pegou a sereia sonhadora desprevenida. Ela só conversara com Ariel uma vez. Seria aquilo suficiente para dizer que o amava?

— Bom... Ele certamente me fará feliz — respondeu com cautela.

Suas expectativas estavam elevadas, mas não eram páreo para a tristeza que Cibelle sentiu ao descobrir que fora abandonada no altar. Durante horas, ela permanecera com a postura ereta, ignorando os comentários que todos faziam sobre o atraso do noivo.

— Aquele Ariel não tem jeito mesmo! Sempre ignorando as formalidades — dizia um.

— Eu ouvi dizer que ele não vem. Parece que estava insatisfeito com o casamento. Acho que não gostou da noiva — dizia outro.

— Quieta! A princesa Cibelle vai ouvir!

Quando a confirmação de que o casamento seria suspenso chegou, Cibelle jogou o buquê no chão e disparou para longe dali. Escondeu-se no quarto em que as criadas a arrumaram com tanto esmero e chorou até que sua respiração ficasse entrecortada. Tristonha e vazia, debruçou-se nas grades da pequena varanda a tempo de ver alguns guardas deixando o castelo.

— Princesa Cibelle — chamou um siri, adentrando o cômodo.

— Sebastião! — Ela juntou as mãos, esperançosa. — Alguma notícia?

— Bem... É... O príncipe Ariel... fugiu.

— Ele fugiu?! — Cibelle tampou os lábios, horrorizada.

— Tenho certeza de que não é nada de mais! — Sebastião apressou-se em dizer. — Ariel sempre foi muito tímido, talvez ele esteja apenas com medo do casamento.

O conselheiro real riu sem jeito, e Cibelle logo soube que ele estava tão nervoso quanto ela.

— Quero conversar com o Rei Tritão — disse, resoluta.

— Mas, princesa...

— Agora!

Ela passou em disparada por Sebastião, fazendo o pobre siri girar antes de cair de costas. Batendo sua cauda azul com o máximo de calma que podia, Cibelle dirigiu-se à sala do trono, onde o Rei Tritão conversava com uma peixinha amarela chamada Lilly.

— Eu não sei onde ele está, meu rei. Juro! A... A menos que...

— A menos que o quê, Lilly? — Ele bradou, aproximando-se dela.

— Bem, eu... Existe uma possibilidade de eu saber onde ele está...

— Onde? Diga-me!

— Bem... — A pobre peixinha parecia muitíssimo nervosa. A irritação do rei não lhe ajudava. Faíscas saltavam do tridente que ele segurava com força.

— O bruxo do mar... Eles estiveram conversando... — murmurou Lilly.

A voz do rei reverberou por toda a sala, fazendo as pilastras tremerem:

— O QUE DISSE?!

— Não me culpe, vossa majestade! — exclamou Lilly, chorosa. — Eu juro que não fiz por mal! Ariel pediu para guardar segredo, e eu achei que estava tudo bem, mas... O bruxo do mar... Deve ter sequestrado a Ariel. Ou, ou... Ou pior, meu rei. Talvez eles tenham firmado um contrato... talvez o Ariel...

— BLASFÊMIA! MEU FILHO JAMAIS FARIA ISSO! ELE...

O Rei Tritão calou-se, respirando de forma descompassada. Cibelle deixou seu esconderijo e se aproximou dele. Tocou seu braço com cautela.

— Meu rei...

— Cibelle. — A voz de Tritão suavizou-se. — Cibelle, querida, eu...

— Vamos atrás dele.

— Perdão? — O rei ergueu as sobrancelhas, espantado.

Cibelle não recuou.

— Vamos atrás do bruxo do mar. Junte suas tropas. Quanto mais cedo formos, melhor será.

Ele meditou por alguns segundos. Lentamente, começou a assentir, alisando sua barba.

— Sim, sim. Claro. Lilly, guie-nos até o esconderijo do bruxo do mar.

— Sim, senhor meu rei! — exclamou a peixinha, erguendo a barbatana em continência.

— Cibelle.

— Meu rei?

— Espere por mim, está bem? Trarei Ariel de volta assim que possível.

Agradecida, Cibelle fez uma profunda reverência.

— Minhas tropas estarão a seu dispor, meu rei.

— Obrigado. — Ele tocou sua nuca de leve, como se a abençoasse. — Precisaremos de toda a ajuda possível.

 

Cibelle acreditou que ficaria feliz quando Ariel finalmente fosse encontrado. Enganou-se. O jovem tritão adentrou o palácio cabisbaixo. Não dirigiu palavra a ninguém. Nem mesmo a Sebastião. Nem mesmo a Lilly. Tampouco a Cibelle.

— Ele passou por uma situação difícil — explicou-lhe o rei. — Espero que compreenda.

— Majestade, se houver alguma coisa que eu possa fazer, qualquer coisa...

— Só o tempo dirá, minha querida.

Ela esperou. Esperou até não aguentar mais. Casar-se sempre fora o seu sonho. Enquanto aguardava sua resposta no quarto que o Rei Tritão cordialmente lhe oferecera, alisava a cauda azul e os cabelos negros, murmurando uma pequena prece.

— Venha para mim, meu amor... Onde o mar é mais azul... Onde as conchas são mais lindas... Nas águas suaves do sul...

— Cibelle? — chamou uma voz.

A sereia sobressaltou-se e lançou um olhar assustado à porta. Um rosto conhecido surgia por uma fresta.

— Ariel! — exclamou Cibelle. — Pelos mares! Você está bem?

Ele entrou no quarto, fechando a porta atrás de si. Nadou calmamente até ela e se sentou na beirada da cama.

— A-ariel! — arfou Cibelle. — Isto não é certo! Ainda não somos casados! Não é correto ficarmos a sós no mesmo quarto.

O tritão sorriu serenamente para ela.

— Não se preocupe, Cibelle. Não acontecerá nada esta noite.

— Oh, não? — Ela abaixou levemente os ombros. — Está bem... Mas o que veio fazer aqui?

Ele lambeu os lábios antes de responder.

— Cibelle, eu não posso me casar com você.

Ela piscou. Não entendera direito. Não era possível...

— O que disse?

— Eu não posso me casar com você — repetiu o tritão. — Sinto muito.

Cibelle começou a gaguejar.

— É-é claro que pode! Vo-você só pre-cisa se acostumar um p-pouco comigo. E-e-eu... sou uma sereia tão legal!

Ele riu diante de suas palavras. Segurou sua mão.

— O problema não é você, Cibelle. Sou eu.

“Lá vem” pensou a princesa, mordendo o lábio. “Nunca é algo bom quando eles começam assim. Aposto que o problema sou eu, e ele só está tentando ser gentil.”

— Eu nunca poderia me apaixonar por você, Cibelle.

— Ah... — fez a sereia, ressentida. O golpe doera mais do que ela poderia imaginar.

— Sinto muito.

Ela inspirou fundo e tocou sua face com a mão livre. Não era justo. Ariel era tão belo e amável. Por que ela não poderia tê-lo?

— Não quer ao menos tentar? — sussurrou, aproximando-se de seu rosto.

— Cibelle, não...

A sereia fechou os olhos. Sentia-o tão perto de si, quase podia tocar seus lábios. A distância entre os dois era mínima quando ele disse:

— Eu não gosto de sereias, Cibelle.

Ela se afastou de imediato.

— Ah. Então, o problema é mesmo você.

Ariel sorriu, sem graça.

— Sim. Desculpe.

Ela apenas deu de ombros.

— Não precisa se desculpar. Eu entendo.

Ele a encarou. Seus olhos verdes brilhavam.

— Entende mesmo?

Cibelle mordeu o lábio.

— Na verdade, não.

Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos e logo desataram a rir. Caíram de costas na cama, rindo-se até não aguentarem mais. No fim, viraram-se de frente um para o outro, sorrindo cúmplices.

— É o bruxo do mar?

O rosto de Ariel enrubesceu.

— É dele que você gosta?

— Como você...?

— Eu só juntei os pedaços — afirmou Cibelle, sentando-se na cama. — Foi para ele que você fugiu quando queria evitar o casamento. E agora me diz que não gosta de sereias. Não disse que gostava de tritões. Disse que não gostava de sereias. Pelo que sei, o bruxo do mar não é um tritão.

Ariel sentou-se na cama, fitando Cibelle com um olhar divertido.

— Você é uma sereia esperta.

Ela riu.

— Sim, eu sou. Ei, me diz. E ele? Gosta de você?

O semblante de Ariel tornou-se triste. Cibelle não precisou de palavras para compreender que tocara em um assunto delicado.

— Não precisa responder. Mas, ei. — Ela tocou seu queixo, obrigando-o a olhá-la. — Por que não conta a ele?

Ariel abaixou o rosto.

— Eu já contei, mas ele não me respondeu. Depois de todas essas coisas, eu tenho dúvidas. E se ele não gostar de mim?

— Ora... — Ela se afastou, alisando os cabelos negros. — Nesse caso, você apenas continua sua vida. Não podemos exigir amor das outras pessoas, Ariel. Só podemos oferecer o nosso melhor e esperar que isso seja o suficiente.

Eles se encararam uma segunda vez. Os olhos castanhos dela sorriram para os olhos verdes dele.

— Eu espero que seja, Cibelle.

 

Na manhã seguinte, Cibelle anunciou ao Rei Tritão sua recusa em aceitar Ariel como marido. O queixo de Sebastião caiu, mas Sua Majestade apenas recostou-se no trono e lançou à princesa o mesmo olhar com que analisara o bruxo do mar.

— Meu filho não lhe agrada?

— Não, meu rei. Creio que seja justamente o contrário.

— Ah... Que lástima. Que profunda e terrível lástima! — Ele exclamou, esfregando os olhos.

— Se me permite a audácia... — Cibelle ergueu a cabeça, mantendo a coluna ereta. Quando voltou a falar, sua voz transmitia a firmeza de uma líder. — Acredito que o senhor, meu rei, não precisa se lastimar. Ariel é um tritão incrível. Nobre, corajoso, amável, gentil. Ele só precisa de um pouco de compreensão. — Ela fez uma pausa, mas não conseguiu pensar no que dizer. Temendo ter ultrapassado algum limite, fez uma profunda reverência. — Espero não estar sendo intrometida, Vossa Majestade.

— Não se incomode com isso, Cibelle. Pode se retirar.

Ela assentiu e nadou para fora da sala do trono. Deteve-se à porta por alguns segundos, apenas para ouvir o Rei Tritão dizer:

— Que faço eu, Sebastião? Quando todos parecem dizer que eu não compreendo meu próprio filho?

A princesa não ouviu a resposta. Não era de seu feitio violar tamanha intimidade.

 

A volta para casa não foi tão triste quanto Cibelle imaginou que seria. Ela adormeceu na carruagem e só acordou quando já atravessava os jardins de seu reino. Cumprimentou as irmãs com um sorriso repleto de saudades e sustentou o olhar dos pais que pareciam decepcionados com o cancelamento repentino do matrimônio.

— Mas o que houve, Cibelle? — perguntou a mãe, preocupada.

A filha apenas deu de ombros.

— As coisas... não deram muito certo...

As irmãs foram um pouco mais difíceis de convencer.

— Mas você o amava! — insistiu Serena.

— Não. Eu amava o que ele me fazia sentir.

— E qual a diferença? — perguntou Marina.

Cibelle apenas sorriu em resposta.

Não demorou muito para que os reinos superassem o pequeno incidente. Cibelle não teve mais notícias de Ariel, mas continuou desejando que o jovem tritão encontrasse seu caminho. Enquanto isso, ela tentaria encontrar o dela.

 

— Lembre-se, mantenha o rosto erguido e não sorria. A virtude de uma grande princesa como você é permanecer sempre altiva, orgulhosa, e, ao mesmo tempo, humilde — explicou a rainha, alisando os cabelos negros de sua filha. — Boa sorte, querida.

Cibelle sorriu para sua mãe e desceu as escadarias em direção a um dos jardins internos de seu palácio. O príncipe Noah aguardava perto das estátuas. Fez uma breve reverência quando ela se aproximou.

— Princesa Cibelle, é uma honra conhecê-la.

— Igualmente, príncipe Noah.

Ela o fitou com seus olhos castanhos. Noah era um tritão sem graça. Mais velho do que ela, tinha a maior parte do rosto coberta por pelos negros. Apenas seus orbes azuis apresentavam alguma jovialidade.

— Permite-me acompanhá-la nesta tarde?

A princesa manteve-se séria.

— Seria um prazer.

Os dois passearam a sós. Como não podiam sair dos limites do palácio, contentavam-se com os incontáveis jardins. Noah puxava conversa, contando a Cibelle histórias fantásticas. Ela não sabia, mas ele era um aventureiro. Como filho mais novo de sua linhagem, era o último da fila a ser oferecido em casamento, o que lhe rendera bons anos repletos de explorações e pequenas alegrias.

— E então eu disse a ele “Pelos mares, Neil. Isso não é uma pedra. É uma água-viva! Solte-a antes que ela lhe dê um choque!”

Cibelle deixou escapar uma leve risada e logo prensou os lábios, arrependida. Noah percebeu, mas não fez qualquer comentário. Era um tritão gentil com uma cauda azul escura que quase parecia negra ao lado da cauda azul celeste de Cibelle.

— Eu quase perdi minha mão naquela viagem, o que me entristeceu bastante. Como eu faria para acenar para o Neil sem ela?

A princesa riu outra vez, esquecendo-se de disfarçar. Perdera a vontade de parecer séria ao lado de Noah. Ele era divertido e bem-humorado. Que mal faria sorrir um pouco ao lado dele?

— Escute, princesa Cibelle — principiou Noah em tom sereno —, eu sei que sou muito mais velho do que você. Não quero deixá-la constrangida. Se dependesse de mim, acho que não me casaria nunca. Sei muito bem que não tenho nada de atraente. Até pareço um monstro com esta barba rebelde. Se você quiser me rejeitar, eu entenderei perfeitamente.

Cibelle encarou-o, meditando sobre suas palavras. Lembrou-se de Ariel e da conversa que tivera com ele.

— Nós não podemos exigir das outras pessoas que elas nos amem, príncipe Noah. Podemos apenas fazer o nosso melhor e esperar que isso seja suficiente. Se não for, basta continuarmos nosso caminho.

Ele a examinou com muita cautela, como se descobrisse pela primeira vez que aquela sereia sabia falar. Sentiu-se estúpido pela própria tagarelice. Desejou em seu íntimo que não fosse ainda muito tarde para recomeçar.

— Sabe? Eu acho que você tem razão.

 

A princesa Cibelle gostava de passar as tardes na varanda, observando a vida de seus súditos. Entregava-se aos mais diversos pensamentos e lembranças, perdendo-se em meio a eles como um peixe que se mistura ao cardume. Eram poucos aqueles que se atreviam a retirá-la de seu transe.

— Cibelle, querida?

Ela piscou, desatenta. Virou-se para trás, para o tritão que sorria para ela.

— Noah.

— Vamos descer. Os convidados estão chegando. Será uma grande festa.

— Os filhos do Rei Herbert já chegaram?

— Alguns deles. — Noah aproximou-se e tocou os ombros da esposa carinhosamente. — Não conte a ninguém, mas a Marina está flertando com o mais novo.

Cibelle riu com gosto.

— Típico dela. Desde que eu me casei com você, elas competem para saber quem será a próxima.

Noah sorriu. Pequenas rugas decoraram seus olhos.

— Talvez elas tenham a sorte de encontrar alguém bonito.

Cibelle fez beicinho, reprovando o comentário.

— Deixe de besteiras. Vamos. Vamos descer — chamou, oferecendo sua mão.

— Claro, querida. — Ele a aceitou. — Vamos.

Juntos, eles seguiram pelos corredores. Cibelle olhou de soslaio para o marido.

— Noah, conte-me aquela história outra vez. A do Neil e a água-viva.

Ele deixou escapar uma risada sonora.

— Você nunca se cansa de ouvi-la?

— É claro que não. Afinal... — Cibelle mordeu o lábio, travessa. — Ela foi o seu melhor.

Noah sorriu também, cúmplice.

— E o meu melhor foi o suficiente?

Ela ria enquanto o beijava.

— Mas é claro que foi!



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