História Poison Ivy - Quatro

Aquelas duas palavras eram tudo o que eu precisava ouvir. A poção havia dado certo,ao que tudo indicava.

Por um segundo,me permiti sorrir diante de seus olhos. Esqueci do maldito segurança,se alguém aparecia ali e não entenderia. O meu mundo girava rápido,as borboletas do estômago dançavam frenéticamente....

- Letícia seu nome,né? – Ele me perguntou

E então o medo veio. E estragou com tudo.

Uma sensação de pânico e – quem sabe – arrependimento tomaram conta de meu corpo e eu paralisei. Ótima hora pra ter crise de consciência!

Eu o observava assinar meu cd,tão lindo...tão diferente de alguns minutos atrás. Ele me entregou e eu girei os calcanhares para sair logo dali,mas ele me puxou levemente e pressionou os lábios em meu rosto.

- Então....até o próximo show. – Minha fala saiu como uma pergunta,que foi negada por ele.

- Algo me diz que nos veremos muito antes do que imagina. – Sorriu de lado pra mim,fazendo minhas pernas tremerem e a vontade de sair dali desaparecer.

O segurança me arrastou para fora do camarim e me ensinou o caminho de saída. Após andar alguns metros naquela direção,encontrei Nanda.

- E aí Letícia,conseguiu se resolver com ele?

- Até demais,eu diria.... – Eu pensei alto,arrancando uma risada dela. – Não! Eu q-quis dizer que....

- Ei,não precisa se explicar. Eu conheço o irmão que tenho. – Ela sorriu e me abraçou,antes de ir.

Quarenta minutos depois,eu me encontrava no portão de casa,depois de descer do táxi. No caminho,peguei o cd com sua assinatura e me deparei com as seguintes palavras: ‘’Letícia,espero que goste do cd. Adorei te ver! Um beijo enome do Léo’’. Eu só conseguia pensar que havia me metido numa burrada catastrófica,e sabia que a bomba iria estourar a qualquer mom....

- isso são horas de chegar em casa,dona Letícia Bezerra?! – Uma voz que eu conhecia a vinte anos se pronunciou,assim que coloquei os pés em casa.

- Ah,pai! Que susto,caramba! – Eu levei a mão direita ao coração,já acelerado.

- Você não respondeu a minha pergunta,mocinha.

- Eu tava com uns amigos da faculdade,tá? – Revirei os olhos. Naquela hora,mentira seria a melhor solução. – Agora se me der licença,meu dia foi cheio e eu quero dormir

Após tomar um banho e vestir uma roupa confortável,deitei em minha cama e abracei minha almofada preferida,com uma foto de Léo estampada nela.

As palavras de Filipe agora voltavam a minha mente ‘’espero que esteja preparada para lidar com as consequências.’,e a única coisa que eu conseguia pensar,era:

- O que foi que eu fiz?

- xXx –

- Letícia.... – O garoto proferiu o nome num sussurro.

- Está tudo bem,senhor Régis? – O segurança tratou logo de saber - Ela o incomodou?

- De maneira nenhuma,seu Augusto. – Ele desfez o mal entendido. – Muito pelo contrário.

Ao sair do camarim,o garoto tinha um sorriso bobo no rosto. Ela não sabia ao certo o porquê,mas precisava conhecer mais sobre aquela garota que entrara tão repentinamente em sua vida.

- Léo! – Arthur,amigo de Léo e seu professor de Muay Thai,o chamou

- Fala,Arthur! – O cumprimentou com um abraço – Como vai a academia? Ultimamente tá foda aparecer por lá

- Ah,as coisas vão indo. Mas você que parece muito bem! Conta,quem é a garota da vez?

- Em breve vocês vão saber,mas por agora,esse assunto fica só entre eu e ela. – Desconversou,pensando nos planos que tinha quando chegasse em casa.

- Se você diz....mas fala aí,pra onde vamos hoje? –Ele questionou o amigo. – Eu fiquei sabendo de um pub ótimo na....

- Hoje não,cara. – Léo o cortou. – Eu to cansadão,louco pra ir pra casa.

A primeira parte poderia até ser mentira,mas a segunda....nem tanto.

Léo acenou para o amigo em sinal de despedida e rumou para o carro,onde a irmã já se encontrava no banco do passageiro.

- E aí,vamos pra onde hoje? – Maurício perguntou,já se preparando para ligar para algumas garotas.

- Vocês eu não sei,mas eu vou pra casa. – Maurício gargalhou alto e Nanda o encarou assustada.

- Ah,fala sério Léo. Pra cima de mim?

- Cê tá bem,maninho? – Ela zombou – Se quiser,eu posso chamar a ambulância

- Podem ficar me gastando seus chatos,to nem aí –Léo dobrou uma esquina a direita,girando o volante – Eu to falando sério

- Bom,já que você tá de bode hoje,eu também vou ficar em casa. Tenho uma sessão de fotos amanhã e preciso dormir bem essa noite – Nanda concordou

- Ahh não,Nandinha! Vai me deixar na mão,é? – Maurício resmungou

- Porra Maurício,para de dar em cima da minha irmã e vai caçar teu rumo – Léo estacionou o carro em frente ao condomínio onde o amigo morava

- Boa noite pra você também,filho da puta – Ele se despediu do amigo com um choque de mãos e deu as costas,entrando em casa.

Alguns minutos mais tarde,os irmãos Régis já se encontravam em casa.

- Merda,aonde eu enfiei essa chave? – A morena tentava vasculhar a bolsa,sem sucesso. – Será que ficou com voc.....Léo? Léo!!!

- Que é,Fernanda?! – Os gritos da irmã pareceram o tirar do transe. – Não posso nem mais pensar na vida?

- Poder até pode,mas vamo combinar que isso vindo de você é meio estranho...

Ele vasculhou os bolsos e entregou a chave a irmã,que abriu a porta.

- Que silêncio.....cadê todo mundo? – Nanda perguntou. Esperou o irmão entrar e trancou a porta.

- Papai e mamãe estão numa reunião com alguns patrocinadores do próximo show. Se tudo der certo,a turnê nova sai daqui três meses.

- Ai,que novidade. – Ela tirou os saltos e os pendurou em uma mão. – Vou dormir,beijo mané. – Alcançou a bochecha do irmão e se despediu,rumando para o quarto.

Se Nanda iria ter um sono tranquilo,ele não saberia dizer,mas ele sabia que a única coisa que não faria aquela noite,era dormir.

Entrou no quarto,pegou o notebook em cima da cama,levantando a tampa. Após digitar a senha e esperar a máquina iniciar,entrou no navegador e no site de pesquisa,digitando as seguintes palavras:

- Letícia Bezerra....vamos ver o que descubro sobre você.

A noite passou mais rápido que que Léo esperava. Gostou das coisas que descobrira sobre a garota. Ela tinha vinte anos,completaria vinte e um em dezembro. Havia perdido a mãe em um trágico acidente de carro,e desce então,sua família são seu pai Eriberto e sua irmã aspirante a modelo Camila. Estudava jornalismo,mas teve que trancar o curso por falta de condições financeiras.

Seu facebook não lhe dava muitas informações. Ela não era muito de sair e tinha cara de quem tricava multidões por um bom livro. O lado ‘’regete’’ da menina também estava presente em várias publicações,mas ele preferiu as ignorar,ao menos naquele momento.

Ele descia as escadas com pressa,prestes a pegar as chaves do carro,quando foi parado por sua mãe,no meio do caminho.

- Êpa! Onde pensa que vai tão cedo,mocinho? – dona Delma questionou,arrancando um riso solto do filho

- Vou resolver uns assuntos,muito importantes. – Ele se limitou a dizer.

- Olha,lá hein? Não vai fazer besteira. Aproveita e leva sua irmã na sessão de hoje,ela já vai descer.

- Levo sim. Espera aí só um minutinho.

 Léo parou em frente ao primeiro degrau da escada,e disse:

- Fernanda Régis Mello,você tem apenas cinco minutos para descer essa escada,se quiser ca....

- Ei,ei! Calma apressadinho,já to indo! – Nanda se equilibrava nos saltos agulha enquanto descia os degraus o mais rápido que era permitido.

- Beijo,rainha! – Léo beijou a testa da mãe e foi acompanhada pela irmã,que logo atravessava a porta da sala.

- xXx –

A única coisa que consegui ouvir foram o barulho das persianas se abrindo,e alguém sentando na beirada da cama,repousando uma das mãos em meu braço levemente.

- Hora de acordar,raio de sol.

- Bom dia,pai. – Ele me depositou um beijo na testa. – Cami já foi?

- Já sim,tinha que ajudar o Marc num desfile muito importante hoje,mas te deixou um beijo.

Me levantei na cama e me deparei com um chocolate quente gigante na minha frente.

- O que te deu hoje? – Eu sorri,pegando a bebida das mãos dele e bebericando

- Pra você começar bem o seu dia – Eu assenti,agradecida. – Sua irmã me contou que você não chegou muito bem do trabalho,uns dias atrás....

Ah,se ele soubesse que agora meu problema era outro. Meu pai era meio desligado as vezes,mas não o culpava por isso,ele trabalhava demais.

Me limitei a desconversar e dizer que me atrasaria para o trabalho. Tomei um banho quente mais rápido do que gostaria,e alguns minutos depois já estava vestida com uma calça jeans,uma blusa com um filtro dos sonhos e meu amado all star branco.

Deixei os cabelos soltos,coloquei meu perfume e peguei minha bolsa,saindo do quarto.

- Não vai tomar café?

- Não pai,to atrasada. – Eu já me preparava para me despedir,quando ele me chamara novamente,dessa vez com a expressão mais séria.

- Filha....eu quero que saiba que pode contar comigo,pra tudo. – Entrelaçou suas mãos nas minhas. – Sabe disso,não sabe?

- Claro que sei. – Eu assenti com um sorriso. Beijei sua bochecha e me despedi,saindo de casa.

Após descer do ônibus e andar alguns quarteirões,finalmente cheguei ao meu destino. Não era um dos melhores lugares do mundo,mas para aquele dia,e muitos outros,era o que tinha.

Peguei as chaves da lanchonete e destranquei a porta de vidro,entrando em seguida. Deixei minha bolsa no armário dos funcionários e coloquei meu celular no bolso. Peguei meu avental,mas quando estava prestes a colocá-lo para mais um dia de trabalho,uma voz me faz paralisar.

- Precisa de ajuda?