História Por acaso - Capítulo oito.

 Apenas reviro os olhos pelo comentário do jogador, não que eu não tenha gostado do que ele disse, apenas não quero que ele saiba disso.

      Deixo Erik na porta de casa e vou para o meu quarto. Assim que volto para sala encontro Roman mexendo nos meus Cds.

-Você não tem um cd que preste. - Bürki se senta no chão e espalha meus diversos cds pelo chão.

-Claro que tenho, todos ai são muitos bons. - Digo me sentando ao lado do meu primo.

-Ah, é mesmo?!. Então quem é Roy Orbison? - Roman segura o cd em mãos e praticamente esfrega no meu rosto.

-Você é um sem futuro, ratinho. Como não sabe quem é ele? - Digo tomando o cd das mãos no Bürki.

-Cite uma música dele então. - Roman cruza os braços e fica me olhando esperando que eu citasse a música.

- Pretty woman, walkin' down the street, Pretty woman, the kind I'd like to meet, Pretty woman, I don't believe you, you're not the truth, No one could look as good as you, mercy - Começo a cantar e logo me empolgo e puxo meu primo para ficar em pé e começo a dançar de maneira completamente desengonçada com ele. Por incrível que pareça, ele dança melhor que eu.

      Roman para de dançar de maneira brusca e logo me coloca por cima de seus ombros e começa a girar na sala. Eu não conseguia parar de rir, mas estava com muito medo dele me deixar cair e eu sair voando pela sala. Assim que Bürki me coloca no chão, parecia que tudo estava girando. Assim que tudo volta para o lugar, dou um forte tapa no braço de Roman, o que faz ele me olhar sério, mas logo abre um enorme sorriso.

-Rato. - Digo dando língua para ele.

-Ruiva do paraguai. - Bürki revida, me dando língua também.

-Minhas malas estão prontas. -Nastassja aparece na sala, segurando uma mala em cada mão.

      Rapidamente olho para meu primo, ele não havia me dito que ia embora hoje, mesmo que ei desconfiava, já que ele tem a vida dele em Dortmund, mas não queria que ele já tivesse que ir.

-Só falta o Erik. - Bürki aponta para o canto da sala, aonde sua mala está, a qual eu não tinha percebido antes.

       Aproximo do meu primo e dou um forte abraço nele, depois vou em Nastassja e faço o mesmo. É engraçado, que minha melhor amiga namora o meu primo que eu mais gosto, foi como juntar um quebra-cabeça, assim posso passar meu tempo livre com as duas pessoas que mais gosto. Ficamos na sala conversando até o Durm aparecer com uma mochila na costas.

-Temos que ir agora, para podermos chegar cedo em Dortmund e descançarmos para aguentar o dia amanha. -  Bürki me olha com um sorriso estampado no rosto.

-Vê se não demora vir me ver, ratinho. - Abraço Roman tão forte, que tenho certeza que ele está agradecendo por eu não ter muita força, caso contrário teria quebrado suas costelas.

-E você, ruiva falsificada, pode ir me visitar quando quiser. - Bürki me dá um beijo em cada bochecha antes de soltar-se do abraço.

-No próximo final de semana  estarei aqui novamente, para termos nosso momento de garotas, como faziamos antes. - Nastassja me abraça e logo está ao lado de Roman.

-Hey garota, se cuida. - Durm me abraça rapidamente, mas eu o puxo de volta e o abraço forte e antes de soltar dou um tapa em sua nuca.

-Te cuida você, pirralho! - Cruzo os braços e olho sério para o loiro.

-Olha que fofinho, a criança querendo fazer cara de adulta. - Erik começa a rir e logo Roman e Nastassja também.

-Hey tucano, quando for sair, cuidado para não bater o bico na porta.

      Acompanho os três até a porta, e os vejo até virar a esquina com um cavalo de pau e sumir.

       O resto do dia passou rápido, apenas fiquei em casa vendo televisão o dia todo.

      No dia seguinte acordo toda dolorida, já que dormir no sofá, com muita preguiça tomo meu banho, tomo café da manha e vou trabalhar. Foi uma manhã muito estressante, quis jogar um cara pela janela e derramar um copo de café de outro. Mas me contive.

        No meu horário de almoço, vou para a praça perto da lanchonente e fico olhando para os passáros que voam livremente por ai.  Começo a pensar na minha vida, tenho muita vontade de fazer faculdade de astronomia, mas a falta de dinheiro não me deixou seguir esse sonho, então resolvi ter dois empregos para juntar uma grana para realizar esse sonho no futuro, mas parece que a cada dia que passa esse sonho está mais longe.

       Balanço a cabeça para manter esses pensamentos longe, que só me deixam para trás e volto para a lanchonente. Mas assim que voltei para a lanchonente, eu lembrei que devia estar no restaurante, duas quadras abaixo da lanchonete. Cheguei alguns minutos atrasada e fiquei mais alguns minutos tentando recuperar o folego.

         Assim que cheguei em casa, tomei um banho e peguei meu notebook para navegar pela internet. Estava lendo uma reportagem sobre Münsingen na Suíça, a minha cidade natal e do Roman também, a reportagem está mostrando as principais cidades que se deve conhecer quando for para Suíça, ao ver as fotos da minha cidade, bateu uma saudade do lar, da família.  Eu estava tão distraida vendo as fotos da minha cidade, que só percebi que meu celular estava tocando lá pela quarta ligação perdida.

-Oi!       

-Boa noite garota irritante, porque parece que está triste? Cadê a empolgação? Toda vez que eu te ligo, eu fico quase surdo. - Bürki fazia muitas perguntas seguidas e eu nem estava conseguindo acompanhar.

-O que houve que está tão energético hoje?

-Hoje meu dia foi incrível, fizemos uma aposta e quem ganhava podia bater no rosto do perdedor. Adivinha que ganhou? - a voz de Roman está transbordando alegria, podia até imaginar ele gesticulando muito ao falar pelo celular.

-Em quem você bateu?

-Um tal de Erik Durm, um bobalhão do time. - Bürki começa a gargalhar e eu não consigo me conter e começo a gargalhar também.

-Qual era a aposta?

-  Ele tinha que fazer  5 gols de 8 tentativas em mim, e eu tinha que defender.

-Coitado do Durm, ele é tão branquinho, deve estar vermelho até agora. - Fecho a tela do notebook e caminho até a minha janela, para fechar a cortina.

-Tadinho nada, ele sabia no que estava se metendo. Gravaram o vídeo, se quiser ver, lhe envio mais tarde. Fui muito louco, cara. – Roman rir e fala ao mesmo tempo, o que está dificultando eu entender suas palavras.

-Tá bom, ratinho. – Sento novamente na cama e fico de frente ao notebook mas não o abro.

-Abre o bico, Julie. O que está acontecendo?

-Só saudades e uma leve nostalgia. –Falo o básico, mas sei que Roman vai pedir detalhes, algo que eu não quero falar.

-Até parece que não me conhece, abre o bico, por completo, quero todos os detalhes.

-Estava vendo fotos de nossa cidade natal, sentir uma falta do lar, dos meus pais, da época que tudo era mais fácil. – Abro novamente o notebook e volto a olhar para as fotos.

-Eu sei como é, também sinto falta de lá mas estou feliz aqui. Afinal, viemos conquistar nossos sonhos. – Bürki  está falando tão calmo, que nem parece ele mesmo.

-Viemos conquistar nossos sonhos, mas eu levei uma rasteira e agora simplesmente estou meio que presa aqui. –Olho para a janela e vejo um passarinho pousando sobre ela.

-Você não está presa Julie. Você é livre para correr atrás de seus sonhos. Eu sei que sofreu uma rasteira mas não pode desistir.

-Eu só queria voltar para casa. – Solto todo o ar preso nos pulmões e deito na cama com as costas sobre o colchão.

-E porque não volta? É a sua vontade, não é?

-Sabe que meu pai não aceitou em nenhum momento que eu viesse para Leipzig, e você sabe muito bem o que ele acha sobre a faculdade que vir fazer antes de levar uma rasteira e ter que trabalhar numa lanchonete. Voltar para casa da mesma maneira que sair, é como um retrocesso, não evoluir. Parei no tempo. – Com a mão livre passo sobre o rosto.

-Seu pai te ama acima de tudo, ele vai lhe aceitar de volta com os braços abertos. E ele sabe que acontecem imprevistos em nossas vidas. – Posso ouvir Roman cochichar algo para quem, deve estar falando algo para Nastassja.

-Acho que eu poderia ir fazer uma visita e ver como vou ser recebida e lá me decidir o que fazer, se continuo aqui em Leipzig ou se volto para Münsingen. É uma pena que lá não tem faculdade de astronomia, mas sei que meu pai diria:” Isso não tem futuro, escolha uma profissão que de dinheiro”. – Imito a voz do meu pai e Bürki solta um risinho ao ouvir minha imitação.

-Então saia de um de seus empregos e estude, faça sua faculdade.

-Não tenho como manter uma faculdade e um emprego. Teria que trabalhar o dia todo e estudar a noite, mas todo meu salário iria apenas para as contas e como iria comprar os materiais necessários para a faculdade? – Começo a roer as unhas, não por nervosismo, apenas para deixar meu emocional mais abalado do que já está.

-Eu posso lhe ajudar Julie. Sabe disso, apenas basta  dizer-me que vai atrás de seus sonhos e eu irei te ajudar financeiramente, ou seja lá como queria ajuda.

-Não quero sua ajuda, quero me virar por conta própria. Talvez eu vá procurar outro emprego que pague melhor e tente começar a estudar e ver no que dá. E se nada der certo volto para a casa dos meus pais. – Volto a me sentar na cama e pesquiso no notebook sobre as melhores faculdades de astronomia na Alemanha.

-Sabe que estarei aqui quando precisar.

-Obrigada ratinho, agora preciso desligar, Um beijão coisa fofa. – Faço o barulho do beijo antes de desligar a ligação.

       Descubro que há três boas faculdade para o curso que quero, mas nenhuma em Leipzig, são em Munique, em Karlsruhe e em Heidelberg. Pego meu celular e ligo para as faculdades para ver o que teria que fazer para ser aceitar em alguma delas. Depois de anotar tudo que vai ser preciso, eu marco uma entrevista nas três faculdades. E logo em seguida começo a pesquisar qual cidade tem o aluguel  mais em conta e qual tem boas oportunidades de emprego. Anoto todas as informações possíveis e que acho necessárias e deixo tudo junto e desligo o notebook e vou para a cama.

           Acordei bastante feliz e alegre, caminhei até a lanchonete com um sorriso estampado no rosto. Não contei há ninguém sobre os meus planos para não dar azar, mas algo me dizia que tudo vai dar certo. Que finalmente vou realizar meus sonhos. Sei que terei que mudar de Leipzig, mas estou disposta a tudo.