"Vem por aqui"-dizem-me com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos
(Há nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Nao acompanhar ninguém
-Que eu vivo com o mesmo sem vontade
Com que rasguei o ventre a minha mae.
Nao, nao vou por ai! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que procuro saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "Vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos
A ir por ai...
Se vim ao mundo, foi
Só para desfloras florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço nao vale nada.
[...]
-José Régio
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