História Ponte para Terabítia - o retorno de Leslie - Capítulo 2

POV Jess
Estava começando a ficar exaustivo demais assistir televisão, resolvi então ficar na frente de casa para tomar um ar, e quando estava prestes a sair, May Belle apareceu.
- Onde você tá indo? – perguntou curiosa.
- Não é da sua conta – respondi irritado.
- Grosso – ela cruzou os braços enquanto fazia um biquinho.
- Tá indo pra Terabítia? Posso ir com você? – perguntou animada.
- Vasa daqui, May Belle! – resmunguei fechando a porta com tudo bem na sua cara.
Não estava com paciência para aguentar as infantilidades dela, ela já estava bem grandinha para continuar tendo esse comportamento irritante. Para ser sincero, depois que Leslie morrera eu não tinha paciência para nada.
Sei que naquele mesmo dia em que Leslie morreu o meu relacionamento com minha irmã e meu pai tinham melhorado, mas ainda assim, não durou. Não era fácil conter a raiva que tinha de mim mesmo, de me sentir culpado pela morte dela, e para piorar eu acabava descontando na minha família. Não me orgulhava disso é claro, mas eu era incapaz de controlar. 
Quando Leslie se foi, levou uma parte de mim também.
Caminhei devagar até o cercado que dava de frente para a trilha que levava até a sua casa, durante a caminhada avistei não muito longe dali, um carro, e pelo que parecia estava parado no meio da estrada. Ignorei voltando a minha atenção total para a trilha.
Neste exato momento um flashback passou em minha mente; Leslie se cobrindo com o capuz enquanto corria da chuva até sua casa, virando para mim ela acenou e sorriu, um sorriso tão bonito.
Meu Deus, como ela era linda.
Fechei os olhos enquanto me encostava no cercado, respirando profundamente. Lembrar de Leslie me machucava de todas as formas possíveis, a saudade que eu sentia dela era inexplicável e eu sabia que ela jamais retornaria, jamais.
Coloquei minhas mãos dentro do bolso do moletom ainda admirando em meio aos meus devaneios a trilha, porém despertei logo assim que vi que o carro que estava parado no meio da estrada se aproximava dali, parando bem em frente a trilha. Era um carro aparentemente bem moderno, preto e com as janelas escuras, tornando incapaz de ver quem estava dentro.
Observava o carro curioso, seja lá quem estava dirigindo pelo que parecia não queria sair pois ficou ali quase uns cinco minutos. Comecei a questionar se o motivo não seria por eu estar o observando tanto sem ao menos tentar ser discreto, mas descartei essa possibilidade assim que as portas do carro abriram. E... Meu Deus, eu não poderia acreditar no que meus olhos viam.
- Leslie – falei num sussurro fraco.
A primeira pessoa a sair do carro era uma menina loira e de olhos azuis intensos, não havia dúvidas que era ela. Leslie usava uma jaqueta de capuz preta, e os cabelos agora pairavam em seus ombros, estava completamente linda.
- Mas como...? – pensei.
Leslie me olhava com uma expressão indecifrável, enrugando o cenho assim que dirigiu seus olhos á mim. Aquilo não fazia o menor sentido, Leslie está morta. Não podia ser ela. Não podia ser a minha Leslie.
Sem forças para me mover continuei encarando-a, e por mais estranho que parecesse, Leslie não se alterou nem um pouco ao me ver. Será que não me reconhecia? Não acho que tenho mudado tanto assim desde que tínhamos doze anos. Ou será que não era ela? Não, isso não... Será?
Pensei agora na hipótese de estar sonhando, me esforcei para fechar os olhos e beliscar o meu antebraço, e assim que abri novamente ela continuava ali, me olhando confusa.
- O que está acontecendo? – perguntei em meus pensamentos.
Aquilo não podia estar acontecendo, Leslie morreu. Não era ela. Não era.
Leslie desviou seu olhar de mim assim que a outra porta do carro foi aberta, e numa fração de segundo cambaleei para trás ao reconhecer imediamente Bill Burke, seu pai.
- Mas... – sussurrei.
Bill agora me encarava e igualmente, Leslie fez o mesmo. Os dois me olhavam sem demonstrar qualquer tipo de expressão, como se eu fosse um estranho, ou até mesmo como se eu não estivesse ali. Leslie ajudou o pai a tirar duas malas de dentro do carro sem olhar para mim novamente, e assim que Bill os recolheu rapidamente segurou com uma das mãos no braço de Leslie, guiando-a para a trilha.
Não contive mais e gritei por ela.
- Leslie! – disse quase que num berro, mas com certa fraqueza.
Ela imediatamente olhou para mim, mas não mostrava qualquer sinal de felicidade em seu rosto, pelo contrário, ela não expressava nada. Dirigindo seu olhar para o pai ele cochichou algo em seu ouvido e antes que eu pudesse impedir, ela já se encontrava indo em direção á trilha.
- Leslie espere! – gritei novamente criando forças para então sair dali e correr em sua direção.
 Tarde demais, ela já não estava mais á vista, e logo fui impedido de segui-la pela trilha quando Bill me parou colocando uma de suas mãos no meu ombro. Parei no mesmo instante, vê-lo ali também era uma grande surpresa para mim por mais que Leslie seja a pioridade ali.
- Olá, Jess – ele disse com um largo sorriso, havia um certo nervosismo em sua voz.
O encarei por um momento tentando recuperar as forças.
- Oi – falei com a voz trêmula.
Bill sorriu novamente para mim, se eu não estivesse tão confuso teria retribuído.
- Sei que deve estar muito confuso agora – falou como se tivesse lido meus pensamentos – Podemos conversar? Entre no meu carro, vamos dar um volta prometo ser o mais breve possível.
Assenti entrando assim que ele abriu a porta. Nessa hora nem passou na minha cabeça, e esqueci de avisar antes aos meus pais, mas isso não importava agora e ele disse que seria rápido, por mais que eu duvide pois ele tinha que me explicar muitas coisas.
Ele entrou ligando imediatamente o carro.
- Como você cresceu! – exclamou sorridente.
Tentei o máximo possível lhe retribuir um sorriso, mas tudo que consegui foi com certeza fazer uma careta.
Bill deu uma curta risada.
- Não precisa se esforçar, está tudo bem – disse calmamente – Sua mente deve estar uma bagunça agora, não é?
- Sim – respondi quase num sussurro.
- Eu imagino – falou dando um pequeno sorriso no canto da boca.
- Escute Jess, vou direto ao ponto ok? – eu assenti – Tem algo que você precisa saber antes de mais nada... Como você obviamente viu, Leslie não morreu.
Aquelas palavras me atingiram em cheio, todas as hipóteses de não ser ela de verdade, eram claramente descartáveis agora. 
Apesar do choque, meu coração se encheu de alegria. Leslie, a minha Leslie, estava enfim viva. Um sorriso sincero brotou do meu rosto.
- E tem mais uma coisa... – ele continuou.
O olhei curioso.
- Durante esse tempo que ficamos fora, forjando sua morte – ele suspirou – Aconteceu algo com Leslie.
Congelei de imediato esperando em silêncio ele prosseguir. 
Bill se virou para me encarar, tinha uma expressão séria.
- Ela sofreu um acidente e perdeu a memória – disse.
- O quê? – falei num impulso.
- Ela não se lembra de você, Jess.
Um frio percorreu meu corpo todo, sentindo-me totalmente fraco.