Após explicar a diretora sua parte em toda aquela historia, Scorpius se escondeu no Corujal e chorou até seu peito doer. Ele havia deixado Albus na Ala Hospitalar, e esse tentou o fazer ficar com ele ali, seria ótimo se não fosse o Albus que apenas o via como amigo. Cansado daquele dia terrível, Scorpius se sentou na parte mais limpa do Corujal, e encostou a cabeça na parede, o sono aos poucos foi o dominando, apenas para dar descanso a sua dor.
Quando voltou a acordar, ouviu alguém o chamando, com os olhos ainda manchados de sono, ele respirou fundo e fez um esforço para se levantar. Simon estava na porta do Corujal, sendo iluminado apenas pela luz da lua já que ali em cima não haviam velas flutuantes nem nada assim, corujas não gostavam de luz.
-O que foi? -perguntou Scorpius.
-Estávamos te procurando, faz bem uma hora. Vem. -ele acenou para que o acompanhasse e Scorpius o seguiu em silêncio pela escada espiral, até perto das escadarias para o Hall.
-Ele...
-Está dormindo agora, mais tarde Madame Pomfrey irá examina-lo melhor, se sentiu péssima por não ter notado que eu estava apenas desacordado.
-Imagino. -Scorpius suspirou e olhou o anel que permanecia no seu dedo. Se perguntava se Albus já havia o percebido. -Você pode os avisar que me encontrou? Eu quero ficar sozinho.
Simon parou no meio da escada, a um degrau abaixo dele e se virou.
-Claro que posso. -ele parou olhando o chão pensando no que dizer. -Scorpius, não fique tão mal com isso.
-Perdi meu melhor amigo e meu namorado, no mesmo instante, porque infelizmente eles são a mesma pessoa. -os olhos de Malfoy se enxeram de lágrimas e ele tentou as prender. -Não tem como eu ficar bem, Simon.
-Estavam discutindo na sala da diretora, ela e o seu pai, não sei se você vai concordar, mas... ele quer que você tenha aulas em casa, até o final do ano, ou mais. -ele disse meio apreensivo, e a expressão de Scorpius respondeu suas expectativas. -Estão lá em cima ainda.
-Aulas em casa? Isso é ridículo! -ele exclamou, ser ludibriado por seu pai era algo comum, mas com coisas pequenas, mas o trancafiar em casa pareceu inacreditável. -Eu vou subir.
Scorpius correu as escadas novamente, passou pelos corredores o mais rápido possível, fazendo em sua mente um discurso para fazer seu pai desistir. Sabia que na hora tudo sairia errado, mas no minimo podia tentar. Ele subiu pela Gargula de pedra e chegou a porta da diretoria. Respirou fundo diante dela e bateu, ela se abriu poucos segundos depois, revelando a diretora e o seu pai conversando, ela na cadeira de espaldar alto e ele em pé como sempre.
-Íamos mandar chama-lo, Scorpius. - disse Minerva ajeitando os óculos sobre o nariz pontudo, tinha um ar de pesar que incomodava Scorpius. - Sente-se.
-Eu não vou ficar longe dele. - disse ignorando o pedido. - Ele pode ter esquecido de tudo até agora, mas não é motivo para me manter longe!
- Scorpius você tem que entender que a cabeça dele está confusa, ele vai ter que relembrar tudo que aprendeu, além de ser estimulado a lembrar todo o resto, oque é muito difícil. -disse a diretora calmamente, via a aflição nos olhos cinzentos de Scorpius e sabia do romance envolvido ali. - Ele vai precisar de ajuda, mas não da sua. Não agora.
-Mas... -tentou argumentar, mas a voz falhou e ele teve que parar para segurar o choro.
- Para que tudo isso Scorpius? Serão alguns meses. Você nem vai sentir. -disse Malfoy friamente. Seria comum se Scorpius não estivesse notando que algo em sua postura estava diferente. -Entenda a diretora.
-Você não entende. -resmungou baixo. Sua mente passou pelos anos até ali e deu uma pontadinha no seu coração. Realmente seria difícil para Albus tudo aquilo, era como se lembrar do seu futuro, oque não tinha sentido nenhum. Ele respirou fundo e passou as mãos no rosto, o cansaço ainda o abatia. -Quanto tempo seria isso? -perguntou baixo. -Alguns meses?
-Você voltaria em setembro. -disse Malfoy enfiando as mãos nos bolsos e o olhando impaciente. -Eu sei que são amigos...
-Você entende de amizade? -Scorpius não pode segurar a língua, a pergunta saiu mais rápido e mais insolente do que planejava. Malfoy o olhou ficando com as bochechas coradas, de raiva ou vergonha, Scorpius não sabia. -Desculpa.
-Draco. Deveríamos deixar para pensar nisso amanhã. -sugeriu a diretora, tirando os óculos redondos do nariz e o pondo na mesa. -O que acha Scorpius?
-Eu... Acho que meu pai está certo. -admitiu com o peito pesado de dor, sabia que aqueles seriam meses difíceis passados em casa, mas do que adiantaria voltar para a escola e não ter Albus como sempre? Encarar aqueles olhos vermelhos medonhos, e não os verdes que tanto amava. -Eu vou falar com meus amigos e vou visitar Albus. -ele suspirou. -Encontro o senhor no Hall.
Ele saiu sem mais nem menos, passou por aquelas portas antes que pudessem ver as lágrimas brilhando no seu rosto. As limpou enquanto corria o caminho de volta para o Salão Comunal da Sonserina. As Damas do Chá conversavam com Sir Cadogan quando ele passou correndo, e gritaram para que ele não chorasse, claro que futuramente a notícia que ele chorara estaria por toda a escola. Elas eram as fofoqueiras profissionais da escola. Chegou no Sala Comunal quando seus músculos da perna já queimavam, então parou à porta e a abriu. Mais vazio que nunca, a Sala só acolhia seus amigos do time, que já estavam com cuidados da Ala Hospitalar. Ele se sentou perto deles e Susan o abraçou.
-Vai ficar tudo bem, Scorpius. Eles vão lembrar de tudo.
A culpa o atingiu por ter esquecido que Tessa estava na mesma situação que o seu namorado, ele não tinha mais lágrimas para derramar, assim como os outros, encarou o fogo dançar diferente na lareira. Não era a dança de todos os dias, de felicidade e animação por estarem as assistindo, mas algo melancólico as fazia dançar devagar e se entrelaçar com pesar. Se até as chamas pareciam ter vida naquele castelo, por que Scorpius não acreditava que a esperança também poderia?
-O que vai acontecer agora? -perguntou Rick sentado com as costas nos tijolos da lareira como sempre. Cabisbaixo e com o rosto inchado de chorar.
-Vocês vão cuidar deles por mim. -Scorpius disse respirando fundo. -Vou passar o final desse ano tendo aulas em casa.
Os outros se espantaram e não emitiram nada, mas as exclamações baixas eram sentidas.
-Não vou ajudar ele ficando aqui. Vai o confundir mais. -ele riu triste para o fogo. -Vocês vão continuar sendo amigos dele mesmo que ele tente dizer não são.
-Por que aceitou? -perguntou Simon franzindo o cenho. Ele se encontrava do outro lado de Susan, seus cabelos verdes desbotados pelo tempo e com a raiz castanha crescida, os olhos asiáticos estáticos no fogo da lareira, nao parecia alguém que estava dormindo, mas alguém vindo de uma guerra, onde imagens terríveis passavam por seus olhos várias vezes. -Devia ficar e ajudar.
-Não vou ajudar ele, Simon. Eu vou procurar o outro ele que não está lá. -explicou cabisbaixo. -Vou falar com ele uma última vez antes de ir. E então só próximo ano. Quando eu já estiver melhor, e ele já estiver pronto para aceitar que não é mais o mesmo.
-x-
Após arrumar suas coisas e as deixar com o seu pai no Hall, ele subiu para a Ala Hospitalar. Suas mãos suavam e estava nervoso para vê-lo pois fora avisado que ele estava acordado. Respirou fundo muitas vezes antes de chegar lá e quando parou na porta, ouviu sua voz conversando com Madame Pomfrey, ele parou e tentou parecer bem ao passar pelas portas. Ele estava numa maca entre duas Janelas e Tessa estava do seu lado oposto, desacordada. Albus o olhou confuso e riu. Quando o olhou no rosto, Scorpius viu que os olhos não era efeito que passava logo.
-Scorpius! -chamou rindo. -Você cresceu.
-Disse a mesma coisa antes. -Scorpius riu tentando se manter calmo. -Tudo bem?
-Ótimo. Me disseram que... eu perdi a memória. -ele mexeu no lençol que estava coberto e bufou. -Mas eu lembro de tudo que eu preciso. Sei meu nome, minha idade, o nome dos meus pais, onde estou.
-Você esqueceu tudo que aconteceu em dois anos. -Scorpius sussurrou com os olhos marejando.
-Então me conte alguma coisa. -sussurrou Albus. Parecia tão inocente e tão diferente, Scorpius não conseguia encara-lo. -Eu não esqueci de você, viu? Por que essa frescura toda?
-Você vai saber, Albus. -sorriu para o outro e segurou as lágrimas. -Você se esqueceu de muita coisa importante.
-Você está me preocupando. Eu te fiz alguma coisa? -perguntou apreensivo. -Meu Deus eu matei meu irmão!
-Não! -Scorpius falou mais alto que ele para evitar a loucura da cabeça de Albus. -Você nao matou ninguém, nem me fez nada. Um dia te contarão.
-...Scorpius, eu estava namorando? -perguntou surpreso, olhando a mão onde se encontrava a sua aliança. Scorpius escondeu os dedos debaixo da perna. Não tinha como ficar ali. -Quem eu estava namorando?
-Ninguém. Albus. -disse irritado tirando a aliança das mãos dele. -Pare de pensar tanto. Eu vou indo.
-Para onde?
-Para casa.
-Mas... Vai me deixar sozinho? -perguntou triste e Scorpius não aguentou as lágrimas. -Scorp...
-Não. Você vai ficar deitado aí. -disse se levantando e se afastando da cama. Seus lábios e mãos tremiam, as lágrimas se apertavam para fora dos seus olhos. -Não pense em futuro Albus, só faça oque eles quiserem. Se quiser... até me esqueça.
Ele saiu de lá com o choro preso na garganta. Parou um momento para respirar, olhou a aliança na sua mão e se prometeu que um dia ele voltaria a entregá-lo, enfiou-a no bolso e correu pelas escadas até o Hall onde seu pai estava.
-Vamos? -perguntou pegando a mala e sem olhar seguindo em direção às portas principais.
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