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História Por favor me chame de Professor! - Capítulo 4 - Parte 2


Escrita por: phmmoura

Notas do Autor


Aqui está o resto do capítulo 4. Espero que gostem

Capítulo 5 - Capítulo 4 - Parte 2


— Você chorou — Akaishi-kun disse. Apesar de tentar esconder, o professor conseguia ver o sorriso por trás dos lábios.

Yuuto evitou olhar seu estudante, sem nem se dar o trabalho de responder. A final de contas, era verdade. No momento que ele viu a irmã de Akaishi-kun, linda e sorrindo no vestido de noiva, andando até o altar, o professor sabia que choraria. Ele deu tudo de si para segurar, mas depois que os noivos disseram seus votos, mesmo em inglês e com um sotaque pesado, Yuuto sentiu as lágrimas descerem apesar de seu controle. Mesmo com dificuldades para entender tudo, a cerimônia foi linda demais.

— Não estou rindo de você — Akaishi-kun inclinou e sussurrou para apenas Yuuto escutar, apesar de não ser necessário. No grande salão onde era a recepção, não era difícil encontrar um lugar reservado para uma conversa mais intima.

O professor fechou os olhos e respirou fundo, pronto para encarar seu estudante. Mas quando virou, ao invés de um sorriso, o professor viu um Akaishi-kun oferecendo um lenço. Yuuto abriu um pouco os olhos, e então sorriu, aceitando a gentileza de seu estudante. Ele limpou as lágrimas com cuidado.

— Obrigado.

— O que achou? — Akaishi-kun perguntou depois que o professor secou o rosto. — Teve problemas pra entender a cerimonia?

— Foi... difícil — ele admitiu. — Eu entendo inglês, mas aquele sotaque... o noivo é de onde?

— Colômbia ou Argentina, eu acho — Akaishi-kun deu os ombros. — Eu sei que ele é de algum lugar da América do Sul.

— Isso ajuda muito — disse Yuuto, revirando os olhos. De repente ele sentiu que poderia brincar com Akaishi-kun. — Normalmente o grande Akaishi-kun parece saber de tudo. Mas sabe tão pouco do seu cunhado.

— Ah… — Por um momento ele evitou os olhos do professor. O estudante limpou a garganta. — Faz… um tempo desde que tive uma conversa de verdade com minha família… —Akaishi-kun deixou a frase no ar.

Yuuto se arrependeu de suas palavras na hora. Ele esqueceu completamente que Akaishi-kun tinha algum tipo de briga com a família. Por isso ele disse que não estava com humor pra vir...

— Uma reunião de amigos e família... — as palavras saiu da boca dele antes que Yuuto percebesse. O professor tinha perdido a conta de quantas vezes tinha pensado nisso.

Akaishi-kun olhou ao redor.

— Suspeito que poderia ter achado um jeito melhor de falar isso. — Apesar das palavras e o suspiro, o estudante sorriu ao ver o professor reagindo da maneira que imaginou.

Jeito melhor... deveria mesmo. Eles não são nem um pouco amigáveis com você, o professor pensou, mas segurou a língua. Não tinha razão para falar isso em voz alta e lembrar seu estudante. O próprio mesmo já conseguia ver isso.

Os que vieram falar com Akaishi-kun eram educados o suficiente, mas por trás das ações e palavras deles, Yuuto conseguia dizer que algo estava… errado. Mas apesar do professor estar curioso, não tinha nada a ver com ele e não perguntou. Sem contar que não queria trazer problemas para Akaishi-kun devido sua curiosidade.

— Então você veio mesmo.

Um homem vestindo um smoking preto cumprimentou Akaishi-kun, ignorando Yuuto por completo. Ele tinha quase o mesmo rosto que o estudante. As únicas diferenças que o professor notou foi que o homem usava um óculos, apesar dos olhos não terem nada do brilho fascinante e o nariz mais largo. E o mais surpreendente era que esse homem tinha uma aura ainda mais arrogante que o pintor. Isso é possível? Yuuto se perguntou.

— Estou feliz que você conseguiu colocar seus sentimentos de lado para celebrar esse momento — O homem disse, tirando os óculos e limpando a lente com um lenço.

 — Foi pela minha irmã — Akaishi-kun respondeu num tom sem emoção. — Claro que viria.

— Só por ela você age um pouco como um adulto. — O homem falou quase no mesmo tom, colocando os óculos de volta com a mão esquerda. — Por acaso já…

— Não vou mudar de ideia — Akaishi-kun interrompeu, encarando-o nos olhos.

O homem suspirou e abaixou a cabeça.

— Quando vai deixar de ser criança?

Akaishi-kun arregalou os olhos por um instante… e então estreitou-os.

Isso é ruim, Yuuto pensou na mesma hora. O professor sabia que tudo poderia acabar indo na direção errada se continuasse desse jeito. Toda vez que o estudante ficava com raiva desse jeito, ele de repente começava a brincar mais com o professor, mas Yuuto duvidava que ele faria o mesmo aqui.

— Amar meu avô e não querer considera-lo morto antes do tempo é ser criança?

— Se você chama aquilo de amor, você é um sadista.

As pessoas começavam a virar na direção deles, Yuuto notou. Akaishi-kun nem percebeu, sua mão fechando em um punho.

— Akaishi-kun! — O professor sussurrou numa voz abafada, agarrando o punho de seu estudante com as duas mãos.

Akaishi-kun olhou para Yuuto, o rosto duro e os olhos ameaçador… e então sua expressão relaxou. Ele respirou fundo algumas vezes e abriu o punho, segurando a mão do professor, que apertou de volta.

O homem ergueu a sobrancelha e um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.

— Estou surpreso que consiga controlar-se. Acho que passar um tempo longe da família o amadureceu um pouco. — Ele direcionou a palavra para Yuuto pela primeira vez. — Acho que preciso agradecê-la por isso. Pode ser uma completa desconhecida, mas de todas as companheiras recentes de meu irmão, você parece decente. Obrigado por manter meu irmão entretido o suficiente para ele não envergonhe a família.  Se puder, por favor coloque algum senso nele.

O estudante ficou em silêncio e apertou a mão do professor com mais força enquanto observava o homem ir embora.

— Akaishi-kun… — Yuuto não perguntou nada por respeito. O professor sabia caso Akaishi-kun quisesse conversar, ele conversaria, apesar que provavelmente seria através de brincadeiras.

Pelo menos seria melhor que isso agora… Yuuto olhou ao redor, tentando achar algo que distraísse Akaishi-kun. Seus olhos pararam na pista de dança, onde muitos se juntavam ao agora marido e mulher. Engolindo seco, o professor sabia que daria certo e sentiu suas bochechas avermelharem um pouco com a ideia. Ele respirou fundo.

— Vamos… vamos dançar… Akaishi-kun… — ele tentou convidar o estudante numa voz firme, mas tudo desmoronou no momento em que abriu a boca.

Akaishi-kun virou para o professor com um olhar estranho, mas logo em seguida seus lábios curvaram num sorriso.

— Se é o que minha musa deseja, eu obedeço — ele disse, conduzindo o professor pelos dedos.

Eu não devia ter feito isso, o pensamento cruzou a mente do professor enquanto Akaishi-kun o segurava pela cintura e pela mão. Apesar de outros dançarem na pista, por alguma razão Yuuto sentiu os olhos de todos virando para eles. Eu não devia ter feito isso, ele pensou de novo.

— Não se preocupe — Akaishi-kun disse ao notar as bochechas vermelhas do professor. — Eu serei gentil.

Yuuto não presto atenção na provocação; a música já tinha começado e ele estava ocupado demais focando em seus próprios pés. Eles começaram dançando lentamente, de um lado para o outro. Quando a música acelerou, Akaishi-kun começou a dançar mais rápido, acompanhando.

De alguma forma o professor conseguiu acompanhar com ele. Ou talvez o estudante que liderou perfeitamente. Apesar de pensar como ‘cheguei aqui?’ uma ou duas vezes, antes que percebesse, Akaishi-kun parou de dançar, fazendo uma pequena reverência quando a música acabou.

— Já… acabou…? — Yuuto disse, ofegante. Parte dele sentiu um pouco triste. Mesmo com o incidente onde quase escorregou, aquele que o estudante o segurou, o professor gostou de dançar. — Você é um ótimo dançarino, Akaishi-kun — ele elogiou-o com um sorriso quando saíram da pista.

— Eu sei — Akaishi-kun falou empinando um pouco o nariz, sorrindo também. — Mas nem chego perto deles — ele indicou a pista de dança com a cabeça, seus olhos observando a reação do professor.

Tinha apenas um casal na pista agora e devido as roupas deles, Yuuto sabia que eram do lado do noivo. Pouco a pouco o saguão inteiro foi ficando em silêncio, todos voltando-se para a pista de dança. O casal estava numa pose estranha; a mulher encarava as costas do homem. Então a música começou. Na hora Yuuto suspeitou que era uma música estrangeira, mas quando o casal começou a dançar, teve certeza.

Os dançarinos continuaram parados, e então mulher envolveu o homem com um braço e deslizou uma mão desceu pelo peito do homem, a perna dela prendeu a dele. Ele segurou a mão e ela rodopiou ao redor dele. Quando estavam um de frente para o outro, ela se afastou, mas olhava seu parceiro como se fosse o único homem do mundo.

Eles diminuíram a distância de repente e o homem levantou a mulher pela cintura, virando-a em pleno ar, a cauda vermelha de seu vestido tremulando atrás dela. Agora ele estava atrás dela, segurando a mão e a cintura dela. Eles se mexeram desse jeito de um lado ao outro da pista, seus pés andando em passos longos, tão veloz Yuuto mal acompanhou.

A música acelerou, e os dançarinos acompanharam, trocando os passos longos e elegantes por curtos e rápidos, mas ainda mantendo uma beleza. Em algum ponto a perna da mulher enroscou na do homem, quase como o prendesse. Acompanhando o ritmo do som, ela se afastava, mas ele a segurava pela mão, puxando-a de volta com um rodopio, olhando em seus olhos como se fosse a mulher mais preciosa do mundo e não a deixaria ir embora.

Suas testas encostaram delicadamente tantas vezes, seus rostos tão pertos Yuuto ficou impressionado que eles não beijavam ali mesmo. Se fosse eu com… ele olhou Akaishi-kun pelo canto do olho e virou de volta para a pista de dança, o rosto vermelho.

Para sua sorte, Akaishi-kun estava distraído demais para notar. E o professor percebeu logo a razão, o pensamento varrido de sua mente. O dançarino levantou sua parceira de novo, mas dessa vez foi enquanto ela rodopiava, a calda vermelha tremulando tanto que era hipnotizante.

No que parecia ser cedo demais, os dançarinos pararam, na mesma hora que a música acabou. O saguão inteiro ficou em silêncio mais uma vez… e então explodiu com aplausos. Yuuto piscou e se juntou as palmas.

— Isso foi… isso foi… — o professor de literatura não tinha palavras para descrever.

— Concordo — Akaishi-kun falou e então inclinou na direção do Yuuto. — Eu gostaria de tentar isso com você um dia — ele sussurrou.

A imagem do professor e estudante dançando daquele jeito passou pela mente de Yuuto. Suas testas encostando, a perna dele enroscando a do Akaishi-kun, sua mão no peito dele… o rosto de Yuuto ficou uma cor alarmante de vermelho e ele evitou levantar a cabeça.

— Você disse que eu não estava aqui para lhe entreter — ele murmurou, mais para disfarçar a vergonha.

— Mas eu estou sério — Akaishi-kun disse, e o professor conseguia sentir o sorriso maroto mesmo sem ver.

— De alguma forma eu me sinto como entretenimento — ele reclamou para esconder o sorriso nos lábios. Parece que ele esqueceu da discursão com o irmão.

Os garçons começaram a andar entre as mesas com bandejas de comidas e bebidas. Yuuto sentiu seu estômago roncando de leve.

— Vamos comer — Akaishi-kun falou antes que Yuuto sugerisse qualquer coisa, oferecendo a mão. O professor aceitou e o estudante o levou até a mesa deles.

Estava vazia, mas no momento em que sentaram, uma mulher se juntou a eles quase na mesma hora.

— Sei-chan! É tão bom ver você. Pensei que não estaria aqui por causa… — ela deixou as palavras no ar e riu logo em seguida, acenando a mão como se dispensasse o tópico. — Estou tão feliz que tenha vindo.

Yuuto cobriu a boca para esconder a pequena risada. A ideia de alguém chamando o Akaishi-kun que ele conhecia de Sei-chan era hilária. Então tinha uma época que ele era pequeno e inocente ao ponto das pessoas o chamarem de Sei-chan, o professor pensou, sorrindo.

— Nunca perderia o casamento da minha irmã — Akaishi respondeu com um sorriso, mas Yuuto percebeu que era diferente daqueles que ele recebia. — Além disso, odiaria perder aquela dança.

— Concordo. — Os olhos da mulher brilharam. — Esse tal de tango é incrível. Esses povo da América do Sul sabe das coisas.

— Então é chamado de tango, huh? Seria interessante tentar um pouco — Akaishi-kun falou olhando para a mulher, mas Yuuto sentiu que as palavras eram para ele.

— Uma pena que meu marido nunca tentaria. — Ela suspirou, balançando a cabeça lentamente.

— Para aquilo, você precisa do parceiro certo.

— Falando em parceiros, quem é essa adorável jovem que você trouxe? — A mulher virou para Yuuto pela primeira vez.

O professor abriu a boca, mas nenhum som saiu. As pessoas aqui falavam com Akaishi-kun, e quando direcionavam a atenção para o professor, era apenas para se apresentar por educação ou perguntar ou falar algo sobre o estudante. Mas não demorou quase nada para ele se recuperar.

— É um prazer conhecê-la — ele disse, fazendo uma pequena reverencia com a cabeça, usando toda delicadeza que podia. — Meu nome é Yuu— antes que terminasse de se apresentar, ele sentiu uma mão tocando seu joelho por debaixo da mesa, um dedo deslizando devagar pela parte interna da coxa. Yuuto corou, arregalou os olhos e virou para o dono da mão.

Eu me lembro, Akaishi-kun! Não precisa fazer isso! E eu disse pra não fazer! Ele queria gritar para o estudante, mas segurou a língua, tentando transmitir seus sentimentos com os olhos. A mão, o sinal que Akaishi-kun tinha escolhido arbitrariamente. Ele voltou para a mulher.

— Meu nome é… Yuuno — ele disse antes que ela percebesse qualquer coisa.

— É um prazer conhece-la, Yuuno-chan — a mulher respondeu com um sorriso. — Qual é seu relacionamento com nosso Sei-chan?

— Eu ajudo Aka— Yuuto sentiu a mão do estudante de novo, mas dessa vez ele não parou na coxa, os dedos deslizando até debaixo do vestido. Sangue fluiu para onde não devia na mesma hora e o professor corou um pouco mais. A mulher inclinou a cabeça. — Eu ajudo Sei… Seiji-kun… com sua arte… — Yuuto se apressou e adicionou. A mão parou de mexer, mas ainda estava lá, os dedos tamborilando devagar.

— Ah, sim. Escutei que Sei-chan estava se entretendo fazendo umas pinturas. Ficamos tão feliz quando descobrimos que ele encontrou outra coisa para passar o tempo — a mulher acenou a cabeça em aprovação. — Então você pinta também?

— Não. Na verdade eu…— Yuuto começou.

—Me inspira a pintar — Akaishi-kun terminou com o sorriso maroto nos lábios.

— Oh — a mulher deu uma pequena risadinha e cobriu a boca com a mão delicadamente. Yuuto encarou seu estudante. — Sei-chan, você é muito impulsivo. Yuuno-san, espero vê-la da próxima vez — ela disse antes de levantar e ir embora.

— Pensei que você disse que lembraria — Akaishi-kun virou para o professor no momento em que a mulher estava longe o suficiente.

— Eu… —

Levou alguns segundos para o professor perceber que a mão de seu estudante ainda estava na debaixo do vestido dele. Seu membro começou a endurecer de novo e ele rapidamente removeu a mão e fechou suas pernas o melhor que pôde. A última coisa que precisava era que Akaishi-kun notasse aquilo no casamento. — Eu me lembrei. Você que não me deu tempo pra mostrar.

—Fiquei um pouco preocupado que pudesse ter esquecido — respondeu ele com o sorriso malicioso.

— Como eu poderia esquecer aquilo? — disse Yuuto, mais para si do que para seu aluno. Akaishi-kun mordeu seu lábio inferior para segurar o riso. O professor respirou fundo para se acalmar. Mesmo assim, as memórias na limusine voltaram.

— Assim teremos mais privacidade.

Levou alguns instantes para Yuuto recuperar a compostura.

— Akaishi-kun... Não acho que seja uma boa ideia eu ir ao casamento da sua irmã — disse ele com o melhor tom de professor que tinha. — Não conheço-a e podem considerar rude...

Akaishi-kun encostou o polegar nos lábios do Yuuto. Eles ficaram assim por um segundo, olhando um para o outro. Yuuto começou a ficar vermelho.

— Sei — disse o estudante, o dedo deslizou para baixo, passando pela boca, lentamente. — Você deve me chamar de Sei hoje.

Yuuto piscou algumas vezes.

— O quê?

— Você deve me chamar pelo meu primeiro nome hoje — ele disse.

— Por quê? — Dan-kun chamava as pessoas pelo primeiro nome, especialmente seus estudantes. Mas ele era um estrangeiro e também tinha uma boa explicação para isso. No entanto, Yuuto não era ele. Chamar Akaishi-kun pelo nome... o professor já tinha sentimentos confusos com relação a seu estudante que ele evitava pensar. Isso não ajudaria em nada.

— Eu vou levá-lo a um casamento. Não acha que as pessoas podem estranhar se você me chamar pelo sobrenome? É um evento da minha família ainda por cima. Quantos “Akaishis” você acha que vai ter lá?

— Você… tem bons argumentos... — O professor concordou relutantemente. — Ainda assim, chamar você pelo primeiro nome do nada...

— Ainda bem que tempos um tempo para nos preparar. — Ele sorriu, mas o sorriso daquela vez não tinha malícia. Era mais como uma criança abrindo um presente.

— Você parece excitado demais sobre isso — disse Yuuto, tentando conseguir tempo. Não funcionou, Akaishi-kun ainda observava-o com expectativa nos olhos e um sorriso nos lábios. O professor suspirou. — S-s-se...

— Vai. — Akaishi-kun se aproximou e levantou o queixo do professor para que olhasse nos olhos de Yuuto. — Qual o meu nome?

— Se... Sei... ji... kun — ele conseguiu dizer e o estudante o soltou com um sorriso satisfeito.

— Não foi tão ruim — o estudante estava se divertindo demais. — Que tal usar algo mais íntimo, tipo Sei?

— Impossível — disse o professor na mesma hora. Só de imaginar ele dizendo “Sei” deixava seu rosto vermelho.

— Tudo bem. Quando minha musa fala assim, levará tempo para convencê-la. Tempo que não temos. — Akaishi-kun suspirou e deixou os ombros caírem de forma exagerada, Yuuto conseguia dizer imediatamente que ele tinha mais preparado para embaraçar o professor. — Agora como vou chamar você?

— O quê? — O professor disse de novo.

— Vou apresentá-lo como minha musa — disse ele como se fosse óbvio enquanto Yuuto ainda lutava para encontrar as palavras certas. — Porém estou certo de que gostaria de manter seu verdadeiro nome nosso segredo, não é?

— Sim… — o professor admitiu. Seria complicado se o relacionamento deles espalhasse.

— Qual seu nome de artista? — perguntou ele, do nada.

— Como assim? — Yuuto tentou dar uma de idiota, mas logo percebeu que não funcionaria.

— Não me subestime. Eu fiz meu dever de casa. — Akaishi-kun disse, rindo. — Cosplayers do seu nível tem... digamos, um nome de artista.

Yuuto baixou os ombros em derrota.

— Então você sabe sobre isso. — Desde que começaram seu relacionamento de musa-artista, o professor esforçou-se para esconder seu nome de cosplayer. A ideia de seu aluno procurar e descobrir seu blog, especialmente as fotos na internet, era vergonhoso demais para ele. Mas agora não conseguiria esconder mais. — É... Yuuno... — Yuuto sabia que ele se arrependeria de contar isso ao Akaishi-kun.

Foi mais rápido do que ele imaginou. O rosto do estudante iluminou com um sorriso malicioso quase na mesma hora. Por que parece que dei pra ele um presente de aniversário?

— Yuuno… Yuuno… Yuu… no. — Akaishi-kun disse o nome várias vezes, mudando a entonação cada vez, mas o sorriso nunca deixou seus lábios.

O professor não gostou. Ele quase podia ver aonde os pensamentos dele estavam indo.

— É melhor que o nome que minha irmã escolheu... — Yuuto disse, tentando fazer o estudante parar de dizer o nome. Funcionou. Akaishi-kun voltou sua atenção para ele novamente, com um olhar interessado no rosto. — Pessoas perguntavam a ela sobre mim e tal, porque eu fazia um bom serviço desde aquela época — disse ele com certo orgulho na voz. — Daí, do nada ela tirou o nome Mozi moe. — Yuuto tinha um sorriso nos lábios e riu, surpreendendo a si. Fazia tempo desde que ele pensou naquilo.

Até Akaishi-kun riu ao ouvir o nome.

— Mozi moe... que nome único. Embora eu prefira Yuuno — disse com o sorriso malicioso de volta, Yuuto suspirou. A distração não funcionara tão bem quanto ele pensara. — Então você é a Yuuno que inspira o Seiji-kun. Certo. Agora só precisamos de um sinal.

— Sinal pra quê?

— Sinal caso você esqueça do nosso combinado — disse ele, enfatizando a última parte.

Novamente, Yuuto não gostava da direção que os pensamentos de seu estudante estavam indo.

— Tenho confiança que posso lembrar de algo tão simples.

— Por precaução — disse ele, aproximando-se. — Que tal se eu tocá-lo discretamente aqui? — perguntou, sua mão já na coxa do professor, o dedo subindo lentamente.

— Não! — protestou Yuuto. Faz cócegas… e outras coisas… ele manteve essa parte para si mesmo.

— Acho que é o sinal perfeito. É discreto e ninguém notará debaixo de uma mesa. E caso alguém note, vão pensar que temos outro tipo de relacionamento — Ele continuou mexendo a mão. — Mas você precisa controlar melhor suas reações. Embora eu adore vê-lo vermelhinho, as pessoas vão notar. E quero guardar isso só para mim. — As palavras não ajudaram o rosto de Yuuto a ficar menos vermelho, além de outras reações debaixo do vestido. O professor tirou a mão.

Akaishi-kun não parou por causa disso. Ele continuou tocando Yuuto, fingindo buscar outro sinal. Ele tocou a parte inferior das costas, antes de suas mãos deslizarem para baixo. Depois ele tocou o braço interior. Não foi tão ruim, mas esse sinal, fora ser bem indiscreto, lembrava Yuuto da primeira pintura deles. No fim, o professor disse que podia lembrar sem qualquer ajuda.

Os garçons trouxeram o jantar, bifes mal passados com acompanhamentos. Foi só então que Yuuto notou; não havia hashi.

— Consegue usar garfo e faca? — Seiji-kun perguntou. Embora seu tom fosse baixo, apenas o professor, Yuuto sentiu uma provocação misturada em sua voz.

— Sim, consigo. Obrigado pela preocupação — respondeu ele, no mesmo tom, mas Akaishi-kun ainda sorriu. Era verdade que Yuuto usou talheres ocidentais antes, embora já fizesse algum tempo. Os jantares na casa do Dan-kun eram de garfo e faca, ele lembrou.

Quando segurou os talhes, sentiu uma brisa em seu pescoço que fez calafrios percorrerem sua espinha.

— Está usando nas mãos erradas. — Seiji-kun sussurrou em seu ouvido.

Corando um pouco, Yuuto trocou o garfo pela faca. Mas quando tentou cortar a carne, não foi tão fácil. Hashi são melhores, ele pensou, de mau-humor.

— Permita-me. — Seiji-kun sussurrou de novo quando Yuuto começou a perder a luta contra a comida. Com as pessoas na mesa direcionando olhares a ele, o professor sabia que seria mais fácil deixar o estudante cuidar disso. Cortando lentamente, Seiji-kun mostrou como se fazia, e então: — Aqui — disse, levantando o garfo com um pedaço de carne.

Com os olhos arregalados, Yuuto olhou em volta. As pessoas definitivamente olhavam para eles. De bochechas vermelhas, ele comeu, o sangue enchendo sua boca com cada mordida.

— Delicioso! — Apesar da vergonha, as palavras saíram de sua boca.

O resto da refeição foi sem qualquer situação embaraçosa para o professor. A maior parte das conversas eram sobre o que aconteceu na pista de dança. Yuuto notou que havia muitos argentinos pedindo para dançar com japonesas depois que a refeição acabou. Seiji-kun voltou-se para o professor e ofereceu uma mão, perguntando se Yuuto gostaria de dançar mais uma vez.

Ele aceitou a mão e deixou Seiji-kun conduzi-lo, tudo com um sorriso no rosto. A música foi mais rápida do que a primeira, mas Yuuto conseguiu acompanhar de algum jeito. Quando acabou, eles pararam, suados. A outra música começou e era parecida com o tango. O professor ficou vermelho na hora quando o estudante mostrou um sorriso convidativo.

— C-Com licença. — Ele conseguiu escapar da dança.

Seiji-kun ficou desapontado, mas apenas por um instante. Logo em seguida, ele puxou o professor para perto, quase abraçando Yuuto por trás.

— Lembre-se de usar o banheiro certo — sussurrou com o sorriso malicioso. Yuuto afastou sem dizer nada, mas sua reação foi o suficiente para deixar Seiji-kun satisfeito.

Embora fosse uma mera desculpa para sair da pista de dança, com o banheiro vazio, Yuuto decidiu usar um dos sanitários. Quando terminou, ele não estava mais sozinho. Uma loira retocava a maquiagem e ajeitava o cabelo. Yuuto lavou as mãos na pia e notou que a garota checava-o pelo reflexo do espelho, sem nem disfarçar.

— Então você é a atual do Seiji —ela falou de repente, voltando a cuidar de si. O professor notou que não era uma pergunta.

— Como? — Yuuto perguntou diretamente a ela. Agora que ele prestava atenção, o professor notou algo familiar naquela garota, embora não soubesse exatamente o quê. Será que eu a conheço?

— Todo mundo queria saber se o Seiji viria ao casamento e se traria o seu passatempo mais recente. Eu sabia que ele viria. Mesmo não falando com boa parte da família, ele adora muito a irmã. — A garota finalmente tirou os olhos do reflexo de Yuuto, fechou sua bolsa e direcionou o olhar para a versão em carne e osso. — Já que você parece uma garota decente, então vou de dar uma dica. Aproveite o máximo que puder, porque, dado o histórico recente do Seiji, não há muita chance de que você esteja por perto para o próximo evento familiar. — Ela olhou para o professor, aparentemente querendo ver como o professor reagiria às suas palavras.

— Você é a ex-namorada do Aka… Seiji-kun. — Yuuto finalmente lembrou de onde a tinha visto, ou pelo menos parte dela. Ele admirou tanto aquela pintura que ficou surpreso por ter demorado todo esse tempo para perceber a modelo nua daquela obra prima do Seiji-kun.

Yuuto não se incomodou com o que ela disse, mas, por algum motivo, a garota parecia ofendida pelo comentário dele.

— O que você sabe sobre mim? Sobre nós?

— Só o que ele me contou. — Yuuto poderia dizer palavra por palavra o que Seiji-kun contou sobre a ex. Mas essa garota era só uma criança, e o professor jamais machucaria uma criança por causa disso.

Novamente, a falta de reação de Yuuto pareceu machucá-la mais do que ele imaginara.

— Você não sabe de nada. O que eu fiz... foi um erro. Sei que deveria ter pensado melhor nos sentimentos dele, mas uma briga pela herança do avô estava prestes a estourar, mesmo que o próprio não tivesse morrido. Eu disse aquilo porque não queria ver o Seiji perdendo o que é dele por direito!

Yuuto ficou mudo. Agora as coisas começam a se encaixar. O jeito como ele falava da ex, como foi evasivo quando perguntei sobre a família…

— Você feriu muito o Seiji-kun. — Pela forma como ele fala do avô, não é de se estranhar toda a raiva que ele sinta por você, Yuuto poderia dizer, mas guardou em seus pensamentos. Aquilo só machucaria ainda mais a garota.

— Acha que não sei? — disse ela com uma voz cheia de raiva, as lágrimas ameaçam. — Eu sei, eu amo ele desde que éramos crianças. E por causa de um errinho de nada, ele terminou comigo. — Então ela chorou.

Yuuto queria consolar a garota na sua frente. Era seu trabalho, como professor, ajudar. Duas coisas o impediram. Ele sabia que ela se sentiria pior se fosse consolada pela atual do Seiji. Mas havia algo a mais. Parte de Yuuto queria dizer: Não quero que machuque mais o Seiji-kun. O rosto que o estudante fez no primeiro encontro deles após o professor perguntar sobre a modelo nua daquela pintura ainda incomodava-o. Ele nunca mais queria ver Seiji-kun fazer aquela expressão.

Após um tempo onde apenas os soluços dela quebravam o silêncio no banheiro, a garota se recompôs. Ela tirou um lenço da bolsa e secou suas lágrimas.

— Aproveite enquanto pode. Seiji vai se cansar de você que nem das outras. No fim, sou eu quem melhor conhece e ama ele. Quando isso tudo passar, vou me desculpar e ele voltará para mim —ela disse e depois saiu do banheiro, deixando a bolsa para trás.

Que criança problemática. Ela não consegue abandonar o passado, pensou Yuuto. Ele tinha experiência o bastante para saber que, quando as coisas terminam, elas nunca mais voltarão ao que eram. A única opção é criar algo novo ou seguir em frente. Mas, dada a reação do Seiji-kun, apenas a última opção era possível para eles. Talvez eu deva falar pro Seiji-kun conversar com ela.

Ele imaginou como essa conversa poderia acabar. Yuuto sabia que, de vez em quando, um amor antigo poderia tomar conta da pessoa. Aconteceu com ele próprio no ano passado, pouco antes de Seiji-kun encontrá-lo. Mas, quando imaginou o mesmo que aconteceu entre Yuuto e sua ex-namorada acontecendo entre Seiji-kun e aquela garota, o professor sentiu uma dor no peito.

Antes que pudesse sair do banheiro, a porta se abriu outra vez. Por um segundo Yuuto pensou que era a garota de antes, mas a visão de um vestido branco foi refletida no espelho.

Ela é linda, isso passou por sua mente enquanto olhava a noiva por um instante. Só então Yuuto lembrou que ela provavelmente não fazia ideia de quem ele era.

— Ah, meus parabéns. A cerimônia foi maravilhosa.

— Foi? — perguntou ela com um tom de voz despreocupado, enquanto alongava os braços. — Estou exausta. A festa é divertida e tudo mais, mas eu preferia aproveitar o resto da noite com meu novo marido, se é que me entende — ela disse, sorrindo.

Yuuto ficou surpreso por um momento, mas depois não pôde conter a risada. O que ela disse agora era totalmente diferente da bela noiva subindo o altar. E também parecia algo que Seiji-kun diria. São realmente irmãos.

— Pode guardar um segredo? — pediu a noiva, do nada. O professor concordou com a cabeça por reflexo, mesmo não sendo muito bom em guardar segredos dos outros. — Não conte pra ninguém. — Ela pegou um cigarro e isqueiro da bolsa da ex-namorada do Seiji-kun. Após a primeira tragada, seus ombros caíram, relaxando. — Não combina com a imagem dos Akaishi, não é? — comentou, após notar a expressão de surpresa no rosto de Yuuto.

— Um pouco — o professor admitiu. — E ainda assim, você ainda é bem parecida com o Seiji-kun. —Yuuto disse, sorrindo.

— Eu deveria ficar ofendida com isso, já que meu irmãozinho é quase a ovelha negra da família agora. — Apesar de dizer aquilo, ela riu e continuou a fumar. — Mas eu entendo ele. Com todo aquele estresse, eu também ia querer descontar um pouco em alguma coisa. — Ela respirou fundo e exalou fumaça. — Pode guardar outro segredo? — Yuuto concordou novamente. — A cerimônia foi uma farsa. Nós já estávamos casados.

— O quê? — disse ele, um pouco alto.

— Isso mesmo. — Sorriu ela. — Um mês atrás estávamos na Argentina resolvendo alguns problemas quanto aos filés e outras coisas pro casamento quando fiquei cansada de tudo. Nos casamos naquela mesma noite. A lua de mel espontânea foi demais. Uma pena que nossas famílias não acharam. — Ela riu e Yuuto não tinha como não rir junto.

Embora fosse a noiva, a pessoa mais importante desta noite, ela parecia ser mais uma penetra, igual ao professor. Mesmo tendo uma distância entre os dois, conversar daquele jeito era divertido.

— Você é impulsiva que nem o Seiji-kun. — Yuuto disse, sorrindo.

— Se falar assim, vou levar como um elogio.

— Como conseguiram acalmar as duas famílias?

— Mentimos. Meu marido disse que adiantamos as coisas porque estávamos felizes demais pois tínhamos acabado de descobrir que eu estava grávida.

— Eles sabem a verdade?

— Não, por isso é um segredo — disse ela, balançando o cigarro. — Mas provavelmente vou ficar grávida esta noite. Os homens latinos sabem das coisas. Tem gente que diz que o Tango é apenas aquecimento. — Ela riu quando Yuuto ficou vermelho. — Seiji disse que não era difícil te deixar com cara de tomate, mas não pensei que seria tão fácil assim. — Ela riu um pouco mais. Quando finalmente parou, ela voltou-se para ele com uma expressão mais gentil. — Obrigada por estar aqui. Eu sei que se não fosse por você, Seiji teria se metido em uma briga ou nem teria vindo.

— Ah, não. Sou eu que devo agradecer — disse Yuuto, fazendo uma reverência. — Você até tirou um pouco de tempo para escolher isso. — Ele indicou o vestido quando lembrou que fora ela quem escolhera.

— Não foi nada. Acredite, tive muito tempo livre. Minha mãe e sogra escolheram tudo neste casamento. Foi divertido escolher algo e não levar um não pra variar. Aparentemente, um casamento na praia não se encaixa nos padrões da Família Akaishi.

Os dois riram novamente.

— Mas aí não poderíamos ter visto aquela dança — disse Yuuto.

— Eles conseguem dançar em qualquer lugar, acredite. Tango em uma praia, à noite, cercado de fogueiras, é incrível além da conta. — Ela jogou fora os cigarros. — É melhor eu voltar. Suspeito que as pessoas podem notar se eu não estiver por perto. — Ela caminhou para a porta, mas então se voltou para o professor. — Mas, sério, obrigada por estar com o meu irmãozinho. Ele precisa de você mais do que demonstra. Por favor, esteja ao lado dele de agora em diante, Yuuto-san. — E então ela se foi.

Demorou alguns segundos para o professor esquecer a diversão que teve e notar a última coisa que ela disse. Ela me chamou pelo nome...? Não... Eu escutei errado… só pode ser isso… é… tenho certeza... Yuuto tentou se convencer, mas não fez um bom serviço. O Seiji-kun contaria a ela quem eu realmente sou? Se fosse minha irmã... Ele tremeu só de pensar.

— Por que está demorando tanto? — Uma voz trouxe Yuuto de volta a realidade, e ele novamente se viu com alguém dentro do banheiro.

— Você não deveria estar aqui…

— Bom, tecnicamente, nem você. — Seiji-kun disse com um sorriso. Yuuto abriu sua boca para responder, mas só um suspiro saiu. Ele está certo, o professor pensou, embora não fosse dizer.

Yuuto olhou bem para o Seiji-kun. Ele estava ofegante e as maçãs de seu rosto estavam levemente vermelhas, mas não parecia que acabou de sair da pista de dança. Notando o punho cerrado que as mãos formavam, o professor percebeu. Ele se meteu em outro argumento...

— Então vamos sair daqui. Quero dançar — disse o professor com um sorriso forçado.

— Não… eu quero ficar sozinho com você um pouco.

O professor se controlou para não ficar vermelho. Ainda que estivesse acostumado, o estouro repentino do estudante o pegou desprevenido, especialmente quando as palavras eram genuínas.

— Não acha que seria ruim se vissem você no banheiro feminino? — Yuuto entrou no jogo para tirar a mente de Seiji-kun dos problemas dele.

— Não seria a primeira vez… nem o primeiro casamento — disse, sorrindo.

— Por que não estou surpreso? — Yuuto riu. — Encontrei sua irmã. Ela parece legal.

— Só no começo — Ele balançou a cabeça em negação. — Com o tempo vai sentir que está caminhando sobre ovos perto dela.

— Sério? Então eu devia fazer o mesmo com você. — Seiji abriu a boca para responder, mas nada veio e então a fechou. Que fofo, Yuuto pensou, sorrindo. — Ela é igualzinha a você. Ou melhor, você que é igualzinho a ela.

Seiji-kun mordeu os lábios.

— Eu queria negar, mas já me disseram isso antes — disse, deixando os ombros caírem de forma forçada. — Mas vai entender do que estou falando. Da próxima vez, pergunte como ela me tratava quando éramos crianças. Toda vez que eu dizia ou fazia algo idiota, ela guardava o segredo só pra usar contra mim depois.

Dessa vez, Yuuto riu.

— É assim que irmãos são. Ao menos a minha é, ainda que não seja nesse nível, pelo visto — Algo que o estudante dele disse chamou sua atenção. Na próxima vez... Seiji-kun e sua irmã parecem ser os únicos que pensavam que Yuuto estaria lá na próxima vez. — Também conheci sua ex-namorada — disse devagar, prestando atenção na reação do Seiji-kun.

Por menos de um segundo o estudante ficou surpreso, seus olhos arregalando um pouco. No instante seguinte ele ficou sem reação, muito menos expressão.

— É mesmo?

Que voz amarga. O professor nunca escutara aquele tom. Com Yuuto, Seiji-kun era apenas brincalhão e provocador, mas quando entravam em um assunto sensível, o aluno falava, embora quase sempre de forma relutante.

— Ela sente sua falta.

— É mesmo? — ele repetiu.

— Precisa ser tão frio? Vocês dois não são amigos de infância? Quer abandonar ela assim? — Yuuto suspirou.

— Você não sabe o que ela fez. — Ele evitou contato visual com o professor.

Yuuto conteve uma risada agora. Ele realmente é uma criança.

— É verdade que não sei. Mas guardar esse rancor não está fazendo nenhum bem a você. — Yuuto sentiu uma dor no peito, mas precisava dizer. — Não estou falando para voltar com ela. Só para deixar o passado no passado e seguir em frente. — ele olhou para seu estudante, prendeu o fôlego, esperando uma reação. Ele sabia que era um assunto sensível, mas algo dentro dele queria botar aquilo para fora.

Por um instante, Seiji-kun olhou para o professor, seus olhos não dizendo nada. Então seu rosto relaxou e ele mostrou um sorriso cansado.

— Está me dando um sermão aqui no banheiro? — disse, brincando.

Yuuto relaxou e sorriu também.

— Sou um professor, é meu trabalho.

Seiji-kun soltou um suspiro ruidoso.

— Realmente. Ela pode ser insensível, mas acho que ainda é uma velha amiga. Vou falar com ela, mas não aqui, muito menos hoje.

O sorriso do professor aumentou.

— Você é um bom garoto.

Seiji-kun diminuiu a distância entre eles de repente.

— É mesmo? — repetiu pela terceira vez, mas em um sussurro no ouvido de Yuuto. — Não quero que pense isso. Arruinaria a minha reputação.

Yuuto ficou vermelho, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, o estudante o levantou e o carregou até o último sanitário, trancando a porta.

— O-o-o quê… — O professor tentou murmurar, mas Seiji-kun levou um dedo até os lábios de Yuuto, olhando em outra direção, como se estivesse concentrado em algo que o professor não sabia.

Eles ficaram assim por um tempo, mas quando o estudante virou-se para o professor, a única coisa que ele conseguia pensar era que os lábios de Seiji-kun estavam próximos demais. Eles olharam um no olho do outro e, em algum momento, o estudante fechou seus olhos, aproximando o rosto. Yuuto fez o mesmo. Ele podia sentir o calor emanando de Seiji-kun, os lábios prestes a se tocarem... e então a porta do banheiro abriu e fechou em seguida.

Professor e estudante abriram os olhos. Os dois ficaram vermelhos e desviaram o olhar.

No instante seguinte, escutaram vozes.

— Não acredito que ela fez você chorar. Vadia.

— Quem ela pensa que é?

— Não liguem pra ela. Ela só está aproveitando porque sabe que estou certa. — Yuuto reconheceu a terceira voz. Era a ex.

— Você fez ela chorar? — Seiji-kun sussurrou na orelha de Yuuto.

Apesar do aluno fazer isso bastante, no momento atual, o professor estava ciente demais do quão próximo os lábios do Seiji-kun estavam de sua orelha. E tudo que Yuuto podia pensar era no que quase aconteceu alguns segundo atrás, uma grande parte dele desejando que as garotas não tivessem interrompido os dois.

— Você realmente fez ela chorar? — Seiji-kun sussurrou de novo.

— Não, eu… sim, mas… — O estudante o interrompeu com o dedo de novo.

Silêncio se seguiu, e então bateram na porta do sanitário onde eles estavam. Yuuto olhou para Seiji-kun e balançou a cabeça desesperado. O estudante, por outro lado, acenou lentamente, sorriu e destrancou a porta.

A ex tinha um sorriso convencido no rosto, mas quando viu que Yuuto não estava sozinho, o rosto dela ficou pálido.

— Olá, Amira — disse o estudante, tentando controlar o riso. Ela e as amigas ficaram mudas ao ver Seiji-kun e Yuuto quase se abraçando no sanitário...

***

— Isso foi vergonhoso, para não dizer pior — disse Yuuto, quase suspirando.

— É mesmo? — disse ele pela quarta vez naquela noite, mas agora com uma voz cheia de alegria. — Estou muito feliz por ter ido com você — Seiji-kun sorriu e tirou as chaves do bolso. — Me diverti bem mais do que pensei que podia.

— Bom, estou realmente satisfeito que conseguiu aproveitar, mesmo eu morrendo de vergonha. — Ele tentou ser sarcástico, mas a diversão que teve tornou uma tarefa difícil manter aquele tom. O aluno destrancou a porta e deixou Yuuto entrar primeiro.

— Não precisa ficar assim. Eu sei que você também se divertiu. Até conseguiu isso. — Ele olhou o buquê na mão do professor.

Yuuto olhou para as flores em suas mãos e um pequeno sorriso se formou em seus lábios. Ele trouxe o buquê para mais perto e cheirou as flores.

— Sem comentários — disse, enfim, evitando os olhos de Seiji-kun.

— Pra mim, tirando você, a melhor parte foi a reação da Amira. — Ele riu. — Ela ficou tão irritada quando você pegou o buquê que podia jurar que ela ia partir pra cima de você ali mesmo. — Yuuto abriu a boca, então apenas suspirou. — Eu sei, eu sei. Vou falar com ela. Mas você viu que não tinha como eu falar com ela naquela hora.

— Por favor, seja gentil… e não seja você mesmo.

— Falando assim parece que sou um bruto ou coisa parecida.

Novamente, Yuuto abriu a boca para responder, mas desistiu no meio do ato. Ele estava exausto por causa da dança, vermelho de vergonha e um pouco tanto de todo champanhe que tomou.

É culpa dele que bebi demais. Por que você ficava insistindo? Pensou, mas nunca disse nada. Na entrada, ele tirou os saltos, esfregou as marcas em seus tornozelos e então pisou descalço no chão. Ainda que fosse divertido ser mais alto por algumas horas, foi um grande alívio ficar de pé nos próprios pés.

O estudante olhou para o professor por um instante, sua expressão estava ilegível.

— Venha aqui — disse Seiji-kun, de repente. Antes que Yuuto respondesse, ele gentilmente encaminhou Yuuto para o sofá. O professor não resistiu, tentando recuperar um pouco de energia. Os dois sentaram e então o estudante levantou os pés de Yuuto.

— Pensei que estivesse acostumado a usar saltos — disse, em voz baixa, observando as marcas vermelhas no tornozelo.

— Menos do que você imagina. Poucos dos meus cosplays precisam. Além disso, por mais que tenha usado por horas, nunca dancei de saltos antes — disse, fechando os olhos e respirando devagar. Antes que soubesse. Ele sentiu dedos gentis se movendo no pé dele. — O que você está fazendo?

— Está tão bêbado que não consegue perceber? — Seiji-kun perguntou. — É por minha culpa que você está assim, então me deixe fazer algo — disse com um sorriso genuíno.

Yuuto suspirou e fechou os olhos de novo, deixando o estudante massageá-lo. Tão bom... tão bom... ele pensou, sua consciência começando sumir... Ele balançou a cabeça e olhou em volta esfregando os olhos para se livrar da sonolência.

— Bom dia — disse Seiji-kun, sorrindo.

— Quê? — Ele olhou para a janela, mas as cortinas estavam fechadas. Eu realmente dormi no sofá do meu estudante? — Já é de manhã? Por que você não me acordou?

— Você estava tão fofo, não tive coragem… — Seiji-kun ficou um pouquinho vermelho e desviou o olhar.

Que rosto fofinho… Yuuto pensou, mas não é hora isso!

— Preciso ir pra casa agora. Minha irmã! Meu Deus! Ela vai saber… — O professor rapidamente tirou o lençol, que ele não lembrava estar em cima de si, para o lado e levantou, tentando pensar. Preciso... preciso... trocar de roupas! Sim! Se voltar pra casa num vestido…

Enquanto estava em pânico, Yuuto mal notou as estranhas ações do Seiji-kun. Ele desviou o olhar, tentando esconder a boca com a mão, mas após um tempo, ele simplesmente gargalhou, sua risada ecoando pelo apartamento.

— Hã? — O professor voltou-se para ele com raiva. — A culpa é sua! Por que não me acordou?

Demorou um pouco para o estudante parar de rir.

— Desculpe, eu precisava soltar aquilo — disse, caminhando até a mesa e pegando um controle remoto. Com um clique, as cortinas se abriram sozinhas, revelando o céu noturno. Yuuto arregalou os olhos, surpreso, e então olhou para o estudante. — Você só dormiu por umas meia hora. — Ele riu de novo.

— Que horas são?

— Um pouco depois das duas da manhã — respondeu Seiji-kun sem conferir um relógio nem nada.

— Como eu vou pra casa agora? — disse Yuuto, forçando um pouco de raiva em sua voz. Era culpa do Seiji-kun. Mas ele estava cansado demais para isso.

— Calma. A limusine ainda está esperando por você.

— Você fez o motorista esperar por mim esse tempo todo? — A raiva se fora, em seu lugar aparecendo um pouco de culpa.

— Tudo bem. Ele foi contratado pra a noite toda — disse Seiji-kun, tão imediato que Yuuto quis saber se seu estudante já prepara a resposta de antemão sabendo o que o professor pensaria. Essa informação fez a culpa sumir um pouco, mas então outra coisa veio a sua mente. Se ele chegasse em uma limusine, algum vizinho com certeza veria... — Se acha chamativo demais pra você, a outra opção é dormir aqui. Já aviso, só tenho uma cama, mas se for você, não me importo em compartilhá-la. — Seiji-kun estava com o sorriso malicioso nos lábios, o rosto de Yuuto ficando quente.

Por que parece que ele está lendo minha mente? Mas uma parte dele sentiu que a oferta não era tão ruim... Ainda estou bêbado do champanhe, ele deduziu.

— Avisei minha irmã que voltaria para casa depois da festa — disse.

Era meio verdade, meio mentira. Durante a ida na limusine, após Seiji-kun arbitrariamente decidir em um sinal após testar outros, Yuuto ligou para sua irmã com o celular do estudante. Ele disse que iria a uma festa, então ela não precisava se preocupar com ele.

— Uma festa com o dono desse número, hum? — ela tinha dito. Ainda que Yuuto tivesse feito o melhor que estava ao seu alcance, a irmã dele percebeu mais do que ele queria. — Não precisa ligar pra mim. Apenas certifique-se de dar uns pegas depois da festa. Sabendo que você é tímido demais pra tomar a iniciativa, então manda ver. Se dormir fora de casa hoje, vou saber você se deu bem.

Eu vou voltar pra casa. Até mais tarde — disse, vermelho, antes de devolver o telefone. Ele tentou esquecer o que a irmã o falara; não faria bem nenhum a ele pensar sobre as coisas estranhas que ela disse com seu estudante ao lado.

Em menos de cinco minutos, Yuuto trocara de roupas e lavara a maquiagem. Ele tentou devolver o vestido, lingerie e o colar—ele ficaria o kit de maquiagem—mas Seiji-kun insistiu que eram presentes e não os aceitou de volta. O professor estava com pressa e cansado demais para argumentar e apenas enfiou tudo na bolsa.

Yuuto correu até a porta e Seiji-kun o seguiu. Ele olhou nos olhos do professor antes de dizer:

— Me diverti muito mais do que esperava, tudo por sua causa. Obrigado — disse com uma expressão honesta que raramente demonstrava.

Isso pegou o professor de guarda baixa, ele não olhou na cara do estudante e respondeu:

— Eu também. Nunca pensei que um casamento ocidental fosse daquele jeito. Foi muito interessante — disse, com um sorriso nos lábios. Eles ficaram quietos por um tempo, o coração de Yuuto batendo mais rápido. — Bom, preciso ir. Tchau.

— Até nosso próximo domingo. — A última coisa que Yuuto viu foi um sorriso sincero antes de fechar a porta.

A passos rápidos, ele caminhou até o elevador e pressionou o botão. Mas quando as portas se abriram e ele entrou, Seiji-kun apareceu no corredor.

— Você esqueceu isso. — Ele jogou o buquê e Yuuto pegou pela segunda vez naquela noite. Ele olhou para as flores, tentando encontrar o que responder, mas as portas se fecharam antes que qualquer palavra viesse a ele.

Ele ainda admirava as flores quando o motorista abriu a porta, deixou Yuuto entrar, fechou e sentou no assento do motorista. Yuuto passou o endereço, sua mente pensando na tradição de quem pegava o buquê da noiva.

Quando a noiva caminhou para a pista de dança, com quase todas as mulheres a seguindo, Seiji-kun insistiu que Yuuto fosse também, dizendo que o professor deveria tentar pegar o buquê. Yuuto já estava um pouco bêbado e acabou indo. As mulheres mal prestaram atenção nele. Só Amira e suas duas amigas olharam para ele, empurrando-o para fora da pista.

A noiva jogou o buquê para cima e as mulheres foram a loucura. Em algum momento, Yuuto podia jurar que viu alguém puxando o cabelo da mulher que segurou o buquê por menos de um segundo, e então algumas cotoveladas, mas como sua visão estava embaçada devido ao champanhe, ele não confiou em seus olhos no momento.

O buquê foi para cima novamente e acabou caindo em suas mãos. Ele arregalou os olhos e então olhou para as flores, com uma vaga certeza de que algumas mulheres o encaravam com um pouco de raiva, especialmente Amira e suas amigas. Mas tudo que ele fez foi cheirar as flores e sorrir, enquanto a noiva ria e Seiji-kun tinha a mesma reação que sua irmã.

Após tudo se acalmar, Yuuto sentou na mesa e perguntou por que as mulheres lutavam tanto pelas flores. O estudante se inclinou e sussurrou para que só o professor ouvisse.

A pessoa que pegar o buquê será a próxima a se casar — disse com um sorriso.

Naquela hora, para o desapontamento de Seiji-kun, Yuuto quase não teve reação, sorrindo e cheirando as flores novamente, seu rosto vermelho por causa do champanhe. Mas agora, com a cabeça mais sóbria, quando pensou novamente naquelas palavras, a imagem do Seiji-kun sorrindo veio a sua mente.

O rosto inteiro do Yuuto ficou um tom alarmante de vermelho, mas ele não odiou o sentimento nenhum pouco.


Notas Finais


Pessoal, tenho noticia e um pedido.

A notícia é boa e ruim ao mesmo tempo, ahhaha. Já recebi o cap 5 traduzido, mas como tenho provas nas próximas semanas, vai demorar um pouco para editar. Vou tentar trazer em duas semanas, mas não prometo nada.

E o pedido é que, caso estejam gostando da história, por favor compartilhem o máximo possível =)
Quero lançar uma versão física de Por Favor no futuro, mas quem sabe não consigo uma editora.


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