Narrador.
— Não quer sentar? - Normani ofereceu a cadeira de frente a sua, mas sabia a resposta que receberia. - Dinah?
— Estou bem de pé, muito obrigada.
— Sei que está esperando a Lauren para irem embora, não pretendo demorar.
— Eu também não. - O coração de Dinah acelerava mais a cada segundo, parecia que pularia para fora de seu peito. - Preciso falar primeiro.
— Tudo bem, pode falar.
— Me desculpar depois de anos não faz mais sentindo, não vai mudar nada do passado, mas eu preciso fazer isso.
— Dinah...
— Preciso seguir em frente, e para eu conseguir dar esse passo na minha vida, tenho que me desculpar mesmo que você não aceite.
— Então você pode seguir em frente com o seu pedido de desculpa, eu não aceito. - Dinah assentiu sem dizer nada, ela não ia implorar o perdão de Normani. - Nada do que me disser agora vai mudar a decepção que senti de você quando não acreditou em mim, esse pedido de desculpa não tem mais importância.
— Ei, não joga a merda da culpa só em mim, tá legal? Meu erro foi não acreditar em você porque as suas atitudes me fizeram crer que eu estava certa em tudo o que vi. Não tenta sair como a boa moça sabendo que tem sua parcela de culpa nisso tudo, até mais que eu.
— O mesmo tanto talvez, mas eu fui atrás de você e não foi só uma vez. Eu respeitei a porra do seu espaço até nas festas de amigos em comum e isso doeu muito. Então não venha me dizer que tenho mais culpa que você, Dinah.
— E não tem? - Normani se apressou em negar freneticamente, causando um riso de nervoso em Dinah. - Foi eu que te obriguei a andar com aquele babaca? De mãos dadas? Fazendo o casal perfeito da faculdade? Não vem não, Normani. De pobre santa desentendida ninguém aqui tem nada, eu fui burra de não acreditar em você, eu assumo o meu erro. Seja mulher para assumir que sempre soube que todos falavam que vocês eram o casal do ano enquanto eu era tachada como a chifruda sofredora e mesmo assim preferiu ficar com ele. Espero que tenha válido a pena ser a hétero fodona da faculdade.
— Escuta aqui... - Normani não admitiria em voz alta o quanto aquelas últimas palavras a machucaram, nem mesmo quando ela levantou e ficou cara a cara com Dinah. - Sabe o que é raiva? Era o que eu deveria ter sentido de você, mas não senti, eu corri atrás porque queria dar um jeito de arrumar a porra toda. Quando chegou aqui eu fiz o mesmo e você continuou sendo a cabeça dura, não quis ouvir, não quis acreditar.
— Já deu, okay, Madre Teresa de Calcutá?! Você já falou, eu já falei e não tem motivos para continuar aqui no meu dia de folga. - Dinah se afastou com seu sangue fervendo, nada diferente de Normani. - Eu fui muito mulher para pedir desculpa, ao contrário de você. Já que não quis aceitar a porra da desculpa, o problema é todo seu. O peso de não te ouvir eu não carrego mais, acabei de fazer a minha parte.
— O que foi bem tarde, você não acha? - A ironia de Normani poderia ser notada até fora da Advocacia. - Eu acho que foi tarde demais.
— Nunca ouviu falar em antes tarde do que nunca? - O deboche de Dinah também era notável.
— Sabe o que euzinha acho? - Sofia sorriu acanhada, deixando a porta aberta caso precisasse correr com o que estava prestes a dizer. - Eu acho que vocês são duas bobanas que deveriam ter escutado quando tinham algo para dizer uma para a outra, do mesmo jeito que deveriam aceitar as desculpas.
— Você ouviu toda a conversa, pirralha?
— Não, mas ouvi o bastante para dizer que vocês estão perdendo tempo com essas brigas que ninguém me deixa saber. Aliás, quem é esse menino? Se ele fez vocês duas brigarem, ele é um super bobão.
— Isso não é assunto para uma criança, Sofia. - Normani a repreendeu. - Você não deveria ter escutado a conversa escondida.
— Sei que é falta de educação, a Mama me ensinou muito bem, mas eu não estava escondida, Mani. A porta estava meio aberta, eu bati seis vezes e fiquei esperando antes de entrar, quando entrei vocês ficaram me ignorando até eu acabar de falar o que falei.
— Vou deixar essa passar, pirralha. - O lado infantil de Dinah falou mais alto na hora de provocar Normani ao tirar sua autoridade com Sofia, mas ela negaria que tinha feito de propósito para qualquer um. - Cadê a Lauren e a Camila?
— A Kaki e a Lolo me mandaram te procurar bem na hora que eu queria discutir sobre o meu aniversário, foi por isso que a Mama mandou o motorista me trazer aqui. Só que elas ficaram lá se beijando e ninguém fala do meu aniversário.
— Vou precisar de um balde com água gelada, um cinto de couro e tênis extras para correr, esse aqui machuca os meus dedinhos. - Sem perceber, Normani sorriu só de pensar no que Dinah queria aprontar com Sofia. Aquela era a Dinah brincalhona que havia conhecido anos atrás. - Será que tem alguma coisa do tipo escondido por aqui, pirralha? Vou acabar com o beijo delas.
— Sei aonde tem o balde e a água delada. O cinto podemos pegar emprestado com o senhor House no quinto andar, ele finge que é bravo, mas é um amorzinho.
— É, eu posso correr descalço. Tchau, Normani.
— Tchau, Dinah.
[...]
— Menina, o primeiro pedaço de bolo tem que ser meu. Você fica o dia todo grudada no meu pé e quando vai dormir lá no nosso apartamento, fica me perturbando atrás de filme de terror. Nada mais justo eu ser a privilegiada no seu dia, ou noite.
— Você me ama, Dinah. Sei que adora quando colocamos filme de terror para assustar a Lolo.
— Shiu, menina. - Sinuhe sorriu aliviada por não ter chamado os amiguinhos de Sofia, mas sua filha tinha Dinah que valia por dez crianças. - Me da logo esse bolo e para de explanar as coisas.
— Vamos continuar assistindo os filmes, mas o primeiro pedaço de bolo é da Mama, Dinah.
— Gracias, mi hija. - Sinuhe pegou o pedaço de bolo que Sofia lhe deu e se virou para Dinah, sorrindo antes de começar a comer. - Está uma delícia, crianças. Aproveitem a festa e o bolo, tem para todos.
— Esse bolo está maravilhoso. - Lauren disse com a boca cheia, enfiando na boca de Sofia também. - Deixa elas aí e come seu bolo, Sofi.
— Esse é o melhor bolo que já comi na vida, mas não deixem a dona Andrea saber que falei isso, a minha mãe me mata se souber disso.
— Por que vocês duas estão comendo bolo e a gente não? - Camila cruzou os braços rindo, a cena de Sofia, Normani e Lauren todas sujas daria uma bela foto para fazer chantagens mais tarde. - Quem foi o traidor que deu bolo para vocês duas?
— Alejandro. - Disseram juntas.
— PAPA?! - Camila gritou, literalmente, mas ela já sabia que o traidor era seu pai. Alejandro nunca foi de esperar quando se tratava de doce. - Você chamou só elas e eu fico aqui chupando dedo?
— Não tenho culpa, mi hija, você não sai desse celular. Sua mãe, Sofia e Dinah estavam lutando pelo primeiro pedaço e esqueceram que tem o segundo, terceiro, quarto e o bolo inteiro. Normani e Lauren foram as únicas que me ouviram chamar para comer, não somos de perder tempo, querida.
— Não fica bravinha, Camz. Olha o tamanho desse bolo, come de uma vez.
A discussão sobre os pedaços de bolo rolou por mais um tempo, tempo suficiente para Sinuhe tratar suas filhas e as amigas de Camila como crianças. Quando Allyson chegou com os docinhos, encontrou as quatro amigas com o rosto sujo de bolo, nem o cabelo de Sofia tinha escapado da guerra de glacê.
Tudo estava indo terrivelmente bem, Sofia não merecia ter a festa estragada com convidadas de cara fechada, tipo Dinah e Normani quando se olhavam. Allyson logo tratou de mandar uma mensagem para cada uma avisando que queria um sorriso no rosto delas ou as coisas ficaram sérias para elas.
— Quem muito pensa não casa. - Dinah arregalou os olhos quando sentiu a mão de Normani cobrir sua boca. - Não grita, não fala palavrão.
— Tiraamão. - Normani fez o que Dinah pediu e se afastou sorrindo, talvez fosse efeito do vinho que Camila deu para ela. - Você me assustou.
— Eu sabia que se assustaria, por isso cobri sua boca. - Silêncio. - Você saiu da sala para se limpar e não voltou mais.
— Não estou mexendo em nada, só queria tomar um ar.
— Sei que não mexeu em nada, eu estava te observando e pensei que poderíamos terminar a nossa conversa.
— Pensei que já tínhamos terminado lá na advocacia.
— Está falando sério?
— Por que eu não estaria?
— Como eu sou idiota, esquece. Faz de conta que não te falei nada.
— Veio até aqui para virar e ir embora de volta, Normani?
— Que se dane o que vou fazer, Dinah. Eu não quero mais conversar com você.
— Normani...
— Não, Dinah. Eu só queria conversar com você, não precisava ser grossa comigo.
— Eu não fui grossa com você, só pensei que a nossa conversa tivesse realmente acabado na advocacia.
— Acabou de acabar, okay? Quando você achar outro jeito de falar com as pessoas, me procura, não sou seu saco de pancada.
— Meu Deus, Normani. Eu não fui grossa, muito menos estou te fazendo de saco de pancada.
— Não precisa me procurar mais, cansei.
— Isso é algum tipo de charminho? Ou você me quer rastejando aos seus pés para implorar uma conversa? Porque se for isso, esquece.
— Como você é idiota.
— Você quer que eu seja a única culpada de tudo novamente e ainda sou a idiota?
— Não estou falando que você é a única culpada, Dinah. Passei a tarde inteira pensando e agora eu consigo admitir os meus erros, a minha culpa que é maior que a sua.
— Pelo menos isso.
— Eu esperei um momento em que pudéssemos sentar e colocar o ponto final definitivo na nossa história. Então hoje quando for embora, você pode voltar a fingir que eu não existo no seu mundinho perfeito. Pode ficar tranquila que eu passarei longe de tudo que te envolva. - Dinah sentiu as palavras de Normani cortar seu peito, não era assim que ela queria, não precisava ser daquele jeito. - Vou entender esse silêncio como resposta que todos os pontos foram colocados no lugar certo.
— Você não pode colocar palavras na minha boca.
— Então abre a porra da boca, Dinah. Fala o que quer falar ou esquece tudo, isso só me machuca, acaba comigo. Não existiu maturidade de ambos os lados para termos essa conversa anos atrás e talvez os próximos anos sejam tarde demais para nós duas sequer dizer oi.
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