História Pointe Shoes - Colle

“A minha vida parece uma caixinha de música, daquelas que tem uma linda bailarina rodando, porém, abandonada dentro de uma gaveta esperando que alguém com bom coração lembre de sua existência e a coloque para funcionar.”  – Autor desconhecido

— Jimin? – a voz do mais velho era sonolenta, levemente mais rouca por causa disso. - Você...?

— Você pelo visto dormiu antes de olhar minha resposta... – ele revirou os olhos. Nunca perdia aquele jeito dele, mesmo que depois ele tenha avançado para abraçar Hoseok.

— Por que veio até aqui? – abraçou o outro de volta, o puxando para dentro e fechando a porta. — Está frio lá fora e eu acho que você não mora tão perto daqui.

— Eu só... – Jimin se soltou do abraço, olhando para baixo. Ele parecia procurar as palavras, mas elas simplesmente não vinham.

— Tudo bem... Se quiser passar a noite aqui, tem um quarto livre. Vai ficar doente se sair de novo. – Hoseok se adiantou, tentando cortar o constrangimento do outro. — Eu arrumo tudo e você pode dormir tranquilo.

Jimin balançou a cabeça. Hoseok percebeu que seus olhos estavam inchados, mas se sentiu fora do direito de perguntar algo. Então simplesmente deixou ele a vontade na sala enquanto arrumava o quarto de hóspedes e, então, fez um chá para ambos. Sentou-se do lado do outro, percebendo quão distraído estava. Pensativo talvez? Não saberia dizer. Somente esticou a xícara que tinha em mãos para o outro.

— Eu fiz um pouco de chá, mas... Não sei se gosta. – Jimin o olhou por alguns segundos, antes de pegar a xícara em suas mãos.

— Obrigado. – ele disse baixinho, logo assoprando o conteúdo. — De verdade…

— Você não me parece bem... – Hoseok deixou escapar, mas agora trocava olhares com o outro. — Aconteceu alguma coisa?

— Podemos... Só esquecer disso? – Jimin deviou o olhar. Ele parecia incomodado e distante.
— Eu não quero... Não agora.

— Tudo bem... Não vou te forçar a nada. Sabe disso. – Hoseok sorriu, fazendo com que o outro o olhasse e, finalmente, sorrise um pouco.

Não sabia muito bem se aquilo era um sinal bom, mas a única coisa que passava em sua cabeça era o quão bonito era o sorriso de Jimin. Se perguntava se ele podia enxergar algo por entre os olhos comprimidos para dar lugar ao sorriso resplandecente.

Desviou seu olhar dos lábios do outro, tentando colocar seu pensamento na xícara de chá. Sentiu suas bochechas esquentando de leve, mas nada grandioso. Quando terminou a bebida, deixou a xícara em cima da mesa de centro, tendo o gesto copiado pelo mais novo, que logo após, sem pudor algum, deitou-se em suas pernas. Podia ver que seus olhos estavam levemente pesados e ele parecia sonolento. Se ficasse ali, logo cairia no sono.

— Hoseok? – A voz dele, por um instante, pareceu suave e doce. Era bom ouvir ele falando assim.

— Sim? – respondeu o encarando de volta, sorrindo.

— Você tem um sorriso bonito... – ele disse, e o mais velho pôde perceber seus olhos enchendo de lágrimas. — Me acalma... É bom de olhar... – podia jurar que provavelmente o outro estava falando baboseiras pelo sono, mas algo em sua voz parecia fazer com que ele estava falando a pura verdade.

— Obrigado. – suas bochechas tomaram uma cor rosada. — Você também tem um sorriso bonito. É bonitinho como fecha os olhos…

— Mesmo? – foi a vez de Jimin corar.

— Mesmo.

Ambos não sabiam muito bem o que estava acontecendo, mas ficaram ali, um olhando para o outro, emergidos no que a alma de cada um sentia naquele momento. Hoseok sentia seu coração quase saltando pela boca, batendo com força dentro de seu peito e fazendo com que seu corpo esquentasse. De alguma maneira, ele sabia que o mesmo estava acontecendo com o outro. E ele sabia que no momento que Jimin passou a mão por trás de seu pescoço, entrelaçando os dedos em seus cabelos e o puxando para si, ele finalmente havia descoberto o que era aquela sensação estranhamente boa que o fazia esquentar.

Os lábios de ambos se tocaram de uma forma suave e quase amedrontada. Não sabiam como o outro aceitaria aquilo, mas estavam tão emergidos naquilo, naquele momento em si, que o medo foi trocado pelo desespero de poder segurar um ao outro em seus braços. Hoseok puxou Jimin para seu abraço, o sentando em seu colo enquanto deixava com que o selinho finalmente se tornasse um beijo de verdade. Jimin mantinha uma de suas mãos acariciando os cabelos do mais velho, enquanto usava a outra para se apoiar no sofá. Conseguiam sentir o vibrar do peito do outro em sintonia com o próprio. Eles não queriam sair dali, mas o fizeram pela falta de ar. Jimin apoiou sua cabeça no ombro do mais velho, deixando pequenos beijos em seu pescoço, enquanto esse mantinha os olhos fechados, se lembrando da maravilhosa sensação, sentindo arrepiar-se a cada momento.

Não sabia muito bem como ambos haviam parado ali, foi tão rápido que jurou ter perdido os sentidos pelo resto da noite. Não entendia direito, muito menos queria se forçar a tal coisa. Sentia-se confortável com o peso do corpo de Jimin sobre o seu. Os cabelos pretos bagunçados e a roupa extremamente amassada por ter passado a noite com ela o fazia ter um ar um tanto quanto... Pacífico. Todo e qualquer tipo de pesar que pudesse enfeitar seu ser havia desaparecido, mas algo preocupava Hoseok. O garoto estava quente, e passou a noite assim. Se perguntava todas as razões dele ter enfrentado a noite consideravelmente fria pra ir até lá.

Sabia que tinha algo errado, mas tinha medo de perguntar e, agora, afastá-lo de si. A sensação de ver ele desaparecendo fazia seu coração se apertar, o que o deixa sentindo-se estranho. Em que momento...? Balançou a cabeça e levou a mão aos cabelos do mais novo, os afagando. Precisava levantar logo e para tentar abaixar a febre chata do outro, mas quando se movimentou para tal coisa, sentiu algo o apertando.

Jimin estava acordado, mas seus olhos praticamente fechados não deixariam que Hoseok percebesse. Se o mais velho se sentia estranho com aquilo tudo, imagine ele. O garoto não entendia, não se compreendia, mas de alguma forma alguma coisa o trazia ao mais velho. Ele se sentia um pouco mais seguro, de alguma maneira. Sentia-se um idiota por ter deixado isso acontecer, ainda mais sabendo os motivos disso tudo. Não queria que ele saísse, muito menos o deixasse sozinho. Agarrou-se ao pijama do outro com força, mas sentia-se fraco e mole, se ele bem quisesse sairia facilmente.

— Por favor... – sua voz era baixa, mas sabia que o mais velho o escutava. — Fica.

— Você está ardendo de febre. Preciso pegar alg... – Jimin se arremessou para frente, selando os lábios de Hoseok e então o abraçou.

— Só mais um pouco... Deixa eu sentir isso mais um pouco... – o mais velho o abraçou de volta. Algo nele estava estranho, diferente... E não sabia, mas juntamente com a sensação boa, um pressentimento ruim tomou conta de si.

Hoseok completou mais uma pirueta perfeitamente, finalizando a pequena variação que a professora havia passado para todos. Tentava disfarçar, mas a falta da presença de Jimin o incomodava. Muito. Fazia uma semana que ele simplesmente tinha desaparecido, desde aquele dia em sua casa, depois de ter recebido uma ligação um tanto quanto estranha, ele não aparecia às aulas de ballet, muito menos respondia suas mensagens. Sentia seu coração enlouquecer quando os pensamentos ruins, aqueles que o assombravam desde aquele dia que viu a mãe do mais novo batendo nele, voltaram para si. E se... Ele respirou fundo, encostando-se contra a barra do outro lado da sala.

Tinha muitas coisas na cabeça, e todas elas estavam ligadas à Jimin. Desde toda a preocupação com seu bem estar, até o que havia acontecido naquela noite. Não é como se estivesse apaixonado pelo mais novo antes, mas aquela noite... Tinha algo nele que atraía Hoseok de um jeito forte. Jimin parecia um tipo de droga, que Hoseok tão relutante havia negado, mas no fim descobriu que os efeitos eram bons de todas as maneiras. Aquele lado que viu naquele dia... Fazia com que seu coração acelerasse, parecendo querer sair de seu próprio corpo. Ele se sentia esquentar quando pensava, mas... Aquilo era amor? Não era muito cedo pra chamar assim? Ele se questionava, e muito, mas a professora o chamando a atenção o arrancou dos pensamentos confusos.

— Hoseok, por favor, preste atenção. Já é sua vez de novo... – ela disse num tom mais duro, e ele somente se posicionou novamente. — Cinco, seis, sete e oito...

A noite estava mais fria que o comum, e de agora em diante as coisas só iriam piorar. Saiu do ballet, sentindo seus ossos doendo pelo vento frio que quase o levou embora. Acenou com a cabeça para Yoongi, que o esperava juntamente com Namjoon. Logo os dois se despediram e Hoseok recebeu um sorriso grande do mais novo, que agora ia para a academia de ballet, talvez para importunar um pouco mais a Seokjin. Tinha quase certeza que ambos tinham alguma coisa, mas preferia nem mesmo pensar em perguntar sobre.

Yoongi bateu em suas costas, o cumprimentando e então ambos seguiram juntos. Mas algo chamou a atenção dos dois. Os passos pesados que ecoavam pela rua não era de jeito ou maneira comuns. Algo no peito do mais novo pareceu entrar em combustão, somente de pensar na possibilidade de... Afastou os pensamentos e continuou andando, até seu celular vibrar, anunciando uma mensagem que havia acabado de chegar. O nome de Seokjin brilhava, e juntamente a mensagem.

"Corram para cá."

Deitado no pequeno sofá dali estava Jimin. Ele tremia muito e suas roupas estavam muito molhadas. Hoseok jurava conseguir escutar seus dentes batendo por causa do frio, e quando encostou seus dedos contra a testa do mais novo, sentiu o quanto ele estava quente. Seu rosto tinha algumas marcas roxas, e aquilo fez com que o estômago do mais velho revirasse.

Ele olhou para cada um que estava ali. Seokjin tentava desesperadamente ligar para um hospital qualquer, Namjoon parecia separar algumas toalhas numa estante qualquer, procurando algo para esquentar Jimin. Yoongi não tirava os olhos do mais novo, e Hoseok tinha quase certeza de saber exatamente o que o outro estava sentindo. Olhou novamente para Jimin, e seus lábios estavam bem roxos, quase da mesma cor que enfeita a maçã de seu rosto. Engoliu o choro que o fez sentir a cabeça doer e a garganta arder.

— O que fizeram com você...?