- Ai,meu deus. – Foram as palavras que sibilei ao vê-lo entrar e parar na minha frente.
Ele pareceu não ouvir e chegou até mim,apenas o balcão nos separava e eu sabia que aquela barreira não seria capaz de contê-lo.
- Precisa de ajuda? – Ele sussurrou com aquela voz rouca que fazia minhas pernas vacilarem.
Ah,sim. Eu preciso que você me diga que M*@#!$ eu tinha na cabeça quando tive essa ideia idiota. Será que pode me responder?!
A verdade é que eu não sabia o que pensar. Eu não havia testado a poção da forma correta com ninguém,então não sabia quais eram seus reais efeitos e defeitos,vamos dizer assim.
Eu esperava que ele sei lá,me tratasse bem,e a partir daí,a gente pudesse conversar e quem sabe,ele gostar de mim. Mas,isso....
- Ahn,desculpa,nós não abrimos ainda. – Foi tudo o que consegui dizer sem errar nenhuma palavra.
- Não tem problema,Letícia. O que eu quero está bem na minha frente.
É nessa hora que eu caio dura no chão? Assim,só pra saber mesmo.
Não pude conter o rubor no meu rosto,sentia o sangue colorir minhas bochechas e ele riu suavemente. Tentei esquecer do seu olhar atento sobre mim e voltei minha atenção para os copos de vidro a minha frente.
- E-eu,eu tenho que trabalh... – O barulho da porta da frente se abrindo me impediu de terminar aquela frase.
Acabei me assustando e o resultado foram alguns copos se espatifando em mil pedacinhos no chão.
- Ah,que droga! – Eu reclamei,olhando pra ele antes de me abaixar para pegar os cacos maiores do chão.
Eu tentava calcular quantos anos de azar eu teria a partir daquele momento – que se dane que só vale pra espelho – quando eu o vi levantar a trava do balcão e se aproximar de mim,ficando a minha altura.
- Não precisa fazer isso. – Eu tratei de afastá-lo,mas ele negou com um meneio de cabeça.
- Ei,ei. Me deixa te ajudar. – Ele pegou os cacos de minha mão.
- O que tá acontecendo aqui? – Cadu se pronunciou,talvez alto demais.
Os oitavos mais altos de sua voz me assustaram,e senti o susto cortando minha mão,com um dos cacos que eu passava para Léo.
- Merda! – Eu gritei,sentindo o ardor percorrer pela minha mão e chegar a ponta do meu dedo do pé.
- Mas você é desastrada,hein Letícia? Tô pra ver alguém tão.... - Cadu parou a frase ali. Eu me virei para olhá-lo e deparei com Léo encarando meu amigo seriamente. - E-eu vou pegar um pano pra parar esse machucado,já volto.
- Vem comigo,você precisa de um hospital. – Léo,que já estava de pé,me ajudou a fazer o mesmo.
- Tá doido? Eu tenho que trabalhar agora. – Eu me justifiquei,tentando disfarçar que estava tudo bem. – Isso aqui não é nada demais,acontece sempre.
Ele nada disse,apenas se dirigiu a Cadu,que estava do lado e me entregou um pano para estancar o sangue.
- O seu amigo,Cadu né? – Ele assentiu – O Cadu não vai se importar se cobrir você por algumas horas,pra você fazer um curativo. Certo? – Ele impôs sua voz,transformando aquele pedido numa ordem.
- E-eu acho que não vai ter nenhum problema.
- Ótimo. – Ele finalizou,passando um braço por minha cintura e me levando para a porta da frente.
O sino da loja tocou,avisando que eu havia saído do meu trabalho direto para a maior roubada da minha vida. Ele me guiou até uma Ferrari vermelha,mas quando ele estava prestes a abrir o carro,eu disse:
- Olha,tá tudo bem comigo. Eu não preciso de um hospital! – Eu me desesperei com a possibilidade de tudo que viria a acontecer.
- Ah,claro que não precisa. E esse corte fundo na sua mão,é o quê? – Ele questionou,bem irônico. Abriu a porta do passageiro. – Você vem comigo e pronto,mocinha. Entra.
Sem poder questionar,e ainda meio zonza com a mistura autoritária e carinhosa naquela frase,entrei. Alguns segundos depois,ele entrou no banco do motorista. Colocou seu cinto e me ajudou a colocar o meu,não demorando para dar partida e segui para o hospital mais próximo.
O caminho seguia em silêncio. Apenas eu,minha mente gritando contra mim e as buzinas dos carros,naquela segunda feira típica.
- Que tipo de música você gosta,fora as minhas? – Ele riu com o final da frase,ligando o radio.
E eu nem podia xingar de prepotente,porque era verdade. Droga.
- Ahn,não sei.....
Ele percebeu minha timidez e apontou para o porta luvas.
- Tem vários CDs aí,pode escolher um.
E eu assim fiz e encontrei um porta CDs. Ao olhar as opções uma a uma,encontrei um que me fez gargalhar.
- Fala sério,Demi Lovato? – Ele riu comigo,um pouco desconcertado.
- Em minha defesa,eu digo que deixo esse cd aí pra minha prima mais nova ouvir. – Ele sorriu de lado,voltando a atenção para a estrada.
Acabei escolhendo um cd do David Guetta,bem dançante,mesmo que aquela altura eu não conseguisse mexer nenhum músculo do meu corpo.
Alguns minutos depois,ele estacionou o carro atrás da rua do hospital. Antes que eu pudesse perguntar o porquê,ele sacou o celular do bolso,discando alguns números. Assim que a pessoa do outro lado da linha atendeu,ele apenas disse:
- Chegamos. – E não tardou a desligar. – Meu amigo já está chegando,não se preocupe.
Desceu do carro e me ajudou com o mesmo. Ao fechar a porta do passageiro,eu avistei um homem mais velho e vestido com um jaleco branco,que se aproximou de nós e cumprimentou Léo rapidamente.
Não tardamos a entrar. O hospital parecia quieto e silencioso,mesmo com a presença dele ali.
- Me desculpe por isso. – Ele se referia a forma como havíamos entrado. – Não é nada com você,só não quero chamar a atenção...
- Tá tudo bem. – Eu assenti.
Entramos na sala,que já contava com a presença de uma enfermeira. Me sentei na maca e a profissional começou a limpar a área lesionada,para depois fazer o curativo.
Léo,apoiado na mesa do médico,observava tudo com atenção. Eu tentava desviar de seu olhar,mas ele tornava isso impossível.
- Prontinho,querida. – A enfermeira disse ao ver minha mão enfaixada.
Desci da maca e Léo veio ao meu encontro. Tocou minha mão levemente,como se estivesse preocupado comigo.
- Fique tranquilo,meu rapaz. Sua namorada está bem. – O doutor pronunciou,e senti meu rosto corar.
- Ele n-não é meu nam...
- Obrigado,doutor. Até mais! – Ele me abraçou pela cintura e me guiou até a porta de saída,no final do corredor.
- Por quê fez aquilo? – Eu parei de andar. – Por quê não contou que eu sou só uma fã desastrada que você conheceu por acaso,numa lanchonete?
- Em breve você vai saber. – Ele se limitou a dizer. – Mas agora... – Se aproximou de um canteiro de flores sortidas e tirou uma de seu meio.
Quando dei por mim,eu o vi afastar uma mecha de meu cabelo e colocar a flor atrás de minha orelha.
- Vamos?
- Para aonde você vai me levar? – Eu perguntei,receosa.
- Não confia em mim,linda? – Eu assenti um pouco tímida.- Então,vem comigo?
Eu não conseguia negar nada,com ele ali,me olhando daquele jeito. Segui com ele até o carro,com destino incerto.
- xXx –
O grande relógio de parede marcava dez e meia da manhã,quando Camila se rendeu a bom e velho sofá de um dos camarins vazios.
A morena estava lá desde cedo,auxiliando Marc,um jovem estilista em ascensão – e o único que havia confiado no seu talento para dar estágio para ela -. Entre algumas trocas de lente de câmera e ajuda com os figurinos,reparou quem era a modelo da vez.
Fernanda Régis Mello,irmã mais nova do cantor e paixonite da irmã Letícia.
- Isso Nanda,sorria pra mim! – Disse Alejandro,um dos fotógrafos do estúdio,que captava as poses da garota com os vestidos da grife mineira Maracujá.
A vontade que tinha era de ir até lá,e perguntar se tudo havia ido bem entre a irmã e o tal cantor. Nos últimos dias,a estudante de moda mal havia parado em casa,Marc estava fechando contrato de exclusividade com uma marca renomada e precisava dela,e acabou não tendo tempo de conversar com a irmã.
Resolveu tirar aquela ideia da cabeça e focar no trabalho,se algo tivesse dado errado,ela provavelmente já saberia. Agora estava li,aproveitando os poucos minutos de descanso antes de Nanda voltar da troca de roupa.
E ela voltou,e Camila pode provar quando ela bateu na porta do camarim onde ela estava.
- Posso entrar? – A menina perguntou,sorridente
- Claro,dona Fernanda. Precisa de alguma coisa? – Camila se prontificou a ficar de pé
- Sim. Preciso que me diga o que foi que sua irmã fez com o meu irmão,pra ele ficar tão....
- Ai,meu deus. O que foi que a Letícia fez? – A menina se exaltou com a afirmação,fazendo Nanda rir
- Veja você mesma – Entregou seu celular a Camila,que apertou na história do snapchat do cantor,tendo uma bela surpresa.
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