História Poker - O Melhor Para Ele

Taehyung sentiu a garganta secar, fazendo com que engolisse em seco.

O que faria agora? 

Vozes misturavam-se em sua cabeça, cada uma lhe indicando um caminho diferente. Mas, em síntese, todas gritavam para que respondesse algo ao mais novo. Então ele o fez.

— Não posso — sussurrou, sentindo seu peito apertar-se.

Um silêncio desconfortável preencheu o vazio do cômodo.

— O que foi? —  Perguntou Jungkook, deixando a voz o quão macia possível.

Apesar de estar decepcionado pela resposta que obtivera (principalmente após esforçar-se tanto para criar coragem para dizer aquilo a Taehyung), o Jeon mostrou-se mais preocupado que ofendido.

Após ter a história de Taehyung contada por um tal de Namjoon e de vivenciar na pele o que o mais velho passava diariamente no convívio com a mãe, ele estava mais do que ciente dos problemas do Kim. Tal fato contribuía para que fosse mais paciente quando se tratava de Taehyung.

"Gosto muito de você para deixar que fique com alguém como eu." — Pensou Taehyung. 

— Tae, está tudo bem. Eu... eu entendo se não quiser, acho que me apressei, desculpe — sua voz diminuía de volume conforme aproximava-se do final da frase. 

— Não se desculpe. Eu, eu... — Taehyung desesperou-se, tropeçando em meio às palavras. — E-Eu... 

Por alguns instantes, o mais novo sentiu seu coração acelerar e o ar tornar-se rarefeito demais para seus pulmões. Em sua mente, Taehyung estava prestes a dizer-lhe a famosa frase "eu gosto de você". 

Era tudo o que ele queria ouvir, e tudo o que Taehyung queria dizer.

Era engraçado como, naquela fração de minuto, ele percebeu o quanto Taehyung significava para si. 

Alguns segundos de emoção valem mais que horas de descanso.

O mais velho suspirou pesadamente.

— Eu sinto muito. — disse Taehyung por fim. 

O sorriso antes mínimo no rosto de Junkook tornou-se escasso, como se tivesse sido arrancado à força. 

O Jeon desviou o olhar para o lado e abaixou o rosto. Por um momento, Taehyung jurou ter visto a linha d'água dos olhos dele brilhar mais que o normal; úmida.

Jungkook realmente não esperava obter aquilo como resposta, o que fez com que o choque viesse com mais intensidade; quanto maior a altura, maior a queda.

Não que o moreno fosse sensível a ponto de chorar por conta de um fora, mas ele realmente havia tomado um belo tombo.

— Guk... — murmurou Taehyung, com pesar explícito em sua voz.

Taehyung não sabia como explicar a dor que sentira ao saber que quem havia retirado aquele sorriso e posto lágrimas nos olhos brilhantes de Jungkook fora ele. 

Sentia-se tirando o chão de quem havia lhe dado céu e estrelas.

Após recompor-se, Jungkook se pronunciou.

— Eu só pensei que... Ah, esqueça. Vamos esquecer isso, sim? Por favor.

O Kim mordeu fortemente o lábio inferior, se esforçando para não cair no choro. Se dependesse do que estava sentindo por dentro, já estaria sentado em algum canto da casa lamentando-se como se não houvesse amanhã.

Difícil mesmo era lembrar-se de que, sim, haveria um amanhã, e ele não o começaria ao lado de Jungkook. 

As coisas haviam saído de seu controle, ele estava seguindo no sentido contrário ao dos trilhos. 

O som da campainha irrompeu o clima tenso entre os dois. O mais novo afastou-se o mais rápido que pôde, como se aquela fosse a desculpa que estava esperando para dar o fora dali. 

Taehyung sentia-se péssimo — ou qualquer outro adjetivo que pudesse descrevê-lo como alguém que despencou até estar abaixo do fundo do poço.

Mas, não era como se ele realmente tivesse escolha. Precisava do dinheiro, e continuar vendendo-se em um cassino e se usufruindo de Jungkook como se este fosse um mero brinquedo à sua espera não parecia ser o certo a se fazer.

Por mais que pensasse na atraente possibilidade de encontrar outro emprego, no fundo, sabia que não encontraria outro serviço que pagasse tanto a alguém sem faculdade, com poucas habilidades e, como se não bastasse, sem experiência alguma.

Mesmo que sua mãe não merecesse tamanha dedicação sua, Taehyung não conseguiria conviver com o peso da culpa de ter sido o responsável pela morte da progenitora. A mulher mal se mantinha com sua ajuda, ter de se haver sozinha era uma opção descartável.

Poderia até mesmo pedir dinheiro emprestado para Jungkook, mas... até quando? Tirar dele mais de cinco mil por mês soava abusivo.

Desafiar Jungkook em um jogo e vencê-lo para obter o dinheiro era uma saída viável, mas de que adiantaria se no próximo mês ele tornaria a precisar do dinheiro?

Alguns lhe diriam para ouvir seu coração, mas foi exatamente o que ele fizera.

 Seu coração estava gritando para que ele optasse pelo que fosse o melhor para Jungkook, mesmo que isso custasse seu próprio sorriso, que só o mais novo era capaz de trazer à mostra.

Taehyung inspirou profundamente. Deslizou uma das mãos pelo cabelo, bagunçando-o.

— O almoço chegou — avisou Jungkook, enquanto colocava as duas refeições sobre a mesa da cozinha.

Taehyung exalou o ar pesadamente. Traçou seu trajeto até a cozinha e, ao chegar, ajudou-o a arrumar a mesa para almoçarem.

Sentaram-se e fizeram a refeição em silêncio.

Pareciam  dois estranhos dividindo o mesmo espaço. Era  a relação que Taehyung queria que tivessem mantido, antes de se perderem muito além dos toques.

O Kim não entendia por que aquele clima tenso lhe alfinetava tanto, ou por que se sentia mal a ponto de fazer com que a comida se recusasse a descer por sua garganta, tendo que ser forçada por ele garganta à baixo.

— Quer ajuda para lavar a louça? — Ofereceu Taehyung ao terminarem.

Jungkook apenas meneou a cabeça em negação e pôs os pratos sobre a pia. 

— Quer carona até sua casa? 

Taehyung jurara que a pergunta era na verdade uma maneira educada de pedir para que fosse embora. Bom, ele iria de qualquer forma.

— Não, obrigado. Não é longe daqui.

Nunca havia sido tão difícil ter uma conversa com alguém.

— Está bem — replicou o mais novo com a voz baixa, como se estivesse com o pensamento distante. 

Taehyung tornou a ir ao banheiro para buscar seu casaco. O mais novo deu-lhe uma sacola para que pusesse suas roupas molhadas e o Kim teve de apertar os olhos para não deixar pingar uma lágrima que aparecera no instante em que se lembrou de ambos rindo juntos.

Como algo tão recente podia estar agora tão distante?

Po que lembrar-se de um momento tão doce lhe trazia uma sensação tão amarga?

Quando estava prestes a sair, dando às costas para apartamento, sentiu a mão pálida de Jungkook tocar seu braço em um pedido mudo para que se virasse. Taehyung assim fez, arrependendo-se no instante em que seus olhos se encontraram com os de íris escuras.

Jungkook não entendia o motivo de Taehyung estar agindo daquela forma. Os olhos do mais velho o denunciavam, por mais que ele tentasse esconder. 

O sentimento ainda estava ali, intacto, bordado aos olhos castanhos e refletido nas estrelas dos olhos de Jungkook.

O Jeon aproximou o rosto do de outrem.

Taehyung não queria deixar tudo ainda mais confuso e difícil do que já estava, mas encontrava-se forças para sequer virar o rosto. Estava desabando.

Jungkook pressionou seus lábios contra os de Taehyung, vendo-o fechar os olhos. Descrever tudo o que fora sentido por Taehyung naquele instante preencheria um romance best-seller completo do The New York Times. O mais novo então encerrou o contato simples e, aproveitando-se da proximidade em que estavam, atreveu-se a perguntar:

— Sente apenas prazer com isso? 

Taehyung ergueu o olhar e, ao notar a seriedade da pergunta, apenas se afastou. Não saberia como responder sem que deixasse óbvio o que sentia.