História Por Elas 1ª Temporada - 45 - Trabalho e Segredo

Narrador.

Duas e vinte da manhã, tudo parecia calmo, silencioso e sem ninguém por perto, mas as aparências enganam. O primeiro assobio baixinho foi ouvido, logo mais um e mais um, e vários outros. Era Dinah com insônia. Quando Dinah tinha insônia, ninguém no mesmo cômodo conseguia dormir porque ela não deixava as pessoas em paz, tipo agora.

— Gente, se o verde não fosse verde, que cor o verde seria e que não usaríamos?

— Sério, Dinah? Você vai começar com isso a essa hora? - Camila reclamou. - Se quer manter todas acordadas, deveria puxar um assunto mais interessante, quem quer saber do verde?

— Por exemplo?

— Allyson.

— Por que eu? Não podem falar de vocês?

— Acho que elas não te deixaram muitas escolhas. - Normani se intrometeu animada, ela não ficaria de fora. - Temos os verdes da Dinah ou o assunto que a Camila sugeriu, você.

— O que eu fiz para merecer vocês três na minha vida? - Allyson sabia que Dinah não pararia de falar das cores sendo outras cores, do mesmo jeito que sabia que a zoação de mais cedo não tinha acabado. - Não quero escolher nada, calem a boca e dormem logo.

— E eu quero saber como finalmente teve coragem. - Camila riu, mas se calou quando Allyson a beliscou. - Não faz isso, eu sou sua fã número um.

— Eu ainda não acredito. - Mesmo que o escuro não permitisse enxergar nada, Normani balançou seus ombros. - Lauren também não vai acreditar nessa história.

— Como não? Eu faço questão de contar. - Quando se tratava de fofocas, Dinah era especialista em passar para frente. - Euzinha vi tudo com esses olhos lindos que a terra não comerá, essa nova Allyson é uma safada.

— Curtir a vida é diferente de ser safada, Dinah. E mesmo se eu fosse, não posso ser igual a vocês?

— Claro que pode, ex pastora. - Dinah pulou para fora da cama e acendeu a luz, fazendo uma careta por ver Camila agarrada a Normani, e Allyson agarrada a Camila. - Você pode ser mais safada que todas nós juntas, mas a questão aqui é o Josh. Dias atrás vocês eram inseparáveis, agora você está fazendo papel de rodo.

— O Josh escolheu ir embora, é vida que segue. - O silêncio reuniu em todo o quarto, era tudo o que Allyson queria desde a hora que se deitaram e nenhuma calou a boca, mas ela mesmo resolveu continuar falando. - E eu sempre tive vontade, agora não tenho mais.

— Ainda tem bebida no seu sangue? - Normani questionou brincalhona, se virando para elas. - Já tinha um tempo que não te via bebendo feito louca, Ally.

─ Sei que extrapolei, mas eu precisava extravasar tudo o que sentia. Não vou reclamar, estou anestesiada até agora e não me arrependo de nada.

— Eu também não me arrependeria de nada se tivesse a mesma noite maravilhosa de sexo que você teve. - Dinah disparou automaticamente, ganhando toda atenção para si. - O que? Vai falar que é mentira minha?

— Se a própria Ally não contou nada e a Camila soube junto comigo, como você sabe que a noite dela foi maravilhosa, Dinah? Andou espionando?

— É, Dinah, responde como eu tive uma noite maravilhosa de sexo, estou mais curiosa que a Normani e a Camila juntas.

— Viram como ela não negou nada do que eu disse? - Em um único pulo, Dinah voltou para cama e quase caiu para trás, o que fez Camila rir e soltou Normani. - Calada, bunduda. E sinceramente, que nojo assistir qualquer uma de vocês transando.

— E como sabe que fiz sexo, Dinah?

— Quando começam a se fazerem de sonsas, eu não tenho paciência. - Dinah respirou profundamente, xingando todas elas mentalmente. - É só olhar o pescoço da Allyson, essa parte do corpo dela só fica marcado quando ela transa violentamente... Quero dizer, quando ela transa de verdade.

— Não sabe cuidar da sua vida, Dinah? Eu não tenho nada no pescoço, me deixa em paz.

— Pega ela, Tanajura.

— Deixa comigo. - Camila se jogou para cima de Allyson, apanhando enquanto tentava procurar qualquer marca em seu pescoço. - Caralho, se a policia te pega com todas essas marcas, é capaz deles te levarem para fazer corpo de delito, Ally. Agora estou com inveja dessa noite maravilhosa que teve.

— Você não era assim, Allyson. - Normani zombou. - Estou orgulhosa dessa nova Allyson que não fica chorando por quem não merece, agora faz parte do time certo.

— E o mais importante... - Dinah se ajoelhou aos pés de Normani, engatinhando até Camila e Allyson. - Pegou o número? Vai ligar algum dia? Amanhã? Quem sabe convidar para uma tarde de chá? A minha festa surpresa de aniversário? Hein? Hein?

— Acabou a gracinha das três, voltem para seus lugares porque eu quero dormir. - Allyson empurrou Camila para o lado e se virou para o outro, desejando ter voltado para casa antes. - E eu não gosto de chá.

— Eu não falei qual chá deveria tomar, ex pastora.

— Normani, coloca sua namorada para dormir? Ally não é a única cansada, preciso dormir para levantar cedo.

— Ninguém manda em mim, eu durmo na hora que eu quiser. - A loira deu os ombros. - E sabemos que você só vai levantar cedo por causa da Lauren.

— Ninguém levantaria cedo se você não tivesse feito graça, e eu estaria na cama da Lauren.

— Você ficou quatro dias longe dela?! Só mais algumas horas não vai fazer diferença, dona aranha.

— Qual foi a última vez que dormiu com três mulheres, Mila? - Normani piscou para sua melhor amiga, rindo pelo gesto que viu. - Sem mentira.

— Ficou louca? Eu nunca transei com mais de duas mulheres ao mesmo tempo, sabe disso, Normani. Aqui é Camila e não bagunça.

— Você é a rainha da bagunça, Mila. - Allyson disse por um fio, praticamente dormindo. - Você ama uma bagunça, Camila.

— Rainha? Eu gosto de ser a rainha, mesmo que seja a rainha da bagunça como estão dizendo.

— Isso não é nada, amor da Lauren. Eu sou a rainha da porra toda, chupa essa.

— Eu queria chupar outra coisa, mas não posso por culpa sua, Dinah. Faz um favor para todas? Dorme, fica calada, e para de me empurrar, ridícula. Tira essa mão gelada de mim.

— Ninguém precisa saber o que queria chupar, já sabemos perfeitamente. - Normani as cortou. - Agora as duas rainhas falsificadas já podem ir dormir, todo mundo sabe que a única rainha aqui sou eu. Boa noite.

Camila suspirou derrotada, não tinha mais o que fazer além de pensar em tudo o que tinha acontecido nos últimos dias até pegar no sono. Os dois dias de conferência foram cansativos, mas a recompensa chegou a galope quando Sinuhe as mandou  para Chicago.

Uma manhã de descanso, uma tarde com muitas reuniões, uma noite sem tempo para arrumar as malas e procurar voos de última hora, mas muito cedo para irem dormir. Allyson queria comemorar o sucesso do primeiro trabalho fora da advocacia, Camila queria ir embora para incluir Lauren na comemoração, Normani queria comer antes de dormir, e Dinah negou todas as sugestões quando apareceu com entradas para uma casa noturna.

Normani conseguiu seu jantar no hotel em que elas estavam hospedadas, mas não se livrou da casa noturna. O lugar era um dos mais badalados de Chicago, as bebidas do mundo inteiro se encontrava a disposição de qualquer um que passasse pelo menos vinte minutos lá dentro.

Camila quase não bebeu nas primeiras cinco horas que se passaram porque a troca de mensagens com Lauren a impedia de terminar um copo sequer, já suas amigas estavam uma pior que a outra. Ela até tentou impedir Allyson de ir embora com uma pessoa desconhecida, mas Normani e Dinah não deixaram. 

Quando o relógio marcou oito da manhã naquele dia, Camila decidiu que era hora de levar suas amigas bêbadas de volta para o hotel, obvio que não foi fácil, mas ela conseguiu chamar um carro de aplicativo e deu sorte ao encontrar um motorista de bom humor para aguentar uma Dinah e uma Normani falantes. E dentro do hotel não foi diferente, o álcool falava por elas, e como falava alto.

Allyson dormia tranquila quando as três entraram no quarto rindo, Dinah havia caído na porta do elevador, mas nem assim Allyson sequer mexeu um dedo. Horas mais tarde todas descobriram que Dinah não tinha comprado as passagens de volta e que não dormiram em casa mais uma noite.

Camila sorriu involuntariamente e pegou no sono.

[...]

— Acorda, Camila, estamos atrasadas.

— Só mais dois minutos, Dinah.

— Acorda agora mesmo porque não temos mais dois minutos. Suas opções são acordar por bem ou acordar apanhando. Então acorda, porra.

— Que merda, Dinah. - Camila levantou irritada, não encontrando ninguém além da loira parada em sua frente. - Pedindo com todo esse amor, é claro que eu acordo, inferno.

— Aproveita e toma seu banho, você tem dez minutos.

— Okay, mãe. Vinte minutos, entendi.

— Camila?

— Não fode, Dinah.

O humor de Camila nunca era um dos melhores quando não conseguia dormir direito, e ela nem sabia que ficaria pior mais tarde. O humor de Allyson também não era nada bom, ainda mais sabendo que chegaria atrasada pela primeira vez desde quando começou a trabalhar para os Cabello. Não estava sendo uma manhã fácil, igual o caminho que fizeram com uma Camila emburrada e totalmente em silêncio até a advocacia de seus pais.

— Para de fazer birra, Camila. - Allyson advertiu. - Como é bom voltar, eu já estava com saudade da minha sala.

— Nossa sala, anão de jardim.

— Tira sua namorada daqui, Normani. Estou cansada, com sono e tenho certeza que a minha mesa está entupida de trabalho. Uma surra não pode entrar na minha lista hoje, estou muito atrasada.

— A Camila estressada já é um pé no saco, agora a Ally também? - Normani revirou os olhos, ela sabia exatamente como acalmar suas amigas. - Vamos ir pegar alguma coisa para elas comerem, Dinah. Esse estresse todo é fome.

— Claro, baby.

— Claro, baby. - Allyson remendou a fala de Dinah, que mostrou o dedo antes de sair com Normani a puxando pela mão. - Não vai correr para os braços da Lauren, Camila?

— Estou com fome, não consigo raciocinar direito.

— Vai de uma vez, garota. Qualquer coisa estou na minha sala matando a saudade das pilhas de pastas me esperando.

— Boa sorte. - Sem muita pressa, Allyson foi para um lado e Camila para o outro, mas parou antes mesmo de entrar na sala que dividia com Lauren. - Essa...

— Está tudo bem, Lauren. Não estou brava ou qualquer coisa do tipo, só não acredito que você fez isso.

— Eu fiz e faria de novo se fosse preciso, mas não aqui dentro da sua sala, nem dentro da advocacia.

— Lauren, querida...

— Me desculpa por te decepcionar, foi mais forte do que eu.

— Eu não quero saber de você fazendo isso novamente, Lauren. Quer me matar do coração? - Camila não sabia do que sua mãe e Lauren estavam conversando, mas imaginou várias coisas fora de contexto. - Exatamente assim, eu resolvo tudo se você prometer que vai...

— Senhorita Cabello? - Camila cobriu a boca para não gritar de susto e ser descoberta, não reconhecendo a pessoa ao seu lado. - Está tudo bem?

— Viu meu coração por aí? Só preciso dele, o resto está tranquilo.

— Me desculpa por te assustar, não foi a minha intenção.

— Estou brincando, não se preocupe. Você é...?

— Madelaine Phillips, mas todos me chamam de Maddie. Sou a nova secretaria da Lauren, muito prazer.

— Eu não sabia que a senhora Davis queria sair.

— Ela não saiu, só trabalha no andar de cima e na parte da tarde.

— Isso quer dizer que ainda posso ir perturbar ela. - Camila sorriu antes de deixar Madelaine sozinha para entrar na sala que voltaria a usar, pegando sua mãe e Lauren de surpresa. - Família, voltei.

— Mi hija, te extraño. - Apesar de tentar, Camila não conseguiu fingir que compartilhava da mesma alegria que elas ao voltar, não com a conversa que tinha ouvido martelando sua cabeça. - Faz muito tempo que chegou?

— Acabei de chegar com as meninas, mas a surpresa não sou eu. Pensei que faltava mais alguns dias para te ver, Mama. - Lauren permaneceu calada diante da cena que assistia, nem mesmo as duas Cabello olhando para ela a fizeram falar. - Aconteceu alguma coisa?

— Não, querida. Lauren me ligou porque alguns papéis não poderiam ser assinados por nenhumas de vocês duas, tive que voltar antes.

— Papéis importantes, Camz. - Sorriu. - Que bom que voltaram, aqui fica muito silencioso sem vocês.

— Cadê as meninas? Quero parabenizar todas vocês pelo ótimo trabalho que fizeram.