História Poisonous Love (Scorbus) - Raiva

Dor não podia ser substituída, talvez por uma maior, mas Albus não acreditava que houvesse outra maior do que ver quem você mais ama no mundo chorando, por sua culpa. Assim que Scorpius saiu do banheiro, Albus se largou no chão ao lado do último box, respirando fundo sem forças para chorar, ou gritar, só conseguia ficar quieto, pensando no desastre que tinha causado.  Olhou os espelhos no chão, tirou a varinha do bolso, as mãos ainda tremiam muito, ele acenou com a varinha para os pedaços e esses voltaram se encaixando uns nos outros, bem que Albus queria fazer isso consigo mesmo. Com dificuldade ele se apoiou nos braços e se levantou, caminhou para as pias e observou num espelho inteiro como sua aparência também parecia de alguém machucado, o rosto estava pálido, os olhos verde escuro, a boca seca, as pálpebras inferiores estavam vermelhas de choro. Ele ligou a torneira e jogou água no rosto, passou vários minutos recuperando o fôlego e o ritmo calmo do coração, mas algo estava errado. Sentiu um gosto amargo na boca, no espelho seus olhos adquiriam outro tom de verde, um mais claro e mais intenso, lembrou-se do sonho que tivera na noite anterior, no qual seu corpo doía extremamente e agora se repetia a sensação, só que ele sabia que estava acordado. Quando sua pele começou a repuxar, Albus pôs as mãos sobre a barriga e se inclinou para frente numa ânsia incontrolável de vomitar, mas terminou tão rápido como começou, e ele se sentia diferente, muito diferente...

-X-

Quando Scorpius acordou no outro dia, ainda era madrugada, queria continuar dormindo, sua angustia sumia quando estava apagado. Virou o corpo e viu Albus dormindo, bonito e desajeitado como sempre, Malfoy se encolheu em seus lençóis, estava desprotegido sem seu melhor amigo e ex-alguma-coisa. Sentia falta de quando esse acordava e vinha para sua cama pela noite, mesmo que até ali só tivesse se passado uma noite. Do seu outro lado, Victor Thomas roncava como um porco e aparentava um, com o rosto rechonchudo e rosado, os olhos miúdos e o cabelo loiro amarelado, o corpo estava quase caindo da cama e o lençol chutado para fora dela. Se voltando para o Albus adormecido, ele riu fraco vendo-o dá um tapa no seu próprio rosto quando uma das bruxinhas das Gemialidades Weasley, que continuava por ali, passou a vassoura rente ao seu nariz. Scorpius parou de rir assim que lembrou da conversa com o professor e sussurrou:

-Pode não acreditar, seu idiota, mas eu ainda te amo. -virou de costas e voltou a dormir, com a imagem de Victor resmungando em seu sono pesado. 

-X-

Albus já esperava que Scorpius o evitasse o dia inteiro, mas a não ser nas aulas, ele não conseguiu vê-lo em mais lugar nenhum, sua única esperança era o treino de quadribol pela noite. Quando estava indo para o salão comunal depois do almoço, ainda se martirizando pelo dia anterior, encontrou Clary descendo as escadas, ela o abraçou e pulou animada, mas percebeu seu estado de humor e parou olhando-o confusa, seus grandes olhos azuis examinando atentamente seu rosto.

-Aconteceu alguma coisa? -ela perguntou o puxando pelas vestes até o lado da escada, parecia ter certeza sobre isso como Lily teria, Albus perguntava-se se era tão transparente. -Você está mal.

-É, essa é a aparência de quem decide ser um idiota. -disse com um sorriso fraco para segurar as lágrimas que insistiam em descer desde a noite anterior, quando do nada acordou na sua cama, sem se lembrar de como chegou lá. -Briguei com o Scorpius ontem, ele está me ignorando e... - Albus respirou fundo, era difícil controlar a água que enchia seus olhos e os embaçava. -E eu fiz que tudo acabasse, mas por favor, não vamos falar nisso. Você me parece feliz. 

Clary tirou uma de suas lágrimas antes que essa chegasse a metade da bochecha, voltou a enxugar o dedo nas vestes, aos poucos ela aparentava também querer chorar apenas o olhando e por ela Albus respirou fundo e tentou parar. 

-Se chorar por minha causa eu lhe mato. -ele brincou e Clary riu. -Me conte porque estava tão animada, talvez me ajude. 

Ela pareceu indecisa sobre o contar, não se sentia bem em compartilhar sua alegria quando Albus estava triste, queria o ajudar,  consolar o amigo e saber o porquê de terem terminado. Clary jogou os ombros e disse baixo:

-Estou conversando com James ultimamente, estamos nos encontrando na biblioteca. -suas bochechas enrubescem e ele ri, seu plano estava funcionando. -Talvez você tenha razão sobre ele gostar de mim. 

-E você? Gosta dele? -perguntou vendo o irmão do outro lado do salão com os amigos, James estava encostado na parede perto do Salão Principal, os olhava desconfiado e nem prestava atenção na conversa em que estava. Queria o contar a verdade, mas agora talvez não fosse o momento certo, não depois de tudo que aconteceu no dia seguinte. -É uma pergunta estúpida sendo que você desceu pulando a escada. 

-Não me faça ficar com mais vergonha. -Clary escondeu o rosto nas mãos enquanto Albus ria dela. -Ele é legalzinho. -disse com a voz abafada pelas palmas. 

-Hum. James! -gritou no Salão, Clary rapidamente levantou o rosto e tentou o fazer calar a boca, jogando as mãos no rosto dele que quase a mordeu sem querer. Com a atenção do irmão mais focada ainda, ele voltou a chama-lo até que ele estivesse vindo em sua direção. Clary tentou correr, mas ele a segurou pelo braço e ela ficou ao seu lado com o rosto completamente vermelho. -James, acho que obviamente já conhece Clary. É que ela não estava com coragem de te chamar para lhe fazer uma pergunta. 

Ela o olhou com os olhos arregalados e negou, um silêncio estranho se instalou entre os três. 

-Sobre o baile, Clarissa. -murmurou se inclinando para ela, e incrivelmente ela adotou numa nova cor de vermelho. -Ok, eu pergunto então... 

-Não! -respondeu esganiçada, Albus se sentia um pouquinho melhor, mas uma voz cortou o ar e ele a reconhecia muito bem para se virar para a escada com certeza de quem veria, lá estava Rick, os cabelos amarrados atrás como usava no jogo, a bolsa jogada nas costas e um sorriso enorme.

-Potter. -chamou e o irmão também atendeu. -Desculpem. Albus, não se esqueça do treino. -ele não esperou uma confirmação, apenas voltou a subir as escadas. 

-Vocês se resolvam. -disse ao irmão e a Clary antes de correr para a próxima aula que seria no terceiro andar, tinha que se apressar.

-X-

Aquele treino fora o mais tenso da sua vida, já a noite quando chegou no vestiário, deu de cara com Scorpius que abria a porta por dentro, já vestido com o uniforme do time e segurando a vassoura ao lado do corpo. Como esperado, Malfoy o ignorou completamente, passou direto por ele para o campo. 

Já no treino, Scorpius deixou claro que estava com raiva dele, quase o acertou um balaço o lançando para o gol e a tensão aumentou pois todos notaram que eles não estavam bem. Na pausa para descanso, Kevin sentou-se na grama ao lado de Albus e o perguntou bem direto:

-Estão brigados? -indiscretamente ele apontou com o queixo para Scorpius sentado bem distante com as meninas, destampou a garrafa de água e a bebeu esperando a resposta. 

-Terminamos, qualquer coisa que tínhamos. -disse cabisbaixo. Kevin se engasgou com a água e a tossiu no chão se voltando chocado para ele. 

-Vocês não pareciam está com nenhum problema ontem de manhã, conversamos até sobre irem juntos ao baile! -vendo que não estava ajudando o amigo, Kevin respirou fundo e pôs a mão no ombro de Albus. -Relaxa, vai dá certo, tenho certeza que isso não vai durar muito. Conheço vocês a pouco tempo, mas sei que daqui a pouco vão está se agarrando no vestiário. 

Albus arregalou os olhos para o apanhador, esse riu e negou voltando a fechar a garrafa. 

-Não foram nada originais fazendo isso. -Kevin disse voltando a se encostar na parede que subia e evitava que os torcedores das casas caíssem da arquibancada. Albus arrancava a grama úmida do chão sob si, um jeito de não levar os olhos a Scorpius. -Por que terminaram?

-Não acreditei que ele me amava... -Albus respondeu baixo e logo depois Rick se levantou de não muito longe e os chamou de volta para o treino. -Acho que não vamos voltar a nos agarrar no vestiário nem tão cedo. 

-X-

Na volta para a sala comunal, Scorpius esperou que Albus fosse antes e assim, quando chegou, não havia mais ninguém fora dos seus dormitórios. Ainda com o uniforme ele se jogou num dos sofás de couro e ficou olhando o teto de pedra, cheio de riscos, como foram feitos ele não sabia. Observou as chamas verdes que como sempre  dançavam sua dança hipnotizante. Perguntava-se se algum dia seu pai fora tão machucado como ele estava agora, se teria coragem de o pedir um conselho, de como concertar o coração. Mexeu os dedos e sentiu uma fisgada sob o curativo que Susan o fizera depois de cortar dos dedos no espelho do banheiro, talvez ele preferisse aquele tipo de dor. 

A porta do dormitório feminino abriu e Susan saiu, os cabelos de cor caramelo amarrados bem alto na cabeça, um pijama de flores verdes e os óculos escuros no rosto, ela sorriu o vendo ali, ainda não a contara nada e ela sempre o pressionava para desembuchar. Sentou-se abrindo espaço para a amiga que cruzou as pernas e o olhou atenciosamente. 

-Vamos lá, me conte. -disse como se ele tivesse dado a idéia, Scorpius riu e assentiu, cedendo aos pedidos da menina. -Finalmente. 

-Não vai ser nada legal. -à medida que ia com a história, desde a sala de aula até tudo que ouvira no banheiro, ela deixou uma lágrima cair quando ele disse que Albus parecia tão abalado quanto ele e cogitou o perdoar, mas quando ele disse que ele estava sendo manipulado, desistira da ideia. -Entendeu Susan? É por isso que eu estou o ignorando. 

-Scorpius... -ela disse chocada ainda, não conseguia dizer nada. -Mas... você ama ele. 

-Mais do que a mim mesmo. -admitiu, as lágrimas presas na sua garganta finalmente se libertando, pela primeira vez ele soluçou por causa de um amor e principalmente por alguém que ele nunca imaginou ser capaz de o fazer chorar. -Eu nunca mentiria quanto a isso. -disse baixo, Susan o puxou para um abraço, deixando que ele chorasse com o rosto no seu ombro. 

-Ele vai perceber isso. Você... vai querer ele de volta? -perguntou com cuidado alisando devagar os cabelos loiros do amigo. 

-Vai Scorpius? -outra voz perguntou, Malfoy levantou o rosto vendo Albus na entrada do dormitório, com a porta fechada, mas a mão ainda na maçaneta. Vestido já para dormir, com uma camisa branca e calças de pijama camuflada, ele estava lindo e isso era pior para Scorpius. 

Susan se levantou e olhou para os dois se sentindo excluída, apontou para o dormitório feminino e correu para sua porta, que parecia com a dos meninos, mas na presença deles por perto fazia o chão ficar deslisante e não os deixar entrar, só isso os diferenciava. Scorpius se levantou para fugir para o seu dormitório, mas Albus estava fechando a entrada. 

-Temos que conversar. -Albus sussurrou, com eles estando a dois metros de distância, poucos passos encurtariam isso. 

-Se conversarmos vamos brigar de novo. -Scorpius disse com um repentino interesse nos seus sapatos sujos de lama. -Me custou muito da última vez. -ele balançou a mão ferida.

-Devia ter ido na enfermaria. -reclamou Albus e se surpreendeu quando Scorpius riu, ele tinha o péssimo costume de rir em situações assim. -O que? 

-Qual seria minha desculpa a Madame Pomfrey? -quando levantou o rosto viu os olhos tristes de Albus analisarem seu rosto e onde antes desceram suas lágrimas, uma ainda beirava o olho direito. -Tenho certeza que não poderia conta-la oque aconteceu, não como você conta a qualquer um que esteja na sua frente. -da sensibilidade sua voz mudou para a rispidez. 

-Ele é nosso professor, amor, não piore as coisas. -Albus tentou dá um passo para frente, mas Scorpius recuou. 

-Não devia continuar me chamando assim. -disse voltando sua atenção para os sapatos. -Esse apelido tem o mesmo nome do porquê que brigamos. 

-Eu não quero você chorando por minha culpa. -Albus deu passos largos sem o dá tempo de fugir e agarrou seu braço. -Me odeie, me bata, mas não chore, por favor. -Scorpius continuou sem o deixar ver seu rosto, apenas um fungado o denunciou. -Ei, -Albus segurou seu queixo e o levantou o rosto. -Não. -disse o abraçando forte, passaram um longo tempo daquela forma, até Scorpius se afastar bruscamente. 

-Por que você me deixa tão fraco? -perguntou baixo o olhando acusadoramente. -Por que...

-Por que sempre acaba nos meus braços? -Albus disse como uma resposta. -Porque é assim que tem que ser Scorpius. 

-E se dessa vez não acabar assim? -Scorpius perguntou inclinando a cabeça. -E se eu não voltar para você? 

-Então pelo menos sei que tenho esperança que volte, "e se" é muito vago. -Albus sorriu e passou as mãos no rosto. -Pense assim, da última vez que brigamos não deu muito certo, talvez isso aconteça de vez em quando, talvez essa seja a maneira de nos apaixonarmos de novo e de novo. 

Scorpius sentia uma vontade louca de esquecer tudo aquilo, queria o provar que amava-o, queria continuar no abraço de antes, mas quando o olhava se perguntava oque ele pensava, se ainda acreditava que ele não o amava. 

-Continua acreditando que eu não o amo? Que sou fruto das invenções de Rose? -perguntou sério, Albus ficou quieto e o sorriso sumiu rápido. -Eu posso está fervendo de ódio de você por causa disso, mas você acreditando ou não, eu ainda te amo, mesmo tendo me feito  chorar e rasgar os dedos com aquele espelho. Não ache que vou voltar rápido ou ao menos que vou voltar, Albus. Você me machucou dizendo aquilo. -vendo Potter voltar a ficar cabisbaixo só quis fazer com que sorrisse de novo, então ao passar por ele não pode aguentar, voltou e o deu um selinho. -Eu ainda estou com raiva.