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História Polaroid - Kyle - 04h08


Escrita por: caulaty

Capítulo 6 - Kyle - 04h08


Meus olhos ardem. Eu tenho quase certeza de que tem lágrimas escorrendo deles, mas só pela sensação quente e molhada nas minhas bochechas. Deve ser de irritação. Eu coço o olho esquerdo com o punho fechado e, logo em seguida, dobro os joelhos e inclino o tronco pra frente, apoiando as mãos nas coxas. Eu vim usando luvas? Acho que não. Se vim, não sei onde elas estão agora. Passo os próximos vinte segundos encarando os meus próprios pés, o tênis azul que tem uma mancha do lado. Do que é essa mancha mesmo? Eu lembro que passei duas horas no tanque esfregando pra tirar essa desgraça no dia em que pisei na lama ou alguma coisa assim, mas a mancha nunca saiu. Que coisa.

-Ei. Kyle. - Alguém me chama. Uma mão quente toca a minha nuca e massageia, apertando mais do que deveria. É essa mão rude do Kenny, essa mão grande e cheia de calo por trabalhar demais. Eu tenho vontade de chupar os dedos dele toda vez que os vejo, mas ele não precisa saber disso. - Kyle… - Ele me chama com mais carinho. Por que ele tá falando desse jeito comigo?

Ah, é. Eu o empurro com o ombro e dou dois passos à frente, trotando como um pônei retardado. Me seguro no braço dele pra não cair com a cara no asfalto. Nós estamos no estacionamento e, daqui, já dá pra ver o azul ridículo do carro dele. É uma cor tão idiota, azul. Quem é que tem um carro azul calcinha? Kenny tem. Kenny é tão idiota.

-Escuta aqui. - Eu digo. As palavras saem da minha boca antes de eu ter muita certeza do que quero dizer. - Você não tinha nada que se meter na nossa briga.

-O quê? - Ele pergunta e essa ruga entre as sobrancelhas dele me irrita muito. Ele fica me olhando como se eu fosse louco. É muito bom pra ele que isso pare. Eu viro o rosto pro outro lado, esfregando minhas próprias bochechas pra tentar aquecer as mãos nesse ar gelado. Kenny me segura pelo braço, mas não me puxa. Bom pra ele. - Ei… Olha pra mim. Será que dá pra gente ir pra outro lugar?

-Você não tinha que bater nele! - Eu grito porque sinto vontade de gritar. Não solto o meu braço da mão dele porque é gostoso quando ele me segura assim.

-Eu sei. Eu sei, tá bom? Eu me descontrolei. - Tem alguma coisa tão pedinte na voz dele que é impossível não sentir um calor dentro do peito. Quem é que é imune a esse rosto? Eu não consigo entender. Por algum motivo que não compreendo muito bem agora, há em mim uma vontade gigantesca de bater nele e depois beijá-lo. Ele aproxima o rosto do meu e continua falando manso. - Vamos pra casa, tá? Eu só quero sumir daqui. Você não parece legal.

O que ele quer dizer com isso? Que coisa mais rude de se dizer a alguém. Mas eu gosto de ouvir a voz dele mansinha desse jeito, macia desse jeito, gostosa desse jeito. Eu queria que ele falasse mais perto do meu ouvido. Ele é tão bonito. E enquanto eu penso essas coisas todas, ele coloca o meu braço sobre os seus ombros como se (como se!) eu precisasse de ajuda pra caminhar. Então eu decido empurrá-lo, mas meus membros não me obedecem muito bem. Ele percebe a minha tentativa, de qualquer forma. Já serve de alguma coisa.

-Ei, Kyle. Tá tudo bem. Nós só vamos pro carro.

-Quem disse que eu quero ir pro seu carro?!

Eu falo muito articuladamente, se você quer saber.

-Olha só. Se eu for embora sozinho, nem vai ter lugar pra todo mundo nos outros carros. Eles já vão socados mesmo.

-Então por que você não espera por eles? - Eu pergunto porque me parece óbvio. E depois eu é que estou bêbado, ora bolas.

-Porque eu acabei de socar um amigo deles, eu não quero esse clima de merda. Não quero olhar pra fuça de mais ninguém. Vai ter lugar pra todo mundo se você vier comigo.

Certo. Isso me parece bastante lógico. E para provar que eu sei andar muito bem sozinho, eu assinto com a cabeça e ando na frente dele, só dando um pequeno esbarrão em um carro idiota e mal estacionado no meu caminho. Que carro idiota, de verdade. Ah, esse é o carro do Kenny. Tudo bem. Tento abrir a porta do passageiro, mas a maldita coisa não abre. Eu odeio quando máquinas se acham superiores a seres humanos e não fazem o que a gente manda. Quanta frustração com esse carro, nossa senhora.

Enquanto Kenny procura pela chave, eu começo a escrever “LAVE-ME” no capô do carro usando meu dedo. Aí um pensamento me atinge e eu quase solto um grito de susto.

-Eu não paguei a minha conta!

-O quê?

-A minha conta. Eu esqueci de pagar.

Kenny franze a testa como se estivesse ouvindo alguma coisa retardada. Da próxima vez que ele me olhar desse jeito, eu juro que vou descer a mão na cara dele. Se ele estiver mais perto, isto é. E não do outro lado do carro.

-Eu paguei, Kyle. Você nem poderia sair se não estivesse paga. - Ele me fala com um sorriso esquisito, como se agora fosse muito divertido.

Por que ele faria uma coisa dessas?

-E por que você faria uma coisa dessas?

-Porque você tava ocupado demais exigindo o seu direito americano pra um segurança e dizendo que o seu pai é advogado. Eu sei lá, Kyle, entra no carro.

Ah, é. A porta está aberta agora. Finalmente.

-Aquele segurança era muito rude. - Eu comento com orgulho enquanto sento no banco, gemendo pelo alívio que é poder sentar. Parece que eu corri uma maratona, não sei porque minhas pernas estão pesadas desse jeito. Eu queria poder deitar. Sinto meu corpo derreter no banco como se fosse uma gelatina; até minhas pálpebras pesam e eu perco toda e qualquer vontade de falar. Será que é por isso que eu estava me sentindo tão irritado? Eu fico muito irritado mesmo com sono. A temperatura dentro do carro é bem mais agradável.

Abro os olhos quando sinto o calor de um corpo bem perto do meu. Mas o que é isso? Kenny está debruçado sobre mim, enfiando a mão só Deus sabe aonde. Demora um pouco para que eu consiga entender que ele está puxando o meu cinto de segurança para encaixá-lo, e aí os cantos dos meus lábios querem subir, mas eu não deixo.

-Você pode dirigir desse jeito? - Eu pergunto, estreitando os olhos. - Você parece bem chapado.

-Você quer pegar o volante? - Ele retribui com um sorrisinho idiota que me dá vontade de morder o lábio dele. - Relaxa, eu vou te entregar pra mama Broflovski são e salvo.

Só de falar na minha mãe, eu já consigo ouvir a voz esganiçada de bronca dela ecoando dentro do meu crânio. Esfrego a minha própria cara e aperto os olhos.

-Ela vai ficar tão puta se eu chegar assim.

Kenny parece concentrado em tirar o carro do estacionamento primeiro, mas quando entra na rua deserta, após algum tempo em silêncio, ele fala:

-Você não precisa ir pra casa. Pode dormir no meu apartamento se quiser.

A minha cara pra essa proposta deve deixá-lo bem constrangido, porque imediatamente ele ergue as mãos – que deveriam estar no volante – em defensiva, só por um segundo, como quem não quer nada demais.

-Eu só tô tentando facilitar a sua vida, viu? Qual é. Eu te deixo com a cama, posso dormir no sofá.

-É muito gentil da sua parte. - Eu respondo com sarcasmo, mas pensando bem de verdade, deve ser mesmo a melhor decisão a essa altura. Eu fecho os olhos porque minhas pálpebras pesam, quase como se eu não tivesse controle sobre a minha própria cabeça, deitando-a de lado em uma posição que repuxa os nervos do meu pescoço. Deixo escapar um gemido baixo, quase caindo no sono enquanto resmungo sob a respiração. - Pode ser.

Nos próximos cinco minutos, o carro fica em silêncio. Eu não chego a cochilar realmente, mas minha respiração fica mais pesada. Abraço meu próprio tronco e me ajeito no banco, esfregando meus antebraços rapidamente para tentar preservar um pouco de calor. Que frio da porra. Minha visão está turva demais quando abro os olhos para poder identificar os números no painel. Não sei que horas são e não sei a temperatura. Tento olhar um pouco pela janela, as luzes da cidade à noite são tão bonitas, mas passam rápido demais e me deixam enjoado de novo. Logo vamos pegar a rota de volta para South Park, que é quase sem iluminação.

Kenny começa a mexer no rádio até conseguir uma estação e o carro é preenchido por sons variantes e esquisitos de estática, até que uma música remanescente de uns dez anos atrás começa a tocar. É o tipo da música que eu sei que conheço, mas não consigo identificar agora. E também foda-se. Kenny parece mais empolgado, ainda naquele estado de êxtase do que quer que ele tenha tomado, batucando no próprio volante, despreocupado com a estrada vazia.

-She take my money when I'm in need, yeah she's a trifling friend indeed, oh she's a gold digger way over town that digs on me. - Kenny canta gargalhando com essa alegria de alguém que gosta muito de uma música.

-Ai, pelo amor de Deus. Isso é Kanye West?

-Now I ain't sayin' she a gold digger, but she ain't messin' with no broke niggas. - Ele continua cantando como se nem tivesse me escutado, mas vira pra me olhar com um sorriso idiota de orelha a orelha. Pra ser honesto, eu não entendo metade das palavras que ele canta, talvez por eu estar bêbado, talvez por ser rápido demais. - Nem olha com essa cara. Ele é um ser humano de bosta mas é um puta músico. Você já viu ele dançando nesse clipe?

Agora, eu não sei se é o nível de álcool no meu sangue ou se essa realmente é uma das coisas mais engraçadas que eu já vi, mas Kenny continua cantando e começa a sacudir a cabeça como se estivesse beirando um ataque epilético, ainda nessa batida de rap ou o que quer que seja, uma mão no volante e a outra apontando pra cima e é hilário. Ele mesmo não se aguenta e começa a gargalhar, jogando a cabeça pra trás, apertando o volante com as duas mãos. A essa altura eu já escorreguei tanto no banco que estou quase deitado, apertando a ponte do nariz com o polegar e o indicador. Tem lágrimas escorrendo dos meus olhos e minhas bochechas doem, mas eu não consigo me controlar. Kenny nasceu pra imitar o Kanye West. Alguém deveria pagá-lo pra isso.

Ele continua devidamente empolgado com a música e eu continuo derretido no banco, sem grandes esforços pra me recompor. Desisti disso a essa altura da noite. Ele ainda dança com o tronco e os braços, meio imitando o Kanye West, meio dançando de verdade. O desgraçado tem muito ritmo, eu preciso dizer. Eu odeio isso nele. E amo.

-Get down girl go head get down. - Ele me olha por cima do ombro e me dá um daqueles sorrisos maliciosos que me fazem sentir umas coisas esquisitas no estômago, depois estica o braço e estica a mão pra fazer cócegas na minha barriga, só porque ele quer me fazer rir. O meu casaco é grosso o suficiente pra bloquear essa tentativa maldita, mas mesmo assim eu me encolho e deixo escapar um sorriso a contra gosto. - Você tá puto comigo?

Eu demoro pra responder porque preciso dar uma boa pensada nisso. Com Kenny as coisas nunca se acumulam, parece. Ele nunca deixa ninguém lamber as feridas em silêncio, nunca tem vergonha de falar sobre as merdas e esse é um dos motivos pelos quais é tão difícil ficar puto com ele. Ainda mais quando ele pergunta com esse sorriso de criança, depois de me fazer rir. Que filho da puta. Eu odeio tanto ele. Odeio essa cara linda e desgraçada.

-Por que você e o Stan brigaram? - Eu pergunto com uma voz pastosa e os olhos pesados, percebendo cada vez mais que o meu corpo não está em condições de ter essa conversa agora.

Ele fica brincando com o piercing na língua um bom tempo antes de me responder, parecendo mais concentrado – quase sóbrio – agora. Aí eu já sei que ele não vai me contar a verdade. Não toda, pelo menos.

-Porque eu e ele falamos umas coisas imbecis. Ele só tava tentando te proteger.

-Do quê?

-De mim? Sei lá.

Um bocejo escapa dos meus lábios. Eu sinto que abro a boca pra soltar a porra do rugido do rei leão. Me espreguiço um pouco e seco os meus olhos, que lacrimejam de sono.

-Isso é idiota.

-É, bom. - Ele encolhe os ombros, os olhos focados na estrada. - Eu também acho, mas…

Eu não pego exatamente a continuação da frase porque apago no resto do caminho.

A próxima coisa que eu ouço é Kenny abrindo a porta do meu lado do carro e abrindo meu cinto de segurança. Eu aperto os olhos e me remexo com preguiça, querendo realmente nada além de ser deixado pra morrer nesse carro. Kenny passa a mão pelo meu cabelo de um jeito fraternal e irritante, segura meu braço e me puxa um pouco.

-Eu vou ter que te carregar?

Eu respondo com um resmungo violento, empurrando a mão dele.

O que era pra sair da minha boca, no caso, é: “eu tenho pernas, eu posso andar muito bem sozinho”. O que de fato saiu da minha boca foi um bolo de grunhidos expressionistas impossíveis de traduzir. Aparentemente agora eu perdi também a capacidade de falar. Ótimo, que legal. Kenny coloca o meu braço sobre os seus ombros como apoio, mas eu sinto que isso é totalmente desnecessário e que eu poderia flutuar escada acima até o apartamento dele. Ele ri e comenta alguma coisa besta sobre o meu peso, eu mostro o dedo do meio (talvez eu esteja mostrando o indicador? Não sei) e, depois de trezentos anos de jornada, mais quinze minutos procurando a chave do apartamento, achando que a esqueceu no carro, descer pra buscar lá até perceber que o chaveiro que tem a chave do carro é o mesmo que tem a chave de casa, e que este se encontra bem no bolso traseiro do jeans que deixa a bunda dele tão bonita… Kenny enfim abre a porta.

Eu arrasto os pés para deitar no sofá, mas ele me conduz até o quarto com o argumento de que o sofá tem alguma mola quebrada que minhas costas de princesa não aguentariam. Eu obedeço a instrução dele sem questionamento e deixo que me puxe pelo braço sem hesitar. Quando me dou conta de que ele estava tirando sarro de mim, já se passaram cinco minutos e nós já estamos no quarto. Eu vou até o banheiro cambaleando antes que minha bexiga exploda, alivio os nove litros de urina que habitavam dentro de mim. Kenny grita do quarto que eu posso usar a sua escova de dentes, e é claro, é claro que ele diz isso, porque Kenny é esse tipo de pessoa. Em condições normais, eu teria agonia de pensar em quantas pessoas ele permite que usem a escova dele, mas essas aqui não são condições normais e eu só quero tirar esse gosto de derrota da minha boca. Escovo os dentes e a língua com vigor, escorado na porta fechada com os olhos semi-abertos, quase dormindo em pé enquanto babo na minha camisa. Depois de um bochecho violento, eu estou pronto pra desmaiar. Vou quase engatinhando até a cama. Kenny já tirou a camisa e o sapato, e está literalmente bolando um baseado de pé no quarto quando eu saio do banheiro.

Eu nem vou perguntar nada.

Kenny vai até o banheiro mijar de porta aberta enquanto eu luto para tirar os sapatos deitado, na esperança de que eu não precise me sentar. Meu pé parece tão distante, distante tipo aquela torre do Senhor dos anéis. Eu sei lá, eu dormi durante aquele filme. Mas é bem distante mesmo.

Depois de jogar longe esses tênis vermelhos idiotas, eu cochilo mais um pouco. A última coisa que ouço é a água do chuveiro ligando ao longe. Ótimo, Kenny foi tomar banho. Não sei porque a primeira coisa que me ocorre é “ótimo”, como se isso fosse uma coisa muito boa. Talvez eu só goste da ideia de Kenny tomando banho. Tirando a roupa e… Ensaboando a pele colorida por aquelas tatuagens. Ou talvez eu só goste dele cheiroso perto de mim. Geralmente é cheiro de sabonete barato (e Kenny tem uma cara de quem lava o cabelo com sabonete e desconhece condicionador), mas tem alguma coisa no cheiro da pele dele…

É assim que eu durmo. Pelo menos por vinte minutos.

Não chego a pegar no sono de verdade, então só a presença humana sentando perto de mim é suficiente pra me assustar.

-Desculpa. - Ele sussurra. Minha visão continua embaçada nos primeiros instantes, demora pra eu conseguir enxergar o rosto dele. Sinto essa mão quente na lateral do meu pescoço, passando o polegar pela minha pele. Está com o cabelo pingando, sem camisa e com uma calça de algodão que parece deliciosa. Eu começo a alisar o tecido por curiosidade, tocando a coxa dele. - Você tava todo atravessado, achei que isso te daria um torcicolo. Você quer comer alguma coisa? Ou tomar banho?

Eu me sento devagar na cama, tonto e com os olhos pesados. Só tem a luz do abajur iluminando o quarto e ainda não amanheceu. Eu posso sentir o calor da pele dele mesmo sem encostar. Ele é tão quente. Umedeço os lábios e nós nos olhamos durante alguns segundos. Esse desgraçado é tão bonito. Não é o tipo de beleza greco-romana que eu pensei que faria o meu tipo quando eu sentisse esse tipo de calor por um cara. Eu literalmente começo a suar. O rosto dele está tão pertinho, essa bochecha arranhada (em algum ponto da noite ele tinha um band-aid na cara, mas faz tempo que ele sumiu), esse nariz com um calombo de quando ele quebrou caindo de bicicleta bêbado e nunca mais voltou ao normal, esses olhos de um azul tão claro que parece mesmo cor de mar. Olhando assim de perto, dá pra ver que ele tem algumas sardas no nariz. Eu sorrio porque isso me deixa alegre.

Não sei qual de nós dois se inclina primeiro, tenho quase certeza de que sou eu, mas a questão é que a minha boca encontra a dele. Não é a sensação macia que eu esperava, pelo menos não até a língua dele, essa coisa molhada e quente e macia, entrar na brincadeira. É bem mal encaixado nos primeiros segundos, como se o único objetivo fosse roçar nossos lábios úmidos e enroscar nossas línguas fora da boca, o que me dá um tesão desgraçado. É um beijo que emite aquele som gostoso aos ouvidos, que parece que você está beijando com o corpo inteiro quando sente a pele encostando. Não tem um pelo no meu corpo que não esteja arrepiado agora. Eu abro um pouco os olhos, o lábio inferior dele entre os meus dentes, e descubro que ele me olha de volta como se estivesse beijando de boca aberta o tempo inteiro. Levo a mão à nuca dele, sentindo a água quente do chuveiro cobrindo a pele e pingando dos cabelos loiros dele que parecem bem mais escuros agora. Finco os dedos ali como se a minha vida dependesse disso, escorrego as unhas pela parte superior das costas dele, sentindo os ossos protuberantes dos ombros e da cervical, a carne firme, a pele mais macia do que eu imaginava.

Talvez eu esteja bêbado demais pra segurar uma ereção, mas ele certamente não parece ter esse problema quando eu monto no seu colo. É difícil abrir as pernas com essa calça e eu começo a desejar que tivesse tirado a roupa mais cedo, porque agora parece uma jornada impossível. Mas tudo que ele faz é tão fácil, tão gostoso, tão sem pressa. Ele leva os dedos grossos pela linha do meu maxilar e segura o meu queixo, afasta um pouco o rosto mas não o suficiente pra descolar nossas bocas, nosso beijo ainda acontecendo, só que mais leve. Quando ele finalmente interrompe, do jeito sutil com que ele faz todas as coisas na vida, Kenny estuda o meu rosto e abre um sorriso que nem parece cheio de malícia, mas é. Ele sacode um pouco a cabeça, fazendo que não (ou que sim?) como se estivesse inconformado com alguma coisa. Eu não tenho tempo de perguntar o que é porque ele volta a me beijar logo em seguida, agora com bem mais fome. Suas mãos já estavam por dentro da minha camisa, levantando o tecido, mas faziam um carinho tão sem vergonha com a pontinha dos dedos que eu mal senti. Agora ele me pega de verdade, espalmando a mão nas minhas costas e me puxando contra ele, esse pau tão duro embaixo do meu peso. Eu realmente gostaria de não estar usando essa calça agora pra poder sentir direito.

Eu fricciono o quadril contra o abdômen nu dele com desespero, chupando a língua dele com o mesmo afinco, segurando seu rosto com as duas mãos. O lábio inferior de Kenny é um pouco mais grosso que o superior, tão bom de mordiscar, tão bom de chupar, tão pecaminosamente delicioso. Nossas bocas desencaixam mais uma vez porque de outra forma não respiraríamos nunca mais, mas continuamos a roçar o rosto num no outro, os lábios dele ainda no canto dos meus, a respiração bem quente dele contra a minha pele. Demora um pouco até eu perceber que ele está é soltando um riso abafado idiota, com o braço bem firme na parte inferior das minhas costas, a mão totalmente por dentro da minha camisa. Ele afasta o rosto pra me olhar de novo, e o sorriso imbecil continua ali.

-Eu jurei que não faria isso, sabe? - Ele me fala quando percebe que precisa se explicar. - Que eu não me aproveitaria de você.

-Jurou pra quem? - Eu pergunto, mesmo não estando particularmente interessado. Porque honestamente, eu não dou meia foda agora pras consequências de coisa nenhuma. Minhas mãos continuam coladas nele, meus polegares acariciando o pescoço tão pálido que eu quero chupar mais do que tudo. Bom, talvez não mais do que tudo.

A melhor resposta que ele pode me dar é um encolher de ombros, mordendo o próprio lábio exatamente como eu gostaria de estar fazendo, passando a língua no piercing que eu gostaria de estar lambendo também. Ele parece um menino assim, quase tímido. Alguma coisa esquisita acontece dentro do meu peito quando eu o olho desse jeito.

É aí que eu me dou conta de que eu não quero só beijá-lo, não quero só chupar o pau dele, não quero só transar. Eu realmente… Eu realmente tô afim dele. A ideia vem tão turva e confusa na minha cabeça, mas forte o suficiente para fazer meu coração disparar. Talvez ele já estivesse batendo tão rápido antes.

Ele leva a mão ao meu rosto, me encarando de um jeito tão incisivo que eu não consigo olhar diretamente nas íris azuis dele. Então eu olho pra boca, pro piercing, pro nariz torto, pras clavículas magras, tudo, menos os olhos. Sinto a mão quente dele na pele fina da minha bochecha e deixo as pálpebras pesarem como se fosse a única coisa natural a se fazer. E o rosto dele cola no meu pescoço, a boca bem quente espalhando saliva pela região toda, arrepiando a minha espinha, deixando o meu corpo todo em estado de alerta. As mãos dele são tão tranquilas e rápidas que, quando me dou, conta, a minha camisa já está aberta. E ele me empurra com carinho contra o colchão para que eu me deite, minhas pernas ainda enroscadas no quadril dele enquanto Kenny se ajeita em cima de mim, me beijando agora com profundiade, com tesão, com agonia, como se fosse a coisa mais proibida da qual ele não consegue se afastar. Eu mesmo termino de tirar a minha camisa porque agora ele escorrega a boca pelo meu maxilar, lambendo a minha pele deliberadamente, descendo numa linha reta até o dentro do meu peito. Ali ele roça o rosto, pressiona o nariz gelado e morde, de brincadeira mas com vontade. O tempo que ele gasta chupando o meu mamilo esquerdo é indecente, apenas. Eu achei que não conseguisse ficar duro nessa estado, mas puta merda, como eu me enganei. Eu arqueio as costas como se estivesse no ápice, o que me dá certeza de que eu não estou pronto para o que quer que venha em seguida. O que ele faz com a língua é tão suave, mas tão suave, quase como se ele não estivesse me tocando, mas o suficiente pra me torturar. Depois ele chupa com força, espalhando tanta saliva e assoprando em cima do meu peito já coberto de suor, uma das sensações mais deliciosas que eu já tive na vida.

Eu devo estar fazendo um barulho desgraçado com a boca sem perceber. Os gemidos só saem, eu nem tento controlar. Não tento controlar nada a essa altura.

Ele me vira de bruços de repente, soltando um riso abafado. Maldoso mesmo, esse filho da puta. Já não tem parte alguma do meu corpo que esteja tensa, é como se eu tivesse derretido no colchão dele. Nem uso o travesseiro como apoio, fico com a cara enfiada no colchão e a respiração abafada durante alguns segundos, depois viro meu rosto de lado e mantenho os olhos fechados, o pau duro bem pressionado contra o colchão. Eu mexo um pouco o quadril pra sentir a fricção do lençol na minha glande, mas quando ele começa a abaixar a minha calça, eu fico imóvel. A precipitação é uma coisa assassina. Eu nem consigo mais abrir os olhos a essa altura. Ele nem termina de tirar a minha calça, abaixa junto com a cueca até o meio das minhas coxas porque sabe que eu não vou poder separar muito as pernas, esse desgraçado. Caralho, como eu odeio ele.

O filho da puta espalma uma mão em cada uma das minhas nádegas e faz um comentário bem baixo que eu não consigo ouvir com uma das orelhas socadas contra o colchão. A próxima coisa que eu sinto é aquela língua escorregando do fim das minhas costas até o meu cu. E é lento, bem lento. Dolorosamente lento. O piercing dele é a pior parte, o quanto esse pedacinho de metal me provoca num ponto tão sensível que eu chego a me contorcer. Eu dobro um pouco os joelhos pra me abrir mais, mas não tenho força o suficiente pra levantar o quadril. Ele vira o rosto pra chupar a minha nádega direita e deixa uma mordida, não forte o suficiente pra doer, mas deixa as marcas dos dentes dele pelo menos um pouquinho. Ele usa as mãos pra me abrir por conta própria, enfia a cara e chupa com força, molhado e barulhento. Porra, isso é tão gostoso… O meu pau lateja, a minha respiração fica tão pesada, tão pastosa… Tão…

Ele chupa mais leve agora e eu deixo escapar uma sequência de gemidos finos, me contorcendo bem sutilmente de vez em quando, tentando separar mais as pernas, me espreguiçando um pouco e empinando mais a bunda contra ele enquanto isso. Kenny me segura firme pelos quadris, alisa as palmas quentes pela minha bunda e as minhas coxas, sobe pela minha cintura e desce de novo, circulando a minha entrada com a língua ao ponto de eu achar que conseguiria gozar só disso.

Isto é, se eu estivesse consciente.

Antes de pegar no sono completamente, sinto Kenny afastar o rosto de mim e fazer um carinho nas minhas costas enquanto chama meu nome baixinho. Só tenho força pra responder com um grunhido fraco, o que faz ele rir. Não sei do que ele está rindo.

Ele é tão idiota.



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