História Poker - Motivos Para Merecer Um Beijo Seu

De repente, estar em um supermercado nunca fora tão desagradável; desconcertante. Taehyung estava perplexo. Os músculos de suas costas estavam tensos e ele empertigou-se para disfarçar a angústia que subira por sua coluna.

Jungkook crispou os lábios, pensando em qual reação deveria esboçar. Era certo que sua vontade resumia-se à pagar pelas compras e tirar Taehyung de perto do, aparentemente, namorado do sujeito que atacara o Kim noite passada.

Não devia satisfações a Jimin, afinal, mal o conhecia.

Mas, e se o garoto não soubesse de fato com quem estava se envolvendo? Se não soubesse do que o namorado era capaz de fazer quando ele lhe dava às costas?

— Hã... algum problema? 

Ouvir a voz de Jimin fez Jungkook sobressaltar-se, surpreso.

Taehyung abaixou o rosto, olhando para o lado oposto ao do caixa. Seus olhos passaram a mirar as pequenas rodinhas do carrinho de compras, e ele não se atrevia a tornar a fitar Jimin nem se lhe obrigassem. Estava nervoso demais para isso; angustiado. 

O Jeon pigarreou, tentando pensar em um modo de consertar a situação — ou ao menos de esclarecê-la. 

— Jimin, que horas você sai do trabalho hoje? — Perguntou. As palavras foram ditas com uma calma que não condizia com a situação. 

— Por que quer saber? — Devolveu a pergunta, receoso.

Francamente, que outra resposta ele poderia dar? Um estranho estava lhe questionando sobre que horas ele sairia do trabalho. O que impede que aquele homem seja um assaltante? Certo que a ideia não convencia nem a si mesmo. Mas ainda assim, era uma pergunta um tanto incomum vindo de um sujeito que acabara de conhecer.

— Sobre o cara que está com você na foto. Ele é seu namorado?

 Jimin meneou a cabeça em concordância.

 O gesto, em conjunto com o brilho confuso no olhar de Jimin, compadeceu Jungkook por instantes. O moreno deslizou as mãos pelo próprio cabelo, nervoso. Então, prosseguiu.

— Eu não sei bem como dizer, mas é sobre o seu namorado. 

Jimin engoliu em seco, afetado pela seriedade que a voz alheia transpassava. E, estava prestes a perguntar como Jungkook o conhecia, quando fora interrompido. 

— Vamos esperar você do lado de fora do mercado. Já é quase meio-dia. Estou certo de que você tem uma folga para almoçar, então nos encontre lá. É que... é meio complicado conversar aqui. 

Por fim, Jimin apenas suspirou enquanto assentia. Seguidamente, olhou para a fila de pessoas que se formava para usar o caixa. A quantidade absurda de pessoas ali o assustou, fazendo com que se despedisse apressadamente do casal.

Jungkook e Taehyung dividiram as sacolas com as compras e deixaram o estabelecimento. O Kim ainda parecia um pouco atordoado com tudo que acontecera.

Logo ao saírem do mercado, sentaram-se em um banco de concreto próximo dali. Em torno dos dois, pessoas conversavam, latidos de cachorro ecoavam distantes e o som de carros descendo a rua complementavam toda aquela sonorização. Jungkook só gostaria de saber por que tudo parecia tão silencioso para si. Na verdade, ele sabia bem o porquê.

Taehyung não havia dito sequer uma palavra desde que vira a foto no celular de Jimin.

O moreno pôs as sacolas no chão escoradas umas às outras e passou o braço por trás dos ombros do mais velho.

— ‘Tá tudo bem? — perguntou Jungkook, com a voz esbanjando uma preocupação quase palpável.

— Sim, eu só... — Taehyung desistiu do rumo original de sua fala com um suspiro. — O que vamos dizer a ele? Não precisamos ficar aqui, ele nem nos conhece. Vamos embora, por favor, Jeonggukie — pediu com a voz baixa.

Jungkook deixou um afago sobre o ombro do Kim. Fora impossível não sentir toda a ansiedade que Taehyung transpassara apenas com algumas palavras. Estava claro que Taehyung se sentia incomodado em ter de falar com o namorado do sujeito que ele mais queria distância.

— Ok — disse o moreno por fim, ajuntando as sacolas do chão. — Mas, acho que agora é meio tarde — comentou, receoso. 

Logo que ergueu o olhar para a rua, avistou Jimin vindo em sua direção. Largou as sacolas novamente e ergueu-se do banco, estendendo a mão para Taehyung. Se soubesse que o mais velho ficaria tão desconfortável ele decerto não haveria de ter combinado aquela conversa com o garoto do caixa.

— Então, o que queriam me dizer? — perguntou Jimin, desgostoso. 

Sua voz soara rude, mas não era como se ele se importasse. Ao menos não mais. Sua noção de como a voz soaria, esvaira-se ao perceber que o garoto de cabelos escuros tinha algo para lhe dizer sobre seu amado — e, à julgar pelas expressões do mesmo, não era nada bom. Estava ansioso.

— Eu não sei ao certo como contar isso, mas... 

— Por favor, seja mais direto — pediu, afobado. Estava começando a acreditar que, qualquer que fosse o assunto a ser discutido, possuía alguma validez.

— Seu namorado, nesse exato momento, está preso por tentativa de estupro. 

Jungkook engoliu em seco ao ouvir Taehyung pronunciar-se de forma tão direta. 

Jimin, no entanto, apenas sorriu em resposta, o que confundiu ambos. 

— É brincadeira, não é? — Riu breve. — Jong Sukkie está no trabalho. Ele me mandou uma mensagem ontem dizendo que teria de virar a noite no escritório porque tinha muito o que fazer, então não me venha com uma brincadeira de mau gosto desse tipo — protestou, irritadiço. 

Mas, para seu desagrado, tanto Taehyung quando Jungkook pareceram compadecer-se de si. Jimin esperava que ambos demonstrassem constrangimento ou surpresa, típico de quem falhou na tentativa de pregar uma peça em alguém. Todavia, agora ele estava começando a preocupar-se. 

— I-Isso não é verdade. Eu tenho certeza — declarou, tentando manter-se confiante.

— Jimin... — chamou Taehyung, com a voz de repente macia.

— Não! — retrucou, recuando alguns passos. — O que vocês ganham com isso? Sabem, essa brincadeira idiota. Já chega, estou perdendo tempo. Vou almoçar.

— Você não é obrigado a acreditar no que estamos dizendo. Mas, se está mesmo tão certo disso, por que não vai à delegacia? — Jungkook arriscou-se a dizer. Afinal, era uma verdade.

Taehyung ergueu o olhar, notando que o clima entre os outros dois garotos estava se tornando mais tenso a cada palavra proferida.

— Jimin, ouça — pronunciou-se Taehyung, ganhando a atenção de ambos (especialmente de Jungkook) para si. — Nossa intenção não é começar uma briga para ver quem está dizendo a verdade. Só queríamos te avisar sobre o que aconteceu — Taehyung segurou a mão do namorado. — Passar bem.

Jungkook não pôde esconder a surpresa em ver o Kim, que antes parecia intimidado, tomando as rédeas da situação.

Seguiu o mais velho pela calçada, evitando olhar para trás.

Taehyung estava mais quieto do que o normal. Seus lábios não carregavam mais um sorriso largo desde que Jimin lhes mostrara a foto, e ele sequer olhava para si.

Chegaram ao apartamento. Taehyung, por ter sido o último a sair, carregava consigo a chave. Tratou de destrancar a porta e, seguidamente, ambos entraram.

O Kim ainda estava em silêncio, o que deixara Jungkook intrigado. Puseram as sacolas contendo as compras sobre a mesa da cozinha.

— Tae — chamou, aproximando-se do rapaz. —  Está mesmo tudo bem?

Taehyung suspirou baixinho. Estava de costas para o Jeon, ajudando-o a desempacotar as compras.

— Nós realmente precisávamos ter ido falar com Jimin? Quer dizer, podíamos ter apenas visto a foto, nos despedir e sair daquele mercado — Taehyung abaixou o rosto enquanto falava, o que não era de seu costume, mas que estava ocorrendo com frequência naquele dia em questão. — Eu só quero distância de toda essa confusão, vamos deixar isso para a polícia cuidar.

— Eu sugeri que falássemos com Jimin porque ele parecia não saber de nada, achei errado deixar ele continuar sendo enganado da forma que estava sendo — replicou. E, no segundo seguinte, se arrependeu. O mais velho parecia tão retraído.

Taehyung crispou os lábios.

— Tem razão. Só... podia ter me perguntado se eu queria mesmo ir junto — comentou, ressentido.

Jungkook se aproximou ainda mais.

— Eu nem percebi que fiz isso — murmurou.

Lembrou-se só então de que Taehyung lhe pedira para irem embora logo ao se sentarem no banco de concreto do lado de fora do supermercado.

Um sentimento de culpa cresceu em seu âmago; ele estivera preocupado com a quietude e desconforto de outrem, mas mal se dera conta de que a culpa era, em grande parte, sua. Afinal, fora ele quem combinara de falarem com Jimin quando tudo que Taehyung desejava era afastar-se do garoto.

— Desculpe — disse contra a bochecha de tez acobreada, e em seguida desferiu um selar no local.

O Jeon envolveu a cintura do mais velho em seus braços.

Taehyung agarrou-se aos ombros largos, descendo as mãos carinhosamente até o peitoral alheio. Estava cedendo. Francamente, era difícil para Taehyung manter-se agarrado ao próprio orgulho quando o rapaz de olhar feroz lhe fitava tão mansamente. Isso sem contar o toque carinhoso em sua cintura.

— Essa é uma boa hora para você me beijar — provocou Taehyung. Mesmo que a fala aparentasse sair forçada de sua garganta, o resultado fora o mesmo: quebrar o clima pesado que recaía sobre si e sobre o Jeon.

Havia desistido havia tempo de uma discussão desnecessária — ainda mais após Jungkook ter se desculpado.

— Então eu estou perdoado? — Jungkook animou-se, expondo um sorriso de canto.

Conteve um suspiro de alívio ao ver Taehyung abrir um sorriso pequeno. 

— Está, mas vou te "desperdoar" se não me beijar agora — ameaçou, divertindo-se.

Jungkook arqueou uma das sobrancelhas, apenas para contrariar.

— Então eu deveria? — Perguntou Jungkook, deixando que seus olhos pousassem sobre os lábios convidativos do outro.

— Sim, você deveria — colou seu corpo ao alheio. 

 O mais novo aproximou-se vagarosamente, semicerrando os olhos ao passo que o Kim desviava o foco da visão para seus lábios, assim como fizera consigo anteriormente.

Jungkook inclinou a cabeça minimamente para o lado, se aproximando pouco a pouco. As pupilas de seus olhos miravam a boca de lábios finos e exepcionalmente macios de Taehyung. Queria — e como queria — beijá-lo. E teria o feito, se o mais velho não tivesse esperado que os lábios de ambos se roçassem para virar o rosto com um sorriso diminuto. 

— Acho que estou sendo fácil demais — disse, com um sorriso ladino estampado no rosto. — Me convença.

— Convencer? 

— Uhum — retrucou, sem prestar atenção no que diria ou havia dito. 

O corpo atraente do Jeon junto ao seu; a respiração leve tocando a tez de seu rosto; os olhos escuros mirando seus olhos, sua boca, cada traço de sua face. Estava realmente difícil resistir à tentação.

— Ok, vejamos... — Jungkook sorriu, sapeca. — Chega mais perto que eu te digo um motivo para me beijar — sussurrou, aproximando o rosto da orelha do Kim. — Pronto? — Taehyung meneou a cabeça confirmando, curioso. — Lá vai... — O mais velho sorriu em expectativa. — Eu... comprei... pizza.

Taehyung afastou o moreno com as mãos, rindo alto. 

— Jungkook! 

O mais novo riu em conjunto, mas não se comparava à crise de risos do Kim.

— Não acredito que disse isso! 

— Por quê? — Perguntou, ainda rindo.

— Pensei que fosse dizer que me ama ou coisa assim, mas de repente voc... 

O mais velho se calou no instante em que sua cintura tornou a ser envolvida pelos braços fortes. Jungkook sorria de lado, com um olhar mais animado que o de costume. 

Estava prestes a perguntar o porquê do outro ter mudado de atitude tão rápido quando se deu conta do arranjo de palavras que usara. "Pensei que fosse dizer que me ama ou coisa assim". 

Ah. 

Jungkook sorria bobo para o Kim, que se segurava para não desviar o olhar, tamanha era a vergonha que o tomara tão de repente. Todavia, Jungkook teve uma surpresa e tanto quando, no momento em que iria se declarar, Taehyung o fez primeiro. 

— Eu te amo, Jungkook.