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História Pop Princess - Two


Escrita por: HurtMoon

Capítulo 2 - Two


Fanfic / Fanfiction Pop Princess - Two

Um carro buzinando na rua fez com que eu voltasse para o presente. Estava totalmente mergulhada, imersa nos meus pensamentos, presa em uma viagem no tempo que parecia nunca terminar. Eu já tinha perdido a conta de quantas vezes havia repassado aquela história irritante na minha cabeça. Minha vida se dividia entre antes e depois daquele dia. Era impressionante como tudo havia mudado desde então... 

Nunca mais voltei àquele apartamento. A Hinata, a Ino, a Temari e a TenTen, minhas super mega divas melhores amigas desde a infância, buscaram na minha casa o que eu pedi, o que não foi muita coisa, pois não queria nada que o meu pai tivesse me dado (o que no fim das contas era quase tudo). Tomei as dores da minha mãe, como se tivesse sido eu a esposa traída. Mas no fundo era assim que eu me sentia, de verdade.  Meu pai não havia sido infiel a ela, apenas. Ele havia jogado fora a nossa família inteira.

 

A honra de nós duas.

Era de se esperar que a minha mãe ficasse muito abalada, mas depois do choque inicial, de todos os gritos e lágrimas, ela simplesmente levantou a cabeça e não se permitiu mais ficar triste. Pelo menos não demonstrou. Contratou um bom advogado para lidar com a papelada do divórcio e mergulhou de cabeça no trabalho, ou seja, passou a viajar mais do que nunca. Ela até perguntou se eu gostaria de largar tudo aqui e me aventurar com ela pelo país afora, mas acho que, com o choque, ela esqueceu o principal... Eu precisava me formar no colégio! 

No segundo ano do Konoha High School, não é como se pudesse simplesmente tirar um ano de folga e sair por aí, brincando de caixeiro-viajante, por mais que aquilo fosse tudo o que eu quisesse fazer na minha vida.


No começo tudo correu bem, na medida do possível. Passei a morar na casa da minha tia Kushina, que era para onde a minha mãe também ia nos finais de semana de intervalo entre uma viagem e outra. Mas eu acreditava que aquilo seria uma coisa provisória. Imaginei que ela logo se recuperaria e voltaria a viajar apenas de vez em quando, como de costume. Na minha cabeça, era questão de tempo até que nós nos reestabelecêssemos e arrumássemos um novo apartamento... Por isso, quando ela recebeu um convite para trabalhar no Brasil durante três anos, foi meio que um choque para mim, já que tipo, é do outro lado do mundo! Por que ela não podia ficar em algum lugar mais perto daqui, do Japão? 


Uma coisa era morar com a minha tia por um tempo...


Outra completamente diferente era fazer daquele lugar a minha residência fixa.

 

Mas fazer o que, né? A vida parece gostar de jogar umas surpresas dessas em mim...


Não me entenda mal, eu adoro a minha tia. Ela é a irmã caçula da minha mãe — ou seja, nem é muito velha —, e a casa dela até que é legal. Só que é bem diferente daquilo com que eu estava acostumada. Tipo, o meu antigo apartamento era super clean, minimalista, e só se viam branco e metálico por todos os lados (tirando o meu quarto rosa, a única coisa viva na queda casa). Além disso, era bem espaçoso; a gente morava na cobertura. Já a casa da minha tia... Bem, digamos que até hoje encontro cores lá que eu nem sabia que existiam. Ela é desenhista e designer, trabalha com animação digital e é muito bagunceira. Por todos os lados vejo experimentos pela metade, propostas de esculturas, tintas misturadas... 
Além dos bichos, claro. Sim. A minha tia mora com cinco gatos, três cachorros, galinhas, pombos... e já até vi ratos. Quando apontei, gritando, ela me disse que não eram ratos e sim camundongos, e os chamou pelo nome. Depois disso, preferi não reclamar de mais nada, com medo de ferir os sentimentos dela, ou coisa parecida. Afinal, os bichos já moravam lá antes de mim.

Dessa forma, eu nunca tinha pensado na casa dela como um lar definitivo, mas a minha mãe ficou tão empolgada com a história do Brasil que eu nem tive coragem de mencionar aquilo. Ela merecia ficar feliz de verdade com alguma coisa, depois da decepção com o meu pai. Além do mais, onde eu estava morando nem era o maior dos meus problemas... Eu estava acostumava a ficar longe da minha mãe por uma semana, duas, às vezes até três... Só que mais de um ano? Não dava nem para imaginar!

Depois que eu nasci, meus pais não quiseram ter mais filhos. Então a minha mãe sempre foi mais do que apenas “mãe” para mim — ela fazia o papel de irmã também... de amiga. Por isso ela mudar de país me abalou tanto: foi como se, do dia para a noite, eu tivesse perdido tudo. Minha família. Meu lar. Todas as coisas que eu achava que durariam para sempre.

Minha mãe, antes da grande viagem, me fez prometer que tudo ficaria igual, na medida do possível. Estaríamos distantes uma da outra apenas fisicamente, mas ela fazia questão de continuar conversando comigo todos os dias para que a distância geográfica não se tornasse também uma distância emocional. Eu concordei, claro. Porém, naquela época não antevimos um pequeno detalhe... o fuso horário. O relógio no Brasil está 12 horas atrás do nosso. Quando aqui são 21h, lá são 9h. A minha mãe trabalha pesquisando antigas ruínas em um sítio arqueológico que não tem cobertura de nenhuma operadora de celular, muito menos de internet. E é lá mesmo que ela mora, em uma espécie de acampamento. O único local por perto que tem qualquer vestígio de civilização é a vila onde ela, sempre entre 21h e 22h. Ou seja, exatamente no horário em que eu estou na escola aqui, por causa do fuso. Por isso, o que eu fazia todos os dias, assim que o sinal do recreio batia, era ligar para ela pelo Skype do meu celular. Então conversávamos por meia hora até que as aulas recomeçassem. Não tanto quanto eu gostaria, mas era tempo o suficiente para matar a saudade. Porém, agora, com a proibição do uso de celulares na escola, eu teria que falar com ela apenas aos finais de semana. E isso para mim era muito pouco...

 

Isso me fez lembrar o motivo de eu estar com o telefone na mão. Eu teria que falar com o meu pai. Se havia alguém no mundo que poderia convencer a diretora a mudar de opinião e abrir uma exceção para mim, definitivamente a pessoa era ele. O meu pai era muito influente. Sua empresa tinha patrocinado a construção do ginásio de esportes e do laboratório de ciências da escola.
Com certeza a direção não negaria uma simples solicitação dele. O único problema era mesmo o fato de que eu teria que falar com ele. E para fazer um pedido, ainda por cima!
O telefone começou a tocar na minha mão. Atendi no primeiro toque; não importava quem fosse, eu desligaria rapidamente, pois era melhor não adiar o inevitável. Se eu tinha que falar com o meu pai, era melhor fazer isso logo, para me livrar o quanto antes. Mas, ao atender, percebi que eu não precisava ter me preocupado. Destino, talvez? Simples coincidência?


O fato é que a voz que falou comigo era a mesma que eu evitara por mais de um ano. A que definitivamente eu ainda não estava preparada para ouvir. A que, sempre que eu escutava, fazia questão de colocar o telefone no gancho. Mas daquela vez eu não desliguei.

— Pai?

— Sakura? — ele falou, meio assustado. — Filha, por favor, não desligue!

Fiquei muda por alguns segundos. Eu não ia desligar, mas também não sabia como começar o assunto. Era incrível como eu me sentia tão mais distante dele — que morava na mesma cidade que eu — do que da minha mãe, que estava do outro lado do mundo.

— Sakura, ainda está aí?


Suspirei antes de responder.


— Sim. Estou. Foi bom você ter ligado. Eu precisava mesmo falar com você.


— Jura, minha filha? — Dessa vez, além de surpreso, ele pareceu também aliviado e feliz. — Você vai voltar pra casa? Esperei tanto por esse momento!


— Não é nada disso! — interrompi depressa.

Sou mesmo uma banana! Apesar de tudo o que ele fez, senti certa pena pela empolgação que demonstrou ao pensar que eu tinha mudado de ideia. Resolvi dizer logo o que eu queria.

— Eu não vou voltar. Só queria falar com você porque estou com um problema no colégio. Não tem nada a ver com as minhas notas. É que... Bem, a diretora proibiu o uso de celulares, mas é o único horário em que posso falar com a minha mãe... Claro que não faço isso durante as aulas, nunca fiz, mas é que a gente conversa todos os dias na hora do recreio. Se a diretora quiser, pode até guardar o meu telefone no restante do tempo, mas é que realmente preciso falar com a minha mãe, e essa é a única hora que posso, por causa do fuso...

Ele limpou a garganta e falou:
— Bom, não vejo motivo para que não permitam isso. Não é como se você quisesse usar o celular para brincar no Twitter ou no Facebook.

Era exatamente o que eu tinha pensado... Ele era tão parecido comigo! Por que tinha que ter feito aquilo? Eu realmente gostava de termos as mesmas opiniões. Quero dizer, na época em que ainda conversávamos...

— Sakura —continuou ele —, vou falar sobre isso com a diretora. Mas estou ligando por causa de um assunto mais importante.

 

Mais importante para quem?

 


— Sexta-feira é o aniversário das suas irmãs — ele começou a explicar.

— Elas não são minhas irmãs! — interrompi. — Eu não tenho irmã nenhuma, como você deve se lembrar.

Ele pareceu meio impaciente, me ignorou e continuou a explicação.

— A festa de 15 anos da Karin e da Matsuri é na próxima sexta-feira, como você deve saber, pois eu enviei o convite há mais de um mês. Bem, o caso é que eu gostaria muito que você fosse. Todos os meus amigos estarão lá e sei que, se você não for, muita gente vai comentar... Mas não é só por isso. Se você for, acho que isso pode marcar um recomeço, uma trégua para nós. Eu quero muito que você aceite a sua nova família. E sei que sua madrasta e as suas irmãs iam gostar que isso acontecesse também...


Eu já ia dizer que não estava interessada e que, pela última vez, elas não eram minhas irmãs, mas que diferença ia fazer? Ele que desse para elas o título que quisesse! Eu só queria desligar depressa; afinal, já tinha pedido o que precisava. Mas ouvir meu pai chamar aquelas garotas assim mais uma vez me deixou com vontade de colocar o telefone no gancho e não falar com ele nunca mais!

O fato é que, depois da traição, imaginei que o meu pai fosse correr atrás da minha mãe pelo resto da vida, chorar, implorar, e nunca mais olhar para a cara daquela outra mulher. Ele até fez isso, tipo, por uns dois dias. Mas, quando viu que a minha mãe não estava mesmo disposta a perdoá-lo, ele simplesmente convidou aquela bruxa para morar com ele! Pior... Não foi só ela, mas também suas duas filhas gêmeas, adolescentes! Para morarem com ele no meu apartamento! Tudo bem que eu não ia lá desde aquele dia fatídico, mas ainda assim... Eu havia crescido ali! Tinha sido naquele lugar que os meus pais haviam vivido lindos anos, até aquela piriguete estragar tudo! E agora o meu pai estava praticamente casado com ela, apenas esperando pelos papéis do divórcio para poder formalizar legalmente o enlace. Mas o pior nem era isso... Ele estava tratando as garotas como se também fossem filhas dele. E, como se não bastasse, ainda as havia matriculado na minha escola. Eu tinha que olhar para a cara delas todos os dias, o que inevitavelmente me fazia lembrar de que, por causa da mãe delas, a minha vida tinha mudado tanto.


— E se eu não for? — perguntei só por perguntar. Eu não iria àquela festa nem se fosse a última do mundo. Além do mais, mesmo que quisesse, não poderia. Eu já tinha outro compromisso para aquela noite.

Ele ficou calado por um tempo e, quando falou de novo, estava com a voz bem mais seca:
— Se você não for, eu me recuso a resolver o seu probleminha... Não vou conversar com a sua diretora. Pense bem, Sakura. Não custa nada você ir a essa festa e ficar lá por um tempo! Você já tem 17 anos, está na hora de crescer um pouco. Não pode continuar a me culpar eternamente... Eu já pedi desculpas, e você sabe que me arrependi! Mas eu segui em frente, a sua mãe também, e acho que passou da hora de você fazer o mesmo. Estou cansado dessa situação. Portanto, ou você vai à festa, ou fica sem celular na escola. A escolha é sua.

Fiquei calada, mais uma vez com vontade de desligar na cara dele, mas eu conhecia o meu pai o suficiente para saber que estava falando sério.


Ele percebeu que tinha me pegado, pois, antes de desligar, tudo o que disse foi:
— Nada de jeans e tênis. Parece que festas de 15 anos temáticas estão na moda, e o tema que as suas irmãs escolheram foi “Baile na corte”. Acho que ficaram meio impressionadas com o casamento daquele príncipe da Inglaterra, não falam de outra coisa há meses. Mas o fato é que quero você vestida de donzela e não como um moleque. Compre o que precisar e mande a conta para o meu escritório.

E, em seguida, desligou.


-x-


— Saky, pelo amor de Deus! Aceite logo a roupa que seu pai quer dar! Não é como se você nunca tivesse se vestido como uma bonequinha... Aliás, pelo que me lembro, você adorava usar vestidinhos, e foi só depois de vir para cá que passou a usar essas calças meio rasgadas e blusas escuras. Espero que ninguém pense que isso foi influência minha! E que mal vai fazer você dar uma passadinha rápida no aniversário? Será que não sente falta disso, de aproveitar uma comemoração pra variar? Atualmente você só vai a festas pra trabalhar. E, se o seu pai quer que você dê uma de princesa, que mal tem? É só por uma noite, o seu tênis não vai fugir.


Eu balancei a cabeça e olhei para a minha tia, sem acreditar que ela ainda não tinha percebido o problema.


— Vai ser na sexta-feira! — respondi, apontando para o calendário. Havia um círculo vermelho em volta da data.


— Você pode desmarcar um dia de trabalho. — Ela deu de ombros. — O Minato arruma alguém pra te substituir.


— Tia, você não entende? Ninguém pode me substituir. Essa festa está marcada há dois séculos e meio, e eu já estava montando a set list que pediram. Falaram para eu alternar músicas atuais com canções da Disney! Parece que a aniversariante tem mania de princesa... ou algo assim.


O final da frase saiu com a voz minguada. Corri para pegar a minha agenda e verifiquei o endereço do local. Em seguida, peguei o convite que o meu pai tinha enviado e que, por milagre, eu não tinha jogado no lixo imediatamente. Abri-o sob o olhar atento da minha tia.

— Não acredito... — ela falou, meio rindo, ao ver minha cara de desespero. — É a mesma festa? Você vai tocar na festa de 15 anos das bruxinhas?

Eu e a minha tia nos referíamos à mulher do meu pai como “bruxa”, e, consequentemente, às filhas dela como “bruxinhas”. Sempre achamos graça disso, mas dessa vez aquilo não tinha nada de engraçado.

— O que eu vou fazer? Ninguém pode me substituir, tenho certeza! Está muito em cima da hora. Mas, se eu for, vão me reconhecer, e aí o meu pai vai dar um jeito de impedir que eu continue trabalhando. Eu estou perdida de qualquer jeito!


A minha tia só balançou a cabeça e pegou o telefone. Tinha sido o namorado dela, o Minato, que havia arrumado aquele trabalho para mim. Poucos dias após a viagem da minha mãe (quando eu não tirava os fones de ouvido, para fugir da realidade), ele pediu para ver que tipo de som eu estava escutando. O Minato foi passando faixa por faixa e, ao final, falou que eu tinha um excelente gosto musical. Ele era DJ e tinha uma empresa de som que trabalhava em festas, e perguntou se eu gostaria de aprender a mixar as músicas e fazer set lists. Aceitei na hora, afinal aquilo me distrairia. No final das contas, a distração virou um hobby, que pouco depois virou um emprego. Parecia que eu tinha jeito para a coisa, ou pelo menos foi o que o Minato falou na primeira vez em que me levou a uma festa em que tinha sido contratado para tocar, e deixou que eu comandasse as picapes por meia hora. Ao final desse tempo, quando retomou o comando, várias pessoas apareceram para elogiar a sequência que ele tinha acabado de colocar. A minha sequência. E foi então que o Minato perguntou se eu gostaria de ajudá-lo eventualmente.

A minha tia até que achou bom no começo, pois, depois da separação dos meus pais, aquela era a primeira vez que ela me via empolgada com alguma coisa. Logo depois, porém, começou a se preocupar, porque a cada dia eu ficava mais tempo ajudando o Minato, que inclusive começou a me pagar pelas horas trabalhadas. Para mim aquilo era uma diversão, mas, para falar a verdade, o emprego não poderia ter vindo em hora melhor. Eu me recusava a aceitar qualquer coisa do meu pai. Ele continuava a pagar a mensalidade da escola, mas mais do que isso eu não queria. Portanto, foi bom começar a ganhar o meu próprio dinheiro. Também não queria explorar a minha tia, e a minha mãe, bem, ela estava muito longe naquele momento.

A tia Kushina acabou concordando com o trabalho, desde que eu cumprisse três normas básicas:

1. Eu só poderia trabalhar aos finais de semana.

2. Precisava estar acompanhada de um adulto.

3. Tinha que voltar para casa à meia-noite. Impreterivelmente.


Se eu violasse qualquer uma dessas regras, ela acabaria com aquela história, e eu voltaria à minha entediante vida normal.


Tudo estava dando certo até aquele momento. Eu só trabalhava às sextas e aos sábados, estava sempre acompanhada por algum técnico de som conhecido, que ficava responsável pela sonorização do local, o Minato chegava à meia-noite e assumia o comando, e eu ia embora para casa.

Mas aquele aniversário iria estragar tudo! O meu pai descobriria sobre o meu trabalho e nunca permitiria que eu bancasse a DJ novamente! Apesar de tudo, ele continuava me controlando, a distância. Mesmo que eu me recusasse a conversar, meu pai sempre dava um jeito de questionar a minha tia sobre as notas e tudo mais. E ele era calculista; não tinha me obrigado a ir ao aniversário das enteadas em troca de uma conversa com a diretora? No mínimo pararia de pagar a escola caso eu insistisse em trabalhar como DJ. Não, ele não podia saber disso de jeito nenhum.

— Minato, tem alguém pra substituir a Sakura na festa de sexta? Ela tem um compromisso e não vai poder ir.

Interrompi as minhas divagações e comecei a prestar atenção à conversa da minha tia. Comecei a fazer sinal para que ela parasse de falar; se não explicasse a história direito, o Minato ia pensar que o motivo era uma frescura qualquer e pararia de me contratar!

— Entendo... — A minha tia continuou a conversar sem prestar atenção em mim. — Mas será que ela não poderia passar as músicas para você mesmo tocar? A Sakura realmente tem um compromisso nessa sexta...

Sentei na frente dela, ansiosa para entender o que estava rolando. Depois de se despedir, ela desligou, com uma cara supercontrariada.

— Ele não vai poder te substituir, pois vai fazer o som de um casamento, e os outros DJs da empresa também já estão ocupados. Inclusive, quem vai assumir a música depois que você for embora é uma banda. O Minato só topou fazer essa festa pelo fato de o contrato ter especificado que seria apenas até meia-noite e porque você disse que podia.


Fiquei olhando para ela, sem dizer nada por um tempo. Ela se sentou à mesa e começou a tamborilar os dedos. De repente, olhou para mim como se tivesse a solução para todos os problemas do mundo.


— Já sei! — Ela até se levantou. — A festa é à fantasia, não é? Então você vai à caráter!


— Tia, você não entendeu...— falei, desanimada. — Quem tem que ir fantasiada de princesa é a Sakura, porque o meu pai exigiu. Como DJ, tenho que estar lá apenas a trabalho! E o trabalho consiste só em colocar músicas e mais músicas para as princesas e os príncipes dançarem. Eu não sou da nobreza, faço parte da plebe e vou para trabalhar!


— Mas em nenhum lugar está escrito que você não pode ir de fantasia. Eles vão achar legal, afinal, até a DJ vai estar no clima da festa! Vou arrumar uma roupa de Arlequina do  Batman para você, que esconda todo o seu rosto... — Franzi a testa, mas, antes que eu reclamasse, ela continuou: — Não se preocupe, não vai ser um cosplay tradicional. Você vai ficar bonita, vou arrumar uma máscara veneziana que tape o seu rosto inteiro, exceto os olhos. Ninguém vai saber que é você! 


Suspirei. Mesmo eu amando a personagem, eu pensava que aquele fim de semana seria normal. Tudo o que eu queria era chegar na festa sem conhecer ninguém e criar a atmosfera perfeita através da música. Eu me orgulhava de estar cada vez melhor naquilo. No começo das festas, conforme os convidados iam chegando, eu já sacava o estilo da maioria e o tipo de som que combinaria melhor com o ambiente. E então mandava ver. Sempre dava certo. As pessoas dançavam sem parar, pelo menos até meia-noite!
O Minato de vez em quando me contava que, depois de eu ter ido embora, várias pessoas apareciam para perguntar aonde tinha ido a DJ que estava tocando músicas tão boas. Mas, em vez de ficar chateado ou de entrar em algum tipo de competição comigo, ele ficava feliz por mim e sempre me contava isso com um grande orgulho. Uma vez, inclusive, ele disse que, depois que eu fui embora de uma festa, um dos convidados, já meio bêbado, perguntou quem era a DJ fabulosa que tinha tocado, pois queria me cumprimentar. O Minato disse que era a DJ Sakura Quinzel (que vem de Harley Quinzel, o nome verdadeiro da Arlequina, personagem que eu amo muito, por isso me chamam assim), e que eu trabalhava apenas até meia-noite. Talvez por estar alcoolizado, ou por causa do meu toque de recolher, ele não entendeu meu nome e falou: “DJ Rapunzel?”
Rimos muito, e aquilo foi o suficiente para o apelido pegar entre nós.


Só que, naquela sexta, a DJ Rapunzel teria que trabalhar disfarçada...


— Sakura, a questão é que o seu pai exigiu que você fosse à festa, mas não falou o horário — minha tia continuou. — Tudo o que você tem que fazer, quando a tal banda começar a tocar, é correr para o banheiro e trocar de roupa. Então você aparece vestida de princesa um pouco depois da meia-noite. Seu pai vai ficar feliz e vai resolver o problema do celular no colégio. E ninguém vai desconfiar de nada.
Parecia simples nas palavras dela, mas eu sabia que não seria fácil assim. Por outro lado, se eu soubesse que seria tão difícil, nunca teria concordado com aquilo! Eu realmente não tinha a menor ideia do que me esperava... Mas ninguém tem né? Bom, há dois dias na vida em que não podemos fazer nada: ontem e amanhã. Por tanto, hoje é sempre o dia ideal.

Agora só falta ver se o hoje vai MESMO dar certo....



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