Depois da conversa, na qual eu permaneci calada, diferente da Suellen que resolveu falar por todos nós sobre sua família e o quanto a sua linhagem se aproximava dos absolutos. Deu pra entender que a família dos absolutos era idealizada e admirada por todos, tanto quanto uma família real. Depois das aulas da tarde resolvi voltar rapidamente para o meu quarto horrível, decidida a bolar um plano que me tirasse daquele lugar. Até que fui surpreendida no caminho.
- Onde a senhorita pensa que vai? – O Diego me puxou pelo braço com um belo sorriso.
- Vou ao meu quarto... – Eu disse me lembrando que o Diego não sabia da minha situação – Estudar um pouco.
- Você é Nerd? – Ele perguntou sorrindo. Eu dei de ombros. – Deixa disso, eu e o Leo vamos dar uma volta pela Primordial, tá afim de ir? Você pode chamar sua amiga- Ele disse ainda com o seu belo sorriso, eu não tinha ideia do que seria a “Primordial”, olhei para atrás do ombro do Diego e vi o Leonardo, ele me lançou um sorriso, como se estivesse dizendo que tudo bem.
A Rafa apareceu do meu lado: - Nós vamos! – Ela disse convencida.
- Então precisamos ir agora. – O Leonardo se aproximou nos encaminhando até a saída.
- Conseguiu se livrar dela? – O Diego perguntou.
- Por pouco tempo! – ele disse assim que entrou em seu carro. Eu me sentia mais perdida do que nunca, eu estava dentro de um carro, o carro mais caro que eu já havia entrado na vida, com pessoas que eu havia acabado de conhecer. Olhei pela janela e vi a minha chance de fuga passando pela janela, eu poderia simplesmente abrir a porta e me jogar do carro. Será que iria doer muito? Contei até 5 determinada a abrir a porta e pular. Assim que tirei o cinto de segurança olhei para o retrovisor e me deparei com os olhos azuis do Leonardo, que alternavam a olhada entre a estrada e eu. Coloquei o cinto de volta.
Chegamos em um lugar que parecia uma cidade da Europa, o frio ajudava na aparência. Havia uma estátua de um homem sentado em uma cadeira, parecia um príncipe, me aproximei da placa a frente da estátua
Richard Stay – Fundador da Cidade Primordial.
“Nenhum trabalho é em vão se for feito com dedicação”
- Esse foi um antigo absoluto da primeira divisão – O Leonardo disso próximo de mim, ele parecia ter advinhado a pergunta que eu tinha em mente. – Ele teve a ideia de criar tudo isso. – Ele disse apontado para o redor. A cidade era realmente impressionante, havia muitas lojas, algumas casas, as luzes faziam lembrar Nova York. Tentei guardar aquele lugar na minha memória, as pessoas, o cheiro, as luzes, o frio, a fumaça que saia conforme minha respiração.
- É incrível! – Deixei escapar.
- Vamos à taberna- O Leonardo disse ao Diego, que estava conversando com a Rafa.
- Boa ideia- Ele disse indicando o caminho – Senhoritas! – Ele disse abrindo a porta para nós.
A taberna era um simplória mistura entre bar e restaurante, havia algumas pessoas bebendo e conversando, havia música ao vivo e algumas pessoas dançando. Tudo ali demostrava alegria.
- Você bebe? – O Leonardo perguntou calmamente, de modo que os outros não podiam ouvir.
- Não, nunca bebi antes.- Eu disse e ele me olhou de forma estranha, com aquele olhar que só ele sabe fazer, a mistura de pena e surpresa.
- O que desejam? – a garçonete perguntou.
- quatro refrigerantes- O Leonardo disse.
- Tá de brincadeira? Aqui só você vai dirigir – O Diego disse – Eu quero um copo de cerveja.
- Eu também – A Rafa disse.
- Então... Dois copos de refrigerante e dois de cerveja, por favor.
- ok! – a garçonete disse e se retirou rapidamente.
- nunca havia vindo aqui- a Rafa disse animada.
- Claro, imagino que o seu papai não deixava. – o Diego a esnobou – e você jasmim, vêm muito aqui?
- Não, eu também nunca havia vindo aqui. – Eu disse olhando ao redor.
Conversamos muito sobre coisas aleatórias, o Diego sempre parecia emendar brechas para eu falar mais um pouco, gostei disso. O Leonardo parecia sempre mudar de assunto quando chegavamos a um tema que pudesse revelar minha real identidade por conta do meu pouco conhecimento por tudo referente a primeira divisão.
- Então seus pais trabalham no jornal, com edição, não é mesmo? – O Diego me trouxe novamente para a conversa
- Sim- eu disse secamente dirigindo meu olhar novamente para a porta.
- Assim como os meus! – A Rafa disse. – Muitos pensam que é um trabalho fácil, mas na verdade é difícil. As pessoas criam uma inimizade quando se divulgam coisas sobre suas famílias, são sempre verdades.
- O que disseram sobre o Ricardo Stay não é verdade. – O Leonardo disse – Chegar a conclusão de que ele abandonou a todos, foi a maior falácia do século.
- Se ele não nos abandonou, onde ele está, Leonardo? – A Rafaela perguntou muito segura. Os olhos do Leonardo estavam quase pegando fogo.
- Suas bebidas. – a garçonete disse nos servindo.
- Que aulas temos amanhã? – Perguntei tentando mudar de assunto.
- Talvez tenha acontecido algo a ele. – O Leonardo disse voltando ao assunto e deixando minha pergunta planando no ar.
- O que poderia acontecer com o homem mais poderoso do mundo? – A Rafaela disse logo depois que tomou um gole de sua bebida. – Ele deve estar tirando umas boas férias, por que é óbvio que está vivo, não houve nenhuma manifestação de um sucessor.
- Óbvio, ele não deixou um sucessor. – O Diego disse. – Nem isso ele teve o trabalho de fazer.
- Estão reclamando por que aos 19 anos ele não tinha um filho? – O Leonardo perguntou perplexo – ele era um pouco mais velho que a gente quando o pai morreu, ele recebeu toda essa pressão de governar a primeira divisão, sem ajuda de ninguém.
- Você se identifica com ele? – A Rafa perguntou.
- NÃO! – Ele disse convicto. – Só se coloque no lugar dele por um minuto.
- Pare de falar disso. – O Diego disse para a Rafa. – Ele sempre defenderá sua família.
- Você faz parte da família absoluta? – Perguntei.
- A irmã do Ricardo, é a mãe do Leonardo. – A Rafaela disse me deixando perplexa, entendi o porquê dele ser tão rico. – Quem sabe o poder se manifeste em um dos seus irmãos. – assim que ela disse isso pude ver a mandíbula do Leo se contrair.
O Leonardo não falou mais nada até o fim da noite, eu também não. Basicamente a conversa se pautou somente entre a Rafa e o Diego. Voltamos para a escola, pensei mais umas 5 vezes em fugir durante o caminho, mas não tive coragem em nenhuma das vezes. Acompanhamos a Rafaela até seu quarto, onde ela ficou conversando um pouco mais com o Diego na frente da porta. O Leonardo me escoltou até o meu quartinho horrível.
- Espero que tenha gostado do passeio. – Ele disse tão baixinho que parecia um segredo.
- Gostei tanto quanto você.- eu disse naturalmente.
- Sua amiga fala demais.
- Se isso servir de alguma coisa, eu também não acredito que ele tenha fugido. – Eu decidi dizer antes de entrar no quarto.
- Obrigado. – Ele agradeceu, mas eu sabia o que ele estava pensando, minhas opiniões não serviam pra nada, afinal o que eu sei sobre o assunto?
- Boa noite – Eu disse tentando não olhar para os seus olhos que de alguma forma me hipnotizavam
- Boa noite, Jasmim. – Ele disse e eu entrei no quarto.
Nessa noite, procurei todas as coisas que pudessem ser úteis na minha fuga, olhei os presentes que o Leonardo me deu, nenhum deles pareciam ser muito úteis, esperei ficar umas duas horas mais tarde para poder sair do quarto, peguei os livros que o Leo havia me dado, eu os queria pra mim, e se alguém me surpreendesse só bastava dizer que estava procurando um lugar pra ler.
Era duas da madrugada, muito provavelmente as pessoas deveriam estar em seus quartos. O silêncio era estrondante, abri a porta e saí sorrateiramente, tive que passar por uma sala de estar, havia algumas pessoas mais velhas, elas não se importarem com a minha presença, será que esse pessoal nunca dorme? Segui o corredor que me levava a passagem secreta, ao passar pelo corredor da cozinha ouvi uma voz conhecida.
- Oi, Jasmim. – O Leonardo falou, ele estava apoiado na bancada da cozinha bebendo um copo de água.
- oi, Leonardo, oque você faz aqui? – eu perguntei tentando dissimular a situação.
- Fiquei sem sono, decidi dar uma volta, fiquei com sede e ... - Ele disse me mostrando o copo de água. – O resto é autoexplicativo. – Ele disse se aproximando de mim. – você quer?
- O quê??? – eu perguntei sem entender.
- o copo de água, Jasmim. – Ele disse mostrando o copo novamente.
- Não – Eu disse séria, olhando pra porta.
- Os livros? – ele disse me indicando os livros que eu carregava
- aaah, eu estava procurando um lugar pra ler. – Eu disse me afastando.
- Conheço um lugar. – Ele disse se aproximando mais.
- Não precisa, eu prefiro descobrir um sozinha. – Eu disse ficando vermelha enquanto ele se aproximava demais. – Obrigada! – Acabei o empurrando sem querer. O copo d’água caiu no chão, quebrando em vários pedaços. – Me desculpa!
- Tudo bem! Eu vou pedir pra alguém vir limpar. – Ele disse limpando a mão.
- Me desculpa mesmo. – Eu disse largando o livro para eu mesma poder limpar.
- Deixa isso ai, vai acabar se machucando. – Ele disse segurando minha mão, olhei em seus olhos, estavam preocupados. Olhei para a bancada e peguei mais um copo, usei toda minha concentração para absorver a água do chão e transporta-la para o outro copo. Depois disso eu peguei uma pá e uma vassoura e limpei tudo. Olhei novamente para o Leonardo e ele estava estático.
- Que foi? – Perguntei.
- E-eu não costumo ver poderes da segunda divisão. – Ele disse com a voz trêmula.
- Não é como se fosse uma bruxaria, sabia? – Eu disse brincando.
- Sei. – Ele disse, seu rosto demonstrava algo como nojo, repulsão e surpresa ao mesmo tempo. – Só não faça isso na frente dos outros. – Ele disse um pouco antes de se retirar.
Não entendi o porquê dele agir assim. Será possível que a competição entre as divisões é tão grande que chegam a ter nojo dos poderes diferentes dos deles?
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