Lauren.
Eu já não sabia mais o que fazer ou falar para sair da situação que me meti mais uma vez. A partir de hoje eu tenho uma lista a ser cumprida, e a primeira tarefa é nunca mais fazer uma festa com várias bebidas ou convidados que são fracos para o tipo de bebida que Zayn e Niall fazem.
— Sabe o que eu quero, Lauren? - Liza tropeçou quando foi se aproximar, encontrando a cadeira antes de eu tentar ajudar. - Ops, quase tenho um encontro com o chão.
— Você não deveria beber tanto, mas é só a minha opinião. - E a opinião da Dinah e da Camila também. - Do que precisa?
— Eu não bebo muito, principalmente de domingo para segunda. - Imaginei o estado que Liza ficava de sexta para sábado e de sábado para domingo, no mínimo ela entrava em um coma alcoólico. - Preciso de um beijo seu para ter uma noite perfeita.
— Você bebeu demais, não vai rolar, Liza.
— Está com medo que eu me esqueça mais tarde? Porque se for, não fique preocupada. A festa foi maneira e eu aproveitei tudo com um ou dois copos nas mãos em todos os momentos, mas vou me lembrar de tudo quando acordar.
— Quando você estiver em suas faculdades mentais em perfeita ordem, nós podemos conversar.
— Não sabe como fica sexy quando está bancando a advogada justa... - Liza nunca saberia o esforço que eu estava fazendo para não ser grossa com a sua insistência, ela era pior que a Dinah. - Qualquer dia podemos jogar um jogo em que você é uma advogada sexy e que eu precise da sua ajuda.
— Liza...
— Acho que o nosso segundo beijo não vai rolar...
— Exatamente, eu não me aproveito de nada e de ninguém. Não vou te beijar.
— Tudo bem, Laur. - Me oferecendo um sorriso cansado, Liza deu alguns passos e tocou meu rosto com delicadeza, acariciando minha bochecha. - Não vou ficar chateada por não ter rolado nada, isso mostra o seu verdadeiro caráter... E ele é incrível. Tem como melhorar?
— Posso te oferecer um banho gelado?Deve ter alguma roupa minha que sirva em você, ou as roupas que a Ally deixa aí.
— Você entra na água comigo? - Neguei com a cabeça e Liza suspirou rindo. - Proposta tentadora para relaxar, mas eu faço isso em casa. Josh me ofereceu carona antes de eu te arrastar até aqui.
— Josh é um cara legal, não se preocupe que a Olivia vai junto com vocês.
— Me acompanha até a porta?
— Claro.
Mesmo se eu tivesse alcançado o nível de embriaguez que Liza e Olivia, porque ela também me arrastou para o corredor e bebeu todas, não ia rolar de qualquer jeito. Eu simplesmente não conseguia deixar de pensar na Camila em nenhum momento.
Depois que deixei o Josh, as duas praticantes de alcoolismo no elevador e tranquei a porta ao voltar para dentro, comecei a pegar alguns copos no chão, mas eu precisaria de uma vassoura para juntar todo o resto. Quem diria que Sofia não era a única criança na festa.
Meu corpo começou a implorar pela minha cama com menos de dois minutos agachada. Uma pequena luta entre o meu senso e o meu cansaço foi interrompida antes mesmo de começar quando escutei Camila cantando em algum lugar.
Joguei tudo no chão outra vez e fui em busca dela, que não cantava nem alto e nem baixo, mas o suficiente para me fazer chegar cada vez mais perto e ficar ouvindo feito uma clandestina dentro do meu próprio apartamento.
— Não lembro o final, que merda de música chiclete. - Preparei uma careta estranha antes de olhar para dentro da cozinha, mas Camila estava de costas fazendo o mesmo que eu deveria ter feito na sala. - Cambio mi plan vuelvo a comenzar, el dolor me logre curar, mi boca dice jamas, mis ojos no lloran mas...
— No soy aquella que un día fui, de mis errores aprendí, por fin deje de callar, hoy vas a oír me gritar...
— Que susto, Lauren. - Camila se virou com os olhos arregalados, me obrigando a cobrir a boca para não rir. - Quer me matar do coração?
— Não quero ser uma assassina, uma assassina cardíaca ainda por cima. - Me ajoelhei em sua frente e segurei suas mãos para impedir que ela continuasse pegando tudo o que jogaram no chão, a cozinha estava pior que a sala. - Por que está fazendo isso?
— Viu o tanto de copos que usaram? Só consigo pensar que cada pessoa tinha dez bocas, não tem outra explicação.
— Deveria deixar tudo aí, eu ia limpar mais tarde, Camila.
— Você ouviu a minha mãe, Lauren. Ela tem os sentidos apurados para tudo nesse mundo, com certeza a dona Sinu descobriria caso eu não fizesse o que estava fazendo antes de você testar meu coração.
— Eu ouvi ela dizendo que era para me ajudar e não que era para fazer tudo sozinha. Como a bonitinha já começou, eu ajudo a terminar.
— Eu seria louca de negar ajuda a essa hora, estou cansada. - Puxei Camila para cima quando me levantei, tirando alguns confetes de sua roupa. Tinha como eu ficar mais trouxa por ela? - Para uma advogada você canta bem, é afinada e tudo mais.
— Você quer saber um dos meus maiores segredo?
— Claro, mas já vou avisando que não sou boa para esconder segredos obscuros, muito menos sobre cadáver.
— Cadáver? Quem você matou, Camila?
— Eu? Você que tem um segredo, quem você matou? - Camila perguntou divertida, eu nunca me cansaria de ter conhecido esse seu lado. - Me conta quem foi a vítima, Lauren?
— Você acha mesmo que eu seria capaz de matar alguém?
— Eu não sei, você é Lauren Morgado, a vampira falsificada e gótica trevosa, me diga você. Quem sabe precisou de sangue ou de um quarto mais escuro?!
— Talvez eu quisesse matar alguém... Figurativamente falando. - Isa seria a minha primeira opção com certeza. - Eu não matei ninguém, okay? Não sou fã de sangue.
— E qual é o seu segredo, vampiresca?
— Sou apaixonada por música desde a época do colégio quando me colocavam de castigo com os músicos... - Deixei minhas palavras morrerem no ar, gostando da reação curiosa que Camila mostrou. - Antes de começar a faculdade de direito, eu estudava música escondido dos meus pais, só que alguém me dedurou e meus sonhos de viajar o mundo fazendo shows acabou.
— Você é toda fodona quando está sendo a advogada fucking Morgado, pensei que sempre quis ser advogada. Agora descubro que você simplesmente estudava música.
— Virei advogada para ter paz de espírito e ajudar todos que precisam de um bom advogado, mas a música... Ela nunca me deixou.
— Com essa voz você seria incrível no mundo da música, Lauren. Imagine você cantando para um juíz? Pensa? Inovação na hora de defender seu cliente.
— Eu seria presa por desacato na mesma hora, nunca mais cantaria em público. - Começamos a rir como se fossemos grandes amigas de longa data ou duas loucas sem nada para fazer no meio da cozinha. O som da risada dela era incrível e infelizmente estávamos ficando ser ar, tínhamos que voltar ao normal. - Se um dia quiser ser uma advogada, eu canto no tribunal e depois você me tira da cadeia.
— Fechado, mas agora... - Meu coração acelerou quando Camila se aproximou mais um pouco, mantendo o sorriso que começava a tirar toda a minha atenção. - Poderia dançar uma última música comigo?
— Eu danço quantas músicas você quiser dançar, é só escolher todas elas.
— Está tarde para colocar qualquer música, então vamos imaginar uma. Você dita o ritmo e eu te sigo.
Poderia ser só mais uma dança qualquer na minha vida, mas Camila resolveu complicar as coisas para o meu lado quando juntou suas mãos atrás do meu pescoço e deitou a cabeça no meu ombro. Lentamente, desci minhas mãos pela lateral de seu corpo, a segurando firme.
Começamos a dançar sem música do jeito que Camila queria, mas ela mesma cantarolava algumas partes que estava em sua cabeça e eu fazia o nosso ritmo. Se o meu eu do futuro me falasse que o meu eu do presente estaria dançando com a pessoa que tanto me perturbou desde o dia que nos conhecemos, com certeza eu não acreditaria.
Era estranho nós duas dançando no meio da cozinha, mas um estranho bom, um estranho calmo e que me fazia esquecer dos problemas da vida. Era como se a Camila pudesse ter o melhor de mim depois de anos que ninguém teve. Loucura? Eu sei que sim.
— Laur?
— Camz.
— Passamos dias, horas e minutos brigando por qualquer coisa e agora estávamos aqui... Dançando como se nada tivesse acontecido desde o último dia que passamos juntas. - Eu não sabia o que Camila queria com aquelas palavras, mas sentia que o nosso momento juntas estava acabando. - Eu não quero te soltar, mesmo que tudo isso seja...
— Estanho?
— Sim, você não acha?
— Até poderia dizer que sim, que também acho estranho tudo isso, mas não...
— Por que não? - Camila se afastou para me olhar, parecia mais confusa que nos dias normais. - Por que?
— Eu não queria te soltar, mas você acabou de fazer isso. Não tem nada de errado em curtir um pouco mais, seja dançando comigo ou jogada no sofá.
— Eu... - Camila olhou para todos os lados antes de me encarar de novo, pegando uma mecha do meu cabelo para começar a enrolar. - Posso fazer uma pergunta?
— Quantas quiser, Camz.
— Por que não quis ficar com a Olivia e a Liza?
— Como sabe que eu não quis ficar com elas?
— Ouvi quando você dispensou as duas. - Talvez fosse o meu dia de sorte misturado com azar? Porque não tinha uma explicação decente sobre duas pessoas diferentes me arrastarem para o mesmo lugar, tentarem a mesma coisa e serem ouvidas pela Camila. - E não...
— Não? - Mesmo esgotada pelo final da festa, Camila conseguia ser engraçada fazendo suas caretas consciente e inconscientemente. Era até fofo o jeito que ela tentava deixar os olhos abertos. - Deu para ler mentes agora? Pode me ensinar, assim eu vou saber o que dizer para agradar o juiz.
— Ainda não sei ler mentes, mas quando você deu um fora na senhorita Sou Abusada...
— Senhorita Sou Abusada?
— Olivia.
— Claro, eu sabia. Continua por favor.
— Eu queria encontrar a Mani, mas você e a Olivia começaram a conversar no corredor, então voltei para trás porque ser chamada de fofoqueira era a última coisa que eu queria.
— E ficou aqui até a hora da Liza?
— Aproveitei que estava escondida na cozinha e fui até a área de trabalho para buscar uma vassoura, não achei e você apareceu com a Liza. Por que não quis nenhuma das duas?
— Elas estavam bêbadas e eu sóbria, é o bastante para deixar elas longe da minha boca ou das minhas mãos.
— Viu como não dói ser direta em uma resposta? Deveria praticar mais vezes no nosso dia a dia, Lauren.
— Tenho que praticar ser mais direta? - Camila assentiu com aqueles olhos caídos, eu queria colocar ela na cama e a fazer dormir. - Okay, vou começar a praticar agora mesmo.
— Por favor.
— Quero te beijar desde a hora que chegou aqui querendo me matar. Até pensei em te roubar por mais alguns minutos, mas a Isa grudou em você e eu deixei para lá. - Quem eu queria enganar? Passei a festa inteira de olho nelas, não via a hora da festa acabar para Isabella ir embora. Meu desejo se multiplicou depois do nosso abraço na sacada. - Mesmo que a Liza e a Olivia tivessem passado a noite só bebendo água, eu não ficaria com elas porque você é a única que quero beijar.
— Deve ser a mesma vontade que estou de te beijar desde quando te conheci, mas resolvemos complicar tudo.
— Sinto que vamos descomplicar esse tudo agora mesmo, você também não acha?
— Eu tenho certeza.
E como se o mundo tivesse parado para apreciar o momento entre Camila e eu, nosso beijo finalmente aconteceu. Era como voltar no dia em que eu beijei uma garota pela primeira vez, o nervosismo havia me pegado de jeito.
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