História Poison Ivy - Dois

Minhas pernas tremiam. Eu não conseguia raciocinar direito,ouvia a voz de Cadu a me chamar,mas era como se ele não estivesse ali.

Tudo parou,quando eu vi quem estava na porta da lanchonete,prestes a entrar.

- Anda logo,Maurício. Quê que tá pegando aí? Eu to com fome,porra. – Eu o ouvi dizer,com o olhar provavalmente voltado para o carro onde veio.

- Então reclama com sua irmãzinha. – Ele devolveu – Tá fazendo não sei o quê nesse carro que não saiu,Nanda?

- Ihh,mas cês são chatos hein? Calma,só fui retocar meu batom. – Ela desceu do banco traseiro e Léo trancou as portas com o alarme. – Nunca se sabe,né... – Ela sorriu e jogou os cabelos para trás.

- A única coisa que eu sei é que enquanto nós estivermos aqui,ninguém vai ousar chegar em você,Fernanda. – Ele respondeu,categórico.

Continuaram a conversar sobre outros assuntos e,só de pensar que em breve estaria cara a cara com ele,já imaginava mil coisas.

Eu era uma das milhares fãs,ou Regetes,como ele costumava chamar. Ninguém nunca entendeu como eu,aos meus vinte anos,poderia ser fã de um cantor estilo ‘’teen’’ do pop. Mas quer saber? Eu não tava nem aí.

- Tisha....cê tá legal,cara? – Cadu chegou até mim – Mano,suas mãos tão tremendo. Cê tá gelada. – Eu mantinha meu olhar fixo na mesa onde ele conversava animado com dois caras e Nanda,a irmã dele. – É tudo isso por causa desse aí?

- Ah,não começa,Cadu! Agora não! – Sibilei as palavras e entrei para a cozinha. – Vai lá ver o que eles querem,por favorzinho.

Cadu riu,levantando a parte da bancada que separava o balcão das mesas.

- Beleza,mas vai ficar me devendo essa,gatinha.

Eu fiquei tamborilando os dedos na mesa de mármore próxima a pia,enquanto ouvia eles dizerem os pedidos ao meu amigo.

- Muito bem,então ele quer um sanduíche de frango e um suco de laranja com mamão. – Eu respirei fundo.

- Marmininu,cê tá bem Letícia? – Lincoln perguntou,já começando a agilizar o pedido de Léo.

- Tô Lincoln,to sim! – Respondi um pouco exaltada,mas ele pareceu não se importar. – Ai meu santinho,tanto lugar pra ele ir e ele vem justo aqui?

- Êpa! Que papo é esse aí,mocinha? – Ele se virou pra mim – Nóis é simples,mas nóis é limpinho! Olha só pra esse lug....

- Tá tá,Lincoln!! – Saí da cozinha e dei de cara com Cadu chegando com os pedidos. – E aí?

- Ele quer um sanduíche de frango com suco de laranja e mamão e ela batata frita com suco de morango. Boa sorte!

- Obrigada,vou precisar.

Enquanto Lincoln agilizava os pedidos,eu fiquei parada a observá-los conversar.

- Batata frita com suco de morango? Sério? – Léo zombou a irmã.

- Ué,quê que tem? Tenho que seguir na dieta – E gargalhou com a própria piada.

- Pô Léo,pode me dizer porque uma lanchonetezinha mequetrefe dessas? Com tanto pub maneiro... – Maurício desdenhou

- Eu não tive escolha,cara. Não posso me meter em roubada antes do novo single sair,então é o que tem pra hoje.

- É aquele ditado.... – Nanda disse,enquanto mexia no celular. – Vem gente,borá tirar uma selfie!

- Leti,os pedidos. – Cadu ajeitou tudo numa bandeja grande. – Tem certeza que dá conta?

- T-tenho,Cadu. Eu vou onseguir. – Peguei a bandeja tentando ignorar a tremedeira em meu corpo e segui para mesa onde os três estavam.

- Boa noite. – Eu disse tentando buscar o ar de meus pulmões,apoiei a bandeja em cima da mesa.

- E aí,linda. Como é o seu nome? – Infelizmente,não foi a voz de Léo que disse aquelas palavras.

- L-leti...

- Ahn? – Maurício perguntou,zombeteiro,e eu não sabia mais onde enfiar minha cara.

- Af Mau,deixa de bobeira! É Letícia o seu nome,né? – Nanda indagou e eu assenti.

Peguei o suco de laranja com mamão e olhei para Léo,que estava alheio a conversa com o celular em mãos.

- Aqui está seu suc....

E então,só pra variar um pouquinho,eu me ferrei. Muito. A única coisa que eu conseguia ver era o líquido laranja molhando a blusa dos Rolling Stones que ele usava,a risada de Maurício e o grito proferido por ele.....com razão. Afinal de contas,eu era uma desastrada.

A primeira chance que tenho de chegar perto dele e já pago um micão desses!

- OLHA O QUE VOCÊ FEZ,GAROTA! – Ele gritou.

- Ai,meu deus! M-me desculp-pa Léo,e-eu...

Meu desespero já estava nítido,estava a ponto de chorar quando ele olhou pra mim

Eu não sei bem o que estava acontecendo com ele,mas passou alguns segundos a me encarar,sem dizer nada. Eu tive que me segurar pra não me perder naquele momento e disse:

- Eu vou te ajudar a limpar isso....

- Não! Não precisa,nós já vamos embora! – Ele pareceu sair do transe,suas palavras saíram como navalha.

- Pirou,Léo? Eu nem terminei meu suco! – Nanda reclamou,pegando uma batata frita antes de ver o irmão se levantar com pressa.

Léo deixou uma nota de cem reais em cima da mesa,mas a única coisa que eu conseguia ver eram seus passos largos a sair com pressa da lanchonete.

- Porra Léo,peraí! – Nanda se levantou,mas voltou a olhar pra mim. – Me desculpa,o Léo é assim mesmo!

- Não,tudo bem. – Disfarcei o incômodo que aquele momento me causara,eu não conseguia processar. – Porque não leva as batatas? – Entreguei o refratário a ela,que sorriu que nem criança.

- Aproveita e leva isso aqui,também. – Cadu,que até então eu não tinha visto que estava ali,pegou a nota de cem reais e depositou na mão livre de Nanda.

- ANDA LOGO,NANDA! – Maurício gritou,e ouvi o barulho da buzina do carro.

- Desculpa de novo! – E saiu em disparada porta afora.

-xXx-

Eu estava a mais ou menos uma meia hora,na minha cama,sem conseguir dormir.

O teto nunca me parecera tão interessante. As imagens do acontecido no trabalho voltavam com frequência a minha mente,e meus olhos umedeciam.

Ajeitei o travesseiro,quando ouvi duas batidas na porta.

- Leti? – Ouvi Camila me chamar,e disse que a porta estava aberta.

- Ei,Cami. – Sussurrei baixo,vendo ela se sentar na beirada da cama. – Como foi seu dia?

- Ah,o de sempre: servir cafezinho,ouvir desaforo,aturar chilique de modelo.... – Ela revirou os olhos. – Mas o seu dia,eu sei que não foi nada bom.

- Ah,não. – Bufei,impaciente. – Não acredito que o Cadu te contou.

- Acabou de me ligar. – Ela riu com minha reclamação

- Intimidade é uma merda mesmo. – Me levantei,ficando sentada na cama – Eu não acredito que desperdicei a única chance de falar com ele! Eu sou um desastre,Cami!

- Ei,calma! Não é o fim do mundo,você sabe disso. – Ela tentou contornar a situação,mas me conhecia o suficiente pra saber que não tinha jeito

- É claro que é! Ele nunca mais vai querer me ver na frente dele,nem pintada. – Engoli o bolo que se formava em minha garganta,que desceu cortante.

- Tici.....me responde uma coisa. – Ela me dirigiu a palavra com cautela – Você....você ainda é apaixonada por ele,esse tal de Léo?

Eu não tava nem um pouco afim de tocar no assunto,era impressionante como só ouvir o nome dele me causava as mais diferentes sensações.

E saber que a única coisa que ele queria de mim era distância....

- Tici! Não Leticia,não chora meu amor – Minha irmã envolveu seus braços ao redor do meu corpo,me abraçando apertado.

- O quê que eu faço,mana? Eu não sei! – Um soluço alto ecoou pelo quarto – Eu preciso me desculpar,pelo menos

- Bom,pelo o que Cadu me contou,essa Nanda irmã dele foi muito legal,né? – Assenti – Eu andei fuçando na internet e descobri um email de contato dela. Quem sabe ela não convence o irmão a aparecer na lanchonete amanhã?

- Será,Cami? – Euindaguei,meio esperançosa. Sabia que não podia perder essa chance e anotei logo o contato que minha irmã havia conseguido.

- Agora descansa,amanhã tudo se resolve. Vou sair com o André agora,volto mais tarde. – Beijou minha testa e saiu do quarto.

Encarei a tela de celular,com o o email. Queria muito que desse certo,mas a verdade era só uma: eu queria mais.

Camila não estava errada quando me fez aquela pergunta. Eu ainda era perdidamente apaixonada por ele sim,e não deixaria essa chance passar.

Não importasse o preço que iria ter que pagar.

Peguei o telefone e disquei números já conhecidos por mim. A pessoa atendeu no terceiro toque.

- Letícia?

- Oi Filipe.....preciso da sua ajuda.