Albus já estava sentado na cama e com as lágrimas secas quando Scorpius entrou no quarto, carregando os mini-pufes que bufavam zangados por serem tirados de Rick. O primeiro pensamento que ocorreu a Albus foi pergunta-lo diretamente, mas claro, ele não saberia responder e tiraria como má fé sobre oque eles tinham. Decidiu agir normalmente e comparar o velho ao novo, saber por si só se estava sendo enganado ou não.
Scorpius deixou os bichinhos no chão e foi em direção a Albus, que não negou quando este se inclinou e o beijou, foi difícil não fazer doer, pois as palavras de Rose, mesmo que perdidas no chão de pedra que fora onde a carta se despedaçou, continuavam frescas na sua mente. Albus segurou as vestes dele e o puxou para cima de si, Scorpius olhou para a porta só para conferir e voltou a beija-lo. Albus não acreditava que aquilo fosse falso, não, não era um beijo forçado, mas se lembrava da história de como Voldemort foi concebido, haviam livros e livros sobre sua vida desde que o pai de Albus o derrotara naquele mesmo colégio, sabia como a mãe dele enganou o pai com poção do amor e assim tiveram até um filho, oque é isso comparado a análise de um simples beijo? O segurando pela cintura, e afastando-o um pouco, Albus olhou dentro dos olhos de Scorpius, suspirou e perguntou:
-Já pensou em um dia acordar e ver que tudo foi um sonho? -disse baixo e com a voz pensativa, era um dos pensamentos mais profundos da sua mente, e era como se sentia no momento. Continuava deitado com Scorpius sobre si, mas não ousava o olhar nos olhos, estava com medo de desabar. -E se nada fosse como pensamos?
-Por que está me perguntando isso? -Scorpius se sentou sobre as pernas de Albus, forçando-o a fazer o mesmo para poder o ver. -Está tudo bem?
-Está, é que... eu estava pensando demais. Só isso. -Albus forçou um sorriso para ele e respirou fundo olhando a mochila ao lado da cama. -Estou sem a mínima vontade de ir a aula hoje.
-Mas nós vamos. -com um pulo, Malfoy se levantou e alcançou a sua mochila debaixo da cama, que estava pesada de tantos livros. -Não vai me deixar sozinho de novo não é?
-Não, eu vou, só porque me pediu. -ele se espreguiçou e jogou a mochila sobre um ombro, acompanhando Scorpius para a porta, com o coração dizendo para que ficasse no quarto, que não o seguisse, que não se machucasse.
-X-
História da Magia seria uma matéria fantástica se o professor não estivesse morto a séculos e se não falasse tudo tão melancolicamente que os alunos quase caíam da cadeira de sono. Assim como todos, Clary encontrava-se quase em seu oitavo sono quando o sinal a acordou e ela se levantou as pressas derrubando o livro e o caderno, tinha que correr para a aula do pai como todos os outros, descer todas aquelas escadas e chegar a tempo na estufa era um trabalho difícil. Depois que juntou todas as suas coisas, ela correu pelo corredor tentando acompanhar a turma, mas alguém a segurou antes que ela desastrosamente caísse rolando pela escada, com o coração batendo rápido e a tontura a atingindo pelo medo, ela abraçou quem quer que houvesse a salvado da queda iminente. Com o coração mais aliviado, ela respirou fundo e se afastou, encontrando olhos verdes conhecidos, mas não eram os mesmos que ela costumava ver, se afastando envergonhada por lembrar do que Albus a dissera uma vez no campo de quadribol, ela viu James sorrir. Abaixando o rosto para tentar esconder o vermelho que lhe tingia as bochechas, Clary murmurou:
-Desculpe, eu não devia está abraçando qualquer um no corredor. - ela já não ouvia mais os passos dos outros alunos indo para a aula, e concluiu que estavam sozinhos oque a deixou mais enrubescida ainda.
-'Qualquer um'? Magoou. -ele disse em tom de brincadeira e riu quando ela tentou se explicar abrindo e fechando a boca várias vezes. -Relaxa, estou brincando.
-Eu... vou indo. -apontando para a escada, ela começou a descer os degraus e quando chegou no ultimo voltou-se para o topo da escada onde James continuava, olhando o piso de mármore e parecendo indeciso. -James. -ela chamou e ele a olhou com um sorriso, como ela nunca percebia, mas sempre acontecia. -Posso te encontrar na biblioteca essa noite?
O sorriso dele se alargou mais ainda, como se estivessem lhe oferecendo uma vaga como capitão do Chudley Cannons, então Clary soube que oque Albus havia dito era verdade e ela que fora cega todos aqueles anos.
-Claro, depois do treino eu te encontro lá.
Ela assentiu e voltou a descer as escadas, mordendo os lábios para não sorrir como uma idiota.
-X-
Albus estava na sua última aula do dia, sentado numa mesa e esperando que todos parassem para o professor finalmente se pronunciar sobre a próxima aula. Depois de dez minutos de barulho de vidro quebrado, caldeirões de ferro batendo contra as mesas e livros pesados sendo postos sobre elas, o professor pode continuar. Albus tentava se manter concentrado, sem pensamentos ruins sobre poções, mas com Scorpius do seu lado não era lá a coisa mais fácil do mundo. Após conferir o número da página que o professor Martin havia escrito no quadro, ele abriu o livro e sentiu o coração pesado, um frasco contendo líquido rosa dentro era indicado por uma seta preta com o nome "Poção do Amor", várias pessoas na classe se animaram com a idéia, mas Albus a odiou tanto que cogitou em atirar o livro no professor.
O sinal finalmente tocou, mas Potter decidiu esperar para falar com o professor, disse a Scorpius para ir na frente e depois se dirigiu a escrivaninha onde o homem organizava alguns papéis. O professor Martin era sorridente e animado, uma descrição totalmente diferente do professor que o seu pai descreveu uma vez e que era a quem seu nome também homenageava, Severus. Este professor tinha cabelos loiros, olhos castanhos e devia está na casa dos trinta, assim com o professor Neville. Notando a presença de Albus na sala, ele se virou para ele e sorriu:
-Posso ajuda-lo, Potter? -perguntou enquanto fechava cuidadosamente sua maleta cheia de frascos. - Algo que não entendeu?
-Não, é só uma curiosidade mesmo. -olhando para as mãos, Potter tentava formular a pergunta certa, não devia ser algo que se perguntasse todos os dias. -Professor, se alguém, digamos, alguém que seja muito amigo seu tomasse poção do amor, é possível alguém mesmo que sendo só seu amigo, desenvolva uma paixão por você temporariamente? -ele continuou em silêncio, ouvindo a respiração pensativa do outro, ainda brincando com seus dedos.
-A próxima aula é sobre essa poção, Albus. Não prefere que eu o responda lá?
O desespero brilhou nos olhos de Albus quando olhou para o professor, a respiração acelerou e ele negou com a cabeça rápido. Martin o olhou desconfiado, passou as mãos nos cabelos e retirou a varinha das vestes, bateu sobre os papéis e esses voaram para sua bolsa, o professor lhe indicou uma cadeira e sentou-se na mesa.
-Está acontecendo alguma coisa, Albus? -ele perguntou, Albus sempre o achou confiável, mas abrir seu coração para o professor talvez significasse que mais tarde Minerva saberia e se isso piorasse a situação que já estavam. -Não tenha medo de falar.
-Não sei se devo falar. -disse sinceramente, apoiando os cotovelos sobre a mesa de madeira polida. -Vai contar a diretora tudo que eu disser, não vai?
-É grave assim? -perguntou preocupado, voltou a riscar o vento com a varinha conjurando copos e uma jarra de água do nada. Ele serviu Albus enquanto esse pensava. -Certo, só contarei se for extremamente necessário.
-Ok. -disse suspirando e desistindo de não contar. -O que eu lhe perguntei está acontecendo comigo, mas no caso, eu que tenho um amigo.
O professor arregalou os olhos e respirou fundo, vendo que talvez a conversa fosse um pouco mais complicada, bebeu sua água e deixou o copo ao seu lado.
-Então quer saber isso porque acha que seu amigo vem agindo diferente?
-Não, é que... nós já temos alguma coisa, mas me disseram que ele vem sido "drogado" com poção do amor e que talvez ele não sita nada de verdade. -o peso continuava no seu peito, mas dize-lo aliviava bastante. -Daí que vem minha pergunta.
-Quem lhe disse isso? -Martin perguntou olhando o garoto cabisbaixo à sua frente.
-Rose Weasley, foi por causa dele que ela tentou me atacar no jogo. -admitiu, levantando o rosto para o professor, mesmo que esse visse seus olhos cheios de lágrimas. -Me deixou uma carta dizendo isso e... eu não sei oque fazer. -ele esfregou os olhos e voltou a olhar o chão.
-Albus, amizade e paixão são coisas bem diferentes. A poção do amor é só algo que atiça mais algo que a pessoa já sente. Seu amigo é o Scorpius? -perguntou com cuidado, mas Albus sabia que ele já anotava cada palavra em sua mente para contar a diretora.
-É, ele mesmo. -Albus suspirou um pouco aliviado com a declaração sobre a poção. -Mas essa poção pode criar uma ilusão? Tipo, ele só achar que me ama?
-Bem, infelizmente vou ter que lhe dizer que sim, mas nenhum aluno do quarto ano conseguiria fazer isso, nem os mais inteligentes. -assegurou o professor, Albus não pôs muita fé nisso, mas ao ver os olhos do professor se arregalarem para a porta, ele se virou rapidamente e viu Scorpius passar correndo de volta para o corredor.
Albus se levantou e correu o mais rápido que suas pernas permitiam, esquecendo-se até o material na sala, Scorpius não seguiu para a sala comunal, devia está cheia naquela hora. Albus o seguiu até o segundo andar, onde conseguiu para-lo perto do banheiro masculino. Ele o segurou pelo braço, mas Malfoy se afastou bruscamente dele, o deixando ver seu rosto já molhado de lágrimas, sabia que cedo ou tarde isso aconteceria, só não esperava tão cedo.
-Scorp... -tentou se aproximar, mas o outro se afastou mais e entrou no banheiro. Novamente Albus o seguiu, o banheiro estava vazio, todas as portas dos boxes abertas e as pias pouco a frente deixavam um espaço enorme no meio. Scorpius estava apoiado em uma das pias, de costas para Albus e claramente inquieto. -Não sei oque ouviu, mas...
-Infelizmente eu ouvi. -disse com a voz trêmula do choro, partindo em mil pedaços o coração de Potter. -E novamente você confia mais nos outros do quem em mim. -ele riu amargurado, passando as mãos no rosto, sem conseguir se controlar e sem aguentar chorar mais, Scorpius esmurrou o espelho, fazendo que uma chuva de pedacinhos brilhantes voassem por ele, lhe cortando os dedos e o deixando com mais raiva. -Como pode acreditar em Rose e não em mim? -perguntou se virando, a revolta eletrizando seus olhos para Albus, que não conseguia deixar de encarar os cortes nos dedos do mais novo.
-Está sangrando. -Potter se surpreendeu por sua voz ter saído inteira, pois segurava o choro na garganta. Scorpius olhou os cortes e os ignorou.
-Não fuja do assunto. -Scorpius disse passando por cima dos pedaços de espelho e ficando a três metros de Albus. -O que o faz acreditar que eu não te amo? -a voz já voltava a ficar embargada. -Eu pareço enfeitiçado para você? Pareço Albus?! -gritou.
-Como eu posso saber? -respondeu na mesma altura, deixando descarregar oque estava no peito. -Ela me mandou aquela maldita carta, dizendo que lhe drogou com isso por muito tempo, Scorpius como eu posso saber se você é você?! -as lágrimas já lhe saltavam dos olhos, era uma cena horrível, Scorpius deixava pingos de sangue no chão e os dois estavam completamente abalados.
-Pensei que soubesse que oque eu sinto é de verdade quando disse que me amava também, ou ela lhe convenceu que isso é coisa da sua cabeça? -sua voz tremeu em várias partes, estava com raiva de Rose e de Albus. -Eu posso até ter perdoado sobre oque aconteceu com Clary, porque era verdade, mas isso... você acreditar que estou fingindo...
-Eu nunca disse isso. -Potter reclamou limpando as lágrimas. -Nunca disse que estava fingindo.
-Então oque disse?
-Que estava sendo manipulado. -aquilo não foi melhor, Scorpius voltou a chorar e quando tentou enxugar as lágrimas manchou o rosto de sangue.
-Bem melhor, não? Ótimo jeito de pôr um ponto final na gente, Albus. - passando direto por ele, Scorpius não o dirigiu uma palavra a mais e nem foi impedido de sair dali, eles estavam acabados e completamente machucados para fazer ou falar mais alguma coisa.
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