História Por Elas 1ª Temporada - 7 - Sorvete e Sofi

Narrador.

— Ei? - Elizabeth chamou assim que viu Lauren parada na entrada, não queria ter demorado tanto. - Já está indo embora?

— Já deu a minha cota por hoje, estou cansada.

— A Camila interrompeu a nossa conversa, eu não terminei de contar o que aconteceu com as meninas.

— Pode ser outro dia? - Lauren queria saber o que tinha acontecido entre Dinah e Normani, mas também queria sair daquela festa o mais rápido possível para não ver Camila outra vez. - Eu preciso mesmo ir embora.

— Sem problema, Lauren. Pode ser qualquer outro dia. - Elizabeth ofereceu seu melhor sorriso, mas por dentro queria matar Camila. - É só a gente marcar.

— Mudei de número e ainda não decorei nem os três primeiros, mas você pode pegar com a Ally e depois me liga.

— Ally está mais para lá do que para cá, vou esperar ela dormir e acordar sã porque assim não tem erro.

— Tudo bem, agora eu já tenho que ir.

— Se quiser eu te levo em casa...

— Obrigada, mas não precisa. Dinah foi embora de uber e o carro ficou comigo.

— Então eu fico por aqui, foi um prazer te conhecer. - Elizabeth se aproximou para deixar um beijo no rosto de Lauren, sem saber o que causaria minutos mais tarde. - Até qualquer dia, Laur.

— Até qualquer dia, Liza.

Lauren se apressou em chegar até o carro e saiu queimando pneu antes de começar a espirrar por causa do perfume forte de Elizabeth, parando quando já estava longe para pegar o antialérgico que Dinah sempre deixava dentro do porta-luvas.

O caminho de volta havia sido quase tranquilo, quase. As ruas estavam praticamente vazias por causa de um show que acontecia em alguma parte da cidade, o que deixou Lauren menos estressada porque chegou rápido no estacionamento de seu apartamento.

O elevador não demorou para descer e subir novamente com uma Lauren inquieta dentro dele. Seus dedos batiam contra o aço a cada andar que subia, desejando que ninguém subisse com ela. E assim seu desejo se fez e logo Lauren estava fechando a porta, jogando suas chaves em qualquer lugar do sofá.

— Dinah?

Sem resposta. Dinah realmente não tinha voltado para o apartamento delas como sempre fazia depois de uma festa. Sem ter com quem brigar ou pedir qualquer tipo de explicação, Lauren foi direto tomar um banho demorado de banheira, assim ficaria relaxada para ter uma boa noite de sono.

O lance de relaxar não aconteceu quando Lauren afundou seu corpo na água quente. Assim que fechou os olhos, ela se lembrou de como Camila a olhava enquanto cantavam juntas, de como seu sorriso era lindo mesmo a dona dele sendo irritante. E de como ela saiu correndo da festa porque não queria ver Camila.

— Laur, cheguei. - Lauren nem se mexeu, somente tirou Camila de sua cabeça enquanto ouvia os passos de Dinah se aproximando. - Lauren? Eu sei que chegou porque a luz está ligada, então responde.

— Estou no banheiro. - O barulho dos saltos de Dinah foram ficando mais altos até que ela apareceu na porta do banheiro do quarto de Lauren, sorrindo de lado como se nada tivesse acontecido. - O que você quer?

— Adoro quando fica cheia de amor.

— Você ainda não viu nada. - Lauren voltou a fechar os olhos, um sinal claro que Dinah entendeu que ela estava com raiva. - Vai ficar parada aí? Porque meu banho vai demorar.

— Me desculpa por ter deixado você sozinha na festa da Ally, Lauren. Não vai mais acontecer, eu juro.

— Não vou te desculpar. Aliás, eu não vou mais em festa nenhuma com você. Espero que respeite a minha decisão.

— Já entendi que está com raiva pelo que fiz, não vou ficar aqui se você não quer conversa comigo. Vou tomar banho, se quiser pode ir lá dormir comigo depois.

— Vou dormir na minha cama. - Dinah se virou pronta para sair, mas Lauren ainda queria ter uma última conversa quando abriu os olhos novamente. - O que aconteceu entre você e a tal Normani?

— Quer mesmo saber?

— Se estou perguntando?!

— Tudo bem. - Não estava nada bem e Dinah sabia que Lauren não esqueceria aquela história ao menos que soubesse a metade da metade. - Você me conhece muito bem, até melhor que eu mesma. Sabe que quando alguém me decepciona nem que seja um pouquinho, é muito difícil eu voltar a falar com essa pessoa, não sabe?

— Sei sim, continua.

— Lembra quando você passou aqueles dois anos fora? - Lauren assentiu. - Conheci a Normani nesse tempo, viramos amigas e quando um aluno novo chegou na faculdade, ela teve a infeliz ideia de chamar ele para andar com a gente porque ninguém queria ser amigo... Agora já chega de falar disso.

— Que? Como assim chega de falar disso? Cadê o resto, Dinah?

— O cara fodeu com tudo, mas eu já não ligo mais.

— Não liga?

— Foi o que eu disse, não ligo mais.

— E você saiu correndo da festa porque não liga mais?

— Está com fome? Vou fazer alguma coisa para comer. - Dinah saiu sem olhar para trás, suspirando frustada. - Sai logo dessa banheira se quiser comer.

Lauren queria saber de toda a verdade e não só o que Dinah quis contar para ela. Pensando em arrancar mais coisas da loira, Lauren terminou seu banho, vestiu a primeira roupa que achou e foi atrás de Dinah na cozinha, mas ela não estava.

— Eu sabia que ela deixaria comida por minha conta.

— O que é da sua conta? - Dinah passou por Lauren rindo, ela tinha feito de propósito. - O que foi?

— Quer me matar do coração, porra?

— Está devendo, Jauregui?

— Morgado, Dinah. É Morgado, vê se aprende.

— Tanto faz se é Morgado ou Jauregui, eu não vou aprender nada porque faço isso para te irritar. Vamos comer?

— Cadê a nossa janta? Não estou vendo nada aqui.

— No microondas, querida. Quer coisa melhor do que lasanha congelada?

— Comida de verdade? Eu pensei que você ia fazer e não descongelar. Deixa sua mãe saber disso.

— Você é um amor, mas se contar alguma coisa para a dona Milika, eu te quebro.

— Me quebra e eu jogo essa sua lasanha safada pela janela, sei muito bem que não tem outra.

— Você não faria isso... - Lauren deu os ombros pegando dois garfos, indo até o balcão que tinha ali. - Me da esse garfo aqui e deixa de gracinha.

— Come e fica quieta. - Dinah mostrou o dedo do meio para Lauren antes de começar a comer, sorrindo de boca cheia. - Não pense que esqueci da conversa no banheiro e de como foi embora da festa, sua porca.

— Eu já me esqueci de tudo, você deveria fazer o mesmo.

— Uhum, sei. - A loira deu os ombros colocando mais um pedaço de lasanha na boca, se levantando para pegar qualquer coisa que pudessem beber. - Que horas temos que ir encontrar a dona da advocacia?

— As oito em ponto. Ela disse que seremos em cinco no total, tirando a Ally, todas começaremos no mesmo dia. - Dinah entregou um copo de suco para Lauren e encheu a boca novamente, voltando até a geladeira para mexer no freezer. - Seremos nós duas, a tampinha estressada, uma outra pessoa que ela ainda não tinha conversado até a hora que me ligou e a filha mais velha dela.

— Então quer dizer que ela tem uma filha inútil que não pode se virar sozinha com o negócio da família?

— Não é nada disso, sua louca. A filha da mulher vai tomar conta da advocacia dos pais por alguns dias, semanas, não sei até quando vai o período de experiência dela e o nosso. Nós vamos ajudar, estudamos para isso, Laur.

— Que tipo de ajuda?

— Seremos as advogadas de confiança dos donos para ajudar a filha deles, é nosso ramo e não o dela. Acho que nós duas juntas conseguimos dar pelo menos um bom advogado.

— Pausa tudo. - Dinah parou de remexer o freezer, fingindo ser uma estátua. - Idiota. A filha dos donos vai cuidar da advocacia dos pais, mas não sabe nada sobre isso?

— Eu não sei te responder isso porque não fiz essa pergunta, só sei que vamos ajudar ela com a parte jurídica e vamos pegar casos para defender enquanto levamos o nome da advocacia nas costas.

— Eu espero mesmo que seja para trabalhar como advogadas e não como babás da filha dos outros, Dinah.

— Não será. Cadê os sorvetes que estavam aqui?

— Não tem sorvete aí, chupamos o último ontem depois do filme. - Dinah revirou os olhos soltando uma lufada de ar longa, até parecia que não tinha sido ela a chupar mais que a metade. - Você poderia ir buscar.

— Não vai ter nada aberto essa hora, pode esquecer que eu não vou sair daqui.

— Arruma a cozinha que eu sei onde tem sorvete essa hora. Fui.

Antes mesmo de Dinah protestar, Lauren já tinha pegado suas chaves, sua carteira e chamava o elevador. Tinha um lugar que ela ia quando era criança, a loja de conveniência do senhor Pepê deveria ser a última que fechava em toda Miami. E foi para lá que Lauren dirigiu apressada.

— Minha menina de olhos verde oceano. - Lauren sorriu assim que entrou na loja, sendo recebida pelo homem que queria ter como avô. - Quanto tempo não te vejo, menina teimosa.

— Estou só um pouquinho sumida, Pepê.

— Só um pouquinho? - Lauren assentiu ainda sorrindo. - Você sumiu por muito tempo, meu coração velho pode não aguentar até a próxima visita, pestinha.

— Nem brinque com isso, Pepê. Quem vai contar as minhas longas aventuras para meus futuros filhos?

— O que posso contar para eles? - O senhor fingiu pensar um pouco, arrancando mais sorrisos de Lauren. - Já sei, vou contar que a minha menina fugia de casa quase todos os dias para tomar sorvete.

— O que posso fazer se a Clara me ensinou o caminho dos melhores sorvetes azuis de Miami?!

— Espero que nunca se esqueça, menina. - Pepê deu um sorriso cansado, a idade avançada era a única culpada. - O que vai querer dessa vez?

— Vou querer os sorvetes de sempre, pode caprichar que tenho uma amiga que parece ter três estômagos me esperando. - Pepê concordou sabendo que ela falava de Dinah. Lauren pegou um carrinho de compras, enchendo com várias besteiras que elas comeriam ao longo dos dias, parando quando sentiu sua camiseta ser puxada. - Opa.

— Oi. - Lauren virou dando de cara com outra prateleira, olhando para baixa quando sentiu sua roupa ser puxada com mais força. - Pode me ajudar, moça?

— Oh... Claro, eu ajudo sim. Você precisa de que?

— Eu não sei voltar para casa.

— Você está sozinha? - Lauren deu alguns passos para trás, saindo do corredor para olhar em volta, mas não achou ninguém. - Cadê seus pais?

— O Papa está viajando desde... Não sei quanto tempo faz que ele foi para algum lugar. A Mama estava brigando com a Kaki, por isso eu saí e acabei aqui.

— Então você saiu sozinha por essas ruas e essa hora, certo?

— Super certo. Eu sai correndo sem prestar atenção nas ruas que passei, agora quero voltar e não sei aonde estou. Pode me ajudar?

— Como você se chama, pequena?

— Sofia, mas pode me chamar de Sofi como todo mundo me chama.

— Prazer, Sofi. - Sofia estendeu sua mão para Lauren, que apertou surpresa com toda a educação da criança. - O meu é Lauren, mas todo mundo me chama de Laur.

— Então, Lolo... - Lauren franziu o cenho, mas acabou rindo com a espontaneidade da menina. - Eu quero ir para casa, você está de carro?

— Estou sim, mas você já ligou para sua mãe ou para a... Coca?

— Não é Coca, é Kaki. Ela e a Mama estavam brigando, não pensei em pegar meu celular quando sai correndo do nosso apartamento. - Sofia suspirou. - A Mama vai viajar e eu vou ter que ficar com a Kaki até ela voltar.

— Kaki é sua irmã? - A menina concordou com a cabeça. - E a sua irmã é tão chata que você não quer ficar com ela?

— Não é isso. A Kaki é legal, mas eu queria ir com a Mama porque ainda estou de férias.

— Talvez a viagem seja de trabalho, por isso você não pode ir e tenha que ficar aqui com a sua irmã. Quem sabe na próxima?!

— É, quem sabe na próxima. - Sofia baixou a cabeça, chutando o nada. - Fazer o que, né.

— Se você me prometer não ficar triste, eu te ajudo a voltar para o seu apartamento, Sofi.

— Sério? - Sofia a olhou esperançosa. - Está falando sério?

— Super sério, pequena. Que tal um sorrisão para mim, hein?! Um bem grande para me deixar contente?