Aquele era o terceiro copo que Kyungsoo lançava contra a parede, tomado por uma fúria insana que deixava suas mãos tremendo e o coração palpitando fortemente, mas não por um bom motivo. As imagens de horas atrás perpassavam pela mente do moreno, como um clipe em eterno replay, deixando-o cada vez mais furioso e perdido em toda aquela avalanche de sentimentos ruins que o faziam destruir partes da própria casa. A mesa já estava virada no chão, os copos e pratos espatifados pela cozinha, assim como rasgados os lençóis empesteados com o cheiro de Yixing e as fotografias dos dois espalhados em porta retratos pelos cômodos.
Sentia-se traído, abandonado e trocado – e, de fato, o último se realizara, pelo menos dentro de sua cabeça tomada por desespero e dor. Acima de tudo, sentia-se sozinho, uma solidão sorrateira tomando conta do apartamento que exalava a presença irreal de Yixing em cada canto. E mesmo que se esforçasse ao máximo, era impossível não deixar as lágrimas correrem por seu rosto cansado. Porque doía ficar sem aquele maldito chinês que virara sua vida de cabeça para baixo e o deixara tão dependente dos beijos, dos toques e daquele amor quase nocivo que sentiam.
E agora ele provavelmente estava dando tudo isso a Sehun, já que ambos foram embora da festa juntos.
Tudo bem que a discussão entre os dois não fora nada amigável. Disseram coisas que jamais deveriam ter dito e aqueles machucados talvez fossem difíceis de serem curados.
Mas ver Yixing entrando no carro de Sehun e ter que aturar o Oh dirigir a si aquele sorrisinho vitorioso fora um tremendo tapa na cara. Saber do passado que os dois tinham juntos só corroborava para fazer Kyungsoo pensar que estava tudo realmente perdido; que Yixing iria deixá-lo para voltar com o ex-namorado e que o coreano provavelmente voltaria a se afundar nas bebidas e nas drogas, porque ficar sem o Zhang era o estopim para tudo de ruim retornar à sua vida.
Ele era o maldito ponto de equilíbrio.
Zhang Yixing era o porto seguro, o fio de sanidade e aquele que trouxera Kyungsoo de volta de um mar de amargura. Ele era as razões, as verdades e os motivos de Kyungsoo.
Yixing era tudo que Kyungsoo tinha.
- Merda, merda, merda! – O coreano rosnou, tateando os bolsos da calça em busca do celular, só para ter certeza do que já estava bem óbvio: não havia nenhuma ligação ou mensagem do Zhang. – Eu sou um idiota por pensar que ele me procuraria depois de tudo aquilo... – Murmurou em meio a um riso sem humor, aquele gosto amargo dominando o paladar do moreno, que bagunçou os próprios cabelos, sentindo mais e mais lágrimas escorrerem, totalmente fora de controle.
Atordoado, os passos trôpegos levaram-no à sala e ele sentiu Xiao se enroscando em suas pernas, provavelmente em busca de um pouco de carinho e aquilo acabou por arrancar um sorriso do Do. Kyungsoo se agachou, fazendo um carinho atrás das orelhas do felino, ouvindo-o ronronar e as memórias que invadiram a mente do rapaz quase fizeram-no cair sentado.
Porque era exatamente daquela maneira que Yixing lhe pedia carinho e, porra, como doía não ter o loiro consigo.
Ele estava em cada canto daquele maldito apartamento, que, depois de um tempo, virara o lar de ambos. Pouco a pouco, o chinês levara as coisas para a casa de Kyungsoo, já que o mesmo sempre insistia que o Zhang já era um morador dali, então deveria se mudar logo de uma vez. Os armários já era dominados pelas roupas de Yixing; a escova de dentes dele já fazia companhia à do moreno no banheiro e havia um bocado do loiro na bagunça que era o lugar.
Entre beijos, amassos, rodadas de sexo e momentos de mimo, eles não tinham tempo para arrumar. Preferiam passar cada segundo um curtindo a presença do outro, então, naquela bagunça organizada, eles se entendiam e sempre encontravam o que precisavam.
No momento, tudo que Kyungsoo queria encontrar no meio daquela confusão de sentimentos, era o fio de esperança que o faria acreditar que era só uma fase e logo o loiro estaria voltando para casa.
Voltando para seus braços.
- Acho que eu estraguei tudo dessa vez, Xiao. – Sussurrou para o gatinho gordinho, ouvindo um miado meio manhoso ao que o felino esfregava a cabeça em seu peito, quase como se o consolasse. – Eu não vou aguentar ficar sem ele, Xiao, vai ser a minha ruína. Eu consigo ficar sem qualquer coisa, mas não tira meu Yixing de mim...
- Ninguém vai me tirar de você, bobinho.
Kyungsoo virou-se em um rompante quando aquela voz doce, murmurada em um tom divertido e leve, ecoou atrás de si. O moreno achou que era apenas alucinação de sua cabeça perdida em desespero, que estava ouvindo coisas.
Mas Yixing parado no meio do corredor, sorrindo todo amoroso, definitivamente não era uma miragem. E o coreano pôde constatar a realidade da presença do loiro após tomá-lo nos braços em um aperto cheio de saudade, quase como se não se vissem há anos e não há horas.
- Xing, me perdoa, eu-
- Shhhh... Me deixa falar primeiro, Soo, por favor. – Kyungsoo calou-se, os braços ainda ao redor da cintura do chinês, mantendo-o o mais perto que era possível. Sentiu o toque delicado do maior em seu rosto e sorriu, querendo enchê-lo de beijos, carinhos e mimos; prendê-lo em seu abraço para nunca mais ter de experimentar a sensação de sua ausência. – Me desculpa por ter dito aquelas coisas. No caminho pra cá, vindo buscar o Xiao, eu repensei a nossa discussão e percebi que eu falei muita coisa que eu não devia.
- Não! Quem te deve desculpas pelas merdas que falou sou eu. Xing, eu me arrependo tanto... Você sabe que nada daquilo é verdade, não sabe? Foi tudo da boca pra fora, você sabe que eu sou um filho da puta orgulhoso que só faz merda com quem ama. – O desespero do moreno era quase palpável e a única saída que Yixing encontrou para acalmá-lo foi tomar aqueles lábios fartos com os seus em um beijo que transbordava sentimentos.
E Kyungsoo retribuiu aquele contato com toda a paixão que guardava dentro de si. As línguas se buscaram em um roçar quase devoto, praticamente se amando dentro das bocas, que se devoravam em um misto de desejo e carinho, dosado por toques saudosos e necessitados.
- Eu amo como você se declara sem nem perceber. – Yixing sussurrou contra os lábios do menor após terem partido o beijo em meio a mordidinhas e selares demorados, rindo baixinho da expressão confusa do coreano. – Você sempre diz que me ama indiretamente quando fica desesperado para se explicar e me pedir desculpas. É uma graça, porque você solta umas coisas lindas e nem percebe. – Explicou, enchendo o rosto do moreno de beijinhos, só para senti-lo apertando-o mais contra si, naquele abraço quente e gostoso que só Do Kyungsoo tinha.
Era bobo demais, mas, para Yixing, os braços de Kyungsoo eram o melhor lugar do mundo para se estar.
- Eu fiquei alucinado quando te vi indo embora com ele, Xing. Achei que tivesse te perdido de vez. – Kyungsoo confessou, afundando o rosto na curva do pescoço do chinês. Deixou aquele cheirinho gostoso de baunilha acalmar seus nervos e ritmar as batidas desenfreadas de seu coração.
- Devia confiar mais no seu taco, Do. – Brincou o Zhang, deslizando as mãos de forma carinhosa pelas costas largas do coreano, adorando tanto sentir o calor do corpo forte contra o seu.
Kyungsoo era tão viciante que ficar meras horas sem ele causava as piores crises de abstinência.
- Você me perdoa?
- Você sabe que sim, Soo.
- Você ainda é meu?
- Nunca deixei de ser. E se depender de mim, nunca vou deixar.
Yixing se afundou um pouco mais naquele abraço e ronronou quando o moreno distribuiu selares por sua pele arrepiada, fazendo-o praticamente se derreter entre os braços alheios. Os dedos voaram para os fios negros e os lábios se buscaram, beijando-se de forma necessitada, como se houvessem passado mais tempo do que o saudável afastados.
As roupas foram se perdendo no caminho até o quarto, em meio a risadas quando esbarravam em algum móvel por estarem preocupados demais em matarem toda aquela saudade; suspiros quando vez ou outra as costas de Yixing eram prensadas contra as paredes do corredor e ele tinha o fôlego e a sanidade roubados pela boca insana de Kyungsoo; gemidos quando os corpos se roçavam naquela fricção enlouquecedora em busca de mais e mais do prazer que os fazia incendiar sempre que se tocavam.
E não houve pressa alguma quando se amaram sobre a cama de lençóis bagunçados. Não houve brutalidade, agressividade ou toques mais selvagens, sequer gritos. Os gemidos foram baixos, para que apenas os dois ouvissem; os corpos se moveram com lentidão, sentindo cada arrepio que a sensação de estarem fazendo amor trazia.
Houve uma declaração silenciosa entre as trocas de olhares e aquela certeza de pertencimento mútuo no meio dos dedos entrelaçados e dos sussurros apaixonados.
As costas de Yixing formaram um arco perfeito quando ele sentiu Kyungsoo atingindo-o tão fundo e o gemido deliciado foi proferido ao pé do ouvido do moreno, que estremeceu, afundando o rosto na curva do pescoço maculado por seus lábios para continuar a investir daquela maneira vagarosa. Saía devagar e voltava na mesma lentidão, usando a força dos quadris para tocar o chinês no ponto mais profundo, apenas para senti-lo se contorcer sob si.
As mãos do coreano deslizaram pelas laterias do corpo quente e suado sob o seu, a ponta dos dedos fazendo uma carícia que trouxe arrepios ao loiro, levando-o a descontar aquelas sensações nos arranhões que suas unhas curtas faziam nas costas do menor. As testas se tocaram para que os olhos se encontrassem e ambos pudessem se fitar, perdidos nas declarações que trocaram através das íris brilhantes tanto pelo prazer quanto por todos aqueles sentimentos intensos envolvidos.
Os dedos se entrelaçaram sobre o colchão acima da cabeça do chinês e as estocadas ficaram um pouco mais velozes, mas sem perderem o toque vagaroso que os deixava completamente arrepiados. Kyungsoo observou, admirado, Yixing arquear-se novamente, gemendo seu nome de uma forma desesperada. Sentiu o aperto do canal ao redor de seu membro ficar mais forte e rebolou apenas para que a glande continuasse a resvalar na próstata do loiro até que ele se desmanchasse entre os corpos, praticamente choramingando por si.
E tê-lo encarando-o com os olhos marejados de prazer foi o que precisava para se derramar dentro do maior, sua voz rouca sussurrando o nome de Yixing em completa devoção.
Demorou-se a sair do chinês, porque manter aquelas investidas lentas era capaz de deixá-los excitados de novo de tão gostoso que era o contato entre os corpos suados. Mas ele logo tombou para o lado, ofegante e extasiado, sorrindo largo quando a cabeça de Yixing logo ocupou o lugar que tanto gostava na curva do pescoço do coreano, que não tardou a deslizar a ponta dos dedos pelas costas úmidas do loiro, naquele carinho que ambos adoravam compartilhar depois de transarem.
Um silêncio confortável desceu sobre os dois ao que continuavam na troca de carícias, os dedos de Yixing brincando no peito de Kyungsoo, conforme este ainda lhe acariciava as costas, passeando com os dígitos pela linha de sua coluna apenas para fazê-lo se arrepiar.
- Sabe – começou o coreano, sentindo o loiro se mexer para encará-lo. – faz cinco meses que estamos juntos. – Comentou, como quem não queria nada, apenas observando a reação do chinês. Yixing arregalou os olhos, fitando-o surpreso.
- Nossa, é verdade... O tempo passou tão rápido, eu nem percebi. – Murmurou, voltando a deitar a cabeça no peito de Kyungsoo, seus dedos tornando a desenharem linhas invisíveis sobre a pele branquinha. – Mas o que tem isso?
- Tem que, sei lá, eu tava pensando se você não quer ser meu namorado e se mudar de vez pra cá, porque todas as suas coisas já estão aqui e eu duvido muito que o Xiao queira ir embora.
Yixing apoiou-se nos cotovelos, encarando o coreano com uma expressão de descrença, um sorriso meio idiota nos lábios e uma palpitação descontrolada no peito.
Kyungsoo havia acabado de pedi-lo em namoro?
O chinês não era muito ligado nessas coisas, verdade seja dita. Não se importava com rótulos e, para ele, o que tinham, mesmo indefinido, era o suficiente para serem felizes. Mas Kyungsoo era um filho da puta orgulhoso até o último fio de cabelo; tê-lo fazendo um pedido daqueles era realmente algo.
- Kyungsoo! – Exclamou, ainda sem conter a surpresa e estapeando o braço do moreno quando o mesmo riu de sua expressão atordoada. – Primeiro: Xiao, aquele gato gordo, é um vendido que caiu nos seus encantos...
- Como se você não tivesse caído, né, Xing?! – Debochou o coreano, rindo um pouco mais do loiro.
- Cala a boca e me deixa terminar, seu cretino! – E era meio impossível não rir junto quando aquela gargalhada gostosa explodia pelo cômodo. – Segundo: eu só aceito me mudar, porque eu realmente amo o seu apartamento e essa cobertura é sensacional!
- Interesseiro!
- E terceiro: eu aceito namorar com você, por mais que tenha sido o pedido de namoro mais estranho do mundo. Seu romantismo me encanta, Do Kyungsoo. – Ironizou, movendo-se para se sentar sobre o quadril do – agora – namorado. Sentiu aquelas mãos possessivas e quentes instantaneamente sobre suas coxas e sorriu, arrepiado, deslizando os dedos pelo peito dele.
- Você sabe que eu não levo jeito com isso, mas me esforço por você. – Kyungsoo murmurou, alisando a pele macia de Yixing, deixando seu olhar tão devorador quanto apaixonado percorrê-lo por inteiro.
- Eu sei e eu amo isso em você... – O chinês ronronou, inclinando-se para rolar os lábios nos do moreno.
- O que você não ama em mim?
- Esse seu ego escroto!
- Mentira! Foi meu ego escroto que te seduziu, pra início de conversa.
- Só cala a porra da boca e me beija logo, Kyungsoo, antes que eu volte atrás e te deixe a ver navios!
Em meio a ofegos, gemidos, beijos molhados e toques quentes, eles eternizaram mais um pouco de si mesmos um no outro. E ainda que o relacionamento passasse bem longe de ser perfeito, havia tanto sentimento envolvido que, com um pouco de carinho, os problemas poderiam virar um mero detalhe no meio de tanto amor mascarado por brincadeiras, implicâncias, teimosia e orgulho próprio.
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