Conto números infinitos na minha cabeça, ainda estou respirando fundo e tentando me distrair dos pensamentos insanos que me invadiram.
Lembro-me de dois anos atrás, no meu antigo quarto, nosso primeiro e último beijo pareceu tão errado e certo ao mesmo tempo. Dos seus quadris se encostando aos meus e nossos lábios se encontrando com alívio. Para piorar minha situação, apenas existia um único hotel na região, o que significa que poderíamos nos cruzar diversas vezes pelas próximas horas.
O caminho de volta permanece no mesmo clima de perguntas e respostas rápidas, ele parece não se importar com o fato de quase termos nos beijado, tenho certeza que é por causa dos efeitos colaterais da bebida que ainda pulsa dentro de nós.
- Seu cabelo está mais longo - Luke fala aleatoriamente - e você parece bem melhor do que antes.
Sorrio com a sua observação.
- Obrigada... Eu acho - respondo sem jeito - e você parece mais alto.
- Não estou mais alto, Olivia - tento não demonstra emoções quando o ouço falar meu nome naquele sotaque - talvez mais magro... Mais bonito.
- Definitivamente mais magro.
O hotel parece maior do que nas imagens divulgadas na Internet. Retiro minha mochila da mala, e antes de entrarmos observo Luke se esconder em seu capuz, provavelmente tentando evitar qualquer imprevisto na madrugada.
- As pessoas podem ser bem malucas - fala quando percebe o meu olhar.
Sou a primeira a fazer o check-in. O recepcionista tem um nariz fino e parece não ter dormido bem nas últimas noites. Entrego meu documento e o espero confirmar a reserva que tinha sido assegurada para mim.
- Tudo certo - Ele diz com simpatia - aqui está a chave do seu quarto.
Luke aparece ao meu lado e começa a explicar sua situação para o garoto em nossa frente.
- Infelizmente não temos quartos disponíveis - o recepcionista revela para a surpresa de todos.
- Como assim não existe quartos disponíveis? Estamos no fim do mundo - sua voz está em um tom baixo, porém não apresenta mais a calma de antes.
- Sinto muito - o rapaz se desculpa.
Não demora muito para que suas sobrancelhas se levantem alarmadas, como se uma ideia aleatória tivesse brotado em sua cabeça
- Acredito que temos uma alternativa.
O recepcionista passa seu olhar no computador diversas vezes antes de continuar a falar.
- Sim, sim, sim... O quarto que foi liberado para a senhorita, na verdade, é uma cobertura, portanto são duas suítes que compartilham o mesmo banheiro.
Não preciso ouvir mais nada para saber o que vem pela frente.
- O único fator negativo é que o senhor terá que sair pela porta dos fundos.
- Sem problemas - Luke fala sem temor e então olha para mim - certo?
- Sem problemas - repito. Afinal o que poderia acontecer?
Depois que a outra chave é entregue, andamos até o elevador principal e subimos até o andar que havia sido indicado. Um grupo jovem de amigos aparece durante o percurso e uma das meninas reconhece que está dividindo o espaço com uma celebridade, os próximos minutos se tornam uma batalha sobre quem consegue tirar a melhor selfie.
-Seu disfarce não é tão eficiente.
O quarto é maravilhoso, possuia uma enorme cama forrada em um lençol estampado assemelhado com aqueles presentes apenas em filmes de época.
- Esse é o maior quarto que já vi na vida – revelo abismada com o tamanho daquele lugar – olha tem até comida aqui dentro.
Abro o mini freezer com curiosidade, na parte de dentro encontro garrafas de diversas bebidas e várias comidas frias para serem esquentadas no micro-ondas ao lado. Retiro uma das garrafas e tomo um gole, para minha felicidade não era tão forte quanto aquela que Luke carregava.
- Olha essa varanda!
Abro as portas de vidro e rapidamente recebo o vento frio no meu rosto. Lá fora existia uma mesa rodeada com várias cadeiras e uma piscina média, os refletores ao fundo davam a impressão que a água estava rosa.
- Porque eles reservaram um quarto como este? – questiono sozinha. Agora estou encostada no parapeito observando aquela cidade que pouco tempo atrás ainda era desconhecida.
- Eles devem estar amando o seu trabalho – o som do seu riso ecoa pela atmosfera - foram muitos shows até que eu conseguisse entrar num quarto desses
"Não vai demorar muito até que eles te mandem champanhe no natal" recordo o comentário de Liz quando abrimos uma caixa repleta de chocolate enviada pela empresa como presente de boas vindas.
O ambiente fica tão silencioso que sinto a necessidade de virar para ter a certeza de que não estou sozinha. Não, eu não estava.
Ele continuava com seus olhos fixados na minha direção e por alguma razão aquele clima me faz perceber que aquele não era o Luke que esbofeteei no halloween, quem estava comigo era uma pessoa totalmente transformada.
- Acho que é melhor eu ir dormir - diz rapidamente, sua mão está de volta ao bolso, retirando a garrafa – Obrigado por me ceder o outro espaço.
Mordo a bochecha impaciente, não consigo falar nada, apenas balanço a cabeça afirmativamente e o observo deslizar de volta para dentro.
- Desculpa por aquilo - falo antes que seus dedos toquem na maçaneta da porta. Ele para e me lança uma expressão de curiosidade, então eu continuo - o soco no halloween.
Aperto meus punhos fortemente. A fraqueza que atinge meu organismo faz com que todos os sentidos do meu corpo pareçam mais aguçados. Neste momento consigo perceber o cheiro agradável que é liberado pelo seu corpo como se ele já tivesse nascido com um aroma perfeito, a forma que uma mecha intrusa de cabelo balança em sua testa o fazendo parecer mais estiloso ou a maneira que seus lábios se apertam entre si demonstrando que um sorriso é a pior coisa que poderia acontecer naquele momento.
- Sem problemas, Maria Antonieta.
E depois entra pela porta me deixando sozinha com o coração batendo acelerado.
Eu odeio me sentir assim. Eu odeio querer esquecer que eu tenho um namorado. Eu odeio ser tão vulnerável perto dele.
Mas não sei como evitar.
Sento cama e fecho os olhos com força, jurando que isso me faria esquecer tudo. Puxo meus joelhos para conseguir me apoiar neles e repito mil vezes que preciso controlar os instintos que estão me atingindo.
Já estou prestes a dormir quando a chuva começa a cair no lado de fora, mas ainda parece nada me desconecta da vontade incontrolável que pulsa dentro de mim. Como que isso pode estar acontecendo? Faz apenas horas, mas soa como uma eternidade.
Algo está inacabado e, pelo jeito, não haveria calma até eu por um ponto final naquilo que me incomoda. E é por isso que jogo as cobertas para o lado e caminho até a porta do banheiro.
Eu só não esperava encontrar aquilo do outro lado.
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