História Poker - Tormenta ou Dádiva?

Jungkook seguia pela calçada mantendo um ritmo constante de passos pesados e apressados. O apartamento onde residia não era muito distante da casa de Taehyung e, justamente por isso, não via motivos para precisar pegar um ônibus.

Após cerca de dez minutos, a fachada do prédio já podia ser vista por ele, fazendo-o andar ainda mais depressa.

Queria apenas tomar um banho e deixar que a água quente relaxasse seu corpo ainda tenso.

Mas, por mais que tentasse se focar em qualquer aleatoriedade, as palavras da senhora Kim e a visão da face magoada de Taehyung insistiam em lhe perturbar.

Estava tão imerso em devaneios que sequer percebera quando já havia entrado no apartamento e trancado a porta.

Pegou uma toalha de banho em seu quarto e seguiu rumo ao banheiro. No entanto, quando estava prestes a tirar o casaco, o celular vibrou em seu bolso.

Suspirou, entediado.

Pegou o aparelho em uma das mãos e o desbloqueou sem muito interesse. Surpreendeu-se porém, ao ver a notificação de que havia recebido uma mensagem de Taehyung.

Abriu-a de imediato, deixando-se levar pela curiosidade.

[09:39] Taehyung: Eu não posso perder você.

Engoliu em seco, se perguntando se havia passado tal impressão ao mais velho. Mordeu o lábio, apreensivo.

Sim, ele havia.

Não que fosse sua intenção.

Queria apenas poupar-se de ver Taehyung aturar calado tamanho transtorno. E, acima de tudo, tentar dar um fim àquilo, não vendo outra saída senão ir embora.

Aparentemente, sua tentativa de ajudar o mais velho acabou tendo o efeito inverso.

Sentia uma vontade imensa de bater a própria cabeça na parede. Afinal, no que diabos estava pensando quando resolveu que deixar Taehyung sozinho era uma boa ideia?

Importava-se demais com o Kim para pensar em lhe causar mais problemas. A culpa estava o alfinetando. Sua consciência pesava feito chumbo.

E apesar de frustrado consigo mesmo por ter agido de forma errada, não conseguira tirar o sorriso bobo do rosto.

"Eu digo o mesmo sobre você" — pensou, referente à mensagem que Taehyung lhe enviara.

Ao final, pôs-se a digitar uma resposta, com o típico sorriso de canto formando-se em seu rosto.

[10:42] Jungkook: Venha à minha casa.

Estava prestes a guardar o celular para enfim tomar seu banho, quando ouviu o vibrar do aparelho logo que o pôs sobre a pia. Cogitou se Taehyung estava aguardando sua resposta para enviar-lhe outra mensagem assim tão rápido.

E, cá entre nós, sim, ele estava, e não era algo difícil de perceber.

[10:42] Taehyung: Quando?

[10:43] Jungkook: Agora.

Guardou o celular sem esperar pela resposta e o desligou — apenas por garantia, caso o mais velho tentasse lhe ligar.

Correu pelo corredor e destrancou a porta de entrada. Sua animação demonstrava-se nas inúmeras vezes em que escorregou por estar indo rápido demais.

Voltou ao banheiro e despiu-se.

 Abriu o registro e adentrou o box, deixando que a água morna banhasse seu corpo.

Após momentos de silêncio (exceto pelo som da água se chocando contra sua pele), passos ressoaram no interior da casa.

— Guk? — Ouviu Taehyung chamar, a voz soando abafada pela distância.

Sorriu e permaneceu em silêncio. Passados alguns segundos, escutou o ranger da porta do banheiro. Segurava-se para não rir e estragar o silêncio, como se tudo não passasse de uma brincadeira de esconde-esconde.

Confuso, Taehyung andou até estar em frente à porta do box. Um grito esganiçado e surpreso se desprendeu de sua garganta quando as mãos do moreno o puxaram para debaixo do chuveiro consigo.

— Jungkook! — Protestou tentando se soltar, mas o mais novo se manteve firme na tarefa de lhe segurar.

Taehyung notou o sorriso arteiro no rosto bonito e deixou-se vencer. Tirou o casaco que continha seu celular — por sorte ainda seco — e o largou em algum canto no chão do banheiro. Repetiu o gesto com os sapatos.

Então foi a vez de Jungkook se surpreender quando os braços do Kim o rodearam em um abraço apertado, ao qual retribuiu sem jeito. Era um pensamento levemente infantil, mas ele estava feliz apenas por Taehyung estar ali.

— Desculpe por antes, eu n... — o mais velho iniciou a fala, mas foi logo interrompido.

— Não foi culpa sua — replicou Jungkook com a voz firme.

Taehyung suspirou com certo pesar.

— Ok — concordou Taehyung, abaixando o olhar. — Podemos não falar mais disso? Por favor.

Jungkook logo compreendeu que aquela era uma cicatriz dolorosa para Taehyung. O Kim não sabia como reagir quando o assunto em questão era a própria mãe.

 Jungkook prontamente assentiu e, ao se dar conta da situação em que estavam, sorriu. 

O mais velho tinha as madeixas castanhas orvalhadas pelos respingos das gotas do chuveiro e a frente da blusa praticamente transparente e colada ao corpo — cortesia do abraço que dera em Jungkook.

Taehyung sentia o peso do olhar do outro sobre si. Ao erguer o rosto, espantou-se em encontrar as orbes escuras em um contato direto com as suas, tornando-o, de repente, imóvel.

Todas as preocupações que lhe assolavam pareceram sumir ao deparar-se com o olhar carinhoso do Jeon. Os olhos arredondados possuíam uma leve curvatura nas estremidades devido ao pequeno sorriso que Jungkook já não mais se preocupava em esconder.

Aquela era uma boa hora para dizer a Jungkook o que estava guardando — ou ao menos parecia ser.

Entreabriu os lábios mas, por mais que quisesse, as palavras simplesmente não fluíam. Era como se travassem em sua garganta, fazendo-o engolir em seco devido ao nervosismo.

Ainda se sentia inseguro para expor seus sentimentos.

Jungkook notou a angústia na expressão de Taehyung. Pensou ser em razão do desentendimento de minutos atrás e, sem demora, iniciou uma trilha de selares e mordidas pelo pescoço de Taehyung, na intenção de distraí-lo — claro, ele sentira-se tentado a fazer isso desde o momento que a pele acobreada passou a contrastar com o branco da blusa, mas aquela era de fato uma boa desculpa para justificar tais ações.

O mais velho sorriu. Jungkook serpenteou sorrateiramente a mão pelas costas de Taehyung, puxando-o para mais perto. Independente do fato de estarem tendo um momento adorável, Jungkook estava nu.

Nu debaixo de um chuveiro, com as gotas cristalinas escorrendo pelo corpo atraente. Nu e com o corpo colado ao de Taehyung.

Taehyung deslizou a mão pelo antebraço bem trabalhado do rapaz, arranhando-o superficialmente.

— Eu sabia que ficarmos sozinhos debaixo de um chuveiro não ia prestar — comentou Taehyung e Jungkook não pôde evitar rir.