Narrador.
— Dinah, para de fazer graça e devolve o meu sorvete, você já acabou com seu.
— Já falei para você pegar... Aqui na minha boca, Mani.
— Não me provoca, Dinah. Sabe que quase fomos pegas da última vez porque começamos a ficar animadinhas.
— E quem falou que temos que parar, Normani? Não vamos parar, vem cá.
— Só temos vinte minutos até a próxima aula começar, Dinah.
— Podemos pular essa aula chata, Mani. Vamos ficar aqui? Juntinhas? Com muitos beijos? Com essa sorveteria maravilhosa só para nós duas? Diz que sim?
— Não. Claro que não vamos perder mais uma aula do Levy, já perdemos a última.
— Só que já sabemos o que ele vai ensinar hoje, não precisamos sair daqui.
— Precisamos sim.
— Não precisamos não.
— Que tal irmos fazer essa aula, porque a presença conta mais que a matéria, e depois vamos lá para casa aproveitar o resto do dia?
— Vai ter alguém lá?
— Ninguém até as sete e meia da noite.
— Você me convenceu, mas pode me dar alguns beijos antes de sermos sugadas pela repetição do Levy?
— Deixa eu pensar...
— Eu peguei a chave da sorveteria com o amigo da Ally só porque você estava com vontade de chupar sorvete. Isso não conta como ponto a meu favor?
— Dinah? - Lauren a chamou quando passou pelo corredor, voltando porque não ouviu a reclamação de todas as manhãs. - Caralho, Dinah. Não é hora de dormir feito uma pedra, acorda.
— Me deixa.
— Já estamos atrasadas, levanta que precisamos ir.
— Eu não quero ir hoje, não estou afim de ouvir a voz insuportável do Levy, me deixa em paz.
— Levy? O professor Levy? Sério? - Lauren riu caminhando até a janela, afastando as cortinas na esperança de Dinah acordar com a claridade. - O mundo tem bilhões de pessoas, você tinha que sonhar com o professor da faculdade? Tinha que relembrar o seu tesão pelo Levy logo hoje que temos reunião?
— Lauren?
— Não, é o papai noel em pleno março. Acorda, Dinah.
— Mas... Mas cadê a...
— Não importa quem esteja procurando, provavelmente foi embora e você nem ouviu quando saiu. Agora sai dessa cama e toma seu banho o mais rápido possível, estamos atrasadas para reunião.
— Preciso de cinco minutos. - Dinah sentou na beira da cama, sentindo sua cabeça rodar enquanto tentava entender porquê diabos ela não vestia nada. - Merda. Que reunião é essa?
— A Camila marcou de última hora. Tenho que descer até a portaria para assinar alguns papéis e ter uma conversa com o Mark. Esse é o tempo que você terá para se arrumar.
— Essa reunião é muito importante? Sempre temos folga depois de uma audiência, sem contar que não estou no clima de sair para nenhum lugar, Lauren.
— É importantíssima, ninguém mandou você beber demais. Os seus vinte minutos começam agora.
Dinah não sabia que Lauren estava descendo até a portaria com três fotos no bolso, quais seriam usadas para impedir Clara, Michael e Christopher de invadirem o apartamento delas de novo. Dinah levantou resmungando e foi tomar seu banho, desejando se enfiar na banheira nos dez minutos que passou no chuveiro.
— Bom dia, Jackie. - Ainda sonolenta, Dinah encostou na ponta da mesa ajeitando o cabelo, levando alguns segundos para se assustar com a outra mulher. - Jackie? Você não chega só de tarde quase noite?
— Não mais. Lauren me ligou para perguntar como fazia ovos mexidos cremoso, conversa vai e vem, agora eu chego aqui de manhã e saio de tarde, depois de fazer a janta de vocês.
— Agora eu tenho motivos para acordar cedo sem reclamar, esse cheiro está divino.
— O seu amigo disse a mesma coisa, já a garota foi embora sem comer nada do que fiz. Eu me sentiria muito ofendida se Lauren não tivesse falado que ela só saiu correndo porque estava atrasada.
— Volta um pouquinho, Jackie. Que amigo e que garota estamos falando?
— Callie? Candy?
— Essas pessoas são novas para mim. - Dinah riu e sentou na mesa, não queria cair porque ainda havia sono e álcool tomando conta dela. Jackie a olhou dos pés a cabeça quando Dinah escolheu sentar na mesa com todas as cadeiras vazias. - Não seria Camz?
— Exatamente isso. Ela não quis comer, mas o homem alto de olhos claros que saiu sem a Lauren ver ou ouvir, comeu. - Jackie negou com a cabeça, ela havia tomado um susto quando deu de cara com Drew saindo de fininho. - Sua noite foi boa com o bonitão?
— Não sei se fiz alguma besteira com o Drew, nem sabia que ele tinha dormido aqui, mas lembro dos sonhos indesejáveis que tive. - Ou lembranças que Dinah nunca foi capaz de esquecer mesmo que fosse sua maior vontade. Também tinha o fato dela ter visto Normani agarrada com uma loira que ela julgou ser falsa, no mínimo. - Vou denominar como pesadelo, não tem outra explicação.
— Os sonhos tem vários significados, bons e ruins. - Jackie entregou uma xícara de café para Dinah, guardando as panquecas em um recipiente de plástico. - Tem nutella no meio, Lauren disse que vocês gostam dessas coisas doces.
— Como vou saber o gosto das panquecas se você está guardando tudo, Jackie?
— Fala com a Lauren, as ordens são dela.
— Ela já subiu?
— Subiu minutos antes de você sair do quarto, ela foi pegar a bolsa e alguma coisa que a tal Camz esqueceu.
— A folgada já comeu?
— Folgada são os seus irmãos. - Lauren entrou na cozinha com seu copo de suco vazio, o colocando na pia antes de se virar rindo para a tela do celular. - Vamos embora, Dinah.
— Ainda estou de estômago vazio, não posso sair assim.
— Você vai comendo no caminho. - Jackie assentiu sorridente, e entregou as panquecas para Dinah e sua cara emburrada. - Pega qualquer coisa para limpar os dedos, não quero marca de chocolate no meu carro.
— Eu não posso comer igual uma pessoa normal e civilizada, Lauren? O que custa me deixar tomar café da manhã em casa?
— Quem é a pessoa civilizada que ignora as seis cadeiras vazias e senta na mesa? Literalmente? - Dinha deu os ombros, fingindo que não era com ela. - Okay, já te falei que estamos atrasadas. Vamos embora.
— Vamos, não tem outro jeito.
— Boa reunião, meninas. Vejo vocês mais tarde, eu acho.
— Espero que seja boa mesmo, Jackie. Ou eu vou matar um hoje.
Jackie riu quando Lauren começou a empurrar Dinah para fora da cozinha, as espiando até ficar sozinha com seus pensamentos no jantar. A quilômetros de distância do apartamento de Dinah e Lauren, Normani assistia o mesmo vídeo pela terceira vez só aquela manhã, jogada no sofá esperando por Camila.
— Para de me gravar, Normani.
— Você sabe como é linda, Dinah?
— É claro que eu sei, essa pergunta é mais óbvia que as perguntas da Rita, amor.
— Você me chamou do que?
— De nada, doidinha. Para de gravar, Mani.
— Eu quero ouvir do que você me chamou, depois eu desligo.
— Então vou te deixar aqui sozinha, você se vira com a louça mais tarde.
— Que abusada, hein.
— Você sabe muito bem como sou abusada, minha linda.
— Pode me mostrar? Adoro quando você é abusada comigo.
— Cala boca, Normani. Com esse celular ligado eu não vou te mostrar nada. Acho bom você parar de me gravar ou eu vou fazer greve... De tudo.
— E corta.
— Ela parecia ser feliz do seu lado.
— Que susto, Camila. - Normani fechou os olhos quando ouviu o celular cair no chão, lá se ia a tela nova. - Chegou que horas que não te ouvi?
— Cheguei a tempo de ver a loira andando pelos corredores. - Mentiu, ela tinha visto a tal loira indo embora pela manhã quando chegou. - Desde quando você guarda esse vídeo?
— Nunca fui capaz de apagar, então eu tenho desde o dia que gravei.
— Me conta como foi? - Normani sorriu sem nenhuma alegria quando Camila pegou seu celular do chão e a entregou com o vídeo passando mais uma vez. - Por favor, Mani?
— Era um sábado de tarde, mas eu tinha chegado na sexta porque ela queria que eu conhecesse alguns primos que vieram de longe. A mãe dela fez um almoço gigantesco para a família toda, depois decidiram passar o sábado e o domingo na fazenda, então a louça ficou para nós duas que não quisemos ir depois de mentir dizendo que tínhamos um trabalho em grupo.
— A família dela é grande?
— Grande é apelido, Camila. Vamos dizer que a nossa família juntas da a família da Dinah.
— Considerando que as nossas famílias não são minúsculas, eu imagino que metade de Miami levam o sobrenome Hansen.
— Quase isso.
— Continua contando do vídeo.
— Estávamos assistindo televisão, mas o filme era sem sentido e perdemos a paciência, então mudei de canal quando ela foi buscar refrigerante e começou a tocar uma música em outro idioma.
— Já ouvi ela cantando em outro idioma, achei maravilhoso.
— Eu também achei. Fui atrás dela para gravar, mas ela me viu e não quis mais cantar. O resto é esse vídeo aí.
— Sente falta desses momentos?
— Quase todos os dias.
Camila se calou quando pensou se tudo daria certo. As probabilidades de tudo ir para o espaço era grande já que ela, Lauren e Allyson dependiam de uma outra pessoa para colocar um ponto final nas feridas alheias.
— Mani... - Camila suspirou. - Se tudo fosse esclarecido hoje, o que você faria?
— Eu ficaria com medo. - Normani foi direta o suficiente para impressionar Camila. - Com certeza eu ficaria com medo.
— Por que?
— Porque eu não sei mais se o Dylan tentou falar com a Dinah, mesmo assim eu acreditei nele e não na pessoa que eu queria ao meu lado para o resto da vida.
— Independente de quem estivesse falando a verdade, você tentaria ficar com a Dinah mais uma vez?
— Mesmo se ela fosse a mentirosa?
— Não acredito que Dinah seja a mentirosa nessa história, Mani. Aquelas lágrimas não eram falsas, eu senti a dor dela, de verdade.
— Tudo bem, o lado dela por ter sido o verdadeiro todos esses anos, mas eu não acho que ela ficaria comigo depois de esclarecer tudo.
— Por que não?
— Dinah passou todos esses anos achando que eu tinha vergonha de ser quem eu era, que eu era uma completa covarde...
— E você tinha vergonha?
— Não era vergonha, Mila. Eu tinha medo dos meus pais, das pessoas que chamei de amigos, medo de ninguém me aceitar como eu era. Como eu sou.
— Mani, ninguém precisava te aceitar além de você mesma. Quando nos aceitamos, o mundo pode explodir e lever os preconceituosos junto com ele.
— Agora eu sei disso, mas a Dinah não.
— Você poderia contar isso para ela.
— Eu nem sei como ela ainda divide a sala comigo, Camila. Quando a Allyson sai para pegar ou entregar qualquer papel, a Dinah sai logo atrás. Tem vezes que ela corre só de perceber que estou olhando para ela. Como vou falar com uma pessoa que não me escuta?
— Você sabe que nada é para sempre? - Normani assentiu. - Um dia tudo isso vai se encaixar, a Dinah não vai levar essa raiva ou qualquer outra coisa ruim que ela sinta por você para o resto da vida. E só vai depender de você querer ser feliz, com ou sem ela.
— Com ou sem a Dinah.
— Sim, está na hora de tomar um rumo na vida, você precisa de mais sexo com a loira gostosa que estava aqui ou com outra pessoa.
— Essa é uma outra questão pela qual talvez eu não tenha mais a Dinah para mim... Eu deveria mesmo tomar um rumo na vida.
— Está falando do que?
— Ontem eu não fiquei em casa.
— Pensei que...
— Você saiu e eu não queria ficar sozinha. Liguei para os meninos e a Shay atendeu o celular do Louis, disse aonde estavam indo e eu fui encontrar eles.
— Ainda não estou entendendo.
— Acontece que os nossos amigos estavam com os amigos da Lauren e da Dinah. Ela estava lá... Dançando toda feliz, muito feliz.
— Não sei o que viu, mas tenho certeza que ela só estava se divertindo.
— Como sabe?
— Liguei para Lauren enquanto regava as plantas da minha mãe, eu queria saber como foi a audiência. - Mentiu. - Ela contou que estava indo dormir e a Dinah tinha saído com o carinha para comemorar a vitória deles.
— Eles pareciam bem mais que só advogada e cliente.
— Tecnicamente, eles deixaram de ser advogada e cliente quando ganharam o caso. - Normani a olhou incrédula. - Vemos isso depois, agora vamos embora. Estamos atrasadas para a reunião de urgência que a Lauren marcou.
— Vamos.
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