História Poker - Retorno

Sentado na beirada da cama com o rosto repousando sobre as mãos, Taehyung aguardava a chegada do mais novo. Tudo parecia tão confuso. A lembrança do olhar daquele sujeito ainda estava o alfinetando.

A demora para a chegada de Jungkook começava a entediar Taehyung. Após cerca de vinte minutos, o morador da casa se fez presente. Jungkook veio em sua direção e sentou-se ao seu lado, suspirando pesadamente. 

— O que aconteceu? — Perguntou Taehyung, curioso. 

— Expliquei à polícia parte do que aconteceu, ao menos a parte que eu vi. Eles queriam falar com você.

O mais velho repuxou os lábios. Depois do pandemônio que vivenciara, tudo que Taehyung queria era esquecer a situação, nem que o fizesse apenas por algumas horas.

— Eu disse que você faria isso amanhã porque ainda não estava confortável para falar com eles hoje.

Taehyung meneou minimamente a cabeça em afirmação. Ficara realmente aliviado com a notícia. 

Mantiveram-se por alguns instantes em silêncio, até que Jungkook cortou a calmaria com uma pergunta:

— Se machucou? — Questionou de repente, provocando um pequeno curvar de lábios sorridente no Kim.

Ambos ainda olhavam para frente, intercalando o olhar entre a parede e a janela que a adornava.

— Estou bem, graças a você. 

Jungkook sorriu e enfim olhou para o lado. Sentiu uma alegria contida apenas em ver Taehyung ali consigo.

— Quer me explicar o que aconteceu antes de eu chegar? — Questionou Jungkook.

Taehyung fez uma careta. 

Jungkook riu baixo ainda fitando o rosto de Taehyung, traçando linhas imaginárias com seus olhos como se tentasse decorar cada traço.

Taehyung tinha uma expressão cansada, mas, ainda assim, estava bonito como de costume.

— Eu joguei contra aquele cara e venci. Mas, aparentemente, ele não sabe o significado de perder. 

— Estava jogando — murmurou Jungkook, deixando seu olhar decair novamente sobre a parede.

Taehyung mordeu o lábio sem saber ao certo o que dizer. Claro que contar que voltara ao cassino iria magoar Jungkook, mas mentir seria ainda pior.

— Guk... — chamou, tentando consertar a situação.

— Você não me deve satisfações, Tae. Tudo bem, sério — não, definitivamente não estava tudo bem, e Taehyung sabia. — É só, que... — suspirou pesadamente. — Deixa pra lá. 

— Jungkook, o que foi? 

Taehyung levou uma das mãos até o braço de Jungkook, fazendo um pequeno carinho no local. Surpreendeu-se ao ver o mais novo pôr a mão sobre a sua e a erguer, tirando-a. Recolheu o braço ao perceber que Jungkook não queria proximidade.

— Taehyung... — disse Jungkook elevando a voz, mas acabou optando por suspirar. — Desde quando você se importa?

Taehyung franziu o cenho. 

— Me importo mais do que você pensa — replicou.

Jungkook riu amargo.

— É fácil falar, não é? — Ditou entredentes. 

Taehyung notou que a face alheia esbanjava irritação, ao mesmo tempo que os olhos do mais novo adquiriram mais brilho; lágrimas?

Jungkook parecia decepcionado. Aquilo doeu em Taehyung.

— Jungkook, eu realmente me importo com você — o Jeon balançou a cabeça em negação repetidas vezes. — Jungkook... 

— Para, Taehyung! — Exaltou-se. 

Jungkook deixou a cabeça pender para trás conforme deslizava as mãos pelo cabelo, como se estivesse farto de tudo aquilo. 

Estava farto de se decepcionar. 

— Por que isso logo agora, Jeon? — Taehyung estava se controlando para não se irritar e deixar tudo ainda pior. 

— Quer saber por quê? — A voz do mais novo enfim deixou de lado a raiva e passou a demonstrar apenas mágoa. Taehyung ficou estático. — Porque eu não sei como é perder alguém, Taehyung, já que nunca tive ninguém para perder. Todos me deixaram antes, nem meus pais me quiseram, ou vai dizer que é mentira?

— Jungkook, você n...

— Me deixe terminar, Tae — por mais que o mais velho soubesse que ouvir aquilo seria doloroso, ele apenas assentiu. — Eu nunca tive alguém por quem chorar, nem mesmo alguém para chorar por mim. Eu nunca me entreguei de fato a ninguém, porque nunca tive a chance de o fazer. Você é o primeiro e único que me proporciona essa chance, mas, justo quando me entrego, você não retribui. Eu deveria ter confirmado se você sentia o mesmo por mim, antes de me apegar tanto a você — o mais novo riu sem humor. — É por isso, Taehyung.

Taehyung engoliu em seco, sentindo seus olhos umedecerem-se instantaneamente. As palavras ditas recentemente por Jungkook rasgaram-no como uma adaga.

Se deu conta de algo: não era apenas ele que não tinha mais ninguém com quem contar. Talvez por isso se dessem tão bem; eles só tinham um ao outro.

 O Kim repensou a situação em que estavam...

Mas o que diabos vinha fazendo?

Voltou a olhar para Jungkook. Viu-o com os cotovelos apoiados sobre os joelhos, o rosto baixo e a respiração pesada.

Desviou o olhar novamente para a parede no instante em que sua mente começou a nublar-se. Trincou fortemente os dentes, sentindo uma lágrima deslizar pela maçã de seu rosto e se perder no contorno do maxilar.

Raiva, frustração, medo. 

Taehyung tinha raiva de suas próprias ações, frustração devido às consequências que isso trouxe a Jungkook, e medo do rumo que as coisas estavam tomando entre eles.

Jungkook ergueu-se decidido a deixar o quarto. Não queria mais ter que vivenciar aquele pesadelo que era ser visto como apenas um estranho por alguém que o conhecia melhor do que ninguém.

Todavia, a mão de Taehyung segurou seu pulso, o impedindo de prosseguir com os passos.

A surpresa então pegou Jungkook de jeito quando Taehyung, em um movimento rápido e inesperado, levantou-se e o puxou fazendo com que se virasse para si.

Taehyung o beijou.

O mais velho tinha os olhos fechados e o peito apertado de saudade.

O moreno sorriu diminuto ao perceber que, à medida que movia seus lábios em conjunto com os de Taehyung, o aperto das mãos dele em seus ombros diminuía. Tinha total certeza de que aquilo era porque o Kim estava com medo de que ele o empurrasse ou recusasse o contato.

O mais novo quis bater a cabeça na parede e ver se algum amor próprio florescia da ação já que, após todas as decepções que tivera, lá estava ele se perdendo em um beijo afoito com Taehyung.

Os dedos de Taehyung serpentearam pelo cabelo de Jungkook. Puxava os fios de tom ébano sem dó sempre que o mais novo aumentava a força com que apertava sua cintura. Pareciam — e de fato estavam — sedentos um pelo outro.

O encaixe de suas bocas em conjunto com o atrito de seus corpos era sem dúvida uma combinação atraente. E era bom sentirem a presença um do outro.

— Eu n... — Taehyung iniciou a fala, mas interrompeu a si mesmo ao retomar o beijo. — Nã-ã... — Desta vez fora Jungkook o culpado pelo término precoce da frase; puxara Taehyung contra si como se fosse uma necessidade.

Jungkook infiltrou uma das mãos por debaixo da blusa de Taehyung, sentindo a pele dourada queimar sob seus toques.

Que se dane o amor próprio, ele só queria voltar a ter Taehyung para si, nem que fosse apenas por mais uma noite. Só queria poder se entregar de novo.

Taehyung concentrou-se e segurou o rosto do mais novo em suas mãos. Estava decidido a expôr seus sentimentos ali e agora.

— Eu não vou deixar você ir de novo — disse, e sentiu como se nunca tivesse falado tão sério sobre algo. 

Retomou o beijo. Seus dedos voltaram a deslizar por entre as madeixas escuras, vez ou outra as puxando e deixando-as bagunçadas, abafando os arfares baixos agora vindos por parte de Jungkook.

— Por que faz isso? —  Indagou Jungkook quando o ar se fez em falta, obrigando-os a se separarem.

 O mais novo tinha os olhos fechados e sua testa apoiava-se à de Taehyung, deixando que as respirações descompassadas se mesclassem.

— Faço o quê?

— Me deixa provar de você e depois vai embora. 

Taehyung entreabriu os lábios, sem emitir uma palavra sequer. Seu peito se apertou ao saber que de fato havia machucado quem ele queria tanto manter à salvo.

Desferiu um longo selar nos lábios cheinhos. Sentiu-se derretendo feito manteiga ao ter as mãos alheias dedilhando suas costas por debaixo da blusa.

— Eu não vou mais ir — disse e tornou a segurar o rosto do Jeon em suas mãos, depositando por toda a face uma série de selares que fez Jungkook rir. — Confie em mim. 

— Da última vez que fiz isso, as coisas não se saíram muito bem — disse e sorriu irônico. 

— Eu prometo — disse Taehyung, e em seguida abaixou o rosto com um sorriso envergonhado. — Eu gosto de você, Guk. Gosto muito.

Inicialmente, Jungkook não esboçou reação alguma. Taehyung preocupou-se. Todavia, todas as suas preocupações evaporaram como fumaça ao vento ao ver um pequeno sorriso preencher a face alegre do mais novo.

Era como se ele, inicialmente, não acreditasse ter ouvido a frase deixar os lábios de Taehyung. 

— Tae... — O Jeon sorriu sem jeito.

Era a primeira vez que ficava desconcertado e Taehyung segurou-se para não surtar e dizer que ele estava inacreditavelmente fofo.

Entretanto, logo o sorriso costumeiro, meio atrevido, voltou a adornar os lábios rosados. Jungkook segurou o queixo de Taehyung e o ergueu sutilmente, deixando seus rostos próximos.

— Você não sabe o quanto eu gosto de você.

O Kim sorriu abertamente e se deixou levar pelo embalo do beijo que Jungkook iniciara. Sentia os polegares das mãos do Jeon acariciando todo e qualquer pedaço de pele seu por debaixo da blusa.

Taehyung não se importava com quem estava ganhando a briga por espaço em suas bocas, ele apenas queria deixar que o moreno fizesse o que bem quisesse consigo.

Enganchou uma das mãos na nuca de Jungkook enquanto a outra deslizava pelo braço trabalhado, traçando listras vermelhas pela pele branquinha.

 Taehyung sorriu travesso colando seus quadris, deixando que suas intimidades se roçassem. O mais novo abaixou o olhar para a área e sorriu malicioso — sorriso este que fora capaz de fazer Taehyung estremecer com toda a luxúria contida ali.

As mãos do Jeon espalmaram-se debaixo de suas coxas e uma risada proveio de Taehyung quando Jungkook o pegou no colo.