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História Polaris - Polaris


Escrita por: yosafire

Notas do Autor


Presente de aniversário pra uma das minhas amigas mais importantes do mundo. Feliz aniversário, Kat, você é minha estrela ♡

Capítulo 1 - Polaris


“Polaris, ou Estrela do Norte, é a estrela mais brilhante da constelação da Ursa Menor e durante séculos serviu para nortear os viajantes por ser uma referência para se encontrar o norte.” Era essa a informação contida nos livros de astronomia de Yoongi que acabara de ser lida em voz alta por Jimin. O garoto mais novo levantou os olhos das páginas com um olhar questionador.

– O que isso quer dizer?

– Quer dizer que a Polaris ajuda os viajantes perdidos a encontrarem seu caminho.

– Então... – Jimin fez uma pequena pausa para pensar enquanto levava o dedo indicador ao queixo. – Você é como a minha Polaris, Yoongi. Porque é sempre você quem me ajuda a encontrar o caminho de casa quando me perco.

Yoongi sorriu levemente. Aquele tipo de pensamento era tão inocente e característico de Jimin que chegava a diverti-lo.

 

Yoongi amava estrelas e por isso amava Jimin. Ele era como alguém que sempre estivera por ali desde a sua infância, no meio de várias outras estrelas. Porém, em algum momento, Yoongi percebera que ele brilhava mais que os outros. Em algum momento Jimin se tornou a Sirius de seu céu noturno, a estrela mais brilhante que conseguia enxergar.

– Você vai fazer astronomia, Yoongi?! Isso é incrível! Você deveria ter me falado antes, eu sempre quis conhecer alguém que gostasse de astronomia.

Era quase impossível controlar a emoção que sentia por ver a animação de Jimin. Era a primeira vez que alguém se mostrava interessado no assunto, geralmente apenas o chamavam de nerd e sugeriam que fosse procurar cursar algo com mais importância na sociedade. Mas Yoongi não ligava, pois amava estrelas. Amava suas formas, cores e brilhos. Amava como nasciam, como morriam, como formavam supernovas, buracos negros e gigantes vermelhas. Estrelas o fascinavam, não era tão simples explicar seu amor por elas.

Mas Jimin o entendia. Ao menos um pouco. Podia perceber quando seus olhos se tornavam grandes e cintilantes enquanto observava algumas imagens dos livros de Yoongi, encantado com suas belezas.

– Yoongi, o que é isso?

Os olhos de Yoongi acompanharam o dedo estendido de Jimin sobre uma página de seu livro, repousando sobre uma bela imagem colorida.

– Isso é uma nebulosa, onde estrelas são formadas.

– Elas são muito lindas, talvez a mais linda que eu já vi na vida.

Para Yoongi nem mesmo a beleza das nebulosas podia se comparar à beleza de Jimin. Embora pensasse daquela forma, aquelas palavras nunca poderiam sair de seus lábios. Deveriam ser enterradas em alguma parte profunda de seu ser sem nunca enxergarem a luz do sol.

– Que tipo de estrela você acha que eu seria? – perguntou o menor. Um tipo de pergunta que surpreendeu Yoongi.

– Você seria uma anã vermelha por elas serem pequenas.

Jimin inflou as bochechas, fazendo um bico.

– Eu não sou tão pequeno assim. E então você também seria uma estrela anã já que somos quase do mesmo tamanho.

– Eu seria uma anã marrom. São de menor massa e pouca luminosidade, consideradas estrelas fracassadas.

O menor se voltou rapidamente para Yoongi, seu cenho franzido e uma expressão repreensora em seu olhar.

– Eu não posso permitir que você diga isso, Yoongi. Você é minha Polaris, se esqueceu? A estrela que guia os viajantes perdidos. Você não é uma estrela fracassada.

Jimin era bom demais para aquele mundo. Cada vez mais Yoongi tinha a certeza de que ele era uma estrela nascida no espaço que acabara caindo na Terra. Era mais brilhante que Sirius, talvez mais brilhante que qualquer outra estrela já descoberta pelos astrônomos.

– Obrigado, Jimin – respondeu com um leve sorriso nos lábios.

Ele era sua estrela.

 

Estrelas são corpos negros que absorvem toda a luz incidente sobre si, irradiando para o espaço muito mais do que absorvem. Jimin também poderia ser considerado uma estrela com esse tipo de conceito, pois seu brilho conseguia ofuscar até mesmo o sol, seu principal fornecedor de luz. Talvez a estrela central do sistema solar se sentisse irritada por perder a competição, mas nada era um real desafio para o garoto.

Por considerar Jimin sua estrela, Yoongi pensava que sempre o teria ao seu lado para iluminar seu caminho e guiá-lo. Porém, alguns anos mais tarde, descobriu que não seria tão simples assim.

Yoongi ainda era um estudante e, como todo bom estudante, deveria entrar para a faculdade ao fim do ensino médio. Não teve problemas com isso por ser um aluno razoavelmente bom, embora sua única opção de faculdade ficasse algumas cidades dali. O que significava que precisaria se separar de Jimin.

– Yoongi, isso é o que você sempre quis – disse-lhe o garoto na noite que conversaram sobre o assunto. – Você não pode desistir e tentar fazer outra coisa se isso te fizer levar uma vida infeliz. Eu não vou aceitar que você faça isso.

As estrelas brilhavam no céu escuro acima de suas cabeças. Pareciam ainda mais fortes naquela noite, como se quisessem persuadi-lo ainda mais.

– Eu não sei se vale a pena – o mais velho suspirou. – Eu... vou sentir sua falta.

Yoongi sentiu algo quente e pequeno sobre sua mão, deparando-se com a própria mão de Jimin sobre a sua. Seus olhos olhavam-no fixamente, parecendo soltar inúmeras pequenas faíscas pelas suas orbes negras.

– Quando sentir minha falta olhe para as estrelas. Eu sempre vou estar olhando para elas também, vai nossa forma de nos conectar.

– Isso parece uma coisa de um filme romântico brega – Yoongi resmungou, embora sentisse suas bochechas estranhamente quentes.

Jimin pigarreou, retirando sua mão. Yoongi sentiu falta da pequena fonte de calor automaticamente.

– Eu também sempre vou te ligar, claro. E não vai ser uma separação definitiva. Pelo menos só até eu terminar o ensino médio e poder me mudar também.

–Sim, você está certo.

O resto da noite passaram observando o céu noturno, identificando suas constelações e algumas de suas estrelas. Quando se cansaram, apenas deixaram-se ficar em silêncio, recostados um sobre o outro e aproveitando os últimos momentos de companhia.

 

Yoongi nunca se sentira tão distante das estrelas. Embora sempre estivessem a uma distância de alguns anos-luz de si, sempre sentia que elas se encontravam mais próximas. Talvez devido a Jimin, em grande parte. Mas até mesmo sua estrela que sempre estivera ao seu lado não estava mais tão próxima.

Sua disposição para estudar parecia sumir um pouco mais a cada dia. Não havia nada de errado com seu curso, era exatamente o que sempre amara e sonhara em fazer. Porém não se sentia disposto nem mesmo para abrir seus livros antigos que ganhara na infância para observar as figuras do espaço. Algo que sempre servia para tranquilizá-lo nos piores momentos.

– Como você está se saindo nas aulas, Yoongi?

– Está tudo bem. Já sabia de várias coisas que meus professores falaram então não precisei estudar muito.

Em parte era verdade, mas em maioria era mentira. Porém não queria fazer Jimin se sentir culpado, o que tinha certeza que aconteceria caso resolvesse dizer a verdade.

– Fico feliz – a voz de Jimin realmente transparecia uma pequena felicidade, embora parecesse acompanhada de uma grande melancolia. – Você conseguiu se enturmar?

– Não muito. Conheci alguns garotos divertidos, um garoto mais novo chamado Jung Hoseok que também está no seu primeiro e um veterano chamado Kim Seokjin. Eles são boas companhias.

– Eu espero que você não me troque por eles – ele estava brincando, mas Yoongi ainda podia perceber um certo nervosismo e seriedade em sua voz.

– Jimin, eu não seria capaz de te trocar. Eu não converso sobre astronomia com ninguém como costumávamos fazer. Você ainda é meu melhor amigo.

Doía um pouco para Yoongi dizer apenas que Jimin era seu melhor amigo, porque ele significava muito mais do que isso. Jimin era sua estrela, sua amada estrela, a coisa mais importante no mundo para Yoongi e aquilo que ele mais amava. Era quem iluminava seus dias e lhe dava forças para seguir em frente. Ainda naquele momento era extremamente doloroso estar longe dele, como se algum de seus órgãos estivesse faltando. Mas evitava ao máximo que aquilo fosse transparecido naquelas conversas por telefone. Queria que Jimin continuasse bem sem ele, não queria que soubesse como estava mal.

Por isso ele precisava ser forte. E precisava que Jimin também fosse e continuasse com seu brilho único.

– Hum, tudo bem – foi a resposta que ouviu do outro lado da linha. Mostrando-se agora um pouco mais animada. – Você ainda está olhando para as estrelas todo dia?

– Estou olhando agora mesmo – e realmente estava. A janela de seu quarto possuía uma bela e limpa vista que o permitia enxergar uma boa parte do céu estrelado. Já era um costume conversar com Jimin enquanto o observava. – E você?

– Eu sempre estou. Às vezes até mesmo de dia. Me pergunto o que você estaria fazendo, se está se alimentando bem e tendo horas adequadas de sono. Mas de noite é quando eu posso fazer isso com calma e imaginar o seu rosto enquanto conversamos.

– Você ainda se lembra bem do meu rosto?

– Claro que sim! Não há como me esquecer do seu rosto metido quando está explicando alguma coisa de astronomia.

– E não há como eu me esquecer de você agindo como uma criança quando eu te chamava de estrela anã.

Jimin riu. Uma risada leve que parecia liberar todo o nervosismo que acumulava. Aquele som penetrou os ouvidos de Yoongi, trazendo-lhe sensações que não se lembrava de sentir há um bom tempo, desde que se separara de Jimin. Aquele era talvez seu som favorito no mundo, o único que conseguia deixa-lo com aquele calor no peito e falta de palavras mesmo distante.

– Eu vou estar maior que você quando nos encontrarmos, Yoongi. Isso eu posso dizer com certeza.

– Se esforce bastante, estrela anã.

 

Apesar de alguns momentos bons, não foram tempos fáceis para Yoongi. A falta que sentia de Jimin começava a se tornar incontrolável, quase o consumindo por inteiro. Era como se a estrela principal de sua constelação houvesse se apagado, criando um espaço vazio em seu interior e deixando-se sem rumo e incompleto.

Sentia falta de ter alguém para conversar sobre astronomia – não era mesma coisa fazê-lo com seus colegas de turma –, para passar várias horas da noite observando as estrelas e reconhecendo constelações. Sentia falta de tudo sobre Jimin, desde o modo como seus olhos se fechavam quando sorria até sua voz aguda e suas risadas. Não conseguia mais lutar contra o fato de que realmente o amava, amava-o mais do que a própria astronomia. E agora ele se encontrava mais distante do que nunca.

Jimin esforçava-se ao máximo para esconder a saudade que sentia. Yoongi podia perceber como ele se esforçava, embora frequentemente falhasse um pouco em sua tarefa. O mais velho sempre fora melhor em esconder seus sentimentos, afinal.

– As estrelas deveriam me guiar de volta para casa, não é? Você deveria me guiar quando eu estivesse perdido, Yoongi. Mas as estrelas não brilham de dia, elas apenas aparecem de noite e isso não é tempo o suficiente para me fazer encontrar o caminho. Talvez seja por isso que não possamos nos encontrar.

Yoongi sentia seu peito se contrair com cada palavra. Podia sentir a dor e desanimação na voz de Jimin e aquilo o destruía por dentro. O que mais queria era poder encontrá-lo em cinco minutos e abraçá-lo forte para dizer que estava ali, que estava tudo bem agora. Mas aquilo não se passava de um luxo que Yoongi não era capaz de desfrutar. O máximo que podia era tentar confortá-lo pelo seu celular.

– Eu vou voltar o mais rápido possível, tudo bem? Vai passar antes que possa perceber.

– Isso não funcionou muito até agora – Jimin suspirou.

– Você deveria procurar amigos, Jimin. Vai te ajudar a se distrair e vai fazer o tempo passar bem mais rápido.

– Eu não tenho muito em comum com as pessoas daqui... Você foi meu primeiro amigo de verdade, você sabe disso. Eu não sei como fazer amizades.

– Tente fazer isso por mim. Eu sei que você consegue.

Um silêncio do outro lado da linha. O único sinal da presença de Jimin na ligação era sua respiração pesada sobre o autofalante do celular. Sua voz estava fraca e indefesa quando finalmente voltou a sair.

– Eu posso tentar...

E Yoongi se sentiu aliviado por acreditar estar fazendo a coisa certa.

 

Jimin voltou a telefonar três dias depois. Era um pouco incomum que ele deixasse mais de um dia se passar sem telefonar, mas as preocupações de Yoongi desapareceram quando ouviu sua voz animada.

– Yoongi, eu consegui fazer um amigo!

Sua euforia parecia a de uma criança que contava um acontecimento incrível do dia para a mãe. Yoongi achava aquilo extremamente adorável

– É um garoto da minha sala, se chama Kim Taehyung – ele continuou. – Nós estudamos juntos há muito tempo, mas foi a primeira vez que conversamos. Ele é bem fácil de conviver e tem amizade com todo mundo, acho que vamos nos dar bem.

– Isso é ótimo – Yoongi sorriu para si mesmo. – Espero que se deem bem.

– Eu espero também, torça por nós, Yoongi. Não posso falar muito agora porque vamos assistir um filme. Volto a te ligar depois.

Um clique no telefone e a linha se tornou muda. Yoongi estava sozinho novamente com suas anotações de aula e o céu estrelado do lado de fora.

 

Jimin não ligou no dia seguinte. E nem na semana seguinte. Yoongi apenas obteve notícias após dez dias. O outro continuava animado, talvez mais do que a vez passada, e passou cerca de quarenta minutos contando suas aventuras com Taehyung. O mais velho ouvia atentamente, sentindo-se feliz por finalmente poder escutar o entusiasmo de volta na voz de Jimin, mas com uma pequena sensação que parecia incomodá-lo no fundo. Porém apenas a ignorava.

As ligações começaram a se tornar menos frequentes. Já era normal que passassem mais de uma semana sem se falarem. Yoongi tentava ligar-lhe algumas vezes, mas, nas raras vezes que o mais novo atendia, dizia-lhe que estava muito ocupado para conversar e que ligaria mais tarde.

Yoongi sentia seu espaço vazio crescendo cada vez mais. Ouvir a voz de Jimin era a única coisa que o permitia se sentir mais próximo do garoto, mas agora apenas se sentia ainda mais distante. Como se fosse um astronauta perdido no espaço a vários anos luz da Terra.

Jimin voltou a lhe ligar duas semanas depois da última vez que se falaram. Contava sempre sobre as mesmas coisas: Taehyung e o que faziam juntos. Não perguntava como Yoongi estava passando, como estavam suas notas, se estava se alimentando e dormindo adequadamente, apenas falava daquele garoto. Yoongi sentia a irritação crescendo dentro de si.

– Você só consegue falar sobre esse garoto?

As palavras saíram mais ásperas do que calculara, haviam sido extremamente ríspidas. Mas ele estava cansado, havia tido um dia cansativo estudando milhões de coisas que Jimin nem ao menos se importava. Estava cansado de tudo.

– Eu pensei que você gostasse de ouvir sobre ele

– Eu não gosto de ouvir o tempo inteiro! Esse era um momento para nós, para falarmos sobre nossos dias, o que fizemos e o que vamos fazer amanhã. Mas você nem se preocupa mais com a minha rotina depois que conheceu esse Taehyung.

– Você quer que fiquemos horas na linha em um clima melancólico por não podermos nos ver? Eu pensei que você estivesse feliz por mim, Yoongi! Como pode ser tão egoísta?! – a voz de Jimin subitamente explodiu do outro lado da linha, fazendo Yoongi se sobressaltar e ser incapaz de formar palavras concretas. – Você sabe por quanto tempo eu sofri por você não estar aqui? Por quanto tempo me senti sozinho? E agora que eu finalmente melhorei você começa a reclamar? Eu não te entendo, Yoongi!

– Então você deveria ter me avisado que não conseguia manter mais de duas amizades ao mesmo tempo, que uma hora você iria me trocar simplesmente por não podermos nos ver.

– Como você pode dizer isso?!

Jimin soara extremamente magoado dessa vez e Yoongi começava a perceber que talvez tivesse exagerado. No fundo sabia que estava exagerando, sabia que tudo não passava de uma crise de ciúme infantil e de problemas de insegurança. Mas sua racionalidade não conseguia falar alto o bastante para ser ouvida naquele momento.

– Você não estava planejando voltar a me encontrar, não é? Você só estava esperando encontrar um substituto para mim para não precisar se mudar para cá. Bem, eu espero que Taehyung seja um ótimo melhor amigo para você.

Silêncio. E então Yoongi ouviu uma fungada do outro lado da linha e o som seguinte partiu seu coração.

–Você realmente acha que eu seria capaz disso?

A voz de Jimin estava quebrada, embargada pelo choro preso em sua garganta. Mais uma fungada e Yoongi agora tinha certeza de que ele estava chorando. As palavras se encontravam em conflito em sua boca, todas querendo sair ao mesmo tempo e criando uma confusão irreparável.

– Jimin... – foi o que conseguiu dizer antes de ouvir um “boa noite, Yoongi” e então silêncio absoluto do outro lado da linha.

Yoongi se deixou cair sobre sua cama, o celular escorregando de sua mão para o colchão ainda com a tela acessa no contato de Jimin. Levou as mãos à cabeça, tentando processar o que acabara de acontecer.

O que ele havia feito?

 

Não houve novas ligações pelos próximos dois meses. Yoongi tentara ligar várias vezes, todos os dias pelo menos, mas Jimin nunca o atendeu. Havia tentado mandar mensagens, mas duvidava que elas haviam sido lidas.

Sentia-se um idiota, um completo idiota. Não sabia como havia conseguido ser tão estúpido a ponto de dizer aquelas coisas para Jimin. Logo Jimin que se mostrava sempre tão arrasado pela situação em que se encontravam. Não deveria ter deixado seu ciúme falar mais alto, nem ao menos sabia se merecia perdão.

– Yoongi, você está escutando?

Yoongi levantou os olhos de seu prato de comida para encontrar as orbes acastanhadas de Hoseok. Provavelmente estavam em uma conversa sobre buracos negros, embora tenha conseguido captar apenas as primeiras palavras antes de se afundar em seu mundo interior.

– Yoongi não está bem nos últimos dias, acho que brigou com o namorado – disse Seokjin antes de levar seu garfo cheio de comida à boca.

– Jimin não é meu namorado – rebateu Yoongi. – E não, nós não estamos nos falando.

– O casal perfeito está separado? – Hoseok arregalou os olhos e levou uma das mãos ao peito de forma dramática. – Mas vocês não tinham feito promessas românticas sob a luz das estrelas de esperarem dois anos para voltarem a se encontrar?

As bochechas de Yoongi se aqueceram. Por que eles eram seus amigos pra início de conversa?

– Não foi nada desse tipo. Nós só somos melhores amigos e ele viria pra cá quando terminasse o ensino médio.

– De toda forma você está com o coração partido – continuou Seokjin. – Você está mais calado que de costume e parece sempre muito avulso. Há quanto tempo estão assim?

– Dois meses.

– Dois meses?! – Hoseok era extremamente escandaloso sem muita necessidade, Yoongi havia se lembrado disso. – Você aguentou esse tempo todo sem o amor da sua vida?

Yoongi começava a ficar irritado. Se o intuito de seus amigos não era ajudá-lo por que continuavam tocando no assunto? Aquilo só servia para lembrá-lo como era um completo idiota.

– Sim e eu tentei pedir desculpas, ok? Mas ele não responde minhas mensagens e não atende minhas ligações. Não sei mais o que fazer.

Talvez ele estivesse se mostrando completamente vulnerável e despedaçado naquele momento, pois Hoseok lhe lançou um olhar terno de compaixão e seu tom de voz diminuiu para um extremamente suave.

– Você deveria visitá-lo. É provavelmente sua melhor chance de tentar arrumar as coisas.

Seokjin havia voltado a se concentrar em sua comida, deixando os dois garotos mais novos terem sua própria discussão quase em particular.

– Mas e se ele não quiser me ver? E se fechar a porta na minha cara?

– Yoongi, isso não vai acontecer. Vocês têm uma história muito antiga e uma relação muito forte pra ele recusar uma oportunidade de poder te encontrar. Acredite em mim.

Yoongi suspirou.

– Você deve estar certo. Mas eu preciso de tempo para pensar.

Hoseok sorriu levemente com um dos seus sorrisos confortantes que eram como um raio de luz.

– Leve o tempo que precisar até se sentir pronto.

 

Yoongi pensava sobre a sugestão de Hoseok todos os dias. Chegava a pensar mais do que gostaria como quando estava na aula ou tomando banho. Apenas não conseguia tirar da cabeça como seria reencontrar Jimin depois de quase um ano. Apenas o pensamento de poder ver seus olhos quase desaparecem em um de seus sorrisos sinceros e ouvir sua voz aguda sem ter um telefone entre eles trazia milhões de borboletas para o seu estômago.

Porém não conseguia se livrar da ansiedade de que tudo poderia dar errado. Não sabia o quão chateado Jimin estava com ele, ele poderia muito bem já o ter esquecido completamente e seguido em frente com Taehyung. Aquela insegurança o deixava enjoado e varria para longe toda sua coragem.

Hoseok e Seokjin tentavam incentivá-lo e Yoongi era muito grato por isso. Ele apenas não queria ser tão covarde para enfrentar seus sentimentos. Talvez nada daquilo teria acontecido se ele não houvesse sido desde o começo.

Mas a verdade é que talvez ele estivesse um pouco muito apaixonado por Park Jimin e não sabia mais como lidar com aquela situação.

Tudo não passava de um talvez, mesmo que Hoseok afirmasse com toda certeza e convicção de sua vida que Yoongi realmente estava perdidamente apaixonado por ele.

– Sinceramente, Yoongi, você falava desse garoto todos os dias. Era sempre “Ah, eu e Jimin já conversamos sobre isso” ou “Eu e Jimin já observamos essa constelação junto”. Você falava mais nele do que das malditas matérias do seu curso.

Talvez ele estivesse certo, Jimin realmente era um assunto comum para ele, mas aquilo era explicável.

– Eu e Jimin passamos um bom tempo juntos, ele foi meu único amigo na escola. É normal que eu só tenha memórias sobre ele.

– Justamente por isso é tão normal que você tenha se apaixonado. Como consegue ser tão cego, Yoongi? Todo esse tempo observando o sol fritou a sua retina?

Yoongi estava cansado e não queria discutir sobre aquilo no momento, nem mesmo explicar para Hoseok que não se observa o sol diretamente no curso de astronomia. Apenas cruzou os braços e descansou as costas na cadeira.

– Eu só estou pensando no seu bem – a voz suave e cheia de preocupação de Hoseok estava de volta agora. – E no momento eu acho que o seu bem é ser honesto com seus sentimentos.

– Vou pensar sobre isso.

A época de pensar para Yoongi durou mais três meses. Porém estavam agora em novembro, perto demais das férias de inverno para que pudesse continuar estendendo a situação. Era aquele o momento.

Ligou para os seus pais algumas semanas antes, anunciando que passaria suas férias inteiras em casa. Era uma jogada arriscada, uma vez que, caso Jimin o recusasse de vez, precisaria passar dois meses sentindo-se horrível em sua cidade natal. Mas era preciso pensar positivo.

Hoseok deu-lhe um abraçado apertado no dia de sua partida e disse para que não se esquecesse de ligar para desejar feliz natal e trouxesse presentes na volta às aulas. Desejou-lhe também boa sorte com Jimin, estava esperançoso de que tudo daria certo. Yoongi esperava que todo o otimismo de seu amigo conseguisse contagiá-lo ao menos um pouco.

 

Seus pais o engoliram em um abraço coletivo assim que pisou sobre o chão de sua cidade natal. Faziam milhares de perguntas e ofereciam milhares de coisas, desde comida até ajuda com as malas. O sentimento de estar em casa depois de quase um ano fora era incrível. Nada havia mudado, seu quarto estava do mesmo modo que deixara quando partiu com várias decorações de astronomia e lembranças de Jimin.

Yoongi sentiu um pequeno aperto no peito. Não conseguia tirá-lo da cabeça desde que chegara. Agora que estavam fisicamente mais próximos podia sentir a saudade ainda mais forte, esmagando-o por dentro.

Ainda não havia conseguido reunir toda a coragem que precisava para procurar seu amigo, porém sabia que, caso deixasse para procurá-lo no dia seguinte, perderia toda a pequena coragem que já havia reunido e nunca mais daria o primeiro passo. Precisava enfrentar todas as suas ansiedades naquele momento.

Deixou sua casa sem dar muitas informações para seus pais, dizendo apenas que precisava se encontrar com um amigo o mais rápido possível. O Sol já havia se posto e as primeiras estrelas começavam a brilhar no céu como se estivessem recebendo Yoongi de volta. Havia sentido falta daquela imagem, não era a mesma coisa observar o céu noturno em uma cidade grande. Yoongi se perguntava se Jimin teria olhado as estrelas durante o tempo que não se falaram, mas aquilo pareceu bobagem e ele sentiu como se estivesse sendo muito cheio de si.

Em alguns minutos já se encontrava na porta da família Park. Era incrível que ainda soubesse o endereço tão bem após o seu tempo fora. Estava prestes a bater na porta quando seus olhos capturaram um vislumbre de laranja um pouco atrás de si. Virou-se um pouco com curiosidade para encontrar ninguém menos que Park Jimin.

Jimin havia tingido o cabelo de laranja – misteriosamente havia combinado muito bem com ele, pensou Yoongi – e usava uma touca cinza sobre eles juntamente das roupas casuais de frio para se proteger da friagem de início de inverno. Carregava também uma sacola plástica em uma das mãos, provavelmente havia saído para fazer compras.

O silêncio pairou entre os dois enquanto Jimin o observava de longe, parado no mesmo lugar. Aproximou-se passado um tempo, até estar ao lado de Yoongi à frente de sua porta. O clima pesado ainda se encontrava entre eles como uma parede, tornando difícil qualquer tentativa de comunicação.

Jimin foi o responsável por quebrar o silêncio.

– Você quer entrar?

Yoongi respondeu com um aceno de cabeça e a porta foi aberta para eles.

A casa de Jimin era extremamente confortável e simples, combinando muito com sua personalidade e a de sua família. Yoongi adorava visitá-lo antigamente, principalmente nas épocas de inverno para se aconchegar junto à lareira do amigo e tomar o chocolate quente de sua mãe.

– Pode ligar a lareira, sinta-se em casa – a voz de Jimin foi ouvida da cozinha, onde havia ido para deixar suas compras. – Meus pais não estão em casa, mas devem voltar logo.

Yoongi sentiu um sentimento de nostalgia ao fazer tudo aquilo de novo. Ligou a lareira como sempre fazia e sentou-se em uma das cadeiras de balanço próximas. Se não fosse o clima desconfortável entre ele e Jimin, até poderia dizer que tudo parecia estar como antes.

Jimin se juntou ao mais velho alguns minutos depois, sentando-se na cadeira logo em frente. Ele realmente precisava fazer aquilo parecer alguma espécie de interrogatório? Pensou Yoongi revirando os olhos mentalmente. O silêncio ainda parecia fazer pressão sobre sua cabeça, como se quisesse esmagá-lo de encontro ao chão.

– Então – a voz de Jimin soou baixa e seca ao cortar o silêncio. – Por que veio aqui?

Yoongi não respondeu imediatamente. Embora houvesse treinado o que deveria falar várias vezes – algumas delas com Hoseok, embora o outro garoto sempre estregasse seu papel com uma crise de risos no meio da encenação –, naquele momento sentiu todos os seus pensamentos lhe escaparem, deixando apenas um grande branco em sua mente. Deixou então as palavras deixarem sua boca livremente, seguindo seus próprios sentimentos e esperando que fizessem algum sentido no final das contas.

– Eu vim me desculpar. Eu não deveria ter te tratado daquela forma, foi um grande erro que fiz sem pensar. Eu não queria te afastar. Eu sinto sua falta, Jiminie, mais do que tudo no mundo.

Jimin não respondeu. Seus olhos apenas continuarem fixos em Yoongi de uma forma sem emoção. Parecia tão diferente agora, o cabelo laranja parecia ter-lhe deixado mais maduro, muito diferente do pequeno garoto sorridente que conhecia. Yoongi se perguntava o que estaria se passando em sua cabeça naquele momento.

– Você não sabe como foi difícil pra mim, Yoongi. Eu sentia muito a sua falta, estava em um estado deplorável em que não comia direito, não me divertia e não conversava com ninguém, nem mesmo com meus pais. O único momento de felicidade do meu dia era poder falar com você...

Ouvir aquelas palavras eram como sentir várias agulhas perfurando seu peito. Yoongi sabia que Jimin sofria, ele sempre fora muito apegado e emotivo. Havia sido um idiota por não pensar nisso na época.

– Você sabe que eu não tinha amigos além de você – continuou. – Mas Taehyung apareceu e me ajudou nisso. Por alguns momentos eu podia me esquecer de toda a dor que sua ausência causava e me divertir um pouco. Eu nunca pensei que você fosse pensar que eu sou insensível a ponto de querer te trocar. Não depois de tudo o que passei desde a sua partida.

Mesmo na baixa luminosidade Yoongi conseguia ver os olhos de Jimin brilharem com o acúmulo de lágrimas. O sentimento de culpa estava de volta, martelando sua cabeça ainda mais forte dessa vez. Não conseguia acreditar que havia machucado alguém tão importante para ele.

Sem se preocupar se seria repelido, o mais velho se levantou da cadeira com um forte impulso e pôs-se frente a Jimin. Colocou suas mãos frias em seu rosto, abaixando-se levemente para manter o olhar no mesmo nível do outro.

– Eu nunca vou me perdoar por ter te machucado assim. Foi tudo minha culpa por estar sempre cansado e mal-humorado. Eu errei e senti tanto a sua falta nos últimos meses que chegou a ser insuportável. Me desculpe, Jimin, eu só quero que possamos voltar a observar as estrelas como antes.

Jimin levou as próprias mãos até as de Yoongi e as retirou levemente se eu rosto, repousando-o sobre seu colo e segurando-as juntas.

– Não pense que eu vou te perdoar tão fácil assim. Como punição pelos seus atos você deve passar a maior parte das suas férias ao meu lado.

– Isso não é exatamente uma punição. 

– E você precisa me prometer que nunca mais vai me tratar assim – o mais novo continuou ignorando a última declaração. – Eu nunca poderia te trocar, Yoongi. Você é muito importante pra mim.

– Eu prometo, aquilo foi um erro terrível e nunca vai voltar a acontecer – Yoongi soltou suas mãos por um momento para limpar as pequenas lágrimas no canto de seus olhos. – Você é igualmente importante pra mim.

Jimin abriu um dos sorrisos que ele tanto sentira falta em resposta, fazendo surgir borboletas em seu estômago.

– Você não sabe o quanto eu quis voltar a observar as estrelas com você.

E todo o vazio no interior de Yoongi voltou a ser preenchido naquele momento.

 

Yoongi não apenas sentia seu vazio interior voltar a ser preenchido, mas também podia perceber que tudo ao seu redor se iluminava com uma espécie de luz que nunca havia visto antes. Como se Jimin estivesse ainda mais brilhante desde a última vez que o vira, por mais que acreditasse que aquilo fosse impossível. Sírius realmente não era mais a denominação correta para classificar seu brilho, talvez nenhuma estrela existente podia se comparar com o seu brilho atual. Principalmente quando o garoto lhe exibia aquele sorriso ainda mais radiante e intenso que provavelmente poderia causar-lhe uma combustão instantânea.

Não reclamava, entretanto. Por mais que se sentisse desconfortavelmente inquieto com todo o calor que era produzido em seu corpo na presença do outro, o sentimento de tê-lo ao seu lado novamente era o melhor de toda a sua vida.

Havia perdido a conta de quantas vezes estivera sozinho em seu dormitório, quilômetros de distância de Jimin, imaginando como seria apenas deitar-se de costas com ele na varanda de sua casa e voltar a observar as estrelas juntos, nomeando todas as constelações que conseguiam identificar para Jimin finalmente aprendê-las.

Agora que finalmente estavam ali era como se um sonho distante de Yoongi finalmente estivesse se realizando.

– Eu aprendi todas as constelações enquanto você estava fora – a voz de Jimin cortou o silencioso ar noturno. Yoongi arqueou uma sobrancelha em resposta que não foi vista pelo outro.

– Não pode ser verdade.

– Bom, na verdade não todas. Eu ainda me confundo com algumas e esqueço de outras. Mas já consigo identificar várias delas, isso é verdade.

A voz de Jimin deixou transparecer seu embaraço e frustração por ter falhado em sua missão de tentar impressionar Yoongi e o mais velho riu.

A temperatura do lado de fora estava razoavelmente agradável com seu moletom, embora ainda pudesse sentir o clima frio de inverno em algumas partes de seu rosto e nas mãos teimosamente desprotegidas. Não planejavam ficar ali por muito tempo afinal. Embora sentisse uma grande urgência para observar as estrelas com Jimin novamente, não poderiam perder dias preciosos juntos por terem ficado doentes.

Mas as estrelas exibiam um brilho tão magnífico naquela noite que Yoongi não conseguia se importar nem um pouco com o frio golpeando suas bochechas. Nunca as havia visto tão bonitas durante todos os meses que precisara observá-las na faculdade. Acreditava que Jimin exercia uma pequena influência sobre elas, obrigando-as a tentar brilhar ainda mais para alcançar o brilho do garoto.

Yoongi sentiu os dedos quentes de Jimin entrarem em contato com os seus. Não sabia como o outro conseguia manter suas mãos tão aquecidas sem usar luvas, as suas próprias se encontravam quase completamente congeladas. Yoongi fechou os olhos e deixou-se aproveitar a sensação de ter aquele pequeno ponto de calor irradiar para o seu corpo.

– Yoongi – Jimin o chamou após algum tempo em silêncio, sua voz soando um pouco mais baixa que o normal. – O que eu sou para você?

Talvez Yoongi estivesse esperando que aquela pergunta fosse feita em algum momento, assim como esperava que o Sol desaparecesse em todo final de tarde, pois sabia que tinha a resposta na ponta da língua.

– Você é como a estrela mais brilhante do meu universo.

– Como Sírus?

– Muito mais do que Sírius ou qualquer outra estrela já descoberta. Você é mais brilhante que todas elas, Jimin.

A pressão exercida em seus dedos se tornou mais forte. Percebeu que Jimin agora os segurava com força, como se estivesse com medo de que ele fosse embora.

– Isso ainda não esclarece muita coisa – retrucou. Yoongi conseguia visualizar o bico que ele estaria fazendo agora. – O quanto você me ama?

– Eu te amo mais do que amo as estrelas.

Jimin ergueu-se rapidamente com um impulso forte, colocando-se sentado ao lado de Yoongi, ainda segurando seus dedos com força. O mais velho conseguia ter um vislumbre de sua expressão envergonhada e claramente corada mesmo sob a luz tênue. Não sabia a razão de ele próprio não se sentir nervoso com a declaração, talvez estivesse com aqueles sentimentos presos em seu interior por tanto tempo que acabara se acostumando com eles.

– Se é assim eu... Eu te amo mais do que o número de estrelas que existem no universo!

Sua voz soou um pouco gaguejada e com as palavras se embaralhando na pressa de saírem logo de sua boca. Mesmo assim Yoongi não conseguia parar de pensar que aquela era a cena mais adorável que já havia presenciado e não conteve o riso.

– Eu disse algo errado? – Jimin perguntou, soltando os dedos de Yoongi lentamente ao se encolher em seu lugar. Yoongi, porém, voltou a capturá-los, segurando-os firme em sua mão.

– Você não disse nada errado, eu só estava pensando no quanto te amo.

– Yoongi, você é muito meloso, eu vou precisar retirar minha declaração.

Embora dissesse aquilo, Yoongi sabia que ele não retiraria sua declaração nem por todo dinheiro do mundo. Era como se estivessem retirando pesos de suas costas, finalmente podendo ser sinceros sobre algo que já tinham conhecimento há muito tempo, mas nunca quiseram admitir.

– Você me ama demais pra retirar sua declaração.

– Você está certo – Jimin voltou-se para ele com um pequeno, mas reluzente sorriso nos lábios. – Só não fique se achando muito por isso.

– Como se eu fosse me achar por ser amado por uma estrela anã.

– Eu não posso ser a estrela mais brilhante do seu universo se for uma estrela anã.

– É exatamente por isso que você é uma espécie nova de estrela. Não foi descoberta por ninguém, apenas por mim. A estrela anã mais brilhante do universo.

Yoongi colocou-se sentado ao lado do outro, logo se vendo encarado fixamente pelos olhos escuros tão familiares. Por mais que Jimin crescesse e mudasse sua aparência, seus olhos sempre seriam os mesmos que conhecera quando ainda eram jovens. E Yoongi amava-os especialmente.

O silêncio havia se formado novamente entre eles, sendo os batimentos cardíacos de Jimin a única fonte de som que Yoongi conseguia captar. Carregado pelos sentimentos do momento, levou sua mão livre ao rosto do rapaz, sentindo a bochecha quente em contato com a sua pele. Sorrindo pelo canto dos lábios, aproximou-se lentamente até seus lábios se encontrarem.

Yoongi nunca havia beijado em sua vida, e acreditava que o mesmo se aplicava para Jimin – o garoto nunca havia lhe contado nada a respeito pelo menos. O momento era, portanto, único para ambos. Deixaram-se levar pelo beijo sem pressa, apenas movendo os lábios suavemente às vezes em dessincronia pela falta de prática e às vezes em uma sincronia tão perfeita que poderiam ser considerados almas-gêmeas.

Apenas perceberam que haviam perdido a noção de tempo do beijo quando sentiram a falta de ar e precisaram se separar. Yoongi manteve seus olhares unidos mesmo enquanto ofegavam e refletiam sobre o que havia acontecido.

– Precisamos entrar – o mais velho quebrou o silêncio após recuperar o fôlego. – Não quero ter que cuidar de você se ficar doente.

– E você não ficaria doente porque idiotas não ficam doentes – Jimin retrucou, mostrando-lhe a língua. Porém não se levantou quando Yoongi o fez, em vez disso segurou a manga de seu casaco, fazendo seu olhar recair sobre ele. Seus olhos exibiam um brilho profundo e carregados de uma seriedade que o mais velho nunca presenciara no outro. – Yoongi... por quanto tempo você vai me amar?

– Até que todas as estrelas do universo se apaguem e não exista mais nenhuma para ser observada.

– Isso é um bom tempo.

Yoongi sorriu, buscando com aquele simples gesto expressar toda a ternura e os sentimentos que se encontravam dentro de si, mas que não poderiam ser expressos por meio de palavras.

– É claro.

 

O segundo ano de faculdade havia se passado da melhor forma que Yoongi poderia desejar. Talvez não completamente da melhor forma, pois aquilo só seria possível tendo Jimin ao seu lado todos os dias. Porém sentia-se em um patamar de felicidade quase impossível de ser abalado devido aos últimos acontecimentos. A distância não lhe era mais nenhum empecilho quando ouvia a voz doce e carregada de afeto do outro lado da linha todos os dias e lembrava-se de que a pessoa que mais amava no mundo o amava de volta.

Estava agora no início de seu terceiro ano e Jimin no início de seu primeiro, sentado exatamente ao seu lado com a boca cheia de uma mordida em seu sanduíche. Aquele talvez fosse o auge de sua felicidade, apenas Deus sabia o quanto esperara para ter Jimin ao seu lado em suma situação normal de sua vida acadêmica.

– Eu espero que vocês saibam que eu sou o grande responsável por vocês estarem aqui juntos hoje e vou querer uma remuneração.

Yoongi desviou sua atenção para Hoseok e fazer uma expressão incrédula.

– Hoseok está certo, Yoongi – Jimin respondeu em seu lugar antes que pudesse dizer alguma coisa. – Ele ficou no seu pé durante todo aquele tempo pra ter dar coragem.

Às vezes Yoongi desejava não ter contato aquela história para Jimin. Doía um pouco em seu orgulho admitir que ele precisara de impulso pra reunir coragem e ir atrás dele. Mesmo sabendo que Hoseok uma hora ou outra acabaria contando de toda forma.

– Quero ser o padrinho de casamentos de vocês, não se esqueçam.

Jimin riu com sua risada aguda e Yoongi revirou os olhos, porém sorrindo com o canto dos lábios.

– Isso é coisa de se decidir outra hora. Preciso ir pra aula agora.

Yoongi preparou-se para levantar da mesa, porém o olhar desolado de Jimin o impediu.

– Mas já?

– Nós vamos nos ver mais tarde. Vai passar em um piscar de olhos – respondeu o mais velho, segurando o rosto do outro entra as mãos e beijando-lhe a testa. Os olhos de Jimin brilharam ao fazer contato visual.

– No seu dormitório no mesmo horário, sim, eu sei.

Por um momento deixaram-se ficar naquele estado, perdidos entre olhares e sorrisos calorosos que transmitiam todos os seus sentimentos, dispensando palavras. Hoseok pigarreou.

– Eu detesto interromper os pombinhos apaixonados, mas você está atrasado pra sua aula, Yoongi.

Yoongi praguejou em sua mente. Detestava cumprir horários, principalmente se estes extorquissem seu precioso tempo com Jimin. Sem enrolar mais, aproximou-se do garoto outra vez para selar seus lábios em um beijo rápido de despedida e se apressou para a aula.

 

– Eu consigo ver a Ursa Maior e a Ursa Menor!

– Essas são as mais fáceis, eu já te mostrei elas milhares de vezes.

Jimin respondeu com um bico e uma expressão irritada de criança. Ele sempre reagia daquela forma quando Yoongi contestava seus (poucos) conhecimentos.

– Você não precisa levar isso tão a sério – Yoongi buscou reconfortá-lo, afagando seu cabelo. – Você não está cursando astronomia.

– Eu gosto de aprender sobre as estrelas porque isso me faz sentir mais próximo de você, Yoongi – sua voz diminuiu em alguns tons, deixando-a parecida com um sussurro. – Eu não consigo aprender muito, mas amo a animação com que você fala sobre elas. Eu poderia escutar o dia inteiro.

Jimin evitava seu olhar a todo custo, recurvando-se sobre o patamar da janela como se quisesse jogar-se dali devido ao constrangimento. Yoongi, porém, passou o braço pela sua cintura, trazendo-o para mais perto de si.

– E eu amo ensinar as mesmas coisas para você dezenas de vezes, estrela anã.

Yoongi recebeu um empurrão em resposta ao apelido, mas não se soltou da cintura do outro.

– Mas tem uma coisa que eu nunca me esqueci. Nunca me esqueci de quando me falou da Estrela do Norte, porque era o que mais me fazia pensar em você. Eu nunca me esqueci de que você é a minha Polaris.

– E por fim foi você quem acabou sendo minha Estrela do Norte. Você permaneceu no mesmo lugar e me fez ir até você, me levando de volta para casa.

Aquilo o havia feito descobrir que seu lar não era um local concreto, mas sim uma pessoa: Jimin. É para onde sempre gostaria de voltar quando se sentisse sozinho, receoso ou angustiado. Todas as suas preocupações automaticamente desapareciam quando estava com Jimin, era onde se sentia mais confortável.

Mas não disse nada daquilo. Talvez procurava deixar para lhe revelar mais tarde, em um momento mais sério em que lhe diria como era mais importante que o seu próprio universo. Em vez disso deixou sua cabeça repousar no ombro do outro e suspirou.

– Na noite antes de você chegar eu não consegui dormir e vim observar as estrelas. O céu estava claro como hoje. Eu não conseguia parar de pensar em você então comecei a combinar cada estrela com um motivo que tenho para te amar. Eu estava indo bem, mas infelizmente não consegui terminar porque me faltaram estrelas.

– Você é brega e ridículo, Yoongi.

Os ombros de Jimin chacoalhavam com sua risada baixa, porém sincera. Seu rosto estava completamente tampado pelas mãos, Yoongi tinha certeza de que ele estava vermelho como um pimentão.

– Eu realmente fiz isso, não fique achando que eu disse apenas pra te conquistar.

Jimin colocou-se de frente para Yoongi e segurou seu rosto entre as mãos. Antes que o mais velho pudesse se situar, seus lábios estavam colados em um beijo que Jimin logo tornou intenso, trazendo dificuldades para o outro acompanhá-lo. Yoongi estava certo de que precisaria lhe dar uma bronca e lhe lembrar de que não era mais jovem carregado de energia e fôlego como ele, porém o olhar que recebia ao se separarem o impediu de tal.

– Eu acredito em você – respondeu o mais novo, com os olhos tomados de uma enorme sinceridade, como se Yoongi houvesse acabado de lhe dizer a maior verdade universal.

E Yoongi achava impossível reclamar com alguém que exibia aquele tipo de expressão.

 

A única coisa que havia mudado entre eles durantes aqueles dois anos era que Jimin não era mais apenas uma estrela ou uma constelação. Em um dia qualquer apenas se levantou da cama, apanhou seu celular sobre o criado mudo para ler a mensagem de bom dia de Jimin e então percebeu. Simplesmente percebeu que ele havia se tornado o seu céu por inteiro.


Notas Finais


Essa fic foi uma verdade aventura de escrever. Eu espero que todos tenham gostado porque eu me empenhei de verdade e fiquei muito satisfeita com o resultado. Beijinhos!

Twitter @ taeyonmins


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